A COLABORAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA: BENEFÍCIOS, PAPEL DOS EDUCADORES E ESTRATÉGIAS DE ENVOLVIMENTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202403201124


Vanessa do Carmo Rodrigues Lacerda
Sandra Karina B. Mendes


RESUMO

Este artigo busca compreender como a colaboração entre família e escola no processo de aprendizagem dos alunos e quais estratégias os profissionais da educação podem adotar para fortalecer essa parceria. O objetivo geral é analisar os benefícios dessa colaboração, destacando estratégias escolares eficazes para promovê-la. Dentre os objetivos específicos, estão a identificação dos benefícios da participação ativa das famílias no processo de aprendizagem, com base em estudos e práticas educacionais, e a análise de estratégias e programas que favoreçam o envolvimento familiar, ressaltando o papel dos educadores na mediação dessa relação. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que enfatiza a importância do diálogo e da parceria família e a escola, nos estudos de Perez (2009), Piaget (2007), Bustamante (2013), Libâneo (2001). Os resultados apontam que uma colaboração efetiva entre família e escola favorece tanto a aprendizagem quanto o desenvolvimento socioemocional dos alunos, além de reforçar a necessidade de estratégias que envolvam as famílias em programas e ações educacionais, promovendo um ambiente inclusivo e acolhedor.

PLAVRAS-CHAVE: Colaboração Família-Escola. Estratégias de Envolvimento. Papel dos Educadores

INTRODUÇÃO

Este artigo tem como objetivo aprofundar o conhecimento sobre essa interação, focando especificamente na maneira como as instituições educacionais se articulam internamente para estreitar os laços com os familiares. Apesar de diversos estudos sobre o tema, há uma lacuna significativa no entendimento de como as escolas, na prática, criam estratégias para fortalecer essa parceria. Perez (2009) e Marcondes e Sigolo (2012) apontam que, nas escolas públicas de ensino fundamental, a relação família-escola tende a ser predominantemente unidirecional, com a comunicação entre ambas as partes geralmente sendo distante e conflituosa. A aproximação entre as famílias e as escolas ocorre, muitas vezes, apenas em situações problemáticas, como dificuldades disciplinares ou de aprendizagem, o que gera um julgamento preconceituoso diante da persistência desses problemas.

Para que uma parceria efetiva seja estabelecida, é fundamental que as escolas criem espaços e oportunidades que incentivem a participação ativa dos familiares, promovendo uma comunicação aberta, transparente e colaborativa. Tavares e Nogueira (2013) ressaltam a importância de a escola corresponder às expectativas de formação depositadas pelas famílias e pela sociedade, buscando estabelecer uma relação de diálogo e cooperação. Em sintonia com essa perspectiva, o presente estudo propõe investigar as dinâmicas que envolvem a relação entre família e escola, com o objetivo de contribuir para o aprimoramento da educação e do desenvolvimento integral dos alunos, por meio de uma análise crítica das práticas educacionais que favorecem um ambiente colaborativo. 

A pesquisa se concentra na análise da seguinte problemática: Como a colaboração entre família e escola pode contribuir para a melhoria do processo de aprendizagem dos alunos e quais estratégias os profissionais da educação podem adotar para fortalecer essa parceria?

O objetivo geral deste estudo é: analisar os benefícios da colaboração entre família e escola no processo de aprendizagem dos alunos, destacando estratégias escolares eficazes para promover essa parceria. Dentre os objetivos específicos busca-se: identificar os benefícios da participação ativa das famílias no processo de aprendizagem dos alunos, com base em estudos e práticas educacionais e analisar estratégias e programas que favoreçam o envolvimento familiar, enfatizando o papel dos profissionais da educação na mediação e fortalecimento dessa relação.

1. A PARTICIPAÇÃO FAMILIAR E OS BENEFÍCIOS AO PROCESSO DE APRENDIZAGEM 

A relação entre família e escola no processo educacional, relaciona-se inteiramente com a presença, participação e interação ativa dos pais nos processos que envolvem a vida estudantil de seus filhos. Tal interação é crucial para o desenvolvimento integral dos estudantes, influenciando positivamente seu desempenho acadêmico e seu crescimento pessoal. Contudo, para a garantia efetiva dessa relação, faz-se necessário esforço conjunto e contínuo por parte de ambas as partes. Neste processo, a escola deve proporcionar espaços e oportunidades para a participação ativa dos pais, enquanto estes devem colaborar com o planejamento e a gestão do processo de aprendizagem de seus filhos de forma harmoniosa e construtiva.   

