SMOKING AMONG HEALTHCARE STUDENTS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501101759
Francisco Enson Souza Gomes1
Ítalo Sousa de Moraes Castro2
Kamilla da Silva de Galiza3
Franciele Basso Fernandes Silva4
Resumo
O tabagismo representa um importante desafio da saúde pública brasileiro, sendo os profissionais da saúde grandes aliados na prevenção. Este trabalho buscou discorrer sobre as características do uso do tabaco entre acadêmicos da área da saúde, destacando fatores associados à iniciação do hábito. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura. A coleta de dados abrangeu as bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e PubMed. Foram selecionados 11 artigos para compor esta revisão, abrangendo principalmente estudantes de medicina, enfermagem e fisioterapia de 10 países diferentes. Percebeu-se taxas aumentadas de tabagismo entre esses estudantes, quando comparados com a população geral. O cigarro tradicional ainda foi predominante, assim como o sexo masculino. O início do hábito se concentrou na adolescência e sofreu influência de parentes e amigos fumantes. Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar podem servir como porta de entrada para a dependência da nicotina. Notou-se o potencial de programas de combate ao fumo nas universidades, que pode diminuí-lo ao decorrer dos anos letivos. Dessa forma, são necessários trabalhos com enfoque no panorama brasileiro, pois é importante considerar a influência regional e cultural dos países sobre o tabagismo.
Palavras-chave: Tabagismo; Estudantes de Ciências da Saúde; Dispositivos para Fumar.
1. INTRODUÇÃO
O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) foi lançado em 1985 pelo Ministério da Saúde, objetivando prevenir a iniciação do uso de derivados do tabaco e promover o abandono do 2 tabagismo entre aqueles que já são dependentes. Embora esse programa seja um dos mais efetivos da América Latina, resultando em contínua queda do tabagismo até ano de 2013 e demonstrando um total de 14,7% de adultos fumantes, a prevalência desse hábito volta a ser motivo de preocupação devido às formas não tradicionais de fumar, principalmente entre jovens. Ademais, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), o consumo dos derivados do tabaco vem se tornando um problema em certas regiões do Brasil, principalmente relacionado a populações em vulnerabilidade social (CAMPOS et al, 2020).
De forma quantitativa, ocorrem a morte e adoecimento de milhões de pessoas por ano. Apenas em 2017, houve cerca de 8 milhões de óbitos devido a doenças relacionadas ao consumo de tabaco no mundo. De acordo com o relatório de tendências da Organização Mundial de Saúde (OMS), a prática do tabagismo pelo mundo durante 2020 foi de 22,8% com previsão de diminuição para 20,9% em 2025 (OMS, 2019). Apesar disso, é esperado um crescimento da mortalidade por causa do consumo do tabaco, tendo em vista que essas doenças relacionadas, de forma geral, aparecem tardiamente (MORAIS et al, 2022).
Nesse quesito, os governos demandam atenção especial aos jovens por ser uma etapa da vida em que há uma expressiva quantidade de início ao consumo dessa e de outras drogas. Visto que as fases da adolescência e do início da vida adulta são representadas por uma variedade de mudanças no âmbito social, biológico e psicológico, como a procura por autonomia, pela inserção em grupos sociais e por novas experiências. Além disso, destaca-se que, no Brasil, segundo a pesquisa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), a taxa de indivíduos entre 18 e 24 anos tabagistas aumentou de 6,7% em 2018, para 7,9% em 2019. Os determinantes do tabagismo entre os adultos jovens são multifatoriais, resultando de diferentes domínios, com destaque para o contexto social no qual estão inseridos, relacionados diretamente ao fumo, como trabalho, religião, entre outros. (MORAIS et al, 2022).
