REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202501031901
Edinael Marciano1
Daniela Kuromoto Nagai2
Eduarda Pribbnow da Cruz3
Deisi Tortelli4
Katia Carabajá5
Andréa Monica Dvilevicius6
RESUMO
O estudo apresentado descreve o relato da estratégia de vacinação contra influenza desenvolvidas na APS por uma equipe de unidade de saúde da família em uma escola estadual, realizada no período de agosto a novembro de 2024. Foram realizadas as estratégias de avaliação da situação da carteira vacinal, administração da vacina, resgate dos registros de vacina para discentes e docentes do colégio. A equipe da unidade de saúde realizou contato prévio com equipe diretora da escola e agendou as visitas para as ações. Inicialmente foi solicitado a apresentação da carteira vacinal, atualização situação vacinal no sistema prontuário de saúde e SIPNI, aplicação da vacina contra influenza in loco. O resultado encontrado foi o aumento da cobertura vacinal de 10% dos docentes, 26% dos alunos do ensino fundamental e 18% dos alunos do ensino médio, após estratégia no local. A estratégia utilizada tem impacto positivo, é necessário repensar e incorporar novos fazeres nas atividades da APS.
Palavras-chave: Vacina. Atenção Primária à Saúde. Escola
1 INTRODUÇÃO
A vacinação é uma das prioridades da Atenção Primária à Saúde (APS) na eliminação e ou erradicação de doenças que podem ser prevenidas por vacinas, ação essa que se mostra bem-sucedida no controle de doenças infecciosas (BRASIL, 2024).
As vacinas são seguras e estimulam o sistema imunológico a proteger a pessoa contra doenças preveníveis pela vacinação. A vacinação é uma das estratégias que evita de 2 a 3 milhões de mortes por ano e poderia evitar mais de 1,5 de mortes se a cobertura vacinal aumentasse (WHO, 2019). Quando adotada como estratégia de saúde pública é considerada um dos melhores investimentos em saúde considerando o custo-benefício (BRASIL, 2020).
Dentre os diversos tipos de vacina disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) a vacina contra influenza é disponibilizada como medida eficaz para diminuir o número de casos, complicações e internamentos, principalmente em idosos e portadores de doenças crônicas, como sua prevalência e transmissibilidade é alta faz-se necessária a aplicação em massa dessa vacina, aumentando a cobertura vacinal (RODRIGUES et al. 2024).
A equipe da APS precisa superar desafios para melhorar a cobertura vacinal, principalmente a recusa de alguns grupos da população em vacinar apesar da disponibilidade de vacinas disponíveis, ameaçando o progresso feito no combate às doenças preveníveis por vacinas (WHO, 2020).
Uma das estratégias já adota pelo Ministério da Saúde é a Vacinação na Escola, pois o local é propicio para disseminar informações, diálogo e mobilizar as ações de saúde. Ainda, as crianças e os adolescentes são ótimos agentes de saúde, pois propagam no ambiente familiar o que aprenderam na escola (BRASIL, 2024).
O objetivo deste estudo é relatar a experiencia de uma equipe de saúde da família que adotou como estratégia para aumentar a cobertura vacinal da vacina contra influenza a intervenção numa escola pública.
2 METODOLOGIA
Trata-se de estudo descritivo, do tipo relato de experiência sobre a ação realizada numa escola para discentes e docentes do ensino fundamental e médio, com faixa etária acima de 11 anos. A escola conta com 661discentes matriculados e 99 docentes. A ação ocorreu no período de agosto a novembro de 2024. Por se tratar de um relato de experiência, dispensou-se a apreciação do comitê de ética em pesquisas.
O planejamento das ações ocorreu em 05 de agosto, foi desenvolvido pela Autoridade Sanitária Local (ASL), enfermeiro e estagiário da unidade de saúde juntamente com o diretor da escola.
As ações planejadas, executas e situações vivenciadas foram registradas em diário de campo pelos atores citados, os quais participaram em todas as fases desse processo.
A primeira etapa foi solicitar a escola a listagem dos discentes e dos docentes, a segunda etapa foi enviar a cada um, uma carta que explicava sobre a vacina, solicitava a carteira vacinal e disponibiliza a vacina na escola em dias agendados pela equipe, mediante autorização ou presença do responsável.