Nesse contexto, o envolvimento da família na escola fortalece os laços afetivos e contribui para a construção de relações pautadas na empatia. Pais que participam ativamente do processo de ensino e aprendizagem tendem a estabelecer conexões mais positivas com os profissionais que integram o ambiente escolar. Ademais, à luz das reflexões de Piaget:

Uma ligação estreita e contínua entre os professores e os pais leva, pois a muita coisa que a uma informação mútua: este intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades […]. (2007, p. 50). 

O envolvimento da família no processo educacional traz diversos benefícios, tanto para os estudantes quanto para a comunidade escolar como um todo. Esse engajamento fortalece a relevância da participação dos pais na educação, promovendo um ambiente mais acolhedor e seguro para o aprendizado, o que favorece o êxito acadêmico e o bem-estar emocional dos alunos. Assim, quando a família se envolve ativamente na educação dos filhos, isso contribui significativamente para o desenvolvimento de habilidades sociais desde a infância, especialmente nos primeiros sete anos de vida. Durante esse período crucial, é fundamental estimular habilidades básicas como caligrafia, raciocínio lógico, compreensão das regras de jogos e habilidades de contagem. Portanto, incentivar o desenvolvimento dessas habilidades desde a primeira infância é essencial para o crescimento saudável e integral das crianças. 

Durante a infância, as crianças começam a desenvolver habilidades de convivência e interação social. Embora esse aprendizado inicial seja responsabilidade dos pais no ambiente doméstico, a escola desempenha um papel essencial na ampliação e consolidação dessas competências. Nesse sentido, o envolvimento ativo da família no ambiente escolar, seja apoiando nas tarefas escolares ou promovendo uma convivência saudável entre os membros da comunidade escolar, torna-se indispensável para o fortalecimento das habilidades sociais dos alunos.

No que diz respeito aos desafios e benefícios da interação entre professores e alunos, Sousa e Sarmento (2010) ressaltam que a relação entre família e escola frequentemente gera debates. Muitas vezes, a escola responsabiliza os pais por uma suposta “falta de interesse”, enquanto os pais, por sua vez, acusam os professores de “desconsiderar suas perspectivas”. Essa dinâmica aponta para a necessidade de repensar profundamente a parceria entre família e escola, considerando suas dimensões sociais, econômicas, culturais e psicológicas. E para além disso considerando que a falta de uma parceria sólida entre família e escola pode prejudicar significativamente o desenvolvimento integral do estudante, com efeitos no desinteresse pelas atividades propostas, na queda no desempenho acadêmico e nas alterações comportamentais, que frequentemente se manifestam como apatia ou agressividade.

Assim, pelo exposto, a participação da família no processo de ensino e aprendizagem é um fator determinante para o desenvolvimento integral dos estudantes. Quando pais e responsáveis se envolvem de maneira ativa e constante na vida escolar, contribuem para o desempenho acadêmico, fortalecendo as habilidades sociais e emocionais dos alunos, criando um ambiente propício para o aprendizado e o crescimento pessoal. Assim, a interação entre família e escola deve ser vista como uma parceria contínua, em que ambos os lados colaboram mutuamente para alcançar um objetivo comum: o sucesso educacional e o bem-estar do aluno. Portanto, promover a integração da família na rotina escolar é uma estratégia essencial para melhorar a qualidade da educação, favorecendo o desenvolvimento de competências que irão beneficiar os estudantes ao longo de toda a sua trajetória.

Alves (2010), por sua vez, destaca aspectos específicos do ambiente familiar que contribuem positivamente para o desempenho escolar. Entre essas práticas, a autora identificou o envolvimento em atividades extracurriculares, como esportes, investimentos indiretos na educação, como a escolha de escolas de qualidade, mesmo que isso implique custos adicionais com transporte, e a valorização da leitura em casa, evidenciada pela presença de livros e pelo incentivo ao hábito de leitura. Essas ações, de acordo com Alves (2010) são elementos que favorecem o sucesso acadêmico e o desenvolvimento integral dos alunos. 

2. DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS DE ENVOLVIMENTO FAMILIAR

Tendo sido reconhecida a importância da relação família e escola no sentido de  melhorar a qualidade do ensino, é possível propor iniciativas para que escolas e famílias se apoiem mutuamente na educação das crianças. Nesse sentido, Aranha (1989) destaca que a escola precisa entender a família dentro de um contexto histórico e social, reconhecendo que suas funções estão profundamente relacionadas às dinâmicas de produção e à estrutura social. As responsabilidades atribuídas à família são influenciadas pela conjuntura histórica e pelo papel que a sociedade lhe confere. Em sociedades com uma divisão mais equilibrada das responsabilidades entre os gêneros, por exemplo, as funções familiares podem ser bem distintas daquelas observadas em sociedades com uma organização tradicional dos papéis. Esse olhar contextual é essencial para compreender as dinâmicas familiares e seu impacto em diversas esferas da vida social, incluindo a educação. 

Nos últimos anos, tem-se buscado aprimorar a educação por meio de iniciativas e programas que visam aproximar as famílias das escolas, como oficinas focadas em esporte, cultura e saúde. Um exemplo disso é o Plano de Mobilização Social pela Educação, desenvolvido pelo Ministério da Educação (MEC), que fundamenta a educação como um direito e dever das famílias, e é apoiado por agendas como o Plano Nacional de Educação (PNE) e a Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino (SASE), que promovem ações voltadas à mobilização social para a educação.

a) As famílias e responsáveis pelas crianças, adolescentes e jovens têm o direito de reivindicar que a escola dê uma educação de qualidade para todos e cada um de seus alunos. Podem e devem cobrar providências medidas e ações para que isso ocorra.
b) As famílias e responsáveis pelas crianças e jovens têm o dever de ajudar a escola em casa, criando disciplina e rotinas de estudo.
c) As famílias e responsáveis têm o dever de se aproximar da escola. (PNE – Plano Nacional de Educação – SASE promove agenda sobre Mobilização Social pela Educação.)  

As demandas expostas exigem a implementação de políticas públicas que incorporem profissionais da psicologia nas instituições educacionais, visando intervir e otimizar o processo de aprendizagem. A interação entre essas áreas deve ser pensada com vistas a aprimorar a eficácia do ensino e da educação das crianças, conforme defendido por Osório.

Costuma-se dizer que a família educa e a escola ensina, ou seja, à família cabe oferecer à criança e ao adolescente a pauta ética para a vida em sociedade e a escola instruí-lo, para que possam fazer frente às exigências competitivas do mundo na luta pela sobrevivência (Osório, 1996, p. 82).  

Nesse processo, a família é vista como responsável por transmitir valores éticos e morais, enquanto a escola é encarregada de fornecer instrução acadêmica e preparar os indivíduos para os desafios do mundo externo. No entanto, essa dicotomia não reflete completamente a complexidade da interação entre família e escola no processo educativo. Embora seja verdade que a família desempenhe um papel fundamental na formação ética e moral dos filhos, e a escola tenha a responsabilidade de fornecer conhecimento acadêmico, é importante reconhecer que ambas as instituições influenciam e complementam o desenvolvimento integral dos indivíduos. Muitas vezes, a educação moral e ética é reforçada na escola, enquanto a família contribui para o aprendizado acadêmico por meio de apoio emocional e incentivo ao estudo.

Essa perspectiva, além de subestimar a importância da colaboração entre família e escola, pode negligenciar seu impacto direto no bem-estar e no sucesso dos alunos. Uma parceria eficaz entre essas duas instituições cria um ambiente de aprendizagem mais enriquecedor e favorece o desenvolvimento integral dos estudantes. Embora a distinção entre os papéis da família e da escola na educação seja útil para entender suas funções específicas, é crucial reconhecer a interdependência e a colaboração entre elas para alcançar o sucesso educacional dos indivíduos. A escola, enquanto mediadora do conhecimento científico e desempenhando seu papel social, deve promover e maximizar esse esforço colaborativo, levando em consideração os aspectos sociais e culturais. Isso implica sugerir e interagir com a família de forma a fornecer elementos que, por meio de discussões e ampla comunicação com os educadores, favoreçam iniciativas que atendam às necessidades dos alunos. 

Enquanto isso, a família deve desempenhar seu papel acompanhando de perto a vida escolar dos filhos. Assim como a família é um pilar essencial na vida da criança, os educadores desempenham um papel significativo no processo educacional, sendo essencial que estejam aptos a adaptar suas práticas didáticas de acordo com as necessidades individuais dos alunos. 

Ajustar sua didática às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos diversos universos culturais, dos meios de comunicação, […] agir capacidade de aprender a aprender, competência para agir em sala de aula, habilidades comunicativas, domínio da linguagem informacional, saber usar meios de comunicação e articular as aulas com as mídias e multimídias (Libâneo, 2011, p. 12).