Em 2019, houve mais de 1 bilhão de fumantes regulares, sendo o tabagismo relacionado a 20,2% das mortes entre o sexo masculino, tornando-se o principal fator de risco para óbitos e anos de vida perdidos por incapacidade entre os homens. No entanto, entre as mulheres, ele foi responsável por apenas 5,8% dos óbitos, devido à menor prevalência e duração do hábito. (URRUTIA-PEREIRA et al., 2021). Corroboram com essa tendência, os dados da Global Burden Disease (GBD) que demonstram que mais de 80% dos tabagistas são homens. Já no Brasil, inicialmente no século XX, o tabagismo era uma prática masculina, e a inserção das mulheres ocorreu em meados de 1960 e 1970, associando-se a emancipação feminina e igualdade de gênero. Nesse contexto, o Brasil, juntamente com 22 outros países, adotaram o conjunto de políticas “MPOWER”, que pertence ao Plano de Ação da OMS, objetivando prevenir e controlar as DCNT. Esse programa visa incentivar o monitoramento do consumo do tabaco e as políticas de combate ao fumo passivo e apoio à cessação (MALTA et al, 2021b).
Diante disso, o tabagismo representa um importante desafio da saúde pública no Brasil, onde se encontram, atualmente, mais de 7 milhões de fumantes ativos e 1,2 milhão de passivos, sendo que 428 óbitos por dia se dão pela dependência da nicotina, e 56,9 bilhões de reais são dispendidos por ano 3 com serviços médicos e perda de produtividade. Outro ponto importante é a incidência de neoplasias malignas relacionada ao tabagismo, que vem aumentando significativamente, especialmente nos cânceres da boca, faringe, laringe, traqueia, esôfago, estômago, colorretal, hepático, pâncreas, pulmão, renal, bexiga e colo do útero, além da leucemia mieloide aguda. Em 2015, o consumo do tabaco representou a causa de 20% do total de mortes pela doença (SCHNEIDER et al, 2021).
De acordo com a OMS, o tabagismo pode ser considerado uma doença pediátrica, pois cerca de 90% dos fumantes regulares iniciaram o hábito antes dos 18 anos (OMS, 2009). Por outro lado, percebe-se que a entrada na universidade, apesar de trazer sentimentos positivos, também se torna um período crítico, com maior vulnerabilidade para iniciar o uso de drogas, principalmente na companhia de colegas da faculdade, que incentivam o hábito em momentos, como festas e ritos de iniciação, o que caracteriza esse grupo social. Esses universitários referem o tabagismo como fator de proteção para o estresse advindo dos problemas cotidianos, tornando essas drogas fortemente atrativas para esse grupo social, pela maior aceitação e fácil acesso. Nessa área, há diversos fatores que colaboram para o desgaste emocional como os riscos de contaminação nos serviços de saúde, a lida com o óbito, e a autorresponsabilidade sobre o bem-estar do paciente (FERREIRA et al., 2014).
Dessa forma, percebe-se a importância de analisar o tabagismo entre os estudantes da área da saúde, principalmente por esses indivíduos se tornarem, num momento futuro, formadores de opinião dentro da população por serem profissionais da saúde. Diante do exposto, este estudo tem como objetivo discorrer as características do tabagismo entre os acadêmicos da área da saúde, destacando os fatores epidemiológicos, biopsicossociais e intelectuais associados à iniciação do hábito, assim como a influência dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar. Além de conhecer o perfil epidemiológico, fatores e vulnerabilidades associados ao maior consumo de tabaco entre os acadêmicos, e entender a influência do meio universitário, especialmente de cursos da saúde, na prática do tabagismo entre os estudantes desses cursos.
2. METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, onde são reunidos artigos científicos de várias bases de publicações, sendo analisados tanto estudos qualitativos quanto quantitativos. A revisão integrativa representa o tipo de revisão de literatura com abordagem metodológica mais ampla, onde permite-se incluir tanto estudos experimentais como não-experimentais para compreender de forma holística o fenômeno em análise. Ademais, combina também informações da literatura teórica e empírica, abrangendo uma variedade de metas: definir conceitos, revisar teorias e evidências, e analisar problemas de metodologia. Contribuem também para essa revisão, a ampla amostra, juntamente com a multiplicidade de objetivos, que é capaz de produzir um panorama consistente e inteligível de conhecimentos complexos ou desafios importantes de saúde (SOUZA, 2010).
