SURGICAL EXTRACTION OF PMMA IN THE PENIS: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412240958
Dr. Eduardo José Andrade Lopes1
Dra. Fernanda Oliveira de Andrade Lopes2
Paula Oliveira de Andrade Lopes3
Dr. André Pessoa Bomfim Guimarães4
Resumo
A “bioplastia” do pênis é um procedimento cirúrgico realizado com a infiltração de produtos sob a pele. Procedimento com indicação restrita por não existir um produto biocompatível adequado, e pelo pênis ser um órgão dinâmico cuja forma e tamanho oscilam muito entre o estado de repouso e ereção. Alguns se arrependem e retiram o produto.O “engrossamento” do pênis ou “bioplastia” é um procedimento cirúrgico realizado por vários especialistas, em especial, o cirurgião plástico e o urologista. A questão do dismorfismo corporal envolvendo o pênis no homem é uma condição que incomoda, principalmente em estado de repouso. Nem sempre é possível aplicar de maneira uniforme, e, com o tempo, podem surgir irregularidades. A insatisfação com o diâmetro do pênis é frequente, sendo a bioplastia um procedimento ainda controverso.Relatar o caso de um paciente, 36 anos, caucasiano, que procurou atendimento para remoção de PMMA. O paciente havia realizado a aplicação de 80 ml de PMMA a 10%, e a parceira se queixava de incômodo e repulsa pela aparência irregular em repouso.A cirurgia foi realizada em hospital dia, sob anestesia raquidiana. Foram removidos 90 gramas de material. Paciente apresentou cicatrização completa após 40 dias e foi liberado para atividades normais após 180 dias.A remoção cirúrgica de PMMA é factível, com uso de técnica microcirúrgica e mínimo de sequelas, quando realizada por equipe qualificada.
Palavras-chave : Pênis. PMMA. Ácido hialurônico. Estética.
Abstract
Penile “bioplasty” is a surgical procedure performed with the infiltration of products under the skin. Controversial procedure with very restricted indication not only because there is no suitable biocompatible product, but also because the penis is a dynamic organ whose shape and size vary greatly between the state of rest and that of full erection. Some regret it, for various reasons, and return to remove the injected product. To report the case of a 36-year-old male patient who sought care because he wanted to remove polymethylmethacrylate (PMMA) injected into the subcutaneous region of the penis.The information was obtained through the interview with the patient, review of medical records, analysis of exams, photographic documentation of the therapeutic methods performed (pre and intraoperative), pathological examination of the material removed, postoperative, and review of literature. 05 blocks of discretely inelastic fabric were removed, weighing in the set 90 grams, the largest segment measuring 4.0 x 3.2 x 1.4 cm. The patient evolved well and was released for intercourse after 180 days when he informed that the sensitivity and erections were normal. The reported case demonstrates thatit is possible to surgically remove PMMA applied to the subcutaneous space of the penis with minimal sequelae using a microsurgical technique.
Keywords : Penis. PPMA. Hyaluronic acid. Aesthetics.
INTRODUÇÃO
O “engrossamento” do pênis ou “bioplastia” é um procedimento cirúrgico realizado por vários especialistas, em especial, o cirurgião plástico e o urologista. A questão do dismorfismo corporal envolvendo o pênis no homem é uma condição que incomoda, principalmente em estado de repouso. O engrossamento “ideal” é difícil de ser atingido não somente por não existir um produto biocompatível que atenda às pretensões do paciente, como pelo fato de o pênis ser um órgão dinâmico cuja forma e tamanho oscilam muito entre o estado de repouso e o de ereção plena. Nem sempre é possível aplicar de maneira uniforme, e, em alguns pacientes, a consistência do produto muda com o tempo, formando irregularidades tipo nódulos, ficando com a consistência do pênis em ereção. Por fim, o ideal almejado pelo paciente é individual, nem sempre é o que é possível, e o desejo de remover o produto – por motivos vários – faz com que retorne disposto a submeter-se à extração cirúrgica. De uma série de 35 casos que realizamos nos últimos 05 anos, esse é o primeiro que retorna para retirar o produto implantado, e pelo motivo que todos desejam alcançar: pênis o mais grosso possível.
