IMAGEM CORPORAL E USO DE MÍDIAS SOCIAIS NA ADOLESCÊNCIA: UMA REVISÃO NARRATIVA

BODY IMAGE AND SOCIAL MEDIA USE IN ADOLESCENCE: A NARRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202412240908


Rosana Sandri Eleutério de Souza1
Gislane Ferreira de Melo2


Resumo

O uso de mídias sociais está fortemente associado à alta prevalência de insatisfação com a imagem corporal entre adolescentes. Esta revisão da literatura busca analisar as implicações do uso das mídias sociais no desenvolvimento da imagem corporal de adolescentes, bem como os problemas de saúde relacionados a este uso. Foram consultados artigos sobre o tema nas bases PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS – Brasil), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Scholar (Google Acadêmico), abrangendo publicações de 2019 a 2024. Foram analisados, na íntegra, 26 artigos e 2 livros considerados obras fundamentais no campo da imagem corporal. Os estudos revelam que o uso intenso das mídias sociais tem um efeito nocivo no desenvolvimento da imagem corporal durante a adolescência, aumentando os níveis de insatisfação corporal. Esse impacto inclui problemas alimentares e comportamentos de construção muscular. As repercussões negativas do uso das redes digitais têm levado os adolescentes a problemas psicológicos, como baixa autoestima, depressão e ansiedade, entre outras alterações prejudiciais à saúde. Os dados demonstram a importância e a necessidade de investimento em pesquisas sobre essa temática. Estudos que busquem compreender o impacto das mídias sociais no desenvolvimento da imagem corporal na puberdade podem fornecer suporte para o estabelecimento de intervenções profissionais que minimizem as repercussões negativas do uso dessas mídias, trazendo benefícios para a saúde mental e física dos adolescentes ao longo de seu desenvolvimento e resultando em impactos positivos no quadro geral da saúde pública.

Palavras-chave: Imagem corporal, Adolescentes, Mídias sociais.

1 INTRODUÇÃO

Entende-se por imagem corporal (Schilder, 1981) a figuração pela qual o corpo se mostra, para nós mesmos, em nossa mente, tal representação é influenciada por aspectos neurofisiológicos, sociais, afetivos e psicológicos. Em seus estudos, o autor faz uma abordagem ampla e sistêmica do tema imagem corporal, baseada em seus conhecimentos como neurologista, aliados aos de psicanálise e filosofia, apresentando uma versão ampliada e integrada da imagem corporal que se mantém atualizada e aplicável.

Nessa mesma direção, Tavares (2010) define a imagem corporal como uma construção multifacetada que se refere a atitudes e percepções sobre o corpo, em particular sua aparência, sendo uma construção mais ampla que reconhece a importância das experiências vividas pelo corpo e como isso se relaciona com o mundo. A formação da imagem corporal ocorre juntamente com o desenvolvimento do ser humano, à medida que a pessoa cresce e se desenvolve, forma uma imagem de si mesma. Assim, a infância e adolescência são fases importantes para a formação da imagem corporal (Gualdi-Russo; Rinaldo; Zaccagni, 2022).

Para a Organização Mundial da Saúde (2024), a adolescência se constitui pela faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, sendo um período da vida caracterizado por muitas transformações biológicas, sociais e comportamentais que merece especial cuidado e atenção. Um aspecto crucial desse período é o desenvolvimento da imagem corporal, pois é nessa fase que os adolescentes se tornam vulneráveis às influências culturais, da mídia e das relações pessoais (Hartman-Munick; Gordon; Guss, 2020).

A adolescência é um período com características únicas no ciclo de vida e no qual ocorrem transformações biopsicossociais importantes que são determinantes para que se desenvolva a autonomia e se construa a identidade. Sendo uma fase de transição, o adolescente se encontra em um momento de reconfiguração dos papeis sociais e individuais tornando-se vulnerável frente às mídias e às exigências sociais que impõem determinados padrões e estilo de vida (Oliveira; Machado, 2021). 

A multiplicidade e a força com que ocorrem essas mudanças, aliadas a atitudes de revolta, à tentativa de tornarem-se independentes, ao desejo de transgressão podem influenciar os hábitos alimentares e outros comportamentos, inclusive o desenvolvimento da imagem corporal, que tendem a repercutir sobre a saúde e bem-estar dos adolescentes (Bittar; Soares, 2020).

