THE NURSE AS A PROTAGONIST IN THE EARLY IDENTIFICATION OF SEPSIS: CARE IN THE MANAGEMENT AND EVOLUTION OF THE DISEASE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412211946
Bruno de Oliveira Dias1
Elisangela Leite Nogueira2
Tamara Quintella Assis3
William Olimpio Da Costa Lopes4
Andréa Lucia Reis Gracio5
Leandro da Silva Nascimento6
RESUMO
A sepse é uma das doenças fatais mais comumente encontradas em todo o mundo. Trata-se de uma patologia que é caracterizada como uma disfunção orgânica resultante da resposta imunológica desregulada do hospedeiro à um processo infeccioso, que pode ser causado por microrganismos, com alta taxa de mortalidade. Diante disso surge o problema de pesquisa; “Qual a relevância do papel da enfermagem na identificação precoce da sepse e como intervir preventivamente?” O objetivo desse estudo foi Identificar o papel do enfermeiro na identificação precoce da sepse. Será feito um levantamento através da revisão integrativa de literatura nas bases de dados do Scientific Electronic Library Online (Scielo), Google Acadêmico e Biblioteca Virtual da Saúde. Foram utilizados 08 artigos dos anos de 2019 a 2024 que adentraram aos critérios de inclusão e objetivos do estudo relevantes à temática, sendo efetuada uma seleção de forma a utilizar aqueles que continham dados mais característicos com relação ao tema. Os resultados obtidos evidenciaram que as intervenções de enfermagem, como o uso da escala de Sofa, uso de Nanda, monitoramento dos sinais vitais, foram evidenciados como elementos chaves para a assistência de enfermagem ao paciente séptico. Ressalta-se a necessidade de atualização e qualificações para que os enfermeiros sejam capacitados. Conclui-se que é fundamental que o enfermeiro seja protagonista no manejo da sepse além da possibilidade de criação de protocolos por parte destes profissionais, que se utilizam da sistematização da assistência de enfermagem para a identificação e prevenção de agravos, sendo essa uma forma eficaz de diminuir as complicações nos mais variados setores de atendimento em saúde
Palavras-Chave: Enfermagem. Cuidados de enfermagem. Sepse. Identificação. Tratamento.
ABSTRACT
Sepsis is one of the most commonly found fatal diseases worldwide. It is a pathology that is characterized as an organic dysfunction resulting from the host’s unregulated immune response to an infectious process, which can be caused by microorganisms, with a high mortality rate. Given this, the research problem arises; “What is the relevance of the role of nursing in the early identification of sepsis and how to intervene preventively?” The objective of this study was to identify the role of nurses in the early identification of sepsis. A survey will be carried out through an integrative literature review in the databases of the Scientific Electronic Library Online (Scielo), Google Scholar and Virtual Health Library. Eight articles from 2019 to 2024 that met the inclusion criteria and objectives of the study relevant to the theme were used, and a selection was made in order to use those that contained more characteristic data regarding the theme. The results obtained showed that nursing interventions, such as the use of the Sofa scale, use of Nanda, and monitoring of vital signs, were evidenced as key elements for nursing care for septic patients. The need for updating and qualifications so that nurses are trained is emphasized. It is concluded that it is essential for nurses to be protagonists in the management of sepsis, in addition to the possibility of creating protocols by these professionals, who use the systematization of nursing care to identify and prevent complications, which is an effective way to reduce complications in the most varied sectors of health care.
Keywords: Nursing. Nursing care. Sepsis. Identification. Treatment.
1 INTRODUÇÃO
A sepse é caracterizada como uma resposta inflamatória sistêmica desencadeada pelos mediadores inflamatórios em resposta a agentes microbianos ou toxinas. Seu curso agudo, muitas vezes evolui rapidamente para choque séptico e disfunção multiorgânica, destacando assim, a urgência em abordar essa condição complexa e potencialmente fatal (Branco et al., 2020).
Segundo Lelis (2017) atualmente, a sepse emerge como um grande problema de saúde pública, visto que representa a principal causa de mortalidade nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Não limitando seus impactos ao território nacional, a sepse também se configura como um desafio global, demandando uma resposta coordenada em escala internacional.