A insatisfação com o diâmetro do pênis é uma queixa muito frequente no consultório urológico, talvez mais frequente do que a preocupação com o tamanho. Muitos pacientes relatam que o pênis em repouso é muito pequeno. A bioplastia, procedimento ainda controverso, é realizada com mais frequência pelo cirurgião plástico, que tem larga experiência na aplicação do PMMA nas regiões malares de pacientes aidéticos com lipostrofia, e no aumento da região glútea. Como nestas regiões a aplicação é profunda (intramuscular ou sobre o osso), dificilmente aparecem as irregularidades e imperfeições que acontecem com a aplicação na região subcutânea do pênis. O que observamos é que pacientes muito narcisistas não devem realizar este procedimento. As irregularidades, caroços e assimetrias que para a maioria são interessantes por aumentar o atrito com as paredes vaginais, proporcionando mais prazer para a parceira, nesses pacientes incomodam tanto a ponto de quererem voltar à condição anatômica de antes da infiltração do PMMA.
O procedimento não deve ser realizado por questões estéticas porque, na maioria dos casos, ocorrem formação de nódulos, assimetrias e aumento da consistência quando são aplicados, de maneira uniforme, PMMA de 5% e 10%. Ou seja, o produto endurece mesmo quando obedecido ao estabelecido pela agência reguladora ANVISA: 5% e 10% podem ser usados na via subcutânea; e 30% somente em situação profunda dentro dos músculos ou sob o periósteo. Com o passar do tempo, alguns pacientes reabsorvem a parte líquida do produto, deixando-o de consistência firme igual ao pênis em ereção plena. Para aqueles pacientes que são muito preocupados com a aparência do pênis em repouso, a nova condição poderá incomodar ao ponto de querer fazer a remoção cirúrgica. Foi o que aconteceu com este caso em questão.
O produto é comercializado nas concentrações de 5%, 10% e 30%, e tem certificação para uso em humanos nas regiões subcutânea e profunda (intramuscular e justa periostal). O PMMA é aprovado pela ANVISA (agência reguladora do Brasil) para uso, por médicos, em seres humanos; e as normas técnicas e orientações sobre a sua aplicação estão disponíveis no portal da agência no endereço http://portal.anvisa.gov.br.
Os pacientes que têm queixas funcionais relatam que as irregularidades no pênis aumentam o atrito com a parede vaginal, e que suas parceiras passaram a ter mais prazer durante o coito vaginal. Como o volume aumenta, eles referem que se sentem mais à vontade para vestir roupas justas, incluindo shorts de banho. No caso ora apresentado foi injetado no pênis do paciente, no subcutâneo, PMMA a 10%, totalizando 80 ml aplicados em duas etapas, separadas uma da outra por 90 dias. Ambos os procedimentos foram realizados em hospital dia, sob sedação endovenosa e profilaxia antibiótica.
Hoje existem inúmeros produtos absorvíveis e não absorvíveis que são usados para aumentar o diâmetro do pênis. Em alguns países, como a China, esse tipo de procedimento é realizado há muito tempo e em larga escala. Na última década, o uso de produtos preenchedores de tecido mole se popularizou em países como México, China e EUA porque são efetivos, geralmente seguros, não tão invasivos como as cirurgias, e de custo acessível para a maioria das populações desses países. Existem mais de 200 produtos disponibilizados por 50 companhias ao redor do globo, apesar de não existirem evidências clínicas definitivas para seu uso em pênis. O polimetilmetacrilato (PMMA) ─ produto não absorvível mais antigo ─ já é usado como preenchedor nos EUA há 27 anos, e no México há 16 anos. Na China, 44 mil pacientes tratados com esse tipo de preenchedor não reportaram nenhuma complicação com a injeção subcutânea do pênis. O granuloma foi à complicação mais relatada, e mesmo assim, em uma incidência de apenas 1 caso em 2.000 tratados com injeções intradérmicas. No Brasil, é largamente usado por cirurgiões plásticos e urologistas com aplicações nas regiões peitoral, pernas, coxas, braços, malares, glúteos, pênis, etc.
