TRACKING OF NEOPLASIC INJURIES IN COLONOSCOPY OF RIGHT COLON: A RANDOMIZED AND CONTROLLED STUDY OF CONVENTIONAL COLONOSCOPY VERSUS CHROMOSCOPY WITH ÍNDIGO CARMIM AND DIGITAL
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501101038
Frederico Fonseca Campos¹;
Renata Luiza de Medeiros Rodrigues Scocuglia².
Resumo
O estudo das lesões neoplásicas colorretais, especialmente as adenomatosas, é relevante devido à sua associação com o carcinoma colorretal (CCR), a quarta causa de câncer no Brasil. O rastreamento visa detectar lesões pré-malignas ou câncer em estágio inicial, reduzindo a evolução da doença por meio de ressecção endoscópica. Esta pesquisa avaliou a taxa de detecção de lesões neoplásicas colorretais em colonoscopia convencional comparada aos métodos de cromoscopia digital (FICE) e indigo carmim no cólon direito. Foram selecionados 309 pacientes submetidos a screening entre setembro de 2017 e maio de 2018, divididos em três grupos randomizados: indigo carmim, FICE e luz branca. Excluíram-se 28 pacientes devido a critérios como preparo intestinal inadequado ou histórico de cirurgias colorretais. O cólon direito (ceco, cólon ascendente e ângulo hepático) foi avaliado duas vezes: inicialmente com luz branca e, em seguida, conforme a modalidade designada. A idade média dos pacientes foi de 55,7 anos, sem diferenças significativas entre os sexos. Em todos os grupos, a detecção de pólipos aumentou após a reavaliação. O grupo do indigo carmim apresentou risco relativo de detecção 3,54 vezes maior que o FICE e 5,19 vezes maior que a luz branca (p<0,0001). O tempo médio do exame foi maior no grupo do indigo carmim (22,4 minutos), seguido por FICE (20,7 minutos) e luz branca (20,5 minutos). Das 56 lesões ressecadas, 45 (80,3%) estavam no cólon ascendente, e 28 (50%) foram diagnosticadas como adenomas. Conclui-se que a cromoscopia com indigo carmim no cólon direito proporciona maior taxa de detecção de pólipos, justificando seu uso na prática clínica, apesar do maior tempo necessário para realização do exame.
Palavras-chave: Colonoscopia. Adenoma. Câncer colorretal. Prevenção.
Abstract
The study of colorectal neoplastic lesions, particularly adenomatous ones, is relevant due to their association with colorectal carcinoma (CRC), the fourth leading cause of cancer in Brazil. Screening aims to detect premalignant lesions or early-stage cancer, reducing disease progression through endoscopic resection. This research evaluated the detection rate of colorectal neoplastic lesions in conventional colonoscopy compared to digital chromoendoscopy methods (FICE) and indigo carmine in the right colon. A total of 309 patients underwent screening between September 2017 and May 2018, divided into three randomized groups: indigo carmine, FICE, and white light. Twenty-eight patients were excluded due to criteria such as inadequate bowel preparation or a history of colorectal surgeries. The right colon (cecum, ascending colon, and hepatic flexure) was evaluated twice: initially with white light and subsequently according to the designated modality. The patients’ mean age was 55.7 years, with no significant differences between sexes. Polyp detection increased after reevaluation in all groups. The indigo carmine group showed a relative risk of detection 3.54 times higher than the FICE group and 5.19 times higher than the white light group (p<0.0001). The average examination time was highest in the indigo carmine group (22.4 minutes), followed by FICE (20.7 minutes) and white light (20.5 minutes). Of the 56 resected lesions, 45 (80.3%) were located in the ascending colon, and 28 (50%) were diagnosed as adenomas. It is concluded that chromoendoscopy with indigo carmine in the right colon provides a higher polyp detection rate, justifying its use in clinical practice despite the longer examination time required for this technique.
Keywords: Colonoscopy. Adenoma. Colorectal cancer. Prevention.
