SUCESSO DO TRATAMENTO CONSERVADOR POR LESÃO DE ARMA DE FOGO EM HEMITÓRAX – RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202412290317


Lucas Melo da Costa Moreira; Auriany Maria Souza Marrocos; Gabriela Tenorio Godoy Duarte de Araújo; Aurelino Candido da Silva.


RESUMO:

O presente relato aborda sobre ferimento tóraco abdominal provocado por um projétil de arma de fogo.

Palavras chaves: ferimento tóraco-abdominal, lesão por arma de fogo,  ferimento tangencial, tratamento conservador.

INTRODUÇÃO:

O presente relato de caso aborda o ferimento tóraco-abdominal provocado por projétil de arma de fogo, onde discute-se a possibilidade de abordagem conservadora. As lesões traumáticas tóraco-abdominais representam um grande desafio, seja para um jovem médico, seja para um experiente cirurgião, a multiplicidade de lesões possíveis, muitas delas envolvendo órgãos vitais, a possibilidade de injúrias em diferentes cavidades tornam as abordagens cirúrgicas complexas e frequentemente associadas a morbi-mortalidade, diante deste cenário desafiador, existiria a possibilidade de uma conduta conservadora nestes casos.

DESCRIÇÃO DO RELATO DE CASO:

Um homem de 48 anos, que havia sofrido ferimento por arma de fogo há cerca de 01 hora, deu entrada em serviço de urgência. Um único projétil atingiu seu antebraço direito e hemitórax direito na região periareolar. Surpreendentemente, à admissão ele apresentava-se com o estado geral bom, respirando confortavelmente em ar ambiente e sem sinais de instabilidade hemodinâmica, apenas queixava-se de dor no antebraço direito e mínimo desconforto periareolar e em hipocôndrio esquerdo. A avaliação inicial (ABCDE) apenas apresentava um ferimento de entrada e saída no antebraço direito com limitação funcional no respectivo membro, um ferimento de entrada periareolar direito e um hematoma em hipocôndrio esquerdo. O exame físico também não revelou sinais de irritação peritoneal. Diante o quadro, o paciente foi submetido a exames de imagem (Raios X de tórax, TC de tórax e Abdome) os quais não exibiram qualquer anormalidade, exceto fragmentos radiopacos e fratura do antebraço direito e túnel subcutâneo tóraco-abdominal produzido por projétil de arma de fogo, partindo do hemitórax direito até o hipocôndrio esquerdo, onde o referido projétil encontrava-se alojado no subcutâneo, caracterizando assim um “ferimento tangencial”. O paciente foi então internado para monitorização rigorosa. Exames físicos seriados e US de abdome total feito dentro das próximas 24 horas não revelaram qualquer anormalidade. Foi procedido apenas dieta zero, hidratação e tratamento sintomático. No segundo dia, a dieta foi iniciada e o monitoramento dos SSVV foi mantido. Diante da excelente evolução clínica, teve alta pela cirurgia geral no terceiro dia, sem necessidade de procedimentos terapêuticos invasivos, ficando aos cuidados da equipe e ortopedia para realizar osteossíntese, momento em que, oportunamente, o projétil foi removido mediante uma pequena incisão no abdome.

 PROJÉTIL ALOJADO EM HEMITÓRAX DIREITO (RAIO X).

CAMINHO PERCORRIDO POR PROJÉTIL (TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA)

DISCUSSÃO:

Os ferimentos tóraco-abdominais são, frequentemente, injúrias traumáticas que representam um grande desafio, seja para um jovem médico, seja para um experiente cirurgião, a multiplicidade de lesões possíveis, muitas delas envolvendo órgãos vitais, a possibilidade de injúrias em diferentes cavidades tornam as abordagens cirúrgicas complexas e frequentemente associadas a morbi-mortalidade, isso é especialmente verdadeiro nos ferimentos provocados por projétil de arma de fogo. O desafio no manejo destas condições se mantém quando os pacientes se apresentam oligossintomáticos e não manifestam anormalidades em seu exame físico, nestes casos a pobreza de sintomas pode ocultar uma lesão potencialmente grave que pode apenas manifestar-se tardiamente e evoluindo de forma avassaladora, por isso a suspeição de lesões graves nos pacientes estáveis e com poucas queixas deve ser considerada. No caso em questão, temos um paciente que, “caprichosamente”, não teve a penetração da cavidade torácica ou abdominal, caracterizando o ferimento tangencial, importante lembrar que, mesmo sem haver uma violação das cavidades, injúrias aos órgãos profundos podem ocorrer pela transmissão de energia cinética pelo efeito de “cavitação temporária”, desta forma, se fez necessário um monitoramento rigoroso das condições clínicas do paciente, bem como investigação complementar a partir de exames. A partir da boa evolução constatada, foi possível demonstrar que uma abordagem conservadora também pode ser altamente eficaz no tratamento destes casos, desde que seja alicerçada em um monitoramento cuidadoso, sempre levando-se em consideração a possibilidade de lesões ocultas e pouco sintomáticas mesmo em um paciente que não teve penetração de cavidades por ferimento por projétil de arma de fogo. Importante salientar ainda que procedimentos invasivos na ausência de lesões intracavitárias não são inócuas e podem precipitar complicações pós-operatórias. A responsabilidade de não se indicar uma cirurgia é tão grande quanto se indicar uma, e para tal, a avaliação clínica criteriosa (que muitas vezes, inclusive, define a necessidade de exames complementares) é a chave para o bom resultado.

CONCLUSÃO:

O ferimento tóraco-abdominal produzido por projétil de arma de fogo é uma condição desafiadora e que, frequentemente, exige cirurgias complexas e combinadas, entretanto, diante de um paciente estável e vítima de ferimento tangencial, pode ser conduzido de uma forma conservadora e com segurança, tendo como destaque o monitoramento rigoroso dos SSVV e exames complementares guiados pela avaliação clínica. beneficiando os pacientes e evitando assim procedimentos invasivos desnecessários.

REFERÊNCIAS:
RELATO DE CASO INÉDITO.

SSVV: sinais vitais

ABCDE: mnemônico das etapas fundamentais para a abordagem inicial dos pacientes vítimas de trauma segundo o Suporte Avançado de Vida no Trauma