SÍNDROME DE FOURNIER: DESAFIOS DIAGNÓSTICOS E TERAPÊUTICOS EM PACIENTES IMUNOCOMPROMETIDOS 

FOURNIER SYNDROME: DIAGNOSTIC AND THERAPEUTIC CHALLENGES IN IMMUNOCOMPROMISED PATIENTS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202501150509


Thyago Layron Sampaio de Abreu; Lucas Coelho Veloso; Alessandro Menezes Saldanha Feijó; Tatyane Ferreira Calvão; Lara Sousa Melo; Bianca Portela Garcia; Emerson Alcantara de Sousa Filho; Sandyla Leite de Sousa; Karla Raissa Pires da Silva; Amanda de Vasconcelos Costa; Fernanda Nathália Sousa Santana; Darianne Lopes Rocha; Gabriel Danilo Job Guaraná; Thauanne de Lima Braga; Sasha Thallia Rocha Mendes


Resumo

A síndrome de Fournier (SF) é uma infecção necrosante rara e rapidamente progressiva, caracterizada pela gangrena das partes moles da região perineal, genital e abdominal inferior. O diagnóstico da síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos é desafiador, e a natureza agressiva da infecção exige um tratamento imediato e abrangente. O presente artigo tem como objetivo geral analisar os desafios diagnósticos e terapêuticos na gestão da síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos. A pesquisa é fundamentada em uma revisão abrangente da literatura existente, para a coleta dos dados, foi utilizada a base de dados PubMed e Scielo, a pesquisa foi conduzida com os termos “Síndrome de Fournier”, “Imunocomprometidos”, “Infecções Necrosantes”, aplicando o operador booleano “AND”. A partir da revisão da literatura, conclui-se que a síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos continua sendo um grande desafio clínico devido à sua rápida evolução e à apresentação muitas vezes atípica. O diagnóstico precoce é fundamental para a redução da morbidade e mortalidade associada à doença, mas é dificultado pela supressão da resposta inflamatória em pacientes imunossuprimidos. A revisão mostrou que, embora exames de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética sejam essenciais para o diagnóstico e avaliação da extensão da infecção, a identificação precoce ainda depende fortemente de uma abordagem clínica vigilante e de um índice de suspeição elevado, especialmente em pacientes de risco. No tratamento, a combinação de antibióticos de amplo espectro com intervenções cirúrgicas agressivas é crucial para o controle da infecção e para a remoção de tecidos necrosados. A monitoração contínua e a abordagem multidisciplinar têm mostrado resultados favoráveis no manejo desses pacientes, que frequentemente apresentam complicações graves, como sepse e falência multissistêmica. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, ainda há lacunas na padronização das práticas terapêuticas e na definição de protocolos de prevenção, especialmente em grupos de risco. Mais estudos são necessários para melhorar os métodos de diagnóstico precoce, as estratégias terapêuticas e as abordagens de prevenção em pacientes imunocomprometidos.

Palavras-chave: Síndrome de Fournier. Imunocomprometidos. Infecções Necrosantes.

1. INTRODUÇÃO

A síndrome de Fournier (SF) é uma infecção necrosante rara e rapidamente progressiva, caracterizada pela gangrena das partes moles da região perineal, genital e abdominal inferior. Essa condição, que pode afetar tanto homens quanto mulheres, está frequentemente associada a uma combinação de infecção polimicrobiana, com envolvimento de bactérias aeróbicas e anaeróbicas, que provoca uma rápida deterioração dos tecidos. O diagnóstico precoce da SF é crucial, pois a evolução da doença pode ser fulminante, levando a complicações graves, como septicemia e falência múltipla de órgãos, com alta taxa de mortalidade quando não tratada de forma adequada e tempestiva. (CARMO, COSTA, DA ROCHA SOBRINHO, 2023).

