REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202501102340
Jorge Augusto Soares de Souza1, Joaquim Miguel Neto2, Leonan Rigon Mazocco3, Ana Gabriella Bodanese Terra4, Juliany Rosina bentes da Silva5, Juliano Ramires da Silva Almeida6, Roselany Alinne Santos de Carvalho7, Leonardo Filipe de Oliveira8, Michele Rodrigues Muniz9
RESUMO
Objetivo: Analisar os Transtornos Psiquiátricos no Período Pós-Parto: Abordagens Terapêuticas para Depressão e Psicose Pós-Parto. Revisão Bibliográfica: No puerpério, ocorrem bruscas mudanças nos níveis dos hormônios gonadais, nos níveis de ocitocina e no eixo hipotálamo-hipófise adrenal, que estão relacionados ao sistema neurotransmissor. Além das alterações biológicas, a transição para a maternidade é marcada por mudanças psicológicas e sociais. No puerpério há necessidade de reorganização social e adaptação a um novo papel, a mulher tem um súbito aumento de responsabilidade por se tornar referência de uma pessoa indefesa, sofre privação de sono e isolamento social. Além disso, é preciso reestruturação da sexualidade, da imagem corporal e da identidade feminina. Considerações finais: A depressão pós-parto e a psicose puerperal são patologias psiquiátricas que podem acometer mulheres no período do puerpério. Estudos mostram que, nesse período, ocorrem alterações tanto de caráter emocional como hormonal, potencializadas por diversos fatores, incluindo condições obstétricas e psicopatológicas prévias.
Palavras-chave: Depressão pós-parto; Psicose Pós-Parto; Puerpério;
INTRODUÇÃO
A depressão pós-parto (DPP) e a psicose puerperal (PP) são duas categorias de desordens psiquiátricas no puerpério (DENNIS CL, et al., 2017). A DPP é marcada por sintomas depressivos prevalentes durante os primeiros doze meses após o nascimento da criança (DUKO B, et al., 2020). Já os eventos psicóticos puerperais são os mais graves que podem incidir nesse período e, por isso, demandam rápida identificação e intervenção eficaz, a fim de evitar possíveis agravos (RODRIGUEZ-CABEZAS Le CLARK C, 2018).
No puerpério, ocorrem bruscas mudanças nos níveis dos hormônios gonadais, nos níveis de ocitocina e no eixo hipotálamo-hipófise adrenal, que estão relacionados ao sistema neurotransmissor. Além das alterações biológicas, a transição para a maternidade é marcada por mudanças psicológicas e sociais. No puerpério há necessidade de reorganização social e adaptação a um novo papel, a mulher tem um súbito aumento de responsabilidade por se tornar referência de uma pessoa indefesa, sofre privação de sono e isolamento social. Além disso, é preciso reestruturação da sexualidade, da imagem corporal e da identidade feminina.
Dentre todas as fases da vida da mulher, o pós-parto é o período de maior vulnerabilidade para o aparecimento de transtornos psiquiátricos. Apesar de não serem reconhecidas como entidades distintas nos sistemas classificatórios atuais, a disforia puerperal, a depressão pós-parto e a psicose pós-parto têm sido consideradas transtornos relacionados ao pós-parto. Atualmente, além dessas três categorias diagnósticas, os transtornos ansiosos no pós-parto também têm sido estudados.
Em suma, o reconhecimento e a identificação da relação entre os fatores de risco e de proteção para tais transtornos, ainda no período pré-natal ou perinatal, permitem que os fatores passíveis de modificação, a exemplo do estresse materno e de déficits nutricionais, sejam evitados ou corrigidos. Sob outra perspectiva, os fatores de risco que não são modificáveis, como a idade inferior a 20 anos, qualquer psicopatologia ou hipertensão materna, ainda que não possam ser alterados, atentam a equipe médica sobre o risco aumentado, permitindo que a equipe integrada de cuidados da puérpera esteja preparada para atendê-la e evitar as complicações maiores (DAVIES C, et al., 2020).
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A probabilidade das mulheres apresentarem depressão no período pós-parto pode ser duas vezes maior em comparação a outros períodos de sua vida (WANG Z, et al., 2021). Estudos feitos anteriormente expuseram que, até 2017, a incidência de DPP no mundo todo variou em 9,5% nos países desenvolvidos e em 20,8% nos países com rendimento médio (CHEN Q, et al., 2022). Ademais, a prevalência de DPP no Brasil é de 20,51%, de um total de 88.955 puérperas (WANG Z, et al., 2021).
Um estudo feito com 330 mulheres internadas em uma maternidade localizada no Sudeste do Brasil concluiu que a prevalência de DPP está intimamente relacionada a alguns fatores, como: idade materna mais precoce (14 a 24 anos de idade), nível emocional rebaixado e a um baixo nível de suporte afetivo no período gestacional (SANTOS MLC, et al., 2022). Além disso, estudos expuseram que o período da pandemia cooperou de maneira significativa para o aumento da prevalência e da gravidade dos sintomas depressivos nas mulheres no período pós-parto (PRANDINI NR, et al., 2022)
A maioria dos pesquisadores do assunto utiliza o termo depressão pós-parto (DPP) para designar qualquer episódio depressivo que ocorra nos meses que se seguem ao nascimento do bebê, havendo estudos que consideram dois meses, três meses, seis meses, e até um ano. Geralmente, o quadro inicia-se entre duas semanas até três meses após o parto, ocorrem humor deprimido, perda de prazer e interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração de sono, agitação ou retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade para concentrar-se ou tomar decisões e até pensamentos de morte ou suicídio.