A sepse é uma das patologias que contém um alto índice de óbito no Brasil, cerca de 60% dos casos registrados evoluem para óbitos, tendo em vista que a sua situação é crítica de inflamação sistêmica grave. Ela atinge indivíduos de todas as classes, desde as que mais têm recursos e planos de saúde até o indivíduo de baixa renda usuário do SUS. Infelizmente muitos profissionais da área multidisciplinar da saúde não sabem diagnosticar precocemente a sepse para desenvolver o tratamento correto (Brasil, 2023).
Para de obter o diagnóstico da sepse é necessário exame complementar; hemograma para ver níveis de infecção no sangue, radiografia de tórax para descartar o foco pulmonar, exames de urina para descartar o foco urinário, avaliar no exame de sangue o lactato, pois é uma ferramenta, pois é um biomarcador do sistema nervoso central e da hipoperfusão tecidual. Utilizar a cultura sanguínea (Exame de sangue para isolar a bactéria específica e saber com antibiótico é mais eficaz para aquela bactéria) (Brasil, 2023).
Conforme Viana, et al., (2017) o lactato é um biomarcador de grande relevância para realizar prognóstico de doenças e complicações clínicas. No decorrer da sepse o débito cardíaco pode aumentar, principalmente após reposição volêmica. Entretanto, apesar de normal, esse débito cardíaco pode não ser suficiente para atender a demanda metabólica induzida pela sepse. Esses fatores ocasionam o comprometimento da perfusão tecidual e consequentemente redução da oferta tecidual de oxigênio. A redução do enchimento capilar, cianose de extremidades são sinais clínicos facilmente identificados pelo enfermeiro. Os tecidos realizam metabolismo anaeróbico como forma de obtenção de energia, e consequentemente os níveis de lactato se elevam, por esse motivo, torna-se importante à coleta de exames laboratoriais para o acompanhamento do quadro clínico.
A escala de SOFA (Sequential Organ Failure Assessment) é um método para avaliar a probabilidade de o paciente evoluir para sepse. É feita uma análise individual, podendo ser baseada em alterações fisiológicas simples ou complexas, descrevendo disfunções orgânicas e fornecendo uma avaliação objetiva da extensão e gravidade da disfunção. São avaliados seis sistemas, são eles: respiratório (PaO2/FiO2), coagulação (plaquetas), hepático (bilirrubina), circulatório (PA), neurológico (escala de Glasgow) e renal (creatinina/débito urinário). Dependendo do grau de comprometimento, é atribuída uma pontuação que vai de 0 a 4 a cada um dos sistemas. Essa pontuação é somada para proporcionar um escore SOFA e os escores diários podem ser calculados e utilizados para descrever o grau de disfunção orgânica (Brasil, 2023).
O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (2016) descreve que a sepse é uma condição de saúde recorrente nas Unidades de Terapia Intensiva, e também a principal causa de morte não cardiológica nestes ambientes, sendo, portanto, indispensável a sua identificação precoce. As infecções mais relacionadas ao desenvolvimento da sepse são a pneumonia, infecção intra-abdominal e a infecção urinária, sendo esta última a de menor letalidade se comparada aos outros citados (COREN, 2016).
Segundo Viana, et al., (2020) tendo em vista estes dados, torna-se relevante que o enfermeiro tenha conhecimento dos sinais e sintomas característicos da sepse, já que é uma patologia com crescente incidência. O Enfermeiro tem um papel fundamental na identificação precoce da sepse, pois é ele que se mantém mais tempo próximo ao paciente, devido ao seu perfil cuidador. Diante disto torna-se primordial o conhecimento das definições, reconhecimento precoce das manifestações clínicas desencadeadas pela infecção por este profissional.
Diante desse cenário preocupante, destaca-se a importância da identificação precoce e precisa dos sinais e sintomas que indicam infecções potenciais precursoras da sepse. Esta abordagem proativa torna-se crucial para o sucesso na prevenção da sepse, visando reduzir significativamente a incidência de disfunções orgânicas. A atuação diligente e sistemática do enfermeiro, desempenha um papel central nesse processo, contribuindo para a eficácia das medidas preventivas (Brito, 2022).
