FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À ANESTESIA PARA PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS AMBULATORIAIS

RISK FACTORS ASSOCIATED WITH ANESTHESIA FOR OUTPATIENT SURGICAL PROCEDURES

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102412231009


Rodrigo Fonseca Vilela1

Resumo

INTRODUÇÃO: A prática de cirurgias ambulatoriais se tornou um desejo de saúde para vários países. Os procedimentos ambulatoriais apresentam altas vantagens para o paciente, em relação a cirurgia com o uso de anestesia geral, como uma melhor recuperação, menor tempo internado e diminuição no número de pacientes que acabam ficando dependendo do uso de opioides. Para a sociedade a vantagem é o custo e a liberação mais rápida de centros médicos. OBJETIVO: Avaliar os fatores de risco associados para o uso de anestesia em procedimentos cirúrgicos no âmbito ambulatorial e suas consequências em comparação a anestesia geral. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa na base de dados PUBMED utilizando os descritores “ANESTHESIA AND AMBULATORY SURGICAL PROCEDURES AND FACTORS RISK para artigos publicados entre 2019 e 2024. RESULTADOS: Diversos estudos foram analisados, uma pesquisa feita em Helnsiki afirmou que o número de complicações cirúrgicas foi menor nos pacientes que realizaram o procedimento com anestesia local de forma ambulatória, 3,2% para cirurgia com anestesia geral e 1,4% para os procedimentos ambulatoriais. Um estudo coorte retrospectivo demonstrou a relação entre cetamina e sufentanil, responsáveis por um maior tempo de recuperação quando usados de forma conjunta na prática cirúrgica. CONCLUSÃO: A escolha por procedimentos anestésicos ambulatoriais é uma prática crescente e vantajosa para o governo e a própria população, consegue garantir a segurança necessária para um procedimento, além de tornar menos oneroso os gastos públicos, apresentam vantagens pessoais relacionados a saúde individual,

Palavras-chave: Anestesia. Cirurgia ambulatorial. Fatores de risco.

INTRODUÇÃO

A cirurgia ambulatorial tem como definição, a prática de procedimentos cirúrgicos em instalações próprias, sem o uso de um centro cirúrgico de um hospital de grande porte e com indicação de alta no mesmo dia. Vários países buscam transformar a maior parte das intercorrências cirúrgicas em ambulatoriais.

A questão da cirurgia ambulatorial se tornou um tópico de saúde pública. Alguns países traçaram metas públicas, para que consigam em breve, que a maior parte dos procedimentos cirúrgicos seja feita de forma ambulatorial. Os motivos que os países querem que ocorra essa mudança de panorama são vários, diminuição do custo assistenciais, aliviar a pressão sobre a hospitalização convencional e aumento das satisfações dos pacientes. (Barry et al, 2021)

Apesar de apresentarem diversos fatores positivos, práticas cirúrgicas em que não ocorre hospitalização apresentam alguns receios, como um menor tempo de observação pós cirúrgico. Dessa forma, complicações que poderiam ocorrer em qualquer cirurgia, podem não ser observados no âmbito ambulatorial devido ao pouco tempo de recuperação do paciente. (Mihailescu et al, 2020)

Uma característica cirúrgica ambulatorial que permite um menor tempo de alta hospitalar, são as drogas anestésicas utilizadas. A preferência por doses menores de indutores anestésicos, como a cetamina, juntamente com uso de anti-inflamatórios não esteroidais no lugar de drogas opioides, favorecem um menor tempo de internação. (Picard et al, 2022)

O uso de opioides, extremamente comum em cirurgias com anestesia geral, são um fator de grande preocupação para a saúde pública. Países como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá, apresentam altas taxas de morbidade devido ao uso dessas drogas. A maior parte das pessoas que acabam desenvolvendo uma dependência nesses medicamentos, tiveram o primeiro contato com essas drogas no período perioperatório, adquirindo consequências pendentes para o resto da vida. (.Hamilton et al, 2023)

OBJETIVOS

Avaliar os fatores de risco associados para o uso de anestesia em procedimentos cirúrgicos no âmbito ambulatorial e suas consequências em comparação a anestesia geral.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura realizada por meio do levantamento de artigos científicos obtidos a partir de pesquisa eletrônica na base de dados PUBMED. A seleção dos descritores foi realizada a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), e realizado o cruzamento dos descritores controlados utilizando operadores boleanos de acordo a intenção de resultados dos artigos: “ANESTHESIA AND AMBULATORY SURGICAL PROCEDURES AND FACTORS RISK”.  Foram critérios de inclusão: artigos científicos que abordassem a relação entre o tipo de anestesia em partos cesarianas e as repercussões neonatais no período de 2019 e 2024 em bases de dados eletrônicos de acesso público, disponíveis online no formato de texto completo, escritos em português, inglês e espanhol. Foram excluídos artigos duplicados, dissertações, teses, artigos debates editoriais e artigos incompletos.  Os títulos e os resumos de todos os artigos foram identificados e revisados na busca eletrônica para inclusão ou exclusão do produto no estudo. Foi realizada análise descritiva, com levantamento das informações que contemplavam o tema e que fossem relacionadas às variáveis.

RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

O estudo retrospectivo realizado em Helsinki de pacientes cirúrgicos da especialidade de otorrinolaringologia, foi comparado o tempo de internação e possíveis complicações com o uso de anestesia geral e local para o procedimento. O estudo não demonstrou diferença sobre complicações decorrentes da cirurgia. O tempo de recuperação pós-cirúrgico apresentou uma diferença, 3,2% dos procedimentos realizados com anestesia geral teve permanência excessiva ou readmissão, enquanto apenas 1,4% dos pacientes com anestésico local apresentaram tais dados. (Tolvi et al, 2021)

Picard et al, (2022), em um estudo coorte retrospectivo com centro único, foi observado que a relação entre cetamina e sufentamil aumentaram o tempo necessário para a alta hospitalar. O uso de anti-inflamatórios não esteroidais, foi altamente ligado a redução do tempo necessária para a alta. O uso de AINEs, está ligado também ao uso da morfina, responsável por complicações de náuseas e vômitos no período pós-operatório (NVPO).

Um estudo realizado na França, de maneira observacional e transversal prospectivo, a pesquisa buscou encontrar uma relação entre fatores socioambientais e complicações de procedimentos cirúrgicos feitos na forma ambulatorial. 1,84% dos pacientes tiveram que realizar visitas ao departamento de urgência no período de 30 dias pós-operatórios, dados abaixo dos 3,7% encontrados em um estudo semelhante finlandês de 2007.

Náuseas e vômitos no período pós operatório (NVPO) são um dos maiores responsáveis pelo atraso na alta do paciente, isso ocorre devido ao uso de morfina geralmente utilizados em cirurgias com anestesia geral. Jewer et al, (2019), buscaram analisar a administração de cristaloides por via intravenosa no período perioperatório. Esse estudo teve com finalidade observar se o uso dessa suplementação, seria suficiente para tornar o tempo de recuperação da anestesia geral, semelhante ao tempo de recuperação daquelas por via local. Concluiu-se que o uso desse medicamento foi responsável pela diminuição de náuseas e vômitos, em pacientes ASA I e ASA II e com isso, diminuição no tempo necessário para a alta hospitalar.

Uma problemática bastante presente na literatura em pacientes decorrentes de anestesia geral, é o uso indiscriminado de opioides, prática não presente em procedimentos ambulatoriais. O estudo reconheceu os pacientes com maiores tendências, foram pacientes depressivos e aqueles que iniciariam de alguma maneira o uso desses fármacos no período que antecede a cirurgia. O uso indiscriminado dessas drogas causa um aumento de morbidade e mortalidade, demonstrando uma desvantagem da técnica cirúrgica de anestesia geral em comparação aos locais. (Hamilton et al, 2023)

CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de anestesia local para procedimentos ambulatoriais apresenta diversas vantagens, tendo como base a anestesia geral. Essa prática apresenta custos inferiores para a sociedade, pois necessitam de um menor tempo internado para a recuperação necessária para alcançar alta hospitalar, auxiliando também na diminuição de pacientes utilizando o sistema de saúde, não sobrecarregando hospitais e centros de tratamento. Ademais, a preferência por técnicas menos invasivas se tornou uma escolha dos pacientes, apresentando taxas de satisfação superiores com a anestesia locais para cirurgias ambulatoriais. Por fim, a proximidade do uso de opioides e a anestesia geral, gera consequências danosas no âmbito social e pessoal, com o uso desenfreado dessas drogas, causando danos irreversíveis nas vidas dos pacientes.

REFERÊNCIAS

ANAND, KARISA; HONG, S.; ANAND, KAPIL; HENDRIX, J. Machine learning: implications and applications for ambulatory anesthesia. Current Opinion in Anaesthesiology, v. 37, n. 6, p. 619–623, 2024.

BARRY, G. S.; BAILEY, J. G.; SARDINHA, J.; BROUSSEAU, P.; UPPAL, V. Factors associated with rebound pain after peripheral nerve block for ambulatory surgery. British Journal of Anaesthesia, v. 126, n. 4, p. 862–871, 2021.

HAMILTON, G. M.; LADHA, K.; WHEELER, K.; et al. Incidence of persistent postoperative opioid use in patients undergoing ambulatory surgery: a retrospective cohort study. Anaesthesia, v. 78, n. 2, p. 170–179, 2023.

JEWER, J. K.; WONG, M. J.; BIRD, S. J.; et al. Supplemental perioperative intravenous crystalloids for postoperative nausea and vomiting. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 2019, n. 4, 2019.

MIHAILESCU, S.-D.; MARÉCHAL, I.; THILLARD, D.; GILLIBERT, A.; COMPÈRE, V. Socioenvironmental criteria and postoperative complications in ambulatory surgery in a French university hospital: a prospective cross-sectional observational study. BMJ Open, v. 10, n. 11, p. e036795, 2020.

PICARD, L.; DUCEAU, B.; CAMBRIEL, A.; et al. Risk factors for prolonged time to hospital discharge after ambulatory cholecystectomy under general anaesthesia. A retrospective cohort study. International Journal of Surgery, v. 104, p. 106706, 2022.

TOLVI, M.; LEHTONEN, L.; TUOMINEN-SALO, H.; et al. Overstay and Readmission in Ear, Nose, and Throat Day Surgery—Factors Affecting Postanesthesia Course. Ear, Nose & Throat Journal, v. 100, n. 7, p. 477–482, 2021.


1 Residente da especialidade de Anestesiologia do Instituto Hospital Universitário Alzira  e-mail: rodrigofonsecavilela@gmail.com