BIRTH PLAN AS A PROMOTER OF EMPOWERMENT IN THE CHILDBIRTH PROCESS
PLAN DE PARTO COMO PROMOTOR DEL EMPODERAMIENTO EN EL PROCESO DE PARTO
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412230931
Angélica Konrath¹
Pauline Muller Pacheco2
Miria Elisabete Bairros Camargo3
Perla Di Leone4
Maria Renita Burg5
Resumo:
Introdução: O Plano de Parto (PP) é uma ferramenta benéfica na prática obstétrica, tornando o trabalho de parto um evento mais humanizado, uma experiência positiva e satisfatória para a mulher, garantindo o respeito à autonomia e o empoderamento da mulher no seu processo de parturização. Objetivos: Realizar uma revisão integrativa da literatura sobre o PP na Atenção Primária à Saúde (APS). Método: revisão integrativa descritiva realizada nas bases de dados, MEDLINE, BDENF-Enfermagem, LILACS no período de junho a outubro de 2024, totalizando 16 produções, que passaram por uma análise descritiva. Resultados: O pré-natal na atenção primária promove um acompanhamento integral e longitudinal. Durante o Pré-Natal, profissionais de saúde apoiam a gestante na elaboração de um plano de parto, que reflete suas preferências e expectativas para o nascimento. Essa prática contribui para um parto humanizado, respeitando a individualidade e o protagonismo da mulher. Conclusão: O estudo resultou em uma cartilha que poderá ser usada no pré-natal na atenção básica do município, visto que contempla a diversidade, singularidade e pluralidade; garantindo a autonomia e o empoderamento da mulher no seu processo de parturização. Palavras-chave: Plano de parto, cuidado ao pré-natal e parto humanizado.
Abstract:
Introduction: The Birth Plan (BP) is a beneficial tool in obstetric practice, making labor a more humanized event and a positive, satisfying experience for the woman, ensuring respect for her autonomy and empowerment throughout the childbirth process. Objectives: Conduct an integrative literature review on how the birth plan in Primary Health Care can promote empowerment in the childbirth process. Method: A descriptive integrative review conducted in the databases MEDLINE, BDENF-Nursing, and LILACS from June to October 2024, resulting in 16 studies that underwent descriptive analysis. Results: Prenatal care in primary care promotes comprehensive and longitudinal follow-up. During prenatal consultations, healthcare professionals support the pregnant woman in creating a birth plan, which reflects her preferences and expectations for the birth. This practice contributes to a humanized birth experience, respecting the woman’s individuality and agency. Conclusion: The study resulted in a booklet that can be used in prenatal care within primary healthcare in the municipality, as it encompasses diversity, individuality, and plurality; ensuring the woman’s autonomy and empowerment during the childbirth process.
Keywords: Birth plan, prenatal care, and humanized childbirth.
Resumen:
Introducción: El Plan de Parto (PP) es una herramienta beneficiosa en la práctica obstétrica, convirtiendo el trabajo de parto en un evento más humanizado, una experiencia positiva y satisfactoria para la mujer, garantizando el respeto a su autonomía y el empoderamiento en su proceso de parto. Objetivos: Realizar una revisión integrativa de la literatura sobre cómo el plan de parto en la Atención Primaria de Salud puede promover el empoderamiento en el proceso de parto Método: Revisión integrativa descriptiva realizada en las bases de datos MEDLINE, BDENF-Enfermería, y LILACS, en el período de junio a octubre de 2024, totalizando 16 estudios que fueron sometidos a análisis descriptivo. Resultados: La atención prenatal en la atención primaria promueve un seguimiento integral y longitudinal. Durante el prenatal, los profesionales de salud apoyan a la gestante en la elaboración de un plan de parto que refleja sus preferencias y expectativas para el nacimiento. Esta práctica contribuye a un parto humanizado, respetando la individualidad y el protagonismo de la mujer. Conclusión: El estudio resultó en un folleto que podrá ser utilizado en el prenatal de atención básica del municipio, ya que contempla la diversidad, singularidad y pluralidad, garantizando la autonomía y el empoderamiento de la mujer en su proceso de parto.