Devido ao seu estágio de desenvolvimento e suscetibilidade à influência externa, os adolescentes correm alto risco de desenvolver problemas com sua imagem corporal, o que pode gerar consequências significativas para a sua saúde, dentre as quais se destacam comportamentos insalubres de controle de peso, depressão, baixa autoestima, uso de suplementos dietéticos e esteroides (Scully; Swords; Nixon, 2020). 

Duarte et al. (2018) nos explicam que a relação do indivíduo com sua imagem corporal pode gerar satisfação ou insatisfação. A insatisfação corporal, definida como a percepção negativa da imagem corporal, é cada vez mais frequente em nossa sociedade, com alta prevalência relatada em adolescentes, podendo variar de acordo com o sexo e a população estudada. A insatisfação corporal torna-se importante na adolescência devido à sua relação com baixa autoestima, depressão, transtornos alimentares e comportamentos de construção muscular (Morán et al., 2024; Vuong et al., 2021).

A adolescência é, portanto, um período crítico para a formação da imagem corporal, marcado por transformações biopsicossociais significativas, em que as influências sociais são determinantes. Os meios de comunicação social influenciam fortemente os ideais de beleza, levando à busca por um “corpo ideal” por meio de dietas, cirurgias e exercícios intensos (Hartman-Munick; Gordon; Guss, 2020).

Adolescentes, especialmente vulneráveis a essas influências, utilizam intensamente as mídias sociais, o que tem sido associado à insatisfação corporal e a comportamentos prejudiciais como restrição alimentar e construção muscular excessiva (Boursier; Gioia; Griffiths, 2020; Scully; Swords; Nixon, 2020; Son; Kwon, 2024; Yager; McLean, 2020). Entender essas influências é essencial para minimizar os impactos negativos sobre os adolescentes.

Em vista disso, buscamos, com esta revisão da literatura, analisar as implicações do uso das mídias sociais no desenvolvimento da imagem corporal de seus usuários adolescentes, bem como problemas de saúde relacionados a este uso.

Para isso, abordamos os conceitos de imagem corporal, adolescência e os estudos sobre o efeito do uso de mídias sobre a formação da imagem corporal dos adolescentes, buscando possibilitar reflexões e explorar perspectivas que auxiliem na formação dos profissionais envolvidos nesse contexto e na melhoria das práticas educacionais, assim como contribuir com as atuais discussões sobre os problemas de saúde relacionados à imagem corporal em adolescentes. 

2 DESENVOLVIMENTO

Realizamos uma revisão narrativa de literatura, com diferentes tipos de documentos (artigos, teses, dissertações e livros). Esse tipo de método permite uma ampla descrição sobre o assunto, mas não esgota todas as fontes de informação, visto que sua realização não é feita por busca e análise sistemática dos dados. Sua importância está na rápida atualização dos estudos sobre a temática (Cavalcante; Oliveira, 2020).

A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS – Brasil), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Google Scholar (Google Acadêmico), abrangendo publicações de 2016 a 2024. Foram analisados, na íntegra, 26 artigos publicados nos últimos 5 anos e 2 livros. Optamos pela consulta a esses livros por serem considerados obras fundamentais e referências centrais no campo da imagem corporal, essenciais para a compreensão e desenvolvimento do conhecimento sobre o tema. Buscamos, com os estudos selecionados, evidenciar situações nas quais esses processos são identificados, revelando as implicações do uso das mídias sociais no desenvolvimento da imagem corporal de adolescentes, bem como os problemas de saúde associados a esse uso.

A seleção dos artigos foi baseada nos descritores “Imagem corporal”, “Adolescentes”, e “Mídias sociais”, isolados ou combinados, associados ao operador booleano AND, tanto em português quanto em inglês, visando obter uma ampla variedade de literatura detalhada sobre o tema. Sendo assim, esta revisão narrativa aborda os seguintes tópicos: 1. Imagem Corporal, 2. Adolescência e Imagem Corporal e 3. Uso de mídias e problemas com a Imagem Corporal em adolescentes.