Foram 10 dias de atividade na escola, no qual os docentes e discentes levaram suas carteiras de vacina para escola para avaliação, realizaram a aplicação da vacina no local ou receberam orientação para procurar a unidade de saúde de preferência.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
Na avaliação dos docentes num total de 99 profissionais, 6 apresentavam vacina em dia, 31 fizeram a aplicação na escola, 17 realizaram a aplicação em alguma unidade de saúde, a figura 1 demonstra a situação vacinal contra influenza encontrada na avaliação e a figura 2 demonstra a cobertura vacinal antes e após a ação na escola.
Figura 1: Situação Vacinal – Docentes
Figura 2 – Cobertura Vacinal Docentes
Na avaliação dos discentes do 6º ao 9º ano, 487 discentes foram avaliados, 12 apresentavam situação vacinal em dia, 105 realizaram a aplicação da vacina na escola, 247 realizaram a aplicação da vacina na unidade de saúde. A figura 3 demonstra a situação vacinal contra influenza encontrada na avaliação e a figura 4 demonstra a cobertura vacinal antes e após a ação na escola.
Figura 3 – Situação Vacinal – Discentes 6o ao 9o ano
Figura 4 – Cobertura Vacinal Discentes 6o ao 9o ano
Na avaliação dos discentes do ensino médio, foram avaliados 174 discentes, 4 apresentavam situação vacinal em dia, 40 realizaram a aplicação da vacina na escola, 124 realizaram a aplicação da vacina na unidade de saúde. A figura 5 demonstra a situação vacinal contra influenza encontrada na avaliação e a figura 6 demonstra a cobertura vacinal antes e após a ação na escola.
Figura 5 – Situação Vacinal – Discentes ensino médio
Figura 6 – Cobertura Vacinal Discentes ensino médio
Dentro dos registros de campo, foi verificado que grande parte dos discentes não aceitaram ou não foi autorizado a vacina na escola, houve relato que teriam o esquema vacinal adequado e que retornariam em alguma unidade de saúde para verificar a situação.
A aplicação de mais de um tipo de vacina não foi bem aceita pelos jovens mesmo na unidade de saúde.
4 ANÁLISE DOS DADOS
A APS é a principal responsável pelo planejamento, execução, monitoramento e avaliação das ações de vacinação no SUS, Rodriguez, (2021). Nesse sentido a organização das estratégias fica sob responsabilidade da equipe de saúde da família da área de abrangência. Em seu estudo, Braga (2023) coloca que o aprimoramento de estratégias e planos operacionais e o monitoramento dos dados de vacinação no nível local são de máxima importância, visando garantir o acesso a produtos vacinais e a prevenção de doenças imunopreveníveis entre as populações
A aproximação da equipe da unidade de saúde com as escolas, implementando as ações já propostas pelo Ministério da Saúde potencializa os resultados esperados, rompendo barreiras, esclarecendo população sobre a importância de realizar a vacinação.
No público adolescente, verifica-se que ainda existem lacunas na área da saúde, que a organização do processo de trabalho precisa melhorar, pois ainda é baixa a adesão às ações desenvolvidas na APS, além da resistência à vacinação, fator que pode limitar a cobertura vacinal. (VIEGAS, 2019).
O relato de recusa pelos discentes evidenciam que é necessário o esclarecimento de dúvidas e preocupações junto aos seus responsáveis, Viana et.al. 2023, encontrou em seu estudo alguns motivos acerca da hesitação vacinal de pais e familiares de crianças, que estavam relacionados ao des(conhecimento) sobre as vacinas (fake news, medo de eventos adversos, subestimação da letalidade das doenças imunopreveníveis) e à in(decisão) e estilo de vida (hábitos saudáveis, medicina alternativa e religião).
Aponta-se também o registro da recusa de alguns discentes em não permitir a aplicação de mais de uma vacina no mesmo momento. Fato esse que evidencia uma oportunidade perdida de vacinação, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (1985), uma oportunidade perdida de vacinação ocorre, quando uma pessoa candidata à imunização e que não tenha contraindicações, comparece a um serviço de saúde e não recebe as vacinas necessárias, demonstra a necessidade de sensibilização de todos os profissionais da equipe de saúde, para que se envolvam na atividade de vacinação.
Em seu estudo Carvalho (2010) coloca que para aumentar a cobertura vacinal entre os adolescentes o fornecimento de vacinas em um cenário escolar, desempenha uma parte integrante de um abrangente programa de atenção aos adolescentes, em parceria com a Estratégia Saúde da Família melhorando o acesso aos serviço de saúde e à informação.