Palabras clave: Plan de parto, atención prenatal y parto humanizado.
INTRODUÇÃO
O final de uma gestação é repleto de medos, dúvidas e incertezas relacionadas ao processo de parturição, principalmente quando é vivido pela primeira vez. E é por isso, que a elaboração de um Plano de Parto (PP) se torna importante, não só para expressar as vontades e desejos da mulher, mas também sanar essas dúvidas, medos e incertezas. Apesar do PP já ser recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 1986 como instrumento para boas práticas na assistência obstétrica e fazer parte da caderneta da gestante elaborada pelo Ministério da Saúde (MS, 2016), em geral, seu uso ainda está longe de ser uma realidade para a maioria das gestantes.
O PP é uma ferramenta potencializadora do cuidado; estimular a sua utilização durante o Pré-Natal (PN) na APS e o seu cumprimento em maternidades é algo fundamental para favorecer a humanização e promoção da saúde nas práticas obstétricas.(SILVA, et.al,2019).
De acordo com Trigueiro et al, 2021. Os profissionais de saúde estão passando a reconhecer o plano de parto como uma oportunidade de promoção da educação em saúde e de direitos, podendo assim, ser um meio de advogar pelo paciente. A implementação do PP é um processo educacional, aumenta o interesse e a busca pela realização e o acompanhamento do PN de forma adequada, além da continuidade de cuidados no pós-parto e puerpério, assim como faz com que o profissional de saúde respeite e compreenda melhor os cuidados e as individualidades de cada mulher, além de contribuir para a melhoria da comunicação e do relacionamento com os profissionais de saúde. (MEDEIROS, et.al, 2019)
Conforme Antão, et al, 2019. A implementação do PP garante o respeito ao princípio bioético da autonomia, a melhoria na assistência prestada e a participação ativa da mulher durante esse período, já que as condutas realizadas no parto serão baseadas com respeito às suas escolhas. O PP, portanto, é uma ferramenta benéfica na prática obstétrica, tornando o trabalho de parto um evento mais humanizado e uma experiência positiva e satisfatória para a mulher. A construção de um PP não influencia apenas na redução de intervenções desnecessárias, mas também contribui para melhores resultados obstétricos e neonatais, no desenvolvimento de confiança, segurança e proporcionando o empoderamento, além de estabelecer um maior vínculo entre gestante com o profissional e com o serviço. O empoderamento no processo de parturição refere-se à promoção e fortalecimento da consciência de seus direitos, habilidades e potencial para agir de maneira autônoma, de promover o protagonismo e principalmente do respeito às suas escolhas; da capacidade da mulher de tomar decisões informadas sobre seu corpo e seu parto.
A escolha deste tema se dá por ainda existir dificuldades no uso desta ferramenta no PN na APS, e também a realização de mais pesquisas nesse tema de extrema importância; espera-se que este trabalho sirva de subsídio para a realização de mais pesquisas, pois ele é apenas o início de uma longa trajetória para que definitivamente possamos ofertar um PN, parto e puerpério com maior qualidade para quem gestantes, seus filhos e suas parcerias, para qualificar os profissionais de saúde que realizando este atendimento e acompanhamento, buscando garantir um melhor atendimento, de forma humanizada e integral e acima de tudo fortalecer o empoderamento de quem gesta, respeitando sua autonomia e liberdade, tornando-as de fato as protagonistas desse único e inesquecível momento; seu parto.
Neste contexto, este estudo tem como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura sobre como o PP na Atenção Primária á Sáude pode promover o empoderamento no processo de parturização.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão descritiva integrativa da literatura das seguintes temáticas: Pré-Natal na Atenção Primária, Parto Humanizado e Plano de Parto. Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, que seguiu o protocolo de revisão que contempla seis etapas: identificação do tema e elaboração da questão de pesquisa; definição de critérios para a busca nas bases eletrônicas; coleta de dados, análise exaustiva do material adquirido; interpretação criteriosa dos achados; e apresentação por categorias dos resultados. (POLIT,BECK,HUNGLER,2004).
Com base nesses elementos elaborou-se a questão organizadora: Como o PP pode promover o empoderamento no processo de parturização?
