ESTUDO DOS CASOS DE ÓBITOS POR DIABETES MELLITUS NA CAPITAL PIAUIENSE, NOS ANOS DE 2013 A 2021.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501172349


Ana Paula Sobrinho Brito¹; Jéssica Lima Barradas²; Lícia Viana Airemorais Carvalho³; Nágilla Ferraz Lima Verde⁴; Franklin Carvalho Kalume⁵; Brenda Rayanne Alves Soares⁶; Yan Lucas Piauilino Benvindo Teixeira⁷; Maria Keury Araújo da Silva⁸; Klégea Maria Câncio Ramos Cantinho⁹; Joana Elisabeth de Sousa Martins Freitas¹⁰.


Resumo

O Diabetes Mellitus (DM) é atualmente uma das principais causas de morbidade e mortalidade. O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial com 16,8 milhões de pessoas com diabetes, com perspectiva de 21,5 e 26 milhões em 2030 e 2045, respectivamente. Esse estudo teve como objetivo geral analisar o perfil epidemiológico dos óbitos por Diabetes Mellitus em Teresina – PI, no período de 2013 a 2021. Tratou-se de uma pesquisa do tipo epidemiológica, documental e quantitativa, de natureza descritiva e retrospectiva, onde o cenário de coleta de dados foi o banco de dados do DATASUS, no Sistema de Informação em Mortalidade (SIM). No período analisado, foram notificados 2.681 casos de óbitos decorrentes do Diabetes Mellitus (DM) na cidade de Teresina – PI, apresentando uma média anual de casos de 297,88 com maior expressão de casos no ano de 2019, 323 (12%), seguido do ano de 2016, com 310 (11,6%) casos. O perfil destes óbitos predominou em mulheres (52%), na faixa etária de 75 anos e mais, que corresponde a 42,15% dos casos, com destaque para aquelas que apresentaram nenhuma escolaridade (26,93%) e de 1 a 3 anos (27,04%) de estudo, e cor parda (72,40%). Foi possível identificar que 70,12% dos óbitos ocorreram em ambiente hospitalar e 26,97% no domicílio, indicando fortalecimento do sistema de referência e contrarreferência nos níveis de atenção à saúde. Portanto, a prevalência do perfil clínico e epidemiológico da mortalidade por DM na cidade de Teresina – PI, no período analisado, foi de indivíduos com idades acima de 75 anos, escolaridade menor que três anos, sexo feminino e de cor parda, sendo que os óbitos foram mais prevalentes no ambiente hospitalar. Logo, o DM é uma condição crônica passível de ser evitada. Para isso, ressalta-se o fortalecimento das ações de promoção da saúde na atenção primária pelas equipes de saúde. Destaca-se que o DM é uma doença conhecida, mas que a população apresenta dúvidas em relação à doença, principalmente a população idosa. Além disso, a maioria das pessoas com DM tem dificuldade de aderir ao tratamento para evitar as complicações da doença, justificando os altos índices de morbimortalidade.

Palavras-chave: DCNTs; DM1 e DM2; Estudo epidemiológico.

Abstract

Diabetes mellitus (DM) is currently an important cause of morbidity and mortality. Brazil occupies fifth place in the world ranking with 16.8 million people with diabetes, with a prospect of 21.5 and 26 million in 2030 and 2045, respectively. The general objective of the study was to analyze the profile of deaths due to Diabetes Mellitus in TeresinaPI, from 2013 to 2021. It was an epidemiological, documentary and quantitative research, of a descriptive and retrospective nature, where the scenario of Data collection was the DATASUS database, in the Mortality Information System (SIM). In the period analyzed, 2,681 cases of deaths resulting from Diabetes Mellitus (DM) were reported in the city of Teresina – PI, presenting an annual average of cases of 297.88 with a higher number of cases in 2019, 323 (12%), followed by 2016, with 310 (11.6%) cases. The profile of these deaths predominated in women (52%), aged 75 years and over, which corresponds to 42.15% of cases, with emphasis on those who had no education (26.93%) and 1 to 3 years (27.04%) of education, and mixed race (72.40%). It was possible to identify that 70.12% of deaths occurred in a hospital environment and 26.97% at home, indicating strengthening of the referral and counter-referral system at health care levels. Therefore, the clinical and epidemiological profile of mortality due to DM in the city of Teresina – PI, in the period analyzed, was of individuals aged over 75 years, with less than three years of education, female and mixed race, with deaths being more prevalent in the hospital environment. Therefore, DM is a chronic condition that can be avoided. To this end, the strengthening of health promotion actions in primary care by health teams is highlighted. It is noteworthy that DM is a known disease, but the population has doubts regarding the disease, especially the elderly population. Furthermore, most people with DM have difficulty adhering to treatment to avoid complications of the disease, justifying the high rates of morbidity and mortality.