1 INTRODUÇÃO
A neoplasia caracteriza-se por um processo patológico resultante do crescimento anormal, incontrolado e progressivo de tecido, mediante proliferação celular. No modelo proposto por Fearon e Volgelstein (1990), definiu-se a sequência de mutações gênicas mais comumente identificadas no câncer colorretal (CCR). A partir da identificação dos defeitos genéticos associados a estes tumores, surgiu uma nova perspectiva para o rastreamento e tratamento eficaz desta neoplasia.1 Entretanto, já em 1978, Day e Morson descreveram, pela primeira vez, a sequência adenoma-carcinoma.2 A transformação das lesões neoplásicas em malignas (adenoma –carcinoma) se dá de maneira estagiada, tendo seu início, habitualmente, no epitélio mucoso superficial.3,4 A identificação e ressecção de lesões em estágio pré-maligno visa conter a progressão para o câncer invasivo.5
O câncer colorretal (CCR) é uma afecção frequente do sistema digestivo, que acomete predominantemente a população idosa.6 Esta doença se destaca entre os tumores malignos mais incidentes no Brasil e no mundo, com uma incidência aproximada de 1.000.000 casos/ano no mundo.7 Constitui a quarta causa de câncer no Brasil com, aproximadamente, 30.000 novos casos anuais. Dentre os fatores que explicam a elevada incidência de CCR, destaca-se o aumento da expectativa de vida da população brasileira. Estima-se que o CCR constitua a terceira causa de morte por tumores malignos em mulheres e a quinta causa em homens.8,9
A prevenção tem como característica ser um processo de identificação presuntiva de doença existente, mas não diagnosticada. No rastreamento, visa-se detecção de lesões pré-malignas ou câncer precoce, na tentativa de reduzir a morbimortalidade.3,10
A colonoscopia é considerada o método padrão-ouro na prevenção do CCR. A introdução desta foi capaz de reduzir em cerca de 80% a mortalidade decorrente do CCR, pelo diagnóstico e tratamento das lesões iniciais.11
Por outro lado, estudos mostraram uma redução de 29% na mortalidade geral com a utilização da colonoscopia para prevenção. Após estratificação do acometimento tumoral por segmento do cólon, observou-se redução de 47% na mortalidade de lesões que acometem distal a flexura esplênica, porém esta redução não foi observada no câncer proximal (ceco, cólon ascendente e cólon transverso).12 Alguns fatores podem justificar tal achado, dentre eles, uma maior dificuldade técnica no rastreamento de diminutas lesões no cólon direito. Outras possíveis causas seriam o preparo do cólon direito encontra-se mais inadequado, bem como a realização de colonoscopias incompletas.12,13 É esperado a não detecção de 2 a 12% de lesões, principalmente lesões planas menores que 10 milímetros.14
A cromoendoscopia já vem sendo utilizada há décadas sendo esta uma técnica com baixo risco, fácil aplicação e baixo custo.15 Porém apenas em 1966, Voegeli, ganhou notoriedade com a utilização do lugol para o diagnóstico do câncer de útero.16A cromoscopia ou cromoendoscopia se caracteriza pela utilização de compostos químicos (corantes ou pigmentos) ou pela utilização de filtros óticos.11 A utilização desta modalidade visa aumentar a acurácia na identificação de alterações superficiais da mucosa digestiva, auxiliando na identificação, bem como na caraterização morfológica das lesões.15-17
Os corantes rotineiramente utilizados podem ser divididos em três tipos: deposito, absortivo e reativo.15 O corante mais comumente utilizado na colonoscopia compreende o Índigo Carmim, sendo este um corante de depósito, também chamado de corante de contraste ou relevo.16 O Índigo Carmim apresenta coloração azulada, tendo como principais funções: auxiliar no diagnóstico diferencial de pólipos, avaliação do padrão das criptas (pit pattern) e delimitação da área da lesão acometida. 16,17
Desta maneira, devido à sua alta incidência e mortalidade, os custos envolvidos e a carcinogênese bem compreendida, com reconhecimento de lesões pré-cancerosas passíveis de tratamento, a prevenção do CCR por meio de rastreamento torna-se indispensável.