1. Imagem Corporal

A obra de Schilder (1981) é considerada fundamental para o desenvolvimento do conhecimento na área da imagem corporal, sendo referência central para pesquisadores e estudiosos do campo. Em sua definição de imagem corporal, o autor nos diz que a imagem do corpo humano é o modo pelo qual o corpo se apresenta para nós. Não é só uma construção cognitiva, mas também uma reflexão dos desejos, atitudes emocionais e interação com os outros.

Para Tavares (2010), imagem corporal é definida como a representação mental do indivíduo sobre seu próprio corpo. Representa uma experiência que cada pessoa vivencia de modo constante, dimensionando a partir dela ações, percepções e impulsos. Seu desenvolvimento ocorre paralelamente ao desenvolvimento da identidade do próprio corpo e tem relação com os aspectos fisiológicos, afetivos e sociais. 

Segundo a autora, é um processo que ocorre durante toda a vida, embora sua estruturação seja facilitada nos primeiros anos de vida devido às condições fisiológicas, afetivas e sociais peculiares dessa época. A imagem corporal, para fins de pesquisa, subdivide-se em uma dimensão perceptiva e outra atitudinal. A dimensão perceptiva está ligada a como cada pessoa avalia o tamanho e a forma de seu corpo. Já a dimensão atitudinal se relaciona com comportamentos, cognições e emoções da pessoa sobre seu próprio corpo (Tavares, 2010).

A percepção da imagem corporal pode ser compreendida como o autojulgamento do sujeito acerca da imagem que ele reconhece como sendo a do seu próprio corpo a ser expressa em domínios específicos do comportamento humano (cognitivo, social e motor). É um constructo psicológico que pode ser influenciado por diversos fatores como a opinião e percepção dos pais, a ingerência pela mídia e do grupo social, e o estilo de vida do sujeito (Santos, 2019).

O componente atitudinal da imagem corporal refere-se às avaliações e sentimentos que uma pessoa tem em relação ao seu próprio corpo. Isso inclui a forma como a pessoa percebe sua aparência, como se sente em relação a ela e as atitudes que desenvolve em relação ao seu corpo. Esse componente é crucial porque abrange, tanto a satisfação quanto à insatisfação corporal, influenciando a autoestima e o bem-estar geral. É parte da experiência mais ampla de corporeidade, que considera não apenas a avaliação estética, mas também a conexão emocional e as atitudes em relação ao corpo (Tavares, 2010).

A insatisfação corporal, definida como a percepção negativa da imagem corporal, é cada vez mais frequente em nossa sociedade, com alta prevalência relatada em adolescentes, podendo variar de acordo com o sexo e a população estudada. A insatisfação corporal torna-se importante na adolescência devido à sua relação com baixa autoestima, depressão, transtornos alimentares e comportamentos de construção muscular (Vuong et al., 2021; Morán et al., 2024).

Percebemos, portanto, que a imagem corporal de um indivíduo está em permanente mudança e a compreensão do conceito de imagem corporal é fundamental para analisar como essa percepção se desenvolve e se transforma ao longo das diferentes fases da vida. Na adolescência, essa questão ganha ainda mais relevância, pois este período é caracterizado por intensas mudanças físicas, emocionais e sociais. É durante a adolescência que preocupações com o peso, crenças relacionadas ao corpo e comportamentos direcionados à melhora da aparência física podem ter início. Portanto, desde essa idade, o indivíduo, na busca por um  corpo ideal, pode ter sua imagem corporal afetada. 

2. Adolescência e Imagem Corporal

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000), a adolescência, faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, é definida como um período da vida caracterizado por muitas transformações biológicas, sociais e comportamentais, que merece especial cuidado e atenção. Hartman-Munick, Gordon e Guss (2020) afirmam que esse período é caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento em que ocorrem significativas mudanças cognitivas e as influências sociais se tornam extremamente importantes. Para os autores, um aspecto crucial desse período é o desenvolvimento da imagem corporal. 

Estudos têm encontrado falta de concordância entre o corpo real e o corpo percebido, principalmente entre crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, os quais tendem a se perceber abaixo do peso real (Bianchi et al., 2023; Darling et al., 2024). Essa falta de percepção do tamanho corporal pode ser atribuída a vários fatores, como o desejo de ser socialmente aceitável e autoconceitos imaturos das crianças, que aparecem durante a transição da infância à adolescência (Santos, 2019).