No quadro clínico da depressão nessa época da vida são observadas algumas peculiaridades, dentre elas a alta probabilidade de comorbidade com sintomas ansiosos e obsessivo-compulsivos, a menor incidência de suicídio e a resposta terapêutica mais demorada e requerendo mais de uma medicação. As mulheres com DPP têm mais chance de apresentar episódios depressivos posteriormente e principalmente novos episódios de DPP.A prevalência da DPP varia entre 10% e 20%; essa taxa pode variar dependendo da cultura, do período e do método utilizado no diagnóstico.
São considerados fatores de proteção o otimismo, elevada auto-estima, boa relação conjugal, suporte social adequado e preparação física e psicológica para as mudanças advindas com a maternidade. A DPP pode causar significativas repercussões na qualidade de vida, na dinâmica familiar e na interação mãe-bebê. Mães com DPP, quando comparadas às mães não deprimidas, gastam menos tempo olhando, tocando e falando com seus bebês e apresentam mais expressões negativas que positivas. Elas se expressam menos face a face e são menos efetivas na interação com o bebê. Mães deprimidas podem interromper a amamentação mais precocemente e lidar com seus bebês de forma indecisa, pouco afetuosa e confusa por lhes faltarem habilidades de resolução de problemas ou a persistência necessária para estabelecer interações afetivas com suas crianças. Outro aspecto desse relacionamento diz respeito à amamentação, momento de forte interação e intimidade entre a mãe e o bebê.
A psicose pós-parto é o transtorno mental mais grave que pode ocorrer no puerpério. Ela tem prevalência de 0,1% a 0,2% (sendo esse percentual maior em casos de mulheres bipolares)65, usualmente é de início rápido e os sintomas se instalam já nos primeiros dias até duas semanas do pós-parto66. Os sintomas iniciais são euforia, humor irritável, logorreia, agitação e insônia. Aparecem, então, delírios, ideias persecutórias, alucinações e comportamento desorganizado, desorientação, confusão mental, perplexidade e despersonalização.
O quadro psicótico no pós-parto é uma situação de risco para a ocorrência de infanticídio68. Um estudo feito na Índia com mulheres internadas com quadros psicóticos no pós-parto revelou que 43% delas tinham ideias infanticidas. O infanticídio geralmente ocorre quando ideias delirantes envolvem o bebê, como ideias de que o bebê é defeituoso ou está morrendo, de que o bebê tem poderes especiais ou de que o bebê é um deus ou um demônio. Devem ser sempre investigados nos quadros de psicose pós-parto comportamento negligente nos cuidados com o bebê e ideias suicidas e infanticidas.
Entre os fatores de risco para psicose puerperal, estão a primiparidade, complicações obstétricas e antecedentes pessoais ou familiares de transtornos psiquiátricos, sobretudo outros transtornos psicóticos. Quanto ao prognóstico, observa-se que cerca de 20% têm remissão completa do quadro e não apresentam recorrências. Estudos sugerem que há recorrência de novo episódio de psicose pós-parto em 18% a 37% das mulheres e que pode haver episódios subsequentes, fora do pós-parto, de algum transtorno psicótico ou afetivo em 38% a 81% das mulheres.
A intervenção farmacológica está reservada aos casos graves (MALHI G, et al., 2021). As discussões sobre o uso de medicamentos nesse período devem incluir os riscos de receber o tratamento e de não recebê-lo. Embora os dados de segurança disponíveis devam ser levados em consideração, o conhecimento sobre quais medicamentos foram eficazes para o paciente no passado é extremamente útil na tomada de decisões clínicas(TINKLEMAN A, et al., 2017).
O uso de medicações pode ser feito com uma combinação de lítio, antipsicóticos e benzodiazepínicos, o qual demonstrou ser eficaz, e a terapia eletroconvulsiva pode ser necessária. As recomendações para tratamento de longo prazo e prevenção de episódios futuros variam de acordo com o histórico psiquiátrico do paciente, e um plano de tratamento deve ser feito em conjunto com o mesmo, com base em suas preferências, histórico de resposta e os riscos potenciais do tratamento, bem como o desejo de amamentar. Em muitas pacientes, esses quadros não são fenômenos isolados e, portanto, ocorrem como um episódio inicial ou recorrente de uma doença episódica ou, até mesmo, crônica, fato que exige monitoramento de longo prazo. (TINKLEMAN A, et al., 2017)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A depressão pós-parto e a psicose puerperal são patologias psiquiátricas que podem acometer mulheres no período do puerpério. Estudos mostram que, nesse período, ocorrem alterações tanto de caráter emocional como hormonal, potencializadas por diversos fatores, incluindo condições obstétricas e psicopatológicas prévias. Além disso, os resultados obtidos indicam que essas patologias podem levar a um padrão negativo de interação com o bebê, e consequentemente, trazer importantes repercussões no desenvolvimento da criança. Diante disso, ressalta-se a importância da identificação precoce de sinais e sintomas e o desenvolvimento de estratégias de intervenções multidisciplinares que resultem em benefícios à relação mãe-bebê.
REFERÊNCIAS
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1Medico UTI – Hospital Regional de Toledo-Pr / UFPR
2Medicina Universidade do Estado de Mato Grosso jmiguelnetho@gmail.com
3Estudante Medicina Universidade Nove de Julho, Uni9 Leonan.rm@uni9.edu.br
4Medicina UNIC – Universidade de Cuiabá anabodaneseterra@gmail.com
5Acadêmica de medicina Nilton Lins julianybentes@gmail.com
6Universidade Nilton Lins Médico j.ramires13@hotmail.com
7Fisioterapeuta intensivista Faculdade de Ciências da Saúde Pitágoras de Codó alinnecarvalhofaculdade@gmail.com
8Médico Universidade Nove de Julho leonardofilipe1@hotmail.com
9Farmácia Centro universitário paraíso- UniFAP michele@aluno.unifapce.edu.br