Os descritores controlados e não controlados foram selecionados após consulta aos termos nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e Medical Subject Headings (MeSH). Em ambos, foram encontrados os seguintes descritores: “plano de parto”, ” cuidado pré-natal” e “parto humanizado”.
A obtenção dos dados foi realizada entre os meses de junho a outubro de 2024, nas bases eletrônicas de dados: MEDLINE, BDENF-Enfermagem, LILACS. Os artigos foram acessados por meio do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a seleção foi realizada de forma independente pela autora.
Foram definidos os seguintes critérios de inclusão: artigos indexados nas bases de dados descritas, recorte temporal de 2019-2024, no idioma português e inglês, com texto completo, disponível gratuitamente e na íntegra, que abrange a temática em estudo.
Foram estipulados como critérios de exclusão, artigos duplicados, artigos que destoam do foco em estudo e artigos com restrição de acesso. Assim foram selecionados 16 documentos para análise, conforme figura 1.
Figura 1: Prisma de identificação, triagem e inclusão. Fonte: Autora, 2024
A análise dos estudos selecionados, em relação ao delineamento de pesquisa, pautou-se em Polit, Beck, Hungler e Lo Biondo-Wood Haber, sendo que a análise dos artigos escolhidos foi realizada de forma descritiva. Para Gil, 2002, as pesquisas descritivas proporcionam novas visões sobre uma realidade já conhecida.
Foram observados os aspectos éticos da pesquisa conforme a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde que dispõe sobre pesquisas com seres humanos e o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (2017), capítulo III das proibições dos artigos 89, 94 a 100 que nortearam o percurso desta pesquisa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra final desta revisão foi constituída por 16 documentos, selecionados pelos critérios de inclusão previamente estabelecidos conforme quadro abaixo.
Quadro 2- Apresenta a caracterização das referências escolhidas. Canoas, 2024.
Artigo/ N°: | Procedên cia: | Título do artigo: | Autores: | Periódicos/ano: | Considerações finais: |
A1 | MEDLIN E | O papel dos planos de parto para a tomada de decisão compartilhada sobre as escolhas de parto de mulheres grávidas em cuidados de maternidade: uma revisão de escopo | SHAREEF et.al | ScienceDirect. 2023. | Ao discutir o plano de parto, explorar diferentes cenários pode ajudar as mulheres a se prepararem para circunstâncias imprevistas. Isso provavelmente facilitará a tomada de decisão compartilhada, mesmo que o processo de parto não esteja se desenrolando como esperado. |
A2 | BDENF | Experiência de gestantes na consulta de Enfermagem com a construção do Plano de Parto | TRIGUEIRO et.al | Esc Anna Nery 2022 | Adequados à realidade e focados na individualidade da gestante, a consulta de enfermagem e o plano de parto foram respectivamente evidenciados como espaço para educação em saúde e ferramenta educativa, mostrando-se eficientes para a atuação do enfermeiro e melhora da assistência pré-natal. |
A3 | BDENF | O uso do Plano de Parto por gestantes no pré-natal: uma revisão de escopo | TRIGUEIRO et.al | REME • Rev Min Enferm. 2021 | O uso do plano de parto é um incentivo a toda a equipe profissional para o cumprimento dos acordos realizados com a gestante e sua família, modificando as práticas de cuidado no parto nas instituições de saúde e tornando-as mais respeitosas. |
A4 | MEDLIN E | Avaliação da implementação do plano de parto: um estudo misto convergente paralelo | AHMADPO UR et.al | Reproductive Health. 2020 | Uma visão baseada em evidências pode ser oferecida usando uma abordagem culturalmente sensível. A apresentação dos resultados obtidos neste estudo usando o método misto pode ser eficaz na melhoria da qualidade do atendimento fornecido às mulheres durante o parto. |
A5 | MEDLIN E | Os significados e sentidos do plano de parto para as mulheres que participaram da Exposição Sentidos do Nascer | SANTOS et.al | Cad. Saúde Pública 2019; | A construção do plano pelas mulheres durante o pré-natal e a realização dele por parte da equipe de saúde contribuíram para o desenvolvimento favorável do trabalho de parto. |