A Prática Baseada em Evidências (PBE) propõe que a pergunta norteadora de uma busca bibliográfica de evidências seja elaborada a partir da decomposição do problema clínico por meio da estratégia PICO: Acrônimo para Paciente, Intervenção, Comparação e Outcomes (desfecho) (SANTOS, 2007).
Dessa forma, temos: P como os acadêmicos de cursos da área da saúde; I como a prática do tabagismo, em todas suas formas; C como a não prática do tabagismo; O como as consequências do consumo de tabaco.
Os critérios de inclusão foram:
1. Estudos que abordem o tabagismo, incluindo cigarro tradicional, dispositivos eletrônicos para fumar, narguilé, cachimbo, charuto, cigarro de palha, fumo de corda e folha de tabaco;
2. Estudos sobre acadêmicos da área da saúde, como medicina, fisioterapia, odontologia, psicologia, nutrição, farmácia, enfermagem e educação física.
Os critérios de exclusão foram:
1. Artigos que, após a identificação por meio de títulos e resumos, não condizem com o objetivo central da pesquisa;
2. Artigos não disponibilizados gratuitamente na íntegra;
3. Artigos disponibilizados apenas em idiomas que não o português ou inglês ou espanhol;
4. Artigos publicados há mais de 5 anos.
5. Estudos do tipo relato de caso ou opinião de especialista, devido ao baixo grau de evidência científica;
6. Exclusão de estudos em duplicatas, mantendo apenas um.
A coleta de dados abrangeu as seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e PubMed. O descritor em ciências da saúde utilizado foi “estudantes de ciências da saúde “, combinado com “tabagismo”, “vaping”, “sistemas eletrônicos de liberação de nicotina”, e “fumar tabaco”, assim como suas respectivas traduções em inglês.
Nas bases BVS e SciELO, buscou-se ((estudantes de ciências da saúde) AND (tabagismo)) OR ((estudantes de ciências da saúde) AND (vaping)) OR ((estudantes de ciências da saúde) AND (sistemas eletrônicos de liberação de nicotina)) OR ((estudantes de ciências da saúde) AND (fumar tabaco)), resultando respectivamente 100 e 20 estudos.
Na base PubMed, buscou-se ((Students, Health Occupations) AND (Tobacco Use Disorder)) OR ((Students, Health Occupations) AND (Tobacco Smoking)) OR ((Students, Health Occupations) AND (Vaping) OR ((Students, Health Occupations) AND (Electronic Nicotine Delivery Systems)), resultando em 44 estudos.
Após aplicados os critérios de exclusão, restaram das bases BVS, PubMed e SciELO, respectivamente 20, 21 e 4 artigos, totalizando 45 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos, excluiu-se 3 artigos por repetição e 31 por não adequação ao tema. Dessa forma, foram escolhidos 11 artigos para compor a revisão integrativa (Figura 1).
Figura 1: Fluxograma evidenciando as etapas de seleção de artigos para revisão.
Fonte: Própria
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Os 11 estudos incluem alunos de diversos cursos de graduação da área da saúde, principalmente dos cursos de medicina, enfermagem e fisioterapia. São acadêmicos de instituições de 10 países diferentes. Todos os artigos apresentaram dados sobre a prevalência do tabagismo entre os estudantes (Quadro 1).
Quadro 1: Síntese dos estudos selecionados para compor a revisão de literatura, evidenciando autores, ano da publicação, país e principais resultados.