Neste contexto, é fundamental o papel do Enfermeiro na prevenção e no reconhecimento precoce dos sinais clínicos das sepses, visto que são estes os profissionais que prestam assistência direta e contínua aos pacientes. Por isso a equipe de Enfermagem deve estar atenta e treinada para intervir em todas as situações que haja risco de infecção, e principalmente nos processos infecciosos já instalados, na tentativa de controlar e diagnosticar precocemente a sepse, a fim de evitar o choque séptico e consequentemente o óbito (Mello et al., 2018).
Dessa forma, reconhecendo que a detecção precoce da sepse, aliada às intervenções terapêuticas adequadas pode resultar em desfechos favoráveis para o paciente, uma vez que as chances de evitar óbitos aumentam nos estágios iniciais, surgiu a inquietação por parte dos pesquisadores acerca da temática, o que motivou a realização do estudo com o objetivo de abordar acerca da relevância do papel da enfermagem na identificação e tratamento precoce da sepse.
Sendo assim, o nosso problema de pesquisa esta pautado no seguinte questionamento:
“Qual a relevância do papel da enfermagem na identificação precoce da sepse e como intervir preventivamente?”
Este estudo tem como objetivo identificar o papel do enfermeiro na identificação precoce da sepse.
Esta pesquisa se justifica pela necessidade de um estudo que identifique as condutas atuais adotadas pela equipe de Enfermagem frente a prevenção, reconhecimento precoce e assistência de enfermagem no tratamento da sepse como forma de auxiliar na diminuição da taxa de mortalidade por sepse em pacientes na UTI.
2 MATERIAL E MÉTODOS
O método do estudo consistiu em uma revisão integrativa da literatura, que, conforme Sousa, Silva e Carvalho (2010), representa a abordagem metodológica mais abrangente no que se refere a revisões. Essa metodologia permite a inclusão tanto de estudos experimentais quanto não experimentais, proporcionando uma compreensão completa do fenômeno analisado.
Desse modo, para a orientação do estudo, elaborou se a seguinte questão norteadora:
“Qual a relevância do papel da enfermagem na identificação precoce da sepse e como intervir preventivamente?” Essa pergunta orientadora serviu como base para a delimitação do escopo da revisão e direcionou a busca por evidências que contribuíram para uma compreensão abrangente do tema.
O desenvolvimento da pesquisa seguiu as etapas metodológicas estabelecidas por Mendes, Silveira e Galvão (2019), as quais compreendem a definição da pergunta da revisão, busca e seleção dos estudos primários, extração de dados dos estudos, avaliação crítica, síntese dos resultados e apresentação do método de pesquisa. Essas etapas garantiram rigor científico e metodológico à revisão, permitindo a análise criteriosa e sistemática das evidências disponíveis na literatura, conforme esquematizado na figura 1.
O levantamento de dados ocorreu no período de Setembro à Novembro de 2024, de maneira individualizada e separada, em um sistema cego, utilizando-se as seguintes bases virtuais: nas bases de dados Scielo, Pubmed, Medline, Lilacs e B-On permutando o uso dos descritores: Utilizou-se para a busca os seguintes descritores: Cuidados de enfermagem. Sepse. Identificação. Tratamento, devidamente validados para as ciências da saúde. Será também feita uma pesquisa na internet através do motor de busca Google Acadêmico.
Na busca pelas referências na base de dados, foi encontrado um total de 125.154 artigos limitados pelos seguintes critérios: artigos referentes à área de saúde voltada para a enfermagem. A pesquisa inicialmente encontrou 428 artigos, dos quais foram aplicados critérios de inclusão, como a relevância para a enfermagem e o foco na identificação precoce da sepse. Como critérios de exclusão, foram selecionados apenas artigos em português, com texto completo disponível, dos últimos cinco anos, sendo sepse o principal descritor.
Para a seleção dos artigos que compuseram este estudo, foram adotados critérios de inclusão e exclusão previamente definidos. Foram incluídas produções científicas em formato de artigos, disponíveis integralmente em domínio público, publicadas em português, e com recorte temporal entre 2019 e 2024, conforme encontrado nas bases de dados consultadas. Foram excluídos artigos duplicados, monografias, teses, dissertações, resenhas e editoriais. Após a aplicação desses critérios de busca, foram identificados 08 estudos.