2 METODOLOGIA
Foram selecionados inicialmente 309 pacientes, conforme o cálculo amostral. Os pacientes foram divididos em três grupos iguais (103 casos), de maneira aleatória e pareada. Deste total, foram excluídos 28 deles: dez por não ter apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido assinados, sete devido a preparo inadequado no cólon direito, sete devido à dificuldade técnica para alcançar o íleo, sendo destes sete, um devido a neoplasia do cólon esquerdo, que impediu a progressão do aparelho, três por não ser possível a identificação do ângulo hepático e um por apresentar cirurgia em cólon direito prévia.
O preparo de cólon foi iniciado com dieta de baixo resíduo dois dias antes ao exame, seguido do uso de três comprimidos de bisacodil (5mg) ingeridos às 17:00 horas. Os pacientes foram incentivados a ingerirem grande quantidade de líquidos claros neste dia. No dia do exame, utilizou 250ml de Lactitol diluídos em 750ml de suco processado ou coado, ingerido em um período de uma hora, cerca de cinco horas antes da realização da colonoscopia, quando então o jejum deveria ser absoluto.
Todos os pacientes foram informados previamente sobre o estudo, sendo esclarecidas eventuais dúvidas relacionadas à pesquisa. A admissão do paciente se fez após entrega da avaliação pré-anestésica e do TCLE. Na sala de exames, sob assistência anestesiológica, o paciente foi posicionado em decúbito lateral esquerdo, para início do exame. O posicionamento do paciente pode se alterar em casos em que haja dificuldade para alcançar o íleo, quando pode ser optado na mudança para decúbito dorsal e/ou pela utilização de manobras de compressão abdominal. A sedação foi realizada pelo anestesiologista, sendo realizada a critério dele.
Ao início do procedimento, os pacientes foram selecionados de forma aleatória. Os pacientes cujo número de identificação apresentaram a última casa decimal terminada com (0, 1 e 2) foram direcionados para a realização de uma segunda avaliação do ceco, cólon ascendente e ângulo hepático com a utilização da luz branca, grupo 1 (G1). Os pacientes cujo número de identificação apresentaram a última casa decimal terminada em (3, 4 e 5) foram direcionados para a realização de uma segunda avaliação do ceco, cólon ascendente e ângulo hepático com a utilização da cromoscopia digital (FICE – Fujinon Intelligent Color Enhancement) e os que apresentaram a última casa decimal terminada em (6, 7 e 8) realizaram a segunda avaliação do ceco, cólon ascendente e ângulo hepático com a utilização do índigo carmim. Todos os pacientes serão avaliados por aparelhos colonoscópicos adultos de alta resolução e canal único (séries 530 e 590; Fujifilm Corporation, Saitama-Shi, Saitama, Japão).
Após a intubação íleal, em casos de peristalse moderada a intensa, como rotina do setor, foi realizado a administração de escopolamina. Em ambos os grupos o primeiro rastreamento se fez com a luz branca (ceco ao ângulo hepático). Foi realizado a técnica de retorno “back to back”. O índigo carmim (0,4%), fornecido pela Gállica manipulação farmacêutica ltda, foi instilado diretamente pelo canal de acessório aparelho, em seringas de 20ml, com média de instilação de 40ml, com o aparelho posicionado na porção média, rente a papila íleocecal. Após aspiração do ar do cólon direito, o corante pode se dispesar, permitindo coloração adequada de todo o segmento, visando a deposição do corante sobe todas as pregas. (FIGURA 3).