Keywords: Diabetes Mellitus. Mortality. Epidemiology.

Introdução

O diabetes mellitus (DM), ao nível epidemiológico mundial, o DM é representativo, com um aumento estimado de 69,0% no número de casos entre 2010 e 2020, devido ao aumento do número de pessoas acometidas e a diminuição da qualidade de vida. Estima-se que haverá 350 milhões de pessoas com diabetes no mundo em 2025, e o Brasil chegará a 18,5 milhões no mesmo período (Cunha et al., 2020).

A prevalência de DM em brasileiros com a faixa etária entre 30 e 69 anos é de 7,6%, enquanto a prevalência sobe para 20% em pessoas com mais de 70 anos, das quais 50% desconhecem seu diagnóstico e 25% têm DM. O tratamento recomendado não é realizado. O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial com 16,8 milhões de pessoas com diabetes, com perspectiva de 21,5 e 26 milhões em 2030 e 2045, respectivamente (Silva et al., 2020).

O aumento da prevalência do diabetes está associado a vários fatores, como rápida urbanização, mudanças epidemiológicas, alterações nutricionais, aumento da frequência de sedentarismo, aumento da frequência de excesso de peso, crescimento e envelhecimento populacional e maior sobrevida de pessoas com diabetes. A prevalência é um indicador da carga atual da doença nos serviços de saúde e na sociedade, e um preditor da carga futura que as complicações crônicas do diabetes representarão (SBD, 2019).

As complicações vasculares do DM são a principal causa de morbimortalidade nos países desenvolvidos e constituem preocupação crescente para as autoridades de saúde. Os diabéticos, tipo 2 tem chance duas a quatro vezes maior de morte por doença cardíaca em relação a não diabéticos, com uma propensão quatro vezes maior de ter doença vascular periférica (DVP) e doença vascular cerebral (DVC) (Figueiredo, 2021).

As complicações crônicas do DM expressam um agravamento da doença, precisando ser consideradas em toda sua complexidade, envolvendo uma série de eventos que devem ser analisados na sua pluralidade (Salci et al., 2018). Aliado a isso, as complicações macrovasculares constituem a principal causa de morte em diversas populações, e indivíduos diabéticos apresentam o dobro do risco de morrer por essas causas quando comparados à população geral (Yamazaki et al., 2018).

Visto isso, é de extrema importância o controle dos níveis glicêmicos, uma vez que a persistência dessa hiperglicemia pode culminar em complicações agudas, como cetoacidose diabética, coma hiperosmolar não-cetótico e hipoglicemia, quanto complicações crônicas, como as microvasculares (neuropatia periférica, retinopatia e nefropatia) e macrovasculares (doença arterial coronariana, doença cerebrovascular e vascular periférica) (Fonseca; Rached, 2019).

Para a prevenção das complicações, é essencial o controle da doença, o que se torna extremamente complexo, pois os cuidados e os tratamentos baseiam-se em medidas preventivas e paliativas, por meio de tratamento farmacológico e mudanças no estilo de vida das pessoas, especialmente, a prática de exercícios físicos regulares e o estímulo à alimentação saudável, além do acompanhamento sistemático em consultas e exames laboratoriais (Salci et al., 2018).

Dessa forma, é objetivo geral do estudo analisar o perfil epidemiológico dos óbitos por Diabetes Mellitus em Teresina-PI, no período de 2013 a 2021, e especificamente, demonstrar os óbitos por DM referentes ao ano de acontecimentos, além de caracterizar os óbitos quanto ao sexo, faixa etária, escolaridade e raça; assim como identificar os locais onde mais ocorreram óbitos por DM. Sendo assim, o interesse em desenvolver esse estudo justifica-se pelo fato de o DM ser uma doença de grande prevalência na população, que se configura como causa importante de morbimortalidade e um relevante problema de saúde pública, onde a análise do perfil desses óbitos em Teresina-PI contribuirá para sua compreensão.

Objetivos

Analisar o perfil epidemiológico dos óbitos por Diabetes Mellitus em Teresina-PI, no período de 2013 a 2021, e precisamente, demonstrar os óbitos por DM referentes ao ano de acontecimentos, caracterizar os óbitos quanto ao sexo, faixa etária, escolaridade e raça; identificar os locais onde mais ocorreram óbitos por DM.