Na análise de Libâneo (2011), destaca-se a importância de os educadores ajustarem sua prática pedagógica para atender às novas demandas da sociedade contemporânea e às mudanças no campo do conhecimento. É crucial que os professores compreendam as transformações sociais, culturais e tecnológicas, além de considerarem as características individuais de seus alunos. Isso exige o desenvolvimento de habilidades, como a capacidade de aprender de forma contínua, adaptar-se a diferentes contextos, comunicar-se de maneira eficaz e utilizar adequadamente as tecnologias disponíveis. Nesse sentido, os educadores precisam estar preparados para integrar recursos tecnológicos e meios de comunicação em suas práticas de ensino, tornando as aulas mais dinâmicas e relevantes para os alunos. Essa habilidade é essencial para engajar os estudantes e otimizar o processo de aprendizagem. Vygotsky, por sua vez, enfatiza que a autonomia no uso do conhecimento adquirido se desenvolve naturalmente, pois o aprendizado deve sempre estar voltado para as necessidades futuras.

O que a criança é capaz de fazer hoje em cooperação, será capaz de fazer sozinha amanhã. Portanto, o único tipo positivo de aprendizado é aquele que caminha à frente do desenvolvimento, servindo-lhe de guia; deve voltar-se não tanto para as funções já maduras, mas principalmente para as funções em amadurecimento. (…) o aprendizado deve ser orientado para o futuro e não para o passado (Vygotsky, 1998 p. 130). 

Segundo Vygotsky, o aprendizado deve antecipar o desenvolvimento da criança, ou seja, ele deve estar à frente das capacidades atuais da criança, orientando seu crescimento futuro. Para o autor, o verdadeiro aprendizado não se resume às habilidades já adquiridas pela criança, mas se foca naquelas que estão em processo de desenvolvimento. Assim, Vygotsky enfatiza a importância de uma educação prospectiva, que prepare a criança para os desafios e demandas do futuro, ao invés de se limitar ao conhecimento já adquirido.

A partir dessas ideias, podemos refletir sobre o papel da aprendizagem cooperativa diante das adversidades, onde as experiências reais vivenciadas pelo indivíduo se tornam essenciais. Nesse contexto, a didática deve ser entendida como um processo que acontece em cenários concretos da vida cotidiana. Assim, o aluno é visto como o principal agente de sua aprendizagem, sendo responsável pela construção e pelo desenvolvimento de seu potencial humano, atribuindo significado aos conteúdos abordados em sala de aula. Vygotsky (2014, p. 14) reforça essa perspectiva ao afirmar:

[…] essa forma de ligação torna-se possível apenas graças à experiência alheia ou à socialização”, de modo que, sem a orientação de uma experiência alheia, não é possível alcançar um produto da imaginação que correspondesse à realidade. Tal movimento é essencial para a vida humana, pois promove uma ampliação da experiência (Vygotsky, 2014 p. 14).

Nessa perspectiva, o ser humano é concebido como um ser histórico, em constante processo de desenvolvimento e evolução criativa. Portanto, é fundamental reconhecer que, no contexto educacional, a escola deve oferecer recursos que ampliem as experiências em diversos campos e vivências. Quanto mais elementos da realidade o indivíduo tiver à sua disposição, mais significativa e produtiva será sua capacidade de imaginação, criação e evolução.

No tocante a isto, as formas de comunicação entre família e escola, especialmente no que diz respeito ao diálogo sobre assuntos escolares, têm sido objeto de estudo e análise. Oliveira e Marinho-Araújo (2010) ressaltam que, frequentemente, a comunicação entre família e escola ocorre por meio da criança, contudo, a limitação do espaço institucional para a participação das famílias na escola resulta em uma comunicação unidirecional, na qual “a ação das famílias é limitada e determinada de acordo com os interesses da escola” (p.104).

Por outro lado, Saraiva e Wagner (2013) enfatizam a importância da comunicação entre família e escola, destacando que a disponibilidade da escola em receber os pais em momentos formais, como reuniões e entrega de boletins, sugere que o desempenho do aluno seja o principal ponto de encontro entre família e escola. Marafon e Tondin (2010), por sua vez, observam que a participação dos pais na escola pública, especialmente nas séries iniciais, é principalmente em eventos formais, como reuniões e entrega de boletins, além da participação em conselhos escolares e organizações de confraternização, embora em menor proporção.