Essa seleção rigorosa visou fornecer uma base sólida de evidências que pudessem ser exploradas de maneira aprofundada, permitindo uma análise fundamentada e abrangente sobre a relevância do papel da enfermagem na identificação precoce da sepse.
Após a seleção criteriosa dos artigos pertinentes, foram dispostos para a extração dos dados de cada publicação selecionada de maneira descritiva conforme apresentado no quadro a seguir (Quadro I).
3 RESULTADOS
Foram selecionados, no total, 08 artigos que compuseram a amostra final do estudo.
QUADRO 1: Síntese de artigos selecionados nas bases de dados: Rio de Janeiro, 2024.
Nª | Título | Autores | Publicação | Objetivos | Resultados |
01 | Conhecimento do enfermeiro em protocolo sepse na unidade de terapia intensiva | Godin; Teixeira; Mourão; Sousa | Revista da Faculdade Paulo Picanço, v. 4, n. 2, 2024 | investigar o conhecimento dos enfermeiros na identificação precoce de sinais e sintomas no ato da abertura do Protocolo Sepse em uma Unidade de Terapia Intensiva | os enfermeiros possuem conhecimento limitado sobre os sinais iniciais de sepse e uma notável falta de autonomia para iniciar protocolos de tratamento da condição. Além disso, muitas instituições públicas de saúde não adotam o protocolo de sepse devidamente. |
02 | Protocolos gerenciados por enfermeiros para identificação da sepse | Henrique et al | Rev. enferm UERJ, Rio deJaneiro,2023 | mapear os protocolos assistenciais utilizados por enfermeiros para identificação precoce da sepse no ambiente hospitalar. | Protocolos assistenciais impulsionam a aderência dos profissionais às recomendações oficiais para o manejo da sepse no ambiente hospitalar e o desenvolvimento de cuidados de enfermagem baseados em evidências, contribuindo para melhorar os indicadores de qualidade e reduzir a mortalidade entre pacientes com sepse. |
03 | ENFERMAGEME O MANEJOCLÍNICO EMPACIENTESCOM SEPSE EM UTI COVID:SCOPINGREVIEW | Nascimento et al. | Rev Enferm Atual In Derme v. 96, n. 40, 2022 | Examinar e mapear as evidências científicas sobre o manejo clínico em pacientes sépticos em UTI covid-19 | Os resultados desta revisão mostraram uma escassez de estudos nacionais e internacionais sobre a identificação precoce e manejo clínico do paciente séptico acometido pela covid-19 |
04 | O enfermeiro como protagonista da identificação precoce da sepse: Cuidados no manejo e evolução do agravo | Cebriano et al. | Research, Society and Development, 2021 | destacar a importância do conhecimento do enfermeiro na identificação precoce da sepse. | é fundamental que o enfermeiro seja protagonista no manejo da sepse além da possibilidade de criação de protocolos por parte destes profissionais, que se utilizam da sistematização da assistência de enfermagem para a identificação e prevenção de agravos, sendo essa uma forma eficaz de diminuir as complicações nos mais variados setores de atendimento em saúde |
05 | O papel do enfermeiro no cuidado ao paciente crítico com sepse | Branco et al | Rev Bras Enferm. 2020 | conhecer as intervenções de enfermagem na identificação, prevenção e controle da sepse no paciente crítico | as intervenções de enfermagem centram-se na criação/implementação de protocolos que auxiliem o reconhecimento precoce da sepse, na formação das equipes para garantir uma abordagem segura e eficaz e na adoção de medidas que promovam a prevenção e o controle de infecção como forma de prevenir a sepse. |
06 | Prevalência de sepse em um centro de terapia intensiva de um hospital de ensino. | Carvalho et al. | Enferm Foco. 2021 | Avaliar a prevalência de sepse, em um Centro de Terapia Intensiva, de um hospital de ensino. | A prevalência de sepse no presente estudo foi baixa, se comparada ao índice mundial que é mais elevado. Trata se de problema de saúde pública, de alto custo para os serviços e que acarreta mortalidade. |
07 | Conhecimento e compreensão dos enfermeiros de emergência sobre seu papel no reconhecimento e resposta aos pacientes com sepse: um estudo qualitativo | Harley. et al | Int Emerg Nurs, 2019 | Analisar as experiências e percepções dos enfermeiros do pronto-socorro sobre o reconhecimento e a resposta a pacientes com sepse e sua conscientização sobre a triagem de sepse e ferramentas de prognóstico | Os enfermeiros do pronto-socorro identificaram déficits em sua capacidade de reconhecer e responder a pacientes com sepse, apesar de seu papel vital dentro da equipe multidisciplinar que cuida de pacientes com sepse |
08 | Sistematização da assistência de enfermagem a pacientes adultos com diagnóstico de sepse. | Júnior; Belarmino; Almeida; Holanda | Revista Baiana de Saúde Pública,2020 | analisar evidências na literatura científica acerca de assistência de enfermagem desenvolvida para indivíduos adultos com sepse. | Os principais cuidados envolveram a identificação de sinais clínicos de sepse, administração de antimicro-bianos, fluidos e vasopressores, monitoramento eletrônico, coleta de lactato e gasometrias curva glicêmica, sistematização da assistência de enfermagem e processos educacionais no trabalho. |
Fonte: Autores, 2024.