Autores e ano de publicação | País | Amostra | Principais Resultados |
ALNASSER, A. H. A. etal., 2022 | Arábia Saudita | 421 alunos de medicina | 25,4% eram tabagistas |
BALOGH, E. et al., 2018 | Alemanha e Hungria | 2935 alunos de medicina | 18% usavam cigarro tradicional,4,8% narguilé e 0,9% DEF |
BENETON,E.R.; SCHMITT, M.; &ANDRETTA,I., 2021 | Brasil | 111 alunos da área da saúde | 58,6% eram tabagistas |
BROYEK, G. M. et al.,2017 | Polônia | 1318 alunos de medicina | 18,1% usavam cigarro tradicional e 3,5% DEF |
CANZA, F., et al., 2019 | Itália | 1463 alunos de enfermagem | 39,9% usavam cigarro tradicional e 2,1% DEF |
CASTRILO, G. G. et al., 2019 | Espanha | 380 alunos de enfermagem e medicina | 24% eram tabagistas, 29,2% já usaram DEF |
FERNANDEZ-GARCIA,D. et al., 2020 | Espanha e Portugal | 1469 alunos de enfermagem | 18,9% eram tabagistas, 0,4%usavam DEF e 0,7% ambos |
IQBAL, N. et al., 2018 | Paquistão | 500 alunos de medicina | 38,8% usavam produtos do tabaco convencional e 6,2% DEF |
LUARTE-MARTINEZ, S.et al., 2021 | Chile | 554 alunos de fisioterapia | 29,4% eram tabagistas |
PRIGITANO, A. et al., 2020 | Itália | 560 alunos da área da saúde | 34,8% eram tabagistas, 54,6%usavam cigarro comum, 3,1% narguilé, e 24,6% já usaram DEF |
SILVA, D. A., 2019 | Brasil | 217 alunos de enfermagem e medicina | 13% eram tabagistas |
Fonte: Própria
4. Discussão
As taxas de prevalência de tabagismo variaram entre 13% e 58,5%. Beneton, Schmitt & Andretta (2021) apresentaram o estudo com maior percentual de tabagistas, porém contou com uma amostra estratificada e com menor número de estudantes dentre os estudos avaliados (111 alunos), o que pode ter influenciado esse resultado. Por outro lado, também apresentou prevalência alta o estudo de Iqbal et al. (2018), com 45% de tabagistas, que contou com 500 estudantes do Paquistão, seguido pelos estudos italianos Canza et al. (2019) e Prigitano et al. (2020), com taxas de tabagismo de 42% e 34,8%, respectivamente. Nesses 3 estudos, foram comparados esses percentuais com outros artigos do mesmo país, e encontrou-se valores semelhantes, sugerindo a influência da nacionalidade e da cultura no consumo dos produtos do tabaco.
Quanto ao gênero, todos os estudos encontraram percentuais maiores de homens em relação às mulheres entre os tabagistas, porém apenas alguns artigos encontraram diferença significativa entre sexos. Tal como Iqbal et al. (2018), que constataram que os estudantes que usavam produtos de tabaco convencionais tinham probabilidade maior de serem homens e Balogh et al. (2018), que encontraram relação significativa do tabagismo com o sexo masculino. Já Alnasser et al. (2022) investigaram a diferença entre sexos em diversos aspectos dos estudantes, sendo que os homens fumavam significativamente mais cigarro tradicional, enquanto as mulheres fumavam mais narguilé. Ainda nesse estudo, não houve diferença significativa quanto à atitude em relação ao tabagismo entre sexos, porém foi notado que mais alunos do sexo feminino acreditavam que o cigarro eletrônico era prejudicial à saúde.
Os estudos apresentaram amostras com idades predominantemente jovens, com médias que se encontravam na faixa etária entre 20 e 25 anos. Além disso, Balogh et al. (2018) notaram que os fumantes de cigarro eram mais velhos que os não usuários, enquanto que aqueles que usavam narguilé eram mais jovens, porém essa diferença foi significativa apenas para alunos do 1° ano letivo analisado. Esse mesmo estudo encontrou a idade avançada associada com maiores chances de fumar, porém não relacionada ao uso do cigarro eletrônico. Em relação ao início do consumo, Prigitano et al. (2020) relataram uma idade média de 16,4 anos, enquanto Fernandez-Garcia et al. (2020) apontaram 15,3 anos para início do consumo, e 17,4 anos para consumo regular, sendo que neste estudo, 15,8% iniciaram o hábito durante o curso.