A6 | MEDLIN E | O plano individual de parto como estratégia de ensino-aprendizagem das boas práticas de atenção obstétrica | NARCHI et.al | Rev.Esc.Enf.USP, 2019 | Profissionais que atuam na assistência à mulher não somente utilizem e aprendam o significado do PIP como também o valorizem como instru- de melhoria da qualidade da atenção e de prevenção do desconhecimento de mulheres e famílias acerca de seus direitos comumente negligenciados. |
A7 | MEDLIN E | Metodologia Team-Based Learning aplicada à construção de um modelo de plano de parto | MEDEIROS et.al | Rev.Brasileira de Enf, 2021 | O uso da metodologia TeamBased Learning mostrou-se eficaz como estratégia de discussão, construção de consensos e sínteses para elaboração de uma tecnologia de cuidado voltada ao período gravídico-parturitivo. |
A8 | LILACS | Plano de Parto no pré-natal: Conhecimento dos enfermeiros da atenção primária à saúde | FELTRIN,A, F,S. MANZANO, J,P. FREITAS,T,J ,A. | Cuid Enferm. 2022 | A importância do Plano de Parto, tanto para a gestante no âmbito de expressar suas vontades, desejos, sanar suas dúvidas e medos, como também é fundamental para o profissional inserido na assistência, já que ele é um documento escrito e de caráter legal, o que o torna meio de respaldo para possíveis contratempos. |
A9 | LILACS | Cumprimento das demandas articuladas no Plano de Parto entre usuárias do sistema público de saúde | RODRIGUE S et. al | Rev Enferm Atenção Saúde [Online]. 2023. | Os resultados do presente estudo são evidências importantes para a promoção de políticas públicas voltadas à assistência obstétrica. |
A10 | MEDLIN E | Repercussões da utilização do Plano de Parto no processo de parturição | MEDEIROS et al. | Rev Gaúcha Enferm. 2019. | A construção do Plano de Parto no pré-natal influencia positivamente o processo de parturição e os desfechos materno-fetais. Expectativas irrealistas podem causar insatisfação com a experiência de parto. Prestadores de cuidado desempenham papel central no apoio à realização do planejamento e no cumprimento deste. |
A11 | MEDLIN E | Experiência de profissionais e residentes atuantes no centro obstétrico acerca da utilização do plano de parto | BOFF et al. | Esc Anna Nery, 2023 | O conhecimento acerca da utilização do plano e parto promove condições para o exercício da autonomia e protagonismo da mulher durante o trabalho de parto, parto e nascimento. |
A12 | MEDLIN E | Promover a participação de gestantes de baixo risco no processo de parto por meio da elaboração de um plano de parto: Protocolo de um estudo de pesquisa-ação | MOHEBBIŸ DEHANVI. HAJIHASHE M.KOHAN | Rev. Educação e Promoção da Saúde, 2023| | Elaborar um plano de parto baseado nas preferências dessas mulheres e de todas as pessoas envolvidas nesse processo pode fortalecer a participação das mulheres no processo de parto. |
A13 | MEDLIN E | Satisfação das gestantes com o atendimento em parto e puerpério e variáveis associadas | ARREBOLA et al | Rev.Esc.Enf.USP, 2020 | É necessário acompanhar o parto e o pós-parto, promovendo boas práticas na assistência ao parto, bem como bem como no bem-estar emocional das mulheres. |
A14 | MEDLIN E | Eficácia do aconselhamento sobre plano de parto com base na tomada de decisão compartilhada: um ensaio clínico randomizado controlado por cluster (APLANT) | LO ́PEZ-GIMEN O et al | PLOS ONE, 2022 | A apresentação do BP foi relacionada a um menor uso de analgesia epidural, uma maior combinação de métodos farmacológicos e não farmacológicos para alívio da dor e o início da amamentação na sala de parto. |
A15 | MEDLIN E | A contribuição dos planos de parto para a tomada de decisão compartilhada a partir das perspectivas das mulheres, seus parceiros e seus profissionais de saúde. | SHAREEF et al | PLOS ONE, 2024 | O uso de um plano de parto parece promover o envolvimento das mulheres, dos parceiros e dos profissionais de saúde no processo de parto, e parece adequado para facilitar o SDM. |
A16 | MEDLINE | Plano de parto como tecnologia do cuidado: experiência de puérperas em uma casa de parto | LOIOLA 1 et al | Cogitare enferm, 2020 | A aplicação do plano de parto sustenta o cuidado qualificado respaldado no conhecimento científico, podendo ser uma ferramenta potente capaz de mediar relações entre mulher e profissionais de saúde, fomentando caminhos protegidos de judicialização com menos risco à saúde da mulher. |
Fonte: Autora, 2024
A revisão integrativa descritiva oportunizou a categorização dos artigos em três temáticas, conforme quadro abaixo.