O quadro clínico da síndrome de Fournier muitas vezes se apresenta de maneira insidiosa, com dor localizada, edema e sinais de infecção na área afetada, mas pode evoluir rapidamente para uma infecção sistêmica grave. Pacientes imunocomprometidos, como aqueles com HIV, diabetes descompensada, câncer em tratamento quimioterápico ou que fazem uso de imunossupressores, estão em maior risco de desenvolver complicações graves dessa síndrome. A imunossupressão compromete a resposta inflamatória e as defesas do organismo, permitindo a disseminação mais rápida da infecção, o que torna esses pacientes ainda mais vulneráveis. (CORREIA et al, 2022).

O diagnóstico da síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos é desafiador, pois seus sintomas podem ser mascarados ou confundidos com outras condições clínicas. Além disso, a natureza agressiva da infecção exige um tratamento imediato e abrangente, que combine intervenções médicas e cirúrgicas. A abordagem terapêutica precisa ser agressiva e multidisciplinar, envolvendo antibióticos de amplo espectro, drenagem cirúrgica e, em alguns casos, a necessidade de ressecção de tecidos necrosados. O controle rigoroso da condição clínica do paciente e a monitorização de complicações como insuficiência renal e sepse são essenciais para um bom prognóstico. (MOREIRA et al, 2022).

Este artigo tem como objetivo geral analisar os desafios diagnósticos e terapêuticos na gestão da síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos, destacando as peculiaridades dessas situações clínicas e as estratégias que podem ser adotadas para melhorar os resultados no tratamento dessa infecção grave.

2. METODOLOGIA 

A pesquisa adotou uma metodologia que combina análise, descrição e exploração, fundamentada em uma revisão abrangente da literatura existente. O objetivo principal desta revisão é compilar, sintetizar e analisar os achados de estudos anteriores sobre miomas uterinos. Esse método integra informações já publicadas, oferecendo uma visão crítica e estruturada do conhecimento disponível. A abordagem metodológica combina diversas estratégias e tipos de pesquisa, possibilitando a avaliação da qualidade e coerência das evidências e a integração dos resultados (BOTELHO, DE ALMEIDA CUNHA, MACEDO, 2011).

Para a coleta dos dados, foi utilizada a base de dados PubMed e Scielo. Diversos tipos de publicações foram consideradas, incluindo artigos acadêmicos, estudos e periódicos relevantes. A pesquisa foi conduzida com os termos “Síndrome de Fournier”, “Imunocomprometidos”, “Infecções Necrosantes”, aplicando o operador booleano “AND” para refinar os resultados. As estratégias de busca adotadas foram: “Síndrome de Fournier” AND “Imunocomprometidos” AND “Infecções Necrosantes”.

Os critérios para inclusão dos artigos foram: publicações originais, revisões sistemáticas, revisões integrativas ou relatos de casos, desde que fossem acessíveis gratuitamente e publicadas entre 2017 e 2024. Não houve restrições quanto à localização geográfica ou ao idioma das publicações. Foram excluídos artigos não científicos, bem como textos incompletos, resumos, monografias, dissertações e teses.

A seleção dos estudos seguiu critérios rigorosos de inclusão e exclusão. Após a definição desses critérios, foram realizadas buscas detalhadas nas bases de dados utilizando os descritores e operadores booleanos estabelecidos. Os estudos selecionados formam a base para os resultados apresentados neste trabalho.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A revisão dos estudos sobre a síndrome de Fournier (SF) em pacientes imunocomprometidos revelou que essa condição raramente ocorre em indivíduos imunocompetentes, sendo mais prevalente em pacientes com distúrbios como HIV/AIDS, diabetes descompensado, câncer em tratamento quimioterápico, e aqueles sob uso de imunossupressores após transplantes de órgãos. A infecção, geralmente de origem polimicrobiana, resulta em uma rápida destruição dos tecidos moles e, quando não tratada precocemente, pode levar à falência multissistêmica e alta taxa de mortalidade. A literatura destaca que a SF em pacientes imunocomprometidos tende a se apresentar de forma mais agressiva e com evolução mais rápida, o que exige uma abordagem diagnóstica e terapêutica ainda mais agressiva. (FLORES-GALVÁN, ACEVES QUINTERO,  GUZMÁN VALDIVIA-GÓMEZ, 2021).