A motivação para o uso do tabaco foi avaliada por Fernandez-Garcia et al. (2020), que encontraram como principais justificativas os amigos fumantes (34,9%) ou porque gostaram do uso (21,1%), e além disso também notaram que o número de estudantes que coabitavam com fumantes era estatisticamente maior entre aqueles que também fumavam (52,2% vs 38,8%). Por outro lado, Prigitano et al. (2020) avaliaram também a influência da família, observando que os não fumantes tinham ambos os pais não fumantes (65,2 % vs 43%) em relação aos fumantes, assim como os tabagistas tinham pelo menos um dos pais (37,3% vs 24%), irmão (15% vs 2,8%) ou amigo fumante (71,8% vs 57,8%) em relação aos não tabagistas, demonstrando diferença significativa em todos esses aspectos. De forma semelhante, Silva (2019) relatou que 61% dos fumantes em seu estudo tiveram influência para iniciar o tabagismo, principalmente de amigos (53%) e família (41%). Da mesma forma, Canzan et al. (2019) encontraram em sua pesquisa, que as chances de usar cigarros eletrônicos foram mais que duplicadas (OR = 2,54) para alunos que habitavam com colegas usuários de cigarros eletrônicos em relação àqueles cujos colegas não fumavam tabaco nem DEF.
Em relação ao início do uso do cigarro eletrônico, Prigitano et al. (2020) e Broyëk et al. (2017) relataram como motivação mais importante a tentativa de parar de fumar, sendo relatada em 78% e 58,7%, respectivamente nesses estudos. Aquele estudo também notou que 9,4% daqueles estudantes que nunca fumaram experimentaram o cigarro eletrônico por curiosidade ou influência de amigos. Por outro lado, segundo Castrillo et al. (2019), apenas 21,5% usou para parar/reduzir o fumo, enquanto 70,1% iniciaram por curiosidade. Este mesmo estudo encontrou diferenças estatisticamente significativas apenas entre os estudantes de enfermagem e medicina (18% vs 5,3%) e entre fumantes de média-alta dependência de nicotina e os de baixa (55,6% vs 13%) que usaram para reduzir o tabagismo tradicional.
O estudo realizado por Broyëk et al. (2017) também apontou a percepção de um impacto menos prejudicial à saúde como um dos principais motivos para o uso do cigarro eletrônico em seu estudo (43,5%), apesar de que apenas 6% dos indivíduos acreditam que esse tipo de cigarro é seguro para saúde, com diferença significativa entre os usuários e os não usuários desse tipo (35,5% vs 4,9%). Já Castrillo et al. (2019) observaram que a maioria dos estudantes considera o cigarro eletrônico menos prejudicial (59,7%) ou igualmente (25,8%), com diferenças significativas quanto à idade e ano letivo. Enquanto Alnasser et al. (2022) encontraram diferença significativa entre sexos, com mais estudantes mulheres acreditando que o DEF é prejudicial. Iqbal et al. (2018) perceberam que os não usuários de DEF reconhecem mais de forma significativa o risco de doenças respiratórias, dependência e danos na gravidez, porém sem diferença quanto ao auxílio a parar de fumar ou ao prejuízo em comparação ao cigarro tradicional.
Foi observado por Broyëk et al. (2017), que o número de cigarros fumados e a intensidade do tabagismo foi significativamente maior entre os eletrônicos, e que nos fumantes eletrônicos e de ambos, a duração do tabagismo eletrônico foi significativamente menor. Por sua vez, Iqbal et al. (2018), além de notarem que os usuários eletrônicos usavam outros produtos de tabaco mais frequentemente que os não usuários, observaram também que os fumantes não eletrônicos eram significativamente mais propensos a conhecer o cigarro eletrônico (87,6% vs 51,6%) e usá-lo (13,9% vs 1,3%), tendo conhecido principalmente através de amigos (32,9%). O uso concomitante de ambos os tipos foi avaliado por Canzan et al. (2019), que observaram que o uso cigarro eletrônico foi mais significativo por atuais tabagistas (57,2% vs 12%), e a experimentação do DEF subiu significativamente de nunca fumantes (7,3%) para ex-fumante (32,2%), fumantes ocasionais (39%) e fumantes regulares (66,3%).