As lesões foram ressecadas com pinça de biópsia e/ou alça de polipectomia descartáveis, seja a frio ou com o uso de corrente de corte ou endocut, dependendo do tamanho e da localização da lesão. Estas foram classificadas de acordo com a sua dimensão (referência da pinça de biópsia aberta – 7mm), pelo aspecto do relevo, das criptas e pela cor da sua superfície. As lesões encontradas em outros segmentos cólicos (cólon transverso, cólon descendente, cólon sigmoide e reto) seguiram o mesmo protocolo para ressecção, utilizando a classificação de Paris.
3 RESULTADOS
Dentre os 281 pacientes estudados, a média de idade foi de 55,7 ±8,4 anos. Entre os tipos de colonoscopia realizados, os pacientes com maior idade média foram os que realizaram a reavaliação do cólon com o auxílio do FICE 57,7 anos, seguidos dos que realizaram com Índigo 55,7 anos e luz branca, 53,8 anos (TABELA 1). Em relação ao gênero, a distribuição dos pacientes se deu por 145 (51,6%) do feminino, enquanto as do gênero masculino, pouco menos, 136 (48,4%). Entre as modalidades de avaliação colonoscópica, o padrão foi semelhante; com exceção da colonoscopia tipo luz branca, em que a maior parte era de pacientes do gênero masculino, 58 (59,2%), conforme gráfico 1.
As variáveis idade e gênero foram comparadas em relação a cada grupo. Houve diferença estaticamente significativa apenas entre os grupos G2 e G3 quando comparado ao grupo de luz branca na variável gênero. (TABELA 2).
Os pacientes com histórico familiar positivo para CCR foi maior no G1 40 (40,8%), seguido do G3 17 (20,5%) e G2 16 (16%). (TABELA 3). A maioria dos pacientes estavam realizando o exame pela primeira vez 235 (83,6%), sendo maior essa proporção nos pacientes do grupo FICE 90 (90%), seguido do índigo e luz branca. De forma geral, a maior parte dos pacientes apresentou classificação do preparo Boston 3, 245 deles (87,2%), enquanto 36 (12,8%) Boston 2.
Não houve diferença significativa entre o grau parentesco (primeiro e segundo graus), assim como na presença de divertículos entre os três grupos. Em relação ao número de exames realizados, apenas houve diferença significativa entre o G1 e G2. Já em relação ao grau de qualidade do preparo colorretal e ao histórico familiar, houve diferença significativa na qualidade apenas dos pacientes do G1, que apresentou melhor pontuação da escala de Boston quando comparado ao demais grupos (TABELA 4).
Em relação ao tempo de realização do exame, de forma geral, o tempo médio foi de 21,1 minutos, com desvio-padrão de 5,0 minutos. Os pacientes que realizaram em menor tempo, realizaram em 14,0 minutos, enquanto os que realizaram em maior tempo, realizaram em 44,0 minutos.
Entre os tipos de colonoscopia realizados, os pacientes que realizaram o exame do tipo índigo apresentaram maior tempo médio, 22,4 minutos, seguidos dos que realizaram exame do tipo FICE, 20,7 minutos, e dos que realizaram exame com luz branca, 20,5 minutos.
Em relação às variáveis contínuas, houve diferença significativa no tempo de realização do exame (p=0,000), indicando que os pacientes que realizaram exame do tipo Índigo apresentavam maior tempo de realização mediana, 23 minutos, que os que realizaram exame do tipo Luz branca, 19,5 minutos e ao exame com FICE, 19,0 minutos, conforme tabela 5.
Em relação às lesões identificadas durante a reavaliação do cólon direito, houve um total de 56, tendo a maior taxa de identificação o cólon ascendente (80,3%), seguida do ceco (16,1%) e ângulo hepático (3,6%).
Do total de lesões diagnosticadas em cólon ascendente, a maior parte delas se fez pelo uso do índigo carmim, 28 (62,2%), seguidos dos que haviam realizado exame com FICE, 10 (22,2%) e por fim, dos que haviam realizado exame do tipo Luz branca, 7 (15,6%).