Diversos estudos apontam que o diagnóstico precoce da SF em pacientes imunocomprometidos é um dos maiores desafios. Devido à imunossupressão, esses pacientes frequentemente apresentam sinais clínicos atípicos ou uma resposta inflamatória mascarada, o que pode retardar o reconhecimento da síndrome. Nos casos estudados, observou-se que a dor localizada, o eritema e o edema nas áreas genitais ou perineais podem ser menos pronunciados em pacientes imunocomprometidos. Além disso, a febre, que é um sinal clássico de infecção, nem sempre está presente ou é de difícil distinção devido à supressão da resposta inflamatória. (ESCUDERO-SEPÚLVEDA et al, 2022).

No que diz respeito ao diagnóstico laboratorial, a revisão revelou que, embora o diagnóstico definitivo da SF dependa de avaliação clínica e exames de imagem, a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM) têm se mostrado as modalidades mais úteis para identificar as áreas afetadas e a extensão da necrose tecidual. A ultrassonografia também foi mencionada como uma opção acessível e eficaz para a detecção inicial de coleções de ar subcutâneas, embora seu uso seja mais limitado em estágios mais avançados da doença. A detecção precoce de sinais de infecção grave é fundamental para iniciar o tratamento de maneira ágil, reduzindo o risco de complicações sistêmicas. (LEWIS et al, 2021).

A abordagem terapêutica da síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos exige uma combinação de terapias médicas e cirúrgicas. A revisão de estudos clínicos revelou que o uso de antibióticos de amplo espectro, iniciados precocemente, é essencial para controlar a infecção. A terapia empírica com antibióticos, incluindo agentes que cobrem bactérias aeróbicas, anaeróbicas e fungos, têm mostrado resultados favoráveis nos primeiros estágios da SF. A escolha do regime antibiótico deve ser posteriormente ajustada com base nos resultados das culturas microbiológicas, que identificam os agentes patogênicos causadores da infecção. (CHERNYADYEV et al, 2018).

Em termos de abordagem cirúrgica, a ressecção de tecidos necrosados é considerada a principal intervenção para o tratamento da SF. A literatura revisada indica que o desbridamento precoce e agressivo é crucial para a redução da morbidade e mortalidade associada à síndrome. Nos casos em que a infecção está limitada a uma área pequena e bem definida, a ressecção local pode ser suficiente. No entanto, em casos mais extensos, pode ser necessário realizar intervenções mais agressivas, como a reconstrução de partes genitais e perineais, dependendo da extensão da necrose e do comprometimento das estruturas adjacentes. (ALASKER et al, 2024).

Outro aspecto importante identificado nos estudos revisados foi a necessidade de monitorização constante dos pacientes imunocomprometidos. Devido à sua imunossupressão, esses pacientes têm uma maior propensão a desenvolver complicações, como sepse e falência multissistêmica. O acompanhamento rigoroso dos parâmetros clínicos e laboratoriais, incluindo função renal, pressão arterial e marcadores de inflamação, é essencial para identificar precocemente complicações e ajustar o tratamento conforme necessário. A revisão de estudos indica que a gestão multidisciplinar, com a participação de especialistas em cirurgia, infectologia e terapia intensiva, tem um impacto positivo nos desfechos dos pacientes. (LESLIE, RAD, FOREMAN, 2019).

Além dos desafios diagnósticos e terapêuticos, a literatura também aponta para a importância da prevenção da SF em pacientes imunocomprometidos. O controle rigoroso de condições subjacentes, como diabetes, e a adesão às terapias imunossupressoras, são fatores que podem reduzir o risco de desenvolvimento da síndrome. A revisão sugere que a monitorização precoce de qualquer sinal de infecção na região perineal ou genital, especialmente em pacientes de alto risco, pode ser crucial para uma detecção mais rápida e um tratamento mais eficaz. (SINGH et al, 2016).