Experiências negativas relacionadas ao peso resultam na adoção de comportamentos impróprios para o controle de peso (Lucibello et al., 2023). Além de gerar um sentimento de insatisfação com o corpo, resultando em outras consequências patológicas, como bulimia, anorexia (Bianchi et al., 2023), distúrbio dismórfico corporal, ansiedade e depressão (Song et al., 2023).

Estudos nacionais e internacionais sobre a imagem corporal de adolescentes vêm destacando altas prevalências de insatisfação com a imagem corporal (Andres et al., 2024; Batista; Goncalves; Bandoni, 2021). Para Roberts et al. (2022), dentre os fatores associados à insatisfação corporal destacam-se os sociodemográficos, antropométricos, influências culturais, percepções e preocupações dos pais sobre o estado nutricional dos filhos, além da pressão da mídia. 

O contexto sociocultural tem grande relevância  na formação da imagem corporal dos adolescentes. Dentro desse contexto, a mídia dissemina a ideia de perfeição corporal, na qual a magreza simboliza competência, sucesso e satisfação com a vida. Os adolescentes se tornam, muitas vezes, vulneráveis a pressões culturais, pois têm preocupações com um corpo e uma aparência em desenvolvimento e em sua mente um corpo idealizado, quanto mais esse corpo se distanciar do real, maior será a possibilidade de apresentar insatisfação com sua imagem corporal e até mesmo desencadear quadros de transtornos alimentares, o que pode estar relacionado à baixa autoestima, depressão e ansiedade (Morán et al., 2024). 

No estudo de Santana et al. (2020), 75% dos adolescentes investigados apresentaram algum grau de insatisfação com a imagem corporal, principalmente meninas de alto nível socioeconômico, corroborando o estudo de Batista, Goncalves e Bandoni (2021) que observaram que alunos de instituições privadas são mais infelizes com seus corpos e tendem a adotar mais comportamentos para perder peso, demonstrando assim, que as condições sociodemográficas se relacionam à imagem corporal de adolescentes.

A insatisfação com a imagem corporal é uma preocupação adicional no cotidiano dos adolescentes, que está associada à depreciação da qualidade do sono e à diminuição do bem-estar psicológico (Matias et al., 2020), bem como a tomada de atitudes extremas, ou seja, adoção de comportamentos inadequados e não saudáveis em relação ao controle do peso (Ferreira; De Andrade, 2020). Desta forma, esta faixa etária apresenta-se com alto risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares, e a mídia é apontada como um fator contribuinte para o desenvolvimento da insatisfação corporal, levando ao desenvolvimento de comportamento alimentar disfuncional (Bittar; Soares, 2020).

3. Uso de mídias e problemas com a Imagem Corporal em adolescentes

Os meios de comunicação social têm exercido grande influência sobre a forma como as pessoas interiorizam os ideais de beleza e pressionam os indivíduos a alcançarem um “corpo ideal” geralmente associado à magreza e muscularidade. Ao propagarem este tipo de informação, os meios de comunicação social levam os indivíduos a sentir uma maior preocupação com a sua imagem corporal, recorrendo à adoção de algumas estratégias, como dietas, cirurgias estéticas, excesso de exercício físico e prática de bodybuilding com o objetivo de modificarem o seu corpo (Yager; McLean, 2020).

Adolescentes frequentemente demonstram perturbações com a imagem corporal, o que os torna especialmente suscetíveis às influências dos meios de comunicação (Scully; Swords; Nixon, 2020). Na contemporaneidade, eles utilizam intensivamente as mídias sociais como ferramentas de comunicação e informação e estudos indicam que a alta exposição ao conteúdo dessas mídias parece ter um impacto significativo na insatisfação com a imagem corporal (Boursier; Gioia; Griffiths, 2020; Cavazos-Rehg et al., 2020; Stangl et al., 2023). 

As mídias sociais são uma plataforma onde os ideais de beleza e corpo são amplamente promovidos e disseminados. Por meio do uso constante de aplicativos como Instagram, Facebook e TikTok, entre outros, os adolescentes são expostos constantemente a imagens idealizadas e editadas, que podem levar à internalização de padrões de aparência que são, muitas vezes, inatingíveis. Isso pode resultar em comparações sociais desfavoráveis, onde os adolescentes se comparam a influenciadores e celebridades, aumentando a insatisfação corporal e comportamentos inadequados de mudança corporal (Arjona; Monserrat; Checa, 2024).