Não houve diferença significativa entre a taxa de detecção de lesões durante a reavaliação do cólon direito quanto comparado o G1 e G2. Já em relação ao G3 houve um aumento no risco relativo de detecção de novas lesões de 5,19 vezes em relação ao grupo de G1e 3,54 vezes maior em relação ao G2.
A maioria das lesões diagnosticadas era menor que 5mm, sendo o tamanho médio de 4,8mm. Dos pacientes que apresentaram lesão no ceco, 4 (44,4%) apresentavam histologia de hiperplasia, 3 (33,3%) adenoma e 2 (22,3%) colite. No cólon ascendente, nos exames com luz branca e FICE a maior proporção foi de lesões hiperplásicas, 5 (71,4%) e 6 (60%), respectivamente, enquanto os exames com o auxílio do índigo, a maior incidência foi de adenomas,18 (64,3%). Por fim, foi diagnosticado 2 lesões no ângulo hepático, sendo uma hiperplásica e outra adenomatosa.
Das lesões adenomatosas, 28 identificadas, 26 apresentavam-se como lesões tubulares e 2 tubulovilosas, sendo que todas apresentavam displasia de baixo grau.
Os pacientes que realizaram o exame com o uso tipo Luz branca apresentavam a menor incidência de lesões adenomatosas (7,7%), já entre os pacientes que realizaram exame do tipo Índigo, incidência de lesões adenomatosas foi de (84,4%). Houve relação estatística significativa entre a taxa de detecção de adenomas no grupo do índigo, quando comparado ao FICE (p=0,006) e luz branca (p=0,000).
4 DISCUSSÃO
O impacto da colonoscopia na redução da mortalidade do CCR deve-se, principalmente, à identificação e remoção de adenomas. Desta forma, é essencial que sejam removidos pólipos nas colonoscopias de rastreamento. Entretanto, mesmo com todo o avanço tecnológico, proporção significativa dessas lesões não é identificada. Entre 12% e 40% dos adenomas ou adenocarcinomas precoces apresentam-se como lesões planas ou deprimidas, sendo essas lesões mais frequentes no cólon direito e de diagnóstico mais difícil.22,21 A utilização do índigo carmim aumenta seu índice de detecção, conforme demonstrado por Saitoh et al., (2001) em que até 62% destas lesões foram evidenciadas após a cromoscopia.23 Isto reforça a importância da relação custo-efetividade da cromoscopia neste segmento do cólon.
Há que se ressaltar que a taxa de detecção de adenomas tem sido cada vez mais considerada como indicador de qualidade na realização de colonoscopias e que colonoscopistas mais experientes apresentam alto índice de detecção de lesões planas.24,25
Tais achados podem ser reprodutíveis com a cromoscopia, conforme demonstrado por Brooker et al. (2002) e Park et al. (2008). 26,27
O uso do índigo carmim e da cromoendospia digital foi descrito como forma de se otimizar o exame de áreas específicas do cólon, suspeitas de apresentarem alguma alteração. Seu uso pode ainda estar indicado em todo o cólon desde o início do exame,28 havendo aumento no tempo total do exame, quando se realiza a chamada pancromoscopia,29 embora alguns trabalhos não tenham identificado essa diferença.22
Habitualmente são utilizados catéteres para aplicação do corante na mucosa colorretal, tipo spray, ou o corante pode ser diretamente injetado pelo canal de trabalho do aparelho. Leung e colaboradores publicaram em 2012, método no qual o índigo carmim é colocado no canal de ar/água do aparelho, facilitando sua instilação em todo o cólon.30 No presente estudo optou-se pela utilização do canal acessório do aparelho para instilar o corante, alcançando-se a coloração de todo o ceco, cólon ascendente e ângulo hepático de forma satisfatória. Além disso, tal conduta permite diminuição significativa de custos da cromoscopia, por não necessitar da utilização de cateter próprio para este tipo de procedimento, tornando a técnica ainda mais acessível a qualquer unidade de endoscopia.