Finalmente, a revisão bibliográfica indicou que, apesar dos avanços no tratamento da síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos, ainda existem lacunas significativas no conhecimento, especialmente no que se refere à identificação precoce e ao manejo em grupos de risco específico. A falta de diretrizes clínicas padronizadas e o número limitado de estudos prospectivos sobre o tema dificultam a implementação de práticas terapêuticas mais eficazes. Estudos futuros devem se concentrar em melhorar as estratégias de diagnóstico precoce, otimizar os protocolos de tratamento e explorar novas abordagens para prevenção da SF nesses pacientes altamente vulneráveis. (ZHANG et al, 2022).

4. CONCLUSÃO

A síndrome de Fournier em pacientes imunocomprometidos continua sendo um grande desafio clínico devido à sua rápida evolução e à apresentação muitas vezes atípica. O diagnóstico precoce é fundamental para a redução da morbidade e mortalidade associada à doença, mas é dificultado pela supressão da resposta inflamatória em pacientes imunossuprimidos. A revisão mostrou que, embora exames de imagem como tomografia computadorizada e ressonância magnética sejam essenciais para o diagnóstico e avaliação da extensão da infecção, a identificação precoce ainda depende fortemente de uma abordagem clínica vigilante e de um índice de suspeição elevado, especialmente em pacientes de risco.

No tratamento, a combinação de antibióticos de amplo espectro com intervenções cirúrgicas agressivas é crucial para o controle da infecção e para a remoção de tecidos necrosados. A monitoração contínua e a abordagem multidisciplinar têm mostrado resultados favoráveis no manejo desses pacientes, que frequentemente apresentam complicações graves, como sepse e falência multissistêmica. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, ainda há lacunas na padronização das práticas terapêuticas e na definição de protocolos de prevenção, especialmente em grupos de risco. Mais estudos são necessários para melhorar os métodos de diagnóstico precoce, as estratégias terapêuticas e as abordagens de prevenção em pacientes imunocomprometidos.

REFERÊNCIAS

ALASKER, Ahmed et al. Early Diagnosis and Treatment Outcomes of Fournier Gangrene in a Tertiary Center. Cureus, v. 16, n. 7, p. e63815, 2024.

BOTELHO, Louise Lira Roedel; DE ALMEIDA CUNHA, Cristiano Castro; MACEDO, Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2011.

CARMO, Gabriel Augusto Santos; COSTA, Guilherme Espíndola; DA ROCHA SOBRINHO, Hermínio Maurício. Gangrena de Fournier: revisão sobre o diagnóstico e a fisiopatologia. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 23, n. 5, p. e12601-e12601, 2023.

CHERNYADYEV, Sergey A. et al. Fournier’s gangrene: literature review and clinical cases. Urologia internationalis, v. 101, n. 1, p. 91-97, 2018.

CORREIA, Milena Marques Ramos et al. Gangrena de Fournier-do diagnóstico ao tratamento Fournier Grangrene-from diagnostic to treatment. Brazilian Journal of Health Review, v. 5, n. 3, p. 9368-9380, 2022.

ESCUDERO-SEPÚLVEDA, Andrés Felipe et al. Conceptos para la identificación y abordaje de la gangrena de Fournier. Revista Colombiana de Cirugía, v. 37, n. 4, p. 653-664, 2022.

FLORES-GALVÁN, Karla Patricia; ACEVES QUINTERO, Claudia A.; GUZMÁN VALDIVIA-GÓMEZ, Gilberto. Gangrena de Fournier. Cirujano general, v. 43, n. 2, p. 107-114, 2021.

LESLIE, Stephen W.; RAD, Jonathan; FOREMAN, Juron. Fournier gangrene. 2019.

LEWIS, Gregory D. et al. Fournier’s gangrene diagnosis and treatment: a systematic review. Cureus, v. 13, n. 10, 2021.

MOREIRA, Pedro Costa et al. Gangrena de Fournier: do diagnóstico ao tratamento. In: A ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA CONTEMPORANEIDADE. Editora Científica Digital, 2022.

SINGH, Ariana et al. Fournier’s gangrene. A clinical review. Archivio Italiano di Urologia e Andrologia, v. 88, n. 3, p. 157-164, 2016.

ZHANG, Ke-Fan et al. Progress in multidisciplinary treatment of Fournier’s Gangrene. Infection and Drug Resistance, p. 6869-6880, 2022.