Metodologia

Trata-se de um estudo epidemiológico de natureza descritiva e retrospectiva, com abordagem quantitativa e documental. Por apresentar-se como uma pesquisa epidemiológica de dados públicos, não houve a necessidade de cadastro ou submissão do projeto no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), segundo as resoluções n. º466/12 e 510/16 do Conselho Nacional em Saúde (CNS). Todavia, foram mantidos todos os cuidados para que não fossem ultrapassados os limites dos aspectos éticos e legais que envolvem as pesquisas científicas.

Os dados da pesquisa foram coletados através da análise de registros contidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), por meio do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), a respeito dos casos de óbito por Diabetes mellitus na cidade de Teresina — Piauí, nos anos de 2013 a 2021. As variáveis avaliadas foram: ano do óbito, faixa etária, sexo, cor/raça, escolaridade, local de ocorrência. No entanto, foram excluídos do estudo óbitos por Diabetes mellitus na cidade de Teresina de pacientes que são residentes de outras regiões.

Tais informações coletadas foram digitalizadas e organizadas em uma planilha desenvolvida através do Programa Excel 2020. Os dados foram interpretados pelo pesquisador e analisados mediante estatística e porcentagem na base 100. Os resultados foram dispostos em tabelas e gráficos para melhor compreensão. 

Como a coleta de dados ocorreu via base de dados digital, os riscos a que os sujeitos da pesquisa estiveram expostos foram mínimos, como riscos de digitação e dados inseridos com dupla entrada, já que não houvera abordagens, administração de substâncias e nem aplicação de questionários. Apesar disso, foram tomadas todas as medidas preconizadas pela resolução 566/16 no sentido de preservar a identidade dos participantes do estudo.

Os benefícios da pesquisa podem ser mais amplos, visto que podem conseguir elucidar a real situação epidemiológica dos casos de óbito por Diabetes mellitus no estado do Piauí, a fim de possibilitar o fomento da literatura e o embasamento de estratégias de prevenção, proteção e reabilitação deste agravo indutor de morbimortalidade.

Resultados e Discussão

Durante o período analisado, de janeiro de 2013 a dezembro de 2021, foram registrados 2.681 óbitos por Diabetes Mellitus na cidade de Teresina – PI, resultando em uma média anual de 297,88 óbitos, conforme demonstra o gráfico 1. A mortalidade específica por diabetes mellitus aumentou sucessivamente entre 2013 e 2021, mas não houve diferença significativa entre os dois extremos, de 281 óbitos em 2013 para 298 óbitos em 2021. 

Gráfico 1 – Óbitos por DM por ano

Fonte: SIM-DATASUS (2023)

Um estudo de carga global do DM tipo 2 realizado no Brasil evidenciou a região Nordeste como detentora das maiores taxas de anos de vida perdidos por morte prematura. Salientam-se os autores que esse resultado pode estar correlacionado à baixa taxa de diagnóstico precoce e dificuldades para obtenção da terapia farmacológica, que por sua vez, incrementam a mortalidade pela doença (Costa et al., 2017).  

Considerando a elevada incidência, prevalência e mortalidade do DM, ela é apontada como um grande problema de saúde pública no Brasil e no mundo, por sua relação direta com a morbimortalidade e mortalidade (Paiva; Benito, 2023). 

No que diz respeito à idade, o maior número de óbitos ocorreu em pessoas nas faixas etárias entre 65 e 74 anos (26,59%) e 75 anos mais (42,15%). Quanto à raça, a parda obteve uma prevalência mais significativa, com 72,40% dos casos. Com relação à escolaridade, viu-se que aquelas pessoas com 1 a 3 anos de estudo (27,04%) tiveram maior número de casos, seguido daqueles com nenhuma escolaridade, com (26,93%), seguida daqueles, como apresenta a Tabela 1.

Tabela 1 – Óbitos por DM segundo faixa etária, raça e escolaridade

Fonte: SIM-DATASUS (2023)

Conforme mostra a tabela 1, houve uma prevalência de 75 anos e mais, os menores números ocorreram na faixa de menores de 15 anos e entre 15 e 34 anos. A chance de se ter DM aumenta entre as pessoas de mais idade, quando comparado com os jovens. No entanto, estudos realizados no território brasileiro, mostraram de forma mais específica utilizando marcadores bioquímicos para estimar a prevalência de diabetes, foi realizada em 1988, em 9 capitais brasileiras, obtendo uma prevalência de 7,6% em adultos com idade entre 30 a 69 anos. Já estudos mais recentes em diferentes contextos geográficos mostram que a prevalência de diabetes varia entre 6 e 15% na população adulta brasileira (Marques; Silva, 2023). 