Quadro 2 -Categorias Temática dos artigos
Artigo/Número: | Categoria Temática: | Quantidade de artigos: |
A3, A6, A7, A8, A15 | Pré-Natal na Atenção Primária | 5 |
A1,A4,A5, A12, A13, A14 e A17 | Parto Humanizado | 7 |
A2,A3,A5,A6,A7,A8,A9,A10, A16 | Plano de Parto | 9 |
Fonte: Autora, 2024
Categoria 1- Pré-natal na APS:
O Pré-Natal em sua maioria é realizado na Atenção Primária à Saúde, em conjunto com outros níveis de atenção e serviço e os A3, A6, A7, A8 e A15 mostram que APS é o ponto de atenção estratégico para acolher as necessidades de pessoas gestantes, puérperas e seus(as) parceiros(as), proporcionando um acompanhamento longitudinal e continuado da saúde sexual e reprodutiva.
O início oportuno do pré-natal auxilia no diagnóstico precoce de alterações e na realização de intervenções adequadas, além de identificar expectativas em relação à gestação, buscando sempre a individualidade de cada contexto (família, trabalho e comunidade) e assim estabelecendo o vínculo.
Conforme o Guia do Pré-Natal e Puerpério na Atenção Primária (2024), p. 11:
“A equipe deve ainda considerar aspectos psicossociais e contemplar,além do cuidado clínico, atividades educativas e preventivas, de formaequânime e livre de discriminação de raça e etnia, identidade de gênero,expressão de gênero, orientação sexual, cultural e de classe, possibilitando o desenvolvimento da gestação, parto e nascimento de um recém-nascido (RN) saudável, sem impacto negativo para a sua saúde e de quem a gesta.”
O Ministério da Saúde (2024) recomenda um número mínimo de seis consultas de pré-natal (intercaladas entre profissionais médicos e enfermeiros), com início precoce (primeira consulta deve ocorrer no primeiro trimestre, até a 12ª semana gestacional).
Assim como citado no A8 a abordagem da contracepção após o parto também deve ser incentivada durante o PN, muitas vezes aquela mulher não desejava e nem planejava nem mesmo aquela gestação, por vezes, já não é sua primeira gestação e na maioria das vezes nunca abordaram as possibilidades de métodos contraceptivos, seja no PN ou não, disponíveis pelo SUS como: Laqueadura, vasectomia para os parceiros, dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, pílulas de emergência, anticoncepcionais injetáveis mensal e trimestral, anticoncepcionais orais, até mesmo camisinhas, masculinas e femininas.
O Guia do Pré-Natal e Puerpério na Atenção Primária (2024), p.20 e os A6 e A15 trazem ainda que a pessoa que gestante deve ser estimulada a escolher um(a) acompanhante e informada sobre o seu direito de levá-lo(a) às consultas de pré-natal, exames e procedimentos médicos.
Conforme Nota Técnica 02/2018 Atenção ao PN na APS:
“A participação do (a) parceiro (a) tem relevância no pré-natal, puerpério e período de amamentação; além de incentivar o cuidado com sua saúde, constitui-se uma ferramenta de prevenção e tratamento das IST[…] Assim como quem gesta o (a) parceiro deve realizar o acompanhamento durante todo PN, parto e pós- parto, também deve realizar os TR para ISTS´s, assim como demais exames de sangue.”