Embora análise de custos não tenha sido um dos objetivos do trabalho, o fato de não ser utilizado cateter específico para cromoscopia, possibilitou redução dos gastos, sem comprometimento na qualidade da cromoscopia.
Como é impossível que o examinador não saiba a qual grupo pertence o paciente e isto não pode ser modificado, este fator pode influenciar na busca mais ou menos minuciosa, embora este viés tenha sido minimizado através da avaliação, sempre por duas vezes, do cólon direito e pela randomização dos pacientes. Foi optado por se realizar a cromoscopia com corante em um segmento específico do cólon devido a fácil caracterização dos limites anatômicos a ser estudado, ceco e ângulo hepático e por ser segmento onde se tem questionado o valor de proteção da colonoscopia. Uma das explicações para essa possível falha de proteção é o predomínio de lesões planas no cólon ascendente, resultando em uma maior incidência de câncer de intervalo no cólon proximal, através da via serrilhada da carcinogênese.31 Essas lesões são geralmente planas, o que aumenta a possibilidade de passarem despercebidas nos exames convencionais.32
A cromoscopia eletrônica ou virtual tem sido proposta como uma alternativa menos trabalhosa e de mais rápida execução do que a cromoscopia com corantes, porém essa tecnologia não tem demonstrado acréscimo na detecção de pólipos, quando comparada à colonoscopia convencional, para fins de rastreamento e prevenção.33,34 Além disso, a cromoscopia eletrônica implica no uso de equipamento de custo significativamente mais elevado. Na presente pesquisa, tal fato foi semelhante, uma vez que não houve diferença estatística (p=0,612) na taxa de detecção de lesões no cólon direito nos grupos FICE e luz branca quando comparados.
Embora a maioria dos pólipos encontrados no presente estudo tenham sido menores que 5mm e alguns trabalhos considerem inclusive a possibilidade que tais lesões possam ser removidas e descartadas, estudo recente demonstra que fora de protocolos de estudo e em centros de referência, esta estratégia pode ser perigosa, anulando o efeito protetor da colonoscopia em relação ao desenvolvimento do CCR, ou seja, ainda é recomendado, de forma rotineira, que todas as lesões polipoides, mesmo menores que 10mm, sejam removidas. 35
A real importância de se encontrar muitos pequenos adenomas e removê-los pode ser questionada, entretanto, estes achados podem influenciar no intervalo recomendado para uma colonoscopia de controle,29 ou seja, quanto maior o número de pólipos encontrados, menor será o intervalo para uma nova colonoscopia, obedecendo a critérios já amplamente estabelecidos, diminuindo o risco de câncer de intervalo.36
No presente estudo, quando avaliado o número de pólipos diagnosticados na segunda avaliação e comparou-se os grupos, houve diferença favorecendo o grupo cromoscopia com índigo carmim em comparação com as outras duas categorias. O número de detecção de lesões na segunda avaliações foi de 56, sendo a maioria diagnósticadas com auxílio do índigo carmim 39 (69,6%), de morfologia classificada em lesão plana elevada, classificação IIa de Paris37, 50 (89,2%) e predomino de adenomas 28 (50%). Achados estes semelhantes aos de Lapalus et al. (2006) que, após estudo envolvendo pan-cromoscopia, evidenciaram incremento na detecção de pólipos no cólon proximal.38
Não é aconselhável identificar uma pequena lesão em um momento e deixá-la para ser removida em um segundo momento, pois há o risco potencial da mesma não ser identificada posteriormente. A proposta da utilização da cromoscopia com índigo carmim ou digital é de um método complementar, trazendo um efeito somatório a um exame que até então estaria completo. A cromoscopia não foi proposta como método exclusivo de avaliação, mas sempre em seguida a um exame dito convencional.