O estudo de Paiva e Benito (2023) apresentou também resultados semelhantes, quando mostrou que houve uma maior preponderância de registro de óbitos em idosos com 70 a 79 anos por DM, estando este resultado correlacionado com a literatura científica, podendo ser relacionado ao fato de que as taxas de mortalidade apresentam crescimento contínuo com o avançar da idade.

Ramos (2017) afirma em seu estudo que o idoso diabético, em comparação com o não diabético, estão mais propícios as politerapias, um aumento no uso de medicamento, assim como perdas funcionais, problemas cognitivos, depressão, quedas e fraturas, incontinência urinária e dores crônicas, mais agravos a saúde ampliando o número de medicamentos utilizados assim como o risco e agravos e complicações, podendo levar ao óbito.

As causas desse aumento de mortalidade não são totalmente conhecidas, mas parecem estar relacionadas aos níveis glicêmicos, as complicações crônicas pelo microvasculopatias e macrovasculopatias (doenças cardiovasculares, nefropatia, neuropatia, retinopatia, amputação) e associação com outras morbidades: hipertensão arterial, dislipidemia e obesidade (Guimarães, 2017).

Destaca-se que todos os óbitos ocorridos na faixa etária entre 30 a 69 anos, são considerados mortes prematuras, visto que este período é compreendido como o mais produtivo da vida, tanto culturalmente como economicamente para a sociedade, sendo que a expectativa de vida do brasileiro para o ano de 2019 foi de 73 anos para os homens e 80 para as mulheres (Walraven, 2022).

Quando comparada a incidência quanto a raça, a ocorrência de óbitos é apresentada com diferenças significativas, observando um percentual maior de óbitos por DM na raça parda e branca. Em uma análise realizada pela SBD em 2019, no que se refere a categoria raça/cor de pessoas idosas com diagnóstico de DM, em brancos e amarelos foram contabilizados aproximadamente 49,56% e, em negros e pardos, cerca de 45,22%.

Ressalta-se que, o aumento da morbimortalidade por DM é diretamente proporcional ao aumento da vulnerabilidade, tornando-se necessário, portanto, o direcionamento das ações em saúde para a priorização dos indivíduos que se encaixam nessa categoria, no   intuito   de   alcançar   sucesso   nas intervenções (Borges; Lacerda, 2018).

Já no que se refere a categoria escolarização é identificado na literatura científica que, por conta inclusive de questões históricas e da fragilidade do sistema educacional no passado, este referido estrato social possui normalmente reduzida escolarização (Paiva; Benito, 2023). A questão da reduzida escolarização de pessoas idosas com DM, é também apontada pela SBD que, sinaliza o quantitativo de aproximadamente 78,52% destas pessoas, que estudaram até a idade maior que doze anos (SBD, 2019).

No entanto, Borba et al. (2019) traz um resultado diferente em seu estudo com relação à escolaridade quando referem que existe maior chance do óbito com DM associada ocorrer em indivíduos com 12 anos de escolaridade ou mais, em relação a quem não possui escolaridade. Os autores enfatizam ser interessante observar, todavia, que indivíduos com baixa escolaridade podem demonstrar maior dificuldade ao manejo da doença, pela limitação ao acesso de informações, dificuldade a manejo da doença, pela limitação ao acesso de informações, dificuldade na leitura, compreensão da prescrição e orientações do plano terapêutico.

Ressalta-se, ainda, que pessoas com grau de escolaridade menor e baixas condições socioeconômicas, têm a probabilidade quatro vezes maior de adoecimento por diabetes, por diversos fatores, incluindo alto consumo de alimentos calóricos, ricos em gorduras e açúcares, sedentarismo, estresse psicossocial, custo com tratamento, condições de vida desfavoráveis e limitação ao acesso aos serviços de saúde, aumentando, assim, os riscos de complicações à saúde podendo levar à morte (Melo et al., 2021).

Ao analisar os resultados obtidos, pode-se observar maior mortalidade por DM no sexo feminino (52% dos óbitos), corroborando com o estudo de Walraven (2022) que apontou que mulheres e idosas tem os maiores números, semelhantes as outros achados na literatura, destacando-se que por seu histórico de saúde, geralmente com outras associadas, são mais acometidas por diabetes, aumentando consequentemente a quantidade de óbitos se comparada ao gênero masculino.