Os A3, A6, A7 e A8 citam a importância da construção do PP durante o PN, para garantir que as expectativas, necessidades e preferências da gestante sejam respeitadas e consideradas no momento do nascimento, garantindo uma experiência de parto mais positiva e alinhada aos desejos da mãe. Além disso, permite que a gestante dialogue com a equipe de saúde, reduzindo a ansiedade e aumentando o protagonismo da mulher no processo de parturização.
Categoria 2 – Parto Humanizado:
Conforme A5 e A17 o período final da gestação é marcado por dúvidas, medos e incertezas relacionados ao processo de parturição, principalmente quando é vivido pela primeira vez. Abordam ainda a necessidade de conduzir os partos com uma assistência qualificada e segura, de forma responsável e respeitosa; ressaltando a importância da enfermagem obstétrica para a garantia de uma assistência humanizada.
De acordo com as Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, 2017, p.7:
“Nesse processo, as habilidades e experiência clínica do provedor de cuidados associadas às expectativas e necessidades únicas das mulheres e suas famílias, mais a informação derivada da melhor pesquisa científica, formam o tripé que se chama de prática clínica baseada em evidência, uma das regras básicas para uma assistência focada na qualidade.”
Conforme trazem os A12 e A13 o conceito de humanização é abrangente e multifacetado, englobando conhecimentos, práticas e atitudes que visam promover a autonomia e o protagonismo das mulheres, evitando intervenções desnecessárias e assegurando cuidados comprovadamente benéficos, capazes de prevenir a morbimortalidade materna. Assim, para que a mulher tenha maior autonomia e para que o processo de parto seja humanizado e personalizado, é fundamental que ela esteja informada sobre as intervenções que serão realizadas. Essa abordagem se repete nos demais artigos A1, A4.
Os A5 e A14, trazem como a experiência do parto pode ser muito diferente para cada mulher, pois depende de múltiplos fatores como o tipo de parto, o ambiente, o apoio emocional e as circunstâncias individuais. Muitas mulheres descrevem um misto de emoções durante o parto, que podem ir desde a ansiedade até uma grande felicidade e libertação ao ver o bebê pela primeira vez. Cabe a equipe de profissionais multiprofissionais em conjunto com a gestante e parceiro (a) tornar esse momento tão único e inesquecível, para que seja sempre lembrado como um momento e uma experiência feliz, leve, tranquila e humanizada.
Categoria 3- Plano de Parto
Conforme Trigueiro et.al, (2021, p. 2):
“Desde 1986 o plano de parto é uma das recomendações da Organização Mundial da Saúde para assistência ao parto normal, reforçado em 2018 em sua última atualização sobre a atenção ao parto e nascimento, na qual se reafirma que ele deve ser individualizado, considerando as preferências e necessidades das gestantes.”
A Secretaria Estadual da Saúde do RS aponta alguns direitos básicos de todas as gestantes. Conforme o Plano de parto SES-RS (2024, p. 1):
“[…]Direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como a criança tem direito ao nascimento seguro e ao crescimento e ao desenvolvimento saudável no SUS. […] Direitos trabalhistas, receber Declaração de Comparecimento sempre que for às consultas de pré-natal ou fazer algum exame; ser dispensada do trabalho, para amamentar até o bebê completar seis meses; licença de cinco dias para o pai. […]”
O Plano de partoSES-RS (2024), p.1, aponta ainda como direitos:
“Caso seja adolescente: tem o direito de ser atendida com sigilo, privacidade, autonomia e receber informações sobre planejamento reprodutivo e sexualidade responsável […] às gestantes surdas ou com deficiência auditiva, e migrantes e indígenas que apresentem barreiras de comunicação o direito à presença de intérprete […]. Direito ao acompanhante garantido pela Lei Federal no 11.108/2005.”
De acordo com encontrado nos A2, A3, A6, A7, A8 e A10 um plano de parto é uma ferramenta útil para ajudar a equipe de saúde a entenderem os desejos da mulher em relação ao parto e auxiliá-la na tomada de decisões durante este processo tão importante e único. Além disso, contribui para o empoderamento e incentivo à autonomia das mulheres a fim de torná-las protagonistas do seu parto.