O estudo de Iqbal et al. (2018) demonstrou grande preocupação com o fato de que os usuários novos muitas vezes usaram o cigarro eletrônico como um experimento, especialmente adolescentes e populações jovens, o que pode levar à dependência em nicotina. Outro estudo que chegou a uma conclusão semelhante foi Castrillo et al. (2019), onde mais de 15% dos estudantes não fumantes já usaram os DEF, a maioria deles contendo nicotina, que além do potencial de criar uma nova geração de dependentes, ainda podem funcionar como porta de entrada para o consumo de outras drogas.
Quanto à influência da graduação, no consumo, Luarte-Martinez et al. (2021) observaram uma variação significativa do tabagismo dos estudantes no 1° ano de curso (38,5%) para o 3° ano (23,7%), porém no 4° ano aumentou novamente (34,1%) e diminuiu no 5° ano (25,5%). Esse estudo atribuiu essas mudanças à progressão nas competências específicas estudadas pelos acadêmicos nos primeiros 3 anos de curso de fisioterapia. Por outro lado, Iqbal et al. (2018) notaram que mais de 50% dos usuários de tabaco convencional pertenciam ao 4º e 5º ano do curso de medicina, com diferença estatisticamente significativa.
Por fim, um dos estudos avaliados, Beneton, Schmitt & Andretta. (2021) focaram na relação entre sintomas psiquiátricos e o uso de tabaco e outras drogas. Esse trabalho encontrou correlação positiva entre uso de tabaco com sintomas de ansiedade, depressão e estresse, e correlação positiva moderada entre o uso de tabaco, maconha e álcool, ou seja, quanto maior o uso de uma droga, maior a chance de uso da outra. Além disso, foi demonstrado que quanto maiores os níveis de depressão, ansiedade e estresse, maior o uso de tabaco, motivado pela diminuição desses sintomas e pela convivência com colegas tabagistas.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, percebe-se taxas aumentadas de tabagismo entre os estudantes da área da saúde, quando comparados com a população geral de seus respectivos países. O uso do cigarro tradicional ainda é predominante, assim como a prática pelo sexo masculino. É importante destacar que o início do hábito se concentra na adolescência e sofre influência principalmente da família e amigos que moram juntos e são fumantes. Este estudo também revela o potencial de programas de combate ao fumo nas universidades, pois apesar do consumo iniciar na maioria das vezes antes do ingresso no ensino superior, o mesmo pode ser diminuído ou cessado ao decorrer dos anos letivos.
Conclui-se, também, o risco da popularização do cigarro eletrônico, observada principalmente entre as faixas etárias mais jovens, motivado pela curiosidade ou influência de amigos. Apesar de que a maioria dos estudantes reconheça que o DEF seja prejudicial à saúde, muitos acreditam que seja menos danoso do que o cigarro tradicional. A preocupação é que esta forma de fumar sirva como porta de entrada para a dependência da nicotina ou até mesmo possibilite o uso de outras drogas.
Quanto às limitações deste estudo, notou-se que são necessários trabalhos com enfoque no panorama brasileiro, pois este estudo reuniu dados de instituições de 10 países diferentes, e é preciso levar em conta a influência regional e cultural dessas nações sobre o tabagismo. Aliás, nenhum dos artigos abordou a influência da pandemia da COVID-19 no âmbito do tabagismo nas instituições de ensino em saúde, que juntamente com o isolamento social, representa um importante fator de estresse e mudanças de hábitos de vida.
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1Discente do Curso Superior de medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) e-mail: ensongomes1@gmail.com
2Médico no Instituto doutor José Frota (IJF). e-mail: italosousa022@gmail.com
3Discente do curso superior de medicina da Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí/ Instituto de Educação; Superior do Vale do Parnaíba (FAHESP/IESVAP). E-mail: kamillagaliza@gmail.com
4Docente do curso superior de medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar). E-mail: francibasso2@hotmail.com