Estudo nacional, comparando a cromoscopia com índigo carmim, cromoscopia eletrônica e a colonoscopia convencional, também foi capaz de demonstrar aumento absoluto no número de pólipos detectados através dos métodos de cromoscopia, mas sem significado estatístico.39
Em relação aos pacientes em que pelo menos um pólipo adicional foi identificado, maior número de pacientes com lesões foi encontrado no grupo cromoscopia (25), quando comparado ao grupo luz branca (6) e FICE (8). Recente revisão sistematizada, envolvendo sete estudos, evidenciou incremento no número total de pólipos diagnosticados após cromoscopia com corante, além de aumento também no número de pacientes com pelo menos um pólipo diagnosticado, favorecendo a utilização do índigo carmim.40
Estes pacientes submetidos a reavaliação, após diagnóstico e ressecção de adenomas, podem sair de um grupo de segmento de longo prazo para a indicação de colonoscopia de controle em um intervalo mais curto, possivelmente minimizando os riscos de câncer de intervalo. Entretanto, em relação ao tamanho dos pólipos, não houve diferença estatística entre os grupos, sendo a maioria deles menor que 5 mm.
Corley et al. (2014), avaliaram a associação entre a detecção de adenomas e o risco de câncer colorretal subsequente, onde quase 314.000 colonoscopias foram incluídas na análise. Os autores verificaram que o índice de detecção de adenoma foi inversamente proporcional ao risco de câncer de intervalo. Cada 1% de incremento no índice de detecção de adenomas foi associado a uma redução de 3% no risco de CCR, ratificando a importância de uma avaliação adequada e precisa para que o objetivo final da colonoscopia seja alcançado.41
Cerca de 580 estudos até o momento trataram do valor da cromoscopia na detecção de pólipos, porém após revisão rigorosa da metodologia, apenas 7 foram incluídos em recente meta-análise englobando 2727 pacientes, a qual conclui que há forte evidência que a utilização da cromoscopia aumenta a detecção de pólipos, quando comparada a colonoscopia convencional.40 Nesta meta-análise, entretanto, foram excluídos estudos nos quais a cromoscopia foi realizada em apenas um segmento do intestino grosso. Os resultados do presente trabalho também confirmaram ganho na detecção de pólipos, quando a cromoscopia com índigo carmim é utilizada em seguida a um exame convencional do cólon direito, sugerindo que essa prática, que apresenta riscos mínimos adicionais, possa ser adotada na prática clínica.
Embora o custo e o tempo de exame total sejam maiores, admite-se que o benefício no ganho de performance no diagnóstico de pólipos seja capaz de suplantar tais fatos. Todavia, estudos de seguimento mais longos são necessários para mostrar se esta prática alcançará impacto também na incidência e mortalidade por câncer colorretal. Além disso, estima-se que outros desenhos de estudo, maior número de pacientes serão capazes de identificar grupos específicos nos quais a cromoscopia possa ser recomendada de forma mais assertiva.
5 CONCLUSÃO
A segunda avaliação colonoscópica sequencial com cromoscopia com índigo carmim aumenta a detecção de pólipos no cólon direito, quando comparado à reavaliação com a colonoscópica convencional e ao FICE. A segunda avaliação do cólon direito, da forma convencional e FICE, também aumenta a detecção de lesões, porém não há diferença significativas entre estes métodos.
Os pacientes submetidos a colonoscopia com indico carmim tiverem uma maior taxa de detecção lesões adenomatosas, estatisticamente significativo, quando comparado aos demais grupos. O tempo médio de exame foi estatisticamente maior na realização dos exames submetidos a reavaliação com índigo carmim
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¹Médico titular da sociedade brasileira endoscopia digestiva – SOBED e cirurgião geral. Coordenador serviço endoscopia avançada Hospital municipal Santa Isabel. E-mail: ffcamposmed@gmail.com
²Discente Interna do curso superior de Medicina pelo Instituto Paraibano de Educação -UNIPÊ. E-mail: scocugliamed@gmail.com