O A9 traz ainda que a criação do plano de parto contribuiu para que essas mulheres se sentissem mais ativas e autônomas nas decisões relacionadas ao cuidado, além de capacitá-las a ajustar seu planejamento inicial e fazer novas escolhas com maior segurança e confiança no momento do parto. O A16 salienta a importância do PP e ressalta também que PP parece incentivar o envolvimento das mulheres, dos parceiros e dos profissionais de saúde no processo de parto; no entanto, mais pesquisas são necessárias para explorar estratégias que superem barreiras, para assegurar uma assistência de qualidade e segura, além de suprir as expectativas das mulheres e seus parceiros em relação ao processo de nascimento.
Alguns elementos comuns que podem conter em um PP foram abordados nos A2, A3, A6, A8, A10 e A11, entre eles informações pessoais, como: Nome completo, data prevista para o parto, contato, nome do parceiro ou acompanhante, nome do bebê, caso já tenha escolhido, nome da maternidade de referência, nome da US, outros dados que podem conter em um PP são:
- Preferências durante o Trabalho de Parto, como: Quem a gestante gostaria de ter ao seu lado durante o trabalho de parto. Preferências em relação à mobilidade durante o trabalho de parto (andar, usar bola de parto, etc.).Desejos sobre métodos de alívio da dor, como massagem, banho quente, técnicas de respiração, analgesia entre outros. Desejos de se alimentar ou não.
- Comunicação e Interação com a Equipe Médica, como: Preferências em relação à comunicação e tomada de decisões durante o parto.
- Ambiente de Parto, como: iluminação, música, aromaterapia, climatização.
- Intervenções Médicas, como: monitoramento fetal, medicações, analgesia e tricotomia.
- Cuidados após o parto, como: contato pele a pele imediato, clampeamento oportuno do cordão umbilical, aguardar expulsão espontânea da placenta, amamentação, inserção de DIU ou laqueadura, primeiro banho do bebê e demais cuidados com o bêbê.
- Plano de Emergência, como: Instruções específicas em caso de complicações durante o parto, incluindo preferências sobre ressuscitação neonatal, transfusões de sangue, cesariana de emergência, entre outros.
Conforme sugere Rodrigues et.al em estudo realizado em 2023, p.13:
“No contexto do pré-natal, o incentivo e conscientização dos profissionais de saúde sobre o desenvolvimento de grupos educativos como forma de orientar as gestantes sobre a importância do PP, e que os profissionais do âmbito hospitalar sejam sensibilizados para acolherem a decisão da mulher e do seu parceiro, através um PP impresso ou pela fala, oferecendo um cuidado personalizado e de qualidade para cada uma delas.”
Ao analisar o Plano de parto do MS (2016) e da SES-RS (2024),observou-se que ambos abordam questões e desejos inerentes ao momento da parturização como: o que deseja durante o trabalho de parto, na hora do parto, caso a cesárea seja necessária, após o parto, cuidados com o bebê. A principal diferença encontrada entre estes dois modelos de PP, é que o modelo da SES-RS, muito provavelmente por ser uma versão elaborada recentemente (2024), constam questões sobre, diversidade, equidade, singularidades, particularidade, acessibilidade, identidade, traz um espaço livre destinado a gestante adicionar pautas que não foram contempladas ao longo do PP, além de contatos telefônico de números importante em caso de emergência; este plano aborda também o reconhecimento de seus direitos.
Por meio da revisão da literatura e tendo como base também os PP do MS e da SES-RS, foi possível elaborar um novo modelo de PP, que busca, de forma simplificada, clara e objetiva, encorajar os profissionais de saúde na utilização do PP no Pré-natal na Atenção Primária à Saúde, sobretudo, garantir a todas gestantes uma assistência ao PN, parto e puerpério, de qualidade e seguros; tornando-as empoderadas e protagonistas do seu próprio parto.
Este novo modelo de PP, buscou contemplar e manter as questões inerentes ao período de parturização, como: os desejos que devem ser respeitados, antes do parto, durante o trabalho de parto, caso haja necessidade de cesárea, cuidados com o bebê e após o parto; procurou também, manter e fomentar todos os direitos legais das gestante, suas singularidades, particularidades e diversidade; manteve um espaço livre e democrático destinado a gestante abordar questões que acha que não foram contempladas ao longo do PP. A maior diferença está na adição de uma pauta de extrema importância que ambos os modelos, tanto do MS quanto o da SES-RS não contemplaram, como: a crença-religião, e o desejo ou não de contracepção após o parto, explicando os principais métodos disponíveis na rede da APS no município de Canoas. (APÊNDICE 1).