MATERIAIS, SUJEITOS E MÉTODOS
Trata-se de um paciente de 36 anos, caucasiano, natural de Salvador (Bahia, Brasil), que procurou atendimento para remoção do PMMA aplicado em região subcutânea do pênis há 5 anos. Havia realizado a aplicação de 80 ml de PMMA a 10%, e a atual parceira vinha se queixando de incômodo durante a penetração vaginal, além de ter uma certa repulsa por achar que aquilo era alguma doença devido ao aspecto irregular em repouso. Em muitas ocasiões, ela se negava a manter relações sexuais com ele.
O paciente referiu que o pênis, em repouso, possuía 17 cm de diâmetro (Figura 01), e, em ereção plena, alcançava 20 cm de diâmetro e 13 cm de comprimento. Não apresentou documentação fotográfica do pênis em estado erétil.
Foi realizada uma incisão circular do prepúcio a 2 cm da glande, com descolamento delicado da pele, que foi rebatida para a base do pênis. Em seguida, foi feita a transfixação do bloco na região anterior (dorsal) do pênis com nylon 2-0 para facilitar a tração e dissecção. O mesmo procedimento foi realizado na região ventral até a remoção, em blocos, de todo o produto.
Ao todo, foram removidos 5 blocos de material de consistência macia e discretamente elástica, que em conjunto pesaram 90 gramas. Ato contínuo, o prepúcio foi suturado com cromado 5-0 em pontos separados.
Os blocos foram enviados para exame anatomopatológico, cujo resultado foi: “Presença de materiais exógenos associados a granulomas de corpo estranho compatível com PMMA (polimetilmetacrilato)”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A retirada do PMMA injetado no pênis constitui um desafio cirúrgico por se tratar de um órgão com uma anatomia completamente envolvida no mecanismo delicado da erotização e da ereção. Mesmo a pele tem propriedades particulares, como elasticidade e inervação, importantes no processo de erotização e na obtenção do orgasmo. Existe um discreto tecido celular subcutâneo, e logo abaixo estão nervos e vasos vitais para a ereção. Uma lesão nessas estruturas compromete a sensibilidade e o prazer. A dissecção tem que preservar as estruturas anatômicas do pênis, pois muitas delas estão envolvidas pelo material injetado.
A cirurgia foi realizada em regime de hospital dia, sob anestesia raquidiana, e com o auxílio de lupas de magnificação de 4x, na tentativa de identificar nervos, artérias e veias. O paciente foi operado e evoluiu com importante edema e duas ulcerações isquêmicas no terço médio da pele da região dorsal, que necessitaram de curativos sucessivos, vindo a cicatrizar por completo após 40 dias.
Um edema discreto persistiu por cerca de 120 dias. O paciente foi liberado para manter relações após a última avaliação pós-operatória, com 6 meses, quando informou que a sensibilidade e as ereções estavam normais.
CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos demonstrando que a retirada do PMMA em volta de todo o pênis é factível com o uso de lupas de magnificação e técnica microcirúrgica. As sequelas foram mínimas, à exceção de duas pequenas cicatrizes medindo aproximadamente 0,5 cm cada, em região dorsal, e a cicatriz circular subglandar, à semelhança de uma cicatriz de postectomia. Na região ventral, não houve nenhuma intercorrência, e o edema regrediu mais rapidamente devido à menor manipulação, menor trauma cirúrgico, melhor drenagem linfática e um plano de clivagem mais nítido, facilitado pela presença da uretra.
REFERÊNCIAS
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1 Médico Cirurgião e Urologista
Mestre em ciências pela USP-SP
PhD em ciências pelo IEP-HSL/SP
Brasil
2 Escola Paulista De Medicina
Médica residente de clínica médica – R2
Brasil
3 Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública
Estudante de Medicina
Brasil
4 Médico residente de nefrologia da Universidade do Estado de São Paulo – SP