4 DISCUSSÃO
A análise da produção bibliográfica nacional sobre o Enfermeiro na detecção precoce da sepse nos últimos 05 anos possibilitou a elaboração de duas categorias.
4.2 A escala de SOFA como ferramenta para o prognóstico da sepse
O SOFA (Sepsis-Related Organ Failure Assessment) foi criado com a finalidade de avaliar a morbidade em pacientes sépticos, sabendo que a sepse é a principal causa de “falência” orgânica múltipla. Considerando que seria facilmente aplicada também em quadros clínicos diversos da sepse, teve seu nome modificado para Sequential Organ Failure Assessment (Cebriano et al.,2021).
Segundo Junior 2020 e Carvalho (2021), a definição do diagnóstico de sepse se dá a partir de 2 sinais clínicos da Sequential Sepsis-related Organ Failure Assessment (SOFA) , a partir daí se dá início aos protocolos de medidas de tratamento de sepse. No qual se consiste na coleta de culturas de sangue e urina, dosagem do lactato, reposição volêmica caso necessário e início da antibioticoterapia de amplo espectro com no máximo 1 hora a partir do diagnóstico de sepse.
Pacientes sépticos podem apresentar um aumento dos níveis de lactato devido à hipoperfusão tecidual. O lactato é um substrato intermediário que é produzido pelas células e seu aumento na corrente sanguínea é um indicador de agravamento e prognóstico da doença. Também pode ser usado para monitorar o progresso do choque circulatório e como uma variável de prognóstico em uma série de situações agudas e críticas, entre elas, a acidose lática que pode resultar tanto da depuração de lactato prejudicada, quanto do aumento da produção de lactato (Jemie, Loesnihari & Hanafie., 2019).
Segundo Godin; Teixeira; Mourão; Sousa (2024) ressaltam que diante desse consenso, um SOFA maior ou igual a dois ou uma variação aguda de dois pontos ou mais em pacientes com disfunção prévia, associada à presença de infecção, define o estado séptico. A pontuação máxima do SOFA é 4 pontos, ou seja, quanto maior a pontuação pior o prognóstico. Com isso, observa-se que na medida em que possui validação preditiva para óbito ou permanência prolongada na unidade de terapia intensiva.
A escala de SOFA demonstrou ser um ótimo sistema de avaliação das disfunções orgânicas, sendo um importante indicador de prognóstico e possivelmente apresentando valor significativo na avaliação quantitativa do impacto nas intervenções terapêuticas sobre a morbidade, inclusive, na identificação de pacientes de maior risco e que necessitam de monitorização a nível intensivo (Cebriano et al.,2021).