5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este relato de experiência evidenciou a contribuição da ação realizada entre unidade de saúde e escola para melhorar a cobertura vacinal da influenza, com impacto positivo.Apontase que no final da ação 76% dos docentes e discentes ficaram com a situação vacinal em dia contra influenza, o que reflete um trabalho de contribuição multiprofissional com objetivo único em melhorar a situação de saúde da população.
O envolvimento dos docentes, responsáveis legais, profissionais de saúde na estratégia de vacinação é de fundamental importância para a obtenção de bons resultados.
6 REFERÊNCIAS
- BRASIL. Vacina na APS. Disponível em: https://www.gov.br/saude/ptbr/composicao/saps/vacina-na-aps. Acesso em 03 de dezembro de 2024.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Ten threats to global health in 2019 [Internet]. [Geneva]: World Health Organization; Available from: https://www.who.int/newsroom/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019 https://www.who.int/news-room/spotlight/ten-threats-to-global-health-in-2019. Acessado em 03 de dezembro de 2024.
- BRASIL. Programa Nacional de Imunizações: Calendário Nacional de Vacinação/2020/PNI/MS. Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
- RODRIGUES, G. C.; LIMA, J. S.; SOUSA, T. D. V.; PEREIRA, J. B.; SOEIRO, V. M. da S.; COUTINHO, R. de J. S. M.; PEREIRA, J. F. dos S.; ALBUQUERQUE, I. de C. Vacinação contra Influenza e Pneumonia e internações por doenças respiratórias em idosos no Maranhão entre 2017 a 2021. CONTRIBUCIONES A LAS CIENCIAS SOCIALES, [S. l.], v. 17, n. 8, p. e9518, 2024. DOI: 10.55905/revconv.17n.8-236. Disponível em: https://ojs.revistacontribuciones.com/ojs/index.php/clcs/article/view/9518. Acesso em: 3 dez. 2024.
- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Implementing the Immunization Agenda 2030: a framework for action through coordinated planning, monitoring & evaluation, ownership & accountability, and communications & advocacy [Internet]. [Geneva]: World Health Organization; 2021.Available from: Available from: https://www.who.int/publications/m/item/implementing-the-immunization-agenda-2030» https://www.who.int/publications/m/item/implementing-the-immunization-agenda-2030. Acessado em 03 de dezembro de 2024.
- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento do Programa Nacional de Imunizações. Estratégia de vacinação na escola [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento do Programa Nacional de Imunizações. – Brasília : Ministério da Saúde, 2024. 20 p.: il. Modo de acesso: World Wide Web: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estrategia_vacinacao_escola.pdf ISBN 978-655993-623-6. Acesso em: 3 dez. 2024.
- RODRIGUEZ, A.M.M.et al. Vacinação contra influenza no enfrentamento da COVID-19: integração ensino-serviço para formação em enfermagem e saúde. • Esc. Anna. Nery 25 (spe) • 2021 • https://doi.org/10.1590/2177-9465-EAN-2020-0379. Acesso em: 3 dez. 2024.
- BRAGA, C; REIS-SANTOS. Immunization Agenda 2030 and Brazil’s challenges. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 32, n. 3, e 2023822, 2023 . Disponível em <http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S167949742023000300100&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 03 dez. 2024. Epub 20-Nov2023. http://dx.doi.org/10.1590/s2237-962220230003000018.en.
- VIEGAS, S.M.F. A vacinação e o saber do adolescente: educação em saúde e ações para a imunoprevenção. Ciênc. saúde colet. 24 (2) • Fev 2019 • https://doi.org/10.1590/141381232018242.30812016. Acesso em: 3 dez. 2024.
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- ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD. Simpósio Internacional sobre inmunización contra El sarampión. Washington, D.C.: Organizacion Panamericana de la Salud; 1985. (Publicación científica n. 477)
1Enfermeiro e-mail: e.dive@hotmail.com
2Enfermeira. e-mail: daniela.nagai@gmail.com
3Estagiária de Enfermagem. e-mail: eduarda.pribbnow@gmail.com
4Enfermeira. e-mail: deisi.tortelli@yahoo.com.br
5Enfermeira. e-mail: katiacarabaja@gmail.com
6Médica. e-mail: andreadvilevicius@icloud.com