CONCLUSÃO
Este trabalho teve o intuito de realizar uma revisão integrativa da literatura sobre como o plano de parto na Atenção Primária à Saúde pode promover o empoderamento no processo de parturização. Podemos concluir que a construção do PP promove o empoderamento e encorajamento das mulheres no seu processo de parturização; promovendo o respeito às suas escolhas quanto ao seu cuidado, o respeito aos seus desejos e expectativas, o respeito à autonomia, e aumentando o protagonismo; garantindo assim, uma assistência de qualidade e humanizada. Como consequência desta revisão propiciou-se a elaboração de um PP em formato de cartilha, disponibilizada para ser utilizada no pré-natal na APS. A mesma contempla em sua totalidade e singularidade cada gestante, espera-se que esta cartilha facilite e incentive sua utilização e implementação pelos profissionais de saúde.
Sendo a APS a principal porta de entrada e que mantém maior vínculos com seus usuários, este trabalho quer demonstrar cada vez mais a importância da APS para todos e a qualidade dos profissionais que ali escolheram atuar, saber valorizar o sistema, os profissionais e a população atendida; fazer com que de fato todas gestantes e parceiros recebam um atendimento de qualidade durante seu PN, parto e puerpério, que possam ser cuidados de forma integral, humanizada nesse processo tão único e especial, a PARTURIZAÇÃO.
REFERÊNCIAS:
BRASIL.Plano de parto, 2024.Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, 2024.Disponível em:<https://atencaoprimaria.rs.gov.br/upload/arquivos/202403/05095637-plano-de-parto-para-imp ressao.pdf>. Acesso em: 07 de abr de 2024.
BRASIL. Nota Técnica 02/2018 Atenção ao Pré-Natal na Atenção Básica. Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, 2018. Disponível em:<https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20190217/06111707-cibr022-19.pdf>. Acesso em: 15 de out de 2024.
BRASIL.Ministério da Saúde. Meu Plano de Parto, 2016.Disponível em:< https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2019/01/Folder-Plano-de-Parto-Com pleto-1.pdf>. Acesso em: 07 de abr de 2024.
BRASILGuia estadual propõe plano de parto para assegurar desejos e preferências da gestante. (2024, março 8). Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Disponível em:<https://saude.rs.gov.br/guia-estadual-propoe-plano-de-parto-para-assegurar-desejos-e-prefere ncias-da-gestante>.Acesso em: 27 set de 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia do Pré-natal e Puerpério na Atenção Primária à Saúde (APS), 2024. Secretária de saúde do Estado do Rio Grande do Sul (SES-RS). Departamento de Atenção Primária e Políticas de Saúde. Divisão das Políticas dos Ciclos de Vida. Divisão da Atenção Primária em Saúde, 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, 2017. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde,1°Ed, 2017.
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APÊNDICE 1: Cartilha Plano de Parto
ANEXOS:
https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-content/uploads/2019/01/Folder-Plano-de-Parto-Complet o-1.pdf
https://atencaoprimaria.rs.gov.br/upload/arquivos/202404/25124004-guia-do-pre-natal-2024.pdf
¹ Enfermeira, Residente do 2°ano da Residência Multiprofissional em Saúde Comunitária da Ulbra/Canoas.
2 Nutricionista, especialista em Saúde Coletiva, Sanitarista, Ms e Dra em Epidemiologia
3 Enfermeira, docente do Curso de Enfermagem da Ulbra/Canoas, Coordenadora da Comissão de Residência Multiprofissional Saúde da Ulbra/Canoas e Ms em Educação.
4 Enfermeira, docente do Curso de Enfermagem da Ulbra/Canoas.
5 Enfermeira, Tutora do Núcleo da Enfermagem da Residência Multiprofissional em Saúde da Ulbra/Canoas. Ms Saúde Coletiva.