A variedade dos sistemas avaliados e a facilidade para aplicabilidade da escala de SOFA junto aos exames laboratoriais são fatores que auxiliam o enfermeiro a ter uma concepção segura e integral da real condição do paciente, norteando um plano de cuidados de uma maneira holística e não padronizada, fazendo com que o processo de enfermagem seja exercido com propriedade em uma assistência de alta qualidade
Além disso, os dados de Carvalho (2021) e Nascimento (2022) corroboram que a rapidez na administração de antimicrobianos é essencial para o sucesso do tratamento da sepse, mas a abordagem deve ser personalizada de acordo com a gravidade e o contexto de cada paciente. Carvalho (2021) discute a prevalência da sepse em diferentes tipos de UTI e a variação nos focos primários de infecção, com destaque para os casos pulmonarmente associados, particularmente em pacientes idosos. Isso demonstra como a individualização do tratamento, considerando as especificidades de cada paciente, é crucial para melhorar os resultados clínicos.
Henrique (2023) destaca que a adesão rápida ao tratamento de sepse não só diminui o risco iminente de morte, como também reduz os custos hospitalares, uma vez que a demora na implementação do protocolo leva ao aumento do tempo de internação. Esse aumento nos custos é um reflexo direto da gravidade do quadro clínico do paciente, o que reforça a importância de iniciar o tratamento dentro das primeiras horas após o diagnóstico.
4.3 O enfermeiro inserido na identificação precoce da sepse
A sepse é responsável por altas taxas de mortalidade a nível mundial. Há barreiras para a identificação, controle e prevenção da sepse, uma vez que todos os estudos analisados reforçam a necessidade da utilização de protocolos de resposta rápida. Esses protocolos direcionam a conduta do enfermeiro aos pacientes com possíveis sinais de sepse, permitindo a implementação de ações rápidas e seguras e evitando o agravamento de seu quadro clínico (Branco et al., 2020).
Para Branco et al. (2020) o reconhecimento dos sinais clínicos e dados laboratoriais que precedem o quadro séptico de deterioração do estado geral constitui ponto fundamental para uma intervenção precoce, tendo em vista que as alterações dos parâmetros fisiológicos do paciente mostram-se evidentes de 12 a 24 horas antes da instalação da sepse. O uso de protocolos assistenciais para triagem e acompanhamento de pacientes sépticos permite identificar pacientes com suspeita de sepse, antes do agravamento do quadro clínico e intervenção no menor tempo possível, diminuindo a mortalidade por sepse e os custos hospitalares.
A implementação de protocolos para a triagem da sepse é de suma importância. Estudos realizados em dois hospitais constataram que, após a implantação de uma ferramenta de triagem de sepse adaptada para enfermarias, o número de casos de sepse identificados aumentou de 6,7% para 84,2% no hospital 1 e de 22,6% para 45,2% no hospital 2. Houve uma diminuição da mortalidade e da necessidade de tratamento avançado em unidades de terapia intensiva. O estudo evidencia a importância do profissional de enfermagem, mostrando que a ferramenta de triagem quando realizada por eles resulta em uma maior identificação dos casos de sepse e diminuição da necessidade de terapia intensiva para os pacientes (Cebriano et al., 2021).
A utilização de protocolos como o Modified Early Warning Scoring (MEWS-sepsis), mencionado por Henrique (2023), é uma prática que alia o conhecimento técnico com a necessidade de vigilância constante para identificar sinais precoces de sepse. A aplicação desses protocolos exige um preparo contínuo dos profissionais de saúde, o que reforça a importância da educação permanente.
O enfermeiro também deve estar atento às alterações neurológicas no paciente crítico, como alteração do nível de consciência, confusão, agitação ou delirium visto que o cérebro é o órgão que mais demanda oxigênio e a hipoperfusão induzida pela sepse suscita diminuição de sua oferta, podendo manifestar-se como a primeira disfunção orgânica, devendo ser prontamente identificada a fim de intervir precocemente.
Para Henrique et al (2023), a implementação de medidas padronizadas para o reconhecimento e tratamento precoce de sepse é essencial para melhorar a sobrevida e prognóstico dos pacientes. A implementação e adesão a protocolos unem todos os conhecimentos e evidências adquiridos com a vivência prática, resultando na melhoria da assistência.