Referente ao gênero, notou-se que a taxa de óbito foi maior para os indivíduos do sexo feminino (52%), como evidencia o gráfico 2. Guimarães (2017) também evidenciou em seu estudo que os índices de dislipidemia são relativamente altos no sexo feminino, isso por relacionar esse quadro ao sedentarismo, aproximadamente 70% na população adulta não praticam atividades físicas.

Gráfico 2 – Óbitos por DM segundo sexo

Fonte: SIM-DATASUS (2023)

Tal situação reflete o que o estudo de Walraven (2022) relata sobre a prevalência de DM maior nos idosos do sexo feminino, pobres e que não trabalhavam. Segundo os dados da Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, o gênero feminino representava 52,2% (109,4 milhões) da população residente no Brasil, além de serem maioria entre a população idosa (56,7%), tendo relação direta com a maior proporção de mulheres acometidas e diagnosticadas com DM entre 2010 e 2019, como demonstrou os dados deste estudo.

Arrais et al. (2022) dizem acreditar que a maior mortalidade no sexo feminino seja decorrente do controle inadequado do DM em todas as idades a partir da meia-idade, e sugere-se que isso possa ocorrer porque as mulheres muitas vezes têm que lidar com o DM e o cuidado familiar, o que exige muito de si e, por isso, elas podem adiar a procura de uma assistência nos serviços de saúde. O estudo realizado por Kautzky-Willer et al. (2018), aponta alguns fatores contribuintes para uma condição menos favorável das mulheres diabéticas, como fatores reprodutivos, diferenças entre os sintomas e estresse psicossocial. 

Com relação ao local de ocorrência dos óbitos, o ambiente hospitalar representou o maior percentual, com 70,12%. Isso se refere a 1.880 casos registrados, seguido pelo ambiente domiciliar com 26,97% (723 casos), outros, com 1,75% (47 casos), via pública, com 0,67% (18 casos), e outro estabelecimento de saúde 0,48% (13 casos), como mostra o gráfico 3.

Gráfico 3 – Óbitos por DM segundo o local 

Fonte: SIM-DATASUS (2023)

Apesar dos avanços na saúde, indivíduos com DM mantêm-se o risco 2 a 4 vezes maior de hospitalização por problemas sistêmicos quando comparados com indivíduos sem diabetes. A doença produz internações e a taxa de óbito é maior no ambiente hospitalar (Negreiros et al., 2021).

Configuram-se os óbitos em instituições hospitalares como uma variável para avaliar o processo de cuidado do paciente quanto o resultado. Ressalta-se, ainda, que as hospitalizações com óbitos são mais onerosas até mesmo quando   possuem a mesma média de permanência das internações sem tais desfechos. Justifica-se tal oneração devido à utilização de tratamentos intensivos, que ocorre em   uma frequência média superior a 6,5 vezes quando ocorre óbito (Medeiros, 2022).

Conclusão

De acordo com os dados coletados e analisados no município de Teresina, constata-se que a maioria dos casos de óbitos em decorrência de Diabetes Mellitus ocorreram no ano de 2019. Nesse viés, pode-se observar que o perfil predominante é de indivíduos com idades acima de 75 anos, com nenhuma escolaridade e de 1 a 3 anos de estudo, sexo feminino e de cor parda, sendo que o maior número de óbitos ocorreu em ambiente hospitalar.

O desenvolvimento do presente artigo teve como alicerces também dados recentes da literatura relacionada especificamente com o perfil populacional que veio a óbito em decorrência de DM. Assim, pode-se verificar também que houve um crescimento gradual do número de óbitos conforme o avanço das faixas etárias analisadas. Dessa forma, observou-se a preexistência da dependência entre o quadro clínico e o envelhecimento populacional, sendo que é notório que a população idosa é mais suscetível a desenvolver complicações em virtude da doença.

Com isso, é imprescindível a implementação de novas políticas públicas voltadas especificamente para a diminuição do número de óbitos de pessoas por DM, além de promover melhorias que visem proporcionar uma melhor qualidade de vida para essa população. Por fim, espera-se que esse artigo contribua para o desenvolvimento de melhores estratégias para mitigar essa questão de saúde pública.

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¹https://orcid.org/0000-0003-3280-396X;
²https://orcid.org/0009-0009-7651-2698;
³https://orcid.org/0009-0009-1117-3664;
⁴https://orcid.org/0000-0002-3550-8512;
⁵https://orcid.org/0009-0007-3023-3808;
⁶https://orcid.org/0009-0008-0279-0137;
⁷https://orcid.org/0009-0000-8351-1065;
⁸https://orcid.org/0009-0004-9647-1196;
⁹https://orcid.org/0000-0002-1685-5658;
¹⁰https://orcid.org/0000-0002-7388-6426.