Para Tiggemann (2022),a super-representação de imagens idealizadas e alteradas digitalmente nas mídias sociais tem ramificações sem precedentes para a imagem corporal. O ambiente da mídia social é complexo, cheio de nuances e poderoso. Buscando compreender e avaliar a relação entre o uso do Facebook e a preocupação com a imagem corporal, a autora realizou um estudo longitudinal com meninas adolescentes, revelando que um maior tempo de uso do Facebook esteve associado a um aumento na preocupação com a imagem corporal em meninas entre 13 e 15 anos, acompanhadas por dois anos. Durante este tempo, o envolvimento com o Facebook aumentou substancialmente, bem como as preocupações com a imagem corporal. Além disso, evidenciou-se que o número de amigos no Facebook prediz o aumento observado no desejo de magreza. 

Nessa mesma direção, o estudo de Stangl et al. (2023) identificou que o comportamento de utilização excessivo e descontrolado pode levar ao desenvolvimento de uma utilização problemática do Facebook com vários efeitos psicológicos e fisiológicos negativos, apontando oito efeitos psicológicos (ansiedade, depressão, solidão, transtornos alimentares, autoestima, insatisfação corporal, insônia e estresse) e três efeitos fisiológicos (estresse fisiológico, alteração do cérebro humano e estado de experiência afetiva) do uso do Facebook.

Estudos mostram que o uso frequente das mídias sociais prediz maior insatisfação corporal em meninos e meninas adolescentes  (Çimke; Yildirim Gürkan, 2023; De Vries; Vossen; Van Der Kolk – Van Der Boom, 2019; Mahon; Hevey, 2021). Dahlgren et al. (2024) apontaram, em seu estudo, que meninas adolescentes relataram preocupações em relação à aparência e comparação social associadas ao uso das mídias sociais, principalmente  Snapchat e Instagram. O estudo de Rodgers et al. (2020) aponta que o uso de mídia, bem como fatores psicológicos como depressão e autoestima, foi associado a resultados negativos na imagem corporal, restrição alimentar e comportamento de construção muscular em adolescentes australianos.

Percebemos, portanto, que o uso frequente das mídias sociais está fortemente associado ao aumento da insatisfação corporal entre adolescentes. As plataformas como Facebook, Snapchat, Instagram e TikTok contribuem para a comparação social e as preocupações com a aparência, influenciando negativamente a percepção que os jovens têm de si mesmos. Além disso, o envolvimento intenso com essas mídias pode levar a comportamentos prejudiciais, como restrição alimentar e esforços excessivos para a construção muscular. Entender essas influências é essencial para desenvolver estratégias que possam mitigar os impactos negativos na saúde física e mental dos adolescentes.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa revisão narrativa permite vislumbrar como as mídias sociais repercutem negativamente na formação da imagem corporal de seus usuários adolescentes uma vez que a autopercepção do próprio corpo tende a se modificar com maior frequência e intensidade durante a fase da puberdade. Este estudo também oferece uma série de informações sobre como as pesquisas na área da imagem corporal vêm se desenvolvendo nos últimos anos e contribui para ampliar o corpo de estudos a respeito deste tema. 

A partir dessas considerações, destaca-se a importância de se realizar pesquisas centradas no tema do recente aumento do uso de mídias e seus reflexos sobre a imagem corporal, principalmente no cenário nacional. 

Tendo em vista que uma imagem corporal negativa na adolescência pode impactar o bem-estar psicológico do indivíduo nas próximas fases de sua vida e associar-se a transtornos diversos, torna-se necessário ampliar o conhecimento sobre esse assunto. Sendo assim, este trabalho de revisão torna-se relevante, uma vez que estudos nessa temática poderão dar suporte ao estabelecimento de intervenções profissionais para minimizar as repercussões negativas do uso das mídias sociais sobre a imagem corporal dos adolescentes, trazendo benefícios para a saúde mental e física dos indivíduos ao longo de todo o seu desenvolvimento e, assim, também, reflexos positivos no quadro geral da saúde pública.

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1ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6144-0267
e-mail: rosana.souza@hotmail.com
2ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3551-5963
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