O conjunto de medidas terapêuticas utilizadas precocemente melhora a sobrevivência na sepse, no geral tais medidas devem ser concluídas nas primeiras 3 horas a partir da identificação do paciente com este agravo e deve contemplar: Obtenção de hemoculturas, administração de antibióticos de amplo espectro, determinação do lactato plasmático, administração de 30 ml/kg de cristaloides em pacientes com hipotensão ou lactato maior que 4 mmol /l e início de drogas vasopressoras se a carga de fluido falhar em manter a PAM maior que 65 mmHg. Alguns autores defendem a utilização dessas medidas na primeira hora de identificação do paciente com sepse, embora existam controvérsias. Tendo em vista a necessidade do diagnóstico precoce para que se inicie o tratamento nas primeiras 3 horas, reforça-se a ideia que o enfermeiro precisa estar inserido na identificação precoce da sepse, já que é o profissional que está na linha de frente do cuidado, em contato direto com o paciente podendo este, identificar, através de seu processo de enfermagem quaisquer alterações biopsicossociais sugestivas de disfunções (Harley et al., 2019).
Conforme Harley et al., 2019) em um estudo australiano destaca o impacto que a falta de experiência de enfermeiros pode causar no reconhecimento da sepse, seu agravamento e atraso no início do tratamento. O reconhecimento de sinais de alarme e pensamento crítico leva tempo para serem desenvolvidos e exigem experiência na rotina do enfermeiro. Os profissionais do estudo relatam que o reconhecimento da sepse é como um quebra-cabeça. E muitas vezes, utilizam o instinto já que os sinais vitais por si só não são suficientes para identificar os pacientes com sepse. É indiscutível que a experiência é um fator essencial para o atendimento adequado ao paciente séptico, uma vez que certos aspectos relacionados às disfunções orgânicas apresentadas por esses pacientes necessitam de um olhar clínico preciso no que diz respeito aos sinais e sintomas apresentados por eles, já que as manifestações clínicas da sepse nem sempre são claras e previsíveis.
Segundo Junior (2020) e Henrique (2023) o uso da SAE e de grande importância e auxiliar no desfecho do paciente, tendo em vista que os pacientes com o diagnóstico de sepse têm as complicações de acordo com a gravidade da patologia, as complicações são: respiratórias, integridade cutânea prejudicada, complicações gastrointestinais, complicações circulatórias de maneira geral.
A implementação de programas de educação permanente, como destacado por Júnior (2022), é fundamental para garantir que todos os profissionais de saúde envolvidos na assistência a esses pacientes possuam as habilidades necessárias para aplicar os protocolos de forma eficiente, minimizando assim os riscos de complicações e promovendo melhores resultados clínicos. A capacitação contínua e a integração eficaz entre os membros da equipe de saúde são essenciais para o manejo adequado da sepse e para a promoção de uma recuperação mais rápida e menos custosa para o paciente.
5 CONCLUSÃO
Tendo em vista a temática desenvolvida neste estudo, foi possível entender que a sepse é uma disfunção orgânica resultante de uma resposta desregulada do Sistema Imunológico à um processo infeccioso. É caracterizada como um problema de saúde pública, possui alta letalidade e elevada incidência nas Unidades de Terapia Intensiva.
A utilização de ferramentas como a escala de SOFA e o lactato (sejam os níveis iniciais ou sua depuração), podem auxiliar de forma consistente no planejamento das ações do cuidado realizadas pelo enfermeiro, pois apresentam valor notório para o prognóstico da sepse. A incorporação desses parâmetros como ferramenta na prática diária do enfermeiro nortearão os cuidados direcionando-os de maneira mais assertiva e resultando em redução no tempo de internação, menor probabilidade de agravamento do quadro e menores custos para a instituição.
Este estudo evidenciou a importância de uma compreensão profunda da fisiopatologia da sepse, bem como a necessidade de intervenções rápidas e específicas para conter sua progressão. A identificação precoce e o tratamento imediato, incluindo antibioticoterapia e suporte intensivo, são essenciais para a melhoria dos desfechos clínicos dos pacientes.
A ausência de treinamento, capacitação adequada e educação continuada resultam em déficits no reconhecimento da sepse por parte do enfermeiro, acarretando com isso a piora do estado clínico devido ao cuidado tardio, aumentando o tempo de internação e piores desfechos aos pacientes.
Contudo, a prevenção continua sendo a estratégia mais eficaz para reduzir a incidência de casos graves, o que envolve o controle rigoroso de infecções, práticas de higiene e educação em saúde, treinamentos de forma educativa para os profissionais de saúde, para poder ser preparar para dar tratamento apropriado aos casos e seus agravos. A prevenção aliada à capacitações e atividades de Educação Continuada continuam sendo o melhor trunfo no combate à mortalidade por sepse e os esforços em respeitar as ações de boas práticas na saúde devem ser desenvolvidos por todos os profissionais de saúde que tenham contato direto com pacientes internados na UTI.
Desse modo, ao reconhecer a atuação do Enfermeiro como peça-chave na abordagem multidisciplinar da sepse, este estudo ressaltou a necessidade de investimentos contínuos em educação e treinamento para capacitar a equipe de enfermagem a desempenhar seu papel de forma ainda mais eficaz.
Concluímos que é fundamental que o enfermeiro seja protagonista no manejo da sepse. A possibilidade de criação de protocolos por parte destes profissionais, que se utilizam da sistematização da assistência de enfermagem para a identificação e prevenção de agravos, é uma forma eficaz de diminuir as complicações nos mais variados setores de atendimento em saúde. Esses protocolos devem utilizar além dos parâmetros da escala de SOFA, os níveis iniciais de lactato para identificação e prognóstico da sepse atentando principalmente para a depuração deste marcador e a evolução do escore de SOFA ao longo da internação, como indicativo de desfecho da doença, sendo mortalidade ou alta hospitalar.
Ademais, estudos adicionais são necessários para confirmar e demonstrar mais ainda a efetividade da abertura de um protocolo sepse em uma unidade, além de enfatizar o papel imprescindível que o enfermeiro tem durante todo o processo
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FERREIRA, Rosa Gomes dos Santos; NASCIMENTO, Jorge Luiz do. Intervenções de enfermagem na sepse: saber e cuidar na sistematização assistencial. Enfermeira Intensivista – Hospital Municipal Miguel Couto (SMS-RJ). Coordenadora do Programa de Educação Continuada IPUB-UFRJ. Coordenadora do Comitê de Ética em Pesquisa IPUB-UFRJ. Ouvidora do IPUB-UFRJ.
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1 Enfermeiro: Graduado em Enfermagem pela Faculdade Bezerra de Araújo FABA, Doutor em Bioética, Ética aplicada e Saúde Coletiva pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca-ENSP/FIOCRUZ; Mestre em Educação, Gestão e Difusão em Biociências-IBqM/UFRJ; Especialista em Enfermagem em Terapia Intensiva pela Faculdade Bezerra de Araújo-FABA; Especialista em Enfermagem OncológicaUnyleya; Docente do Centro Universitário Augusto Motta-UNISUAM. Email: enfobruno@hotmail.com
2 Graduada em Enfermagem no Centro Universitário Augusto Motta- UNISUAM. Email: elisangela-leite@hotmail.com.
3 Graduada em Enfermagem no Centro Universitário Augusto Motta- UNISUAM. Email: tamara98quintella@gmail.com.
4 Graduado em Enfermagem no Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM. Email: Willian.olimpio76@gmail.com.
5 Enfermeira; Graduada em Enfermagem no Centro Universitário Augusto Motta- UNISUAM, Pós-Graduação em Docência de jovens e adultos-FAVENI-Brasil; Especialização em Oncologia Clínica –UVA; Docente de Enfermagem no Centro Universitário Augusto Motta- UNISUAM. Docente de Enfermagem Sistema de Ensino Invictus; Pós-Graduação Enfermagem na Atenção Primária com Ênfase na Estratégia Saúde da Família- DNA PÓS; Especialista em Enfermagem em Cuidados Paliativos-DNA PÓS; Especialista em Enfermagem em Cuidados de Feridas e Estomias-DNA PÓS; Especialista em Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva (UTI)-DNA PÓS. Email: enfandreagracio@gmail.com
6 Enfermeiro; Graduado em Enfermagem no Centro Universitário Augusto Motta – UNISUAM;Especialista em Cardiologia Intensiva Universidade Redentor-UNIREDENTOR. Email: Leandro.aearjbr@yahoo.com.br.