Tavares e Nogueira (2013) enfatizam as reuniões entre pais e professores como uma oportunidade crucial de interação entre famílias e educadores. Nestas reuniões, ambas as partes podem estabelecer confiança e cooperação, compartilhando interesses e estratégias para o benefício do aluno. De acordo com os autores (2013, p. 54), não existe um modelo ideal de reunião entre professores e pais, porém alguns aspectos positivos devem ser considerados, como colaboração, coletividade, parceria e união. As reuniões devem priorizar a troca de informações entre família e escola, permitindo que, juntas, encontrem soluções para os desafios enfrentados no cotidiano escolar dos alunos. Portanto, é essencial que esses encontros sejam realizados ao longo de todo o ano letivo, e não apenas em momentos de fechamento de notas ou para comunicar o desempenho acadêmico.

Pinto et al. (2006) conduziram uma pesquisa de natureza metodológica qualiquantitativa com o objetivo de oferecer uma visão abrangente e compreensiva da relação entre escola e responsáveis pelos alunos. As autoras observaram a participação dos familiares nos momentos de entrada e saída das aulas, nas reuniões de pais e professores, no comparecimento espontâneo ou quando convocados pela escola para discutir sobre o aluno, bem como na participação em festas e eventos esportivos. Entretanto, destacam que as reuniões de pais são os momentos de maior participação e mobilização dos familiares na escola.

Por outro lado, o envolvimento está relacionado às atividades escolares dos alunos e alunas, tanto em casa quanto na escola. Essas atividades são variadas e abrangentes, envolvendo procedimentos adotados pelos familiares para auxiliar seus filhos na educação, especialmente em casa. Segundo Oliveira e Marinho-Araújo (2010), os modelos de envolvimento entre a família e a escola têm se concentrado nas ações realizadas pelos familiares dos alunos e alunas, como a participação dos pais na vida escolar de seus filhos e filhas, seja na instituição escolar, em sala de aula, na biblioteca, entre outros, ou em casa, auxiliando na aprendizagem dos filhos, na realização dos deveres de casa, na leitura de livros, entre outras atividades.

Para Carvalho (2004), o envolvimento inclui o comparecimento às reuniões de pais e mestres, a atenção à comunicação entre escola e casa e, principalmente, o acompanhamento dos deveres de casa e das notas, podendo ser espontâneo ou incentivado por políticas da escola ou do sistema de ensino. Segundo a autora, esse envolvimento dos familiares dos alunos e alunas requer certas condições para acompanhar os filhos/filhas, como capital econômico e cultural, características do modelo familiar nuclear, que envolve um adulto, geralmente a mãe, com tempo disponível, conhecimento e disposição para educar.

Da mesma forma, para Carvalho (2000), o principal canal de envolvimento dos familiares de alunos e alunas na educação escolar em casa se dá por meio dos deveres escolares a serem realizados em casa. No entanto, de acordo com a autora, esse envolvimento exigido pela instituição escolar gera implicações para as famílias dos alunos em relação à organização familiar e questões de gênero, uma vez que, na visão da instituição escolar, a parceria família-escola pressupõe a típica família de classe média, cuja mãe se dedica exclusivamente aos filhos e ao lar.

Outra implicação totalitária e perversa do dever de casa é que ele impõe não apenas um modelo particular de relação família-escola, mas de família e de papel parental, reforçando a tradicional divisão sexual de trabalho na família. Ora, o modelo típico de ambiente familiar associado ao sucesso escolar baseia-se numa divisão de trabalho em que a responsabilidade pelos filhos ainda recai mais sobre as mães do que sobre os pais (Carvalho, 2000, p. 151).

Silveira e Wagner (2009), em seu estudo, identificaram diversas ações dos familiares que se enquadram na categoria de envolvimento escolar. Ao analisar as dinâmicas de continuidade e ruptura na relação família-escola frente aos problemas de comportamento infantil, as autoras concluíram que os familiares podem participar ativamente do processo educativo dos filhos por meio de iniciativas como encaminhamentos, realização de atividades extras, busca da criança em situações de mau comportamento, além da organização e acompanhamento das tarefas escolares.

Marafon e Tordin (2010) constataram que o envolvimento dos familiares de alunos e alunas em casa também se dá por meio das tarefas escolares a serem feitas em casa. Segundo os autores, essa forma de participação modifica a prática de estar efetivamente no ambiente escolar, trazendo a participação para um momento extraclasse, no qual os pais e outros familiares podem contribuir mais frequentemente.

Resende (2008), em sua investigação sobre o dever de casa em diferentes camadas sociais, constatou que as famílias de ambas as camadas, populares e médias, consideram o dever de casa como parte importante da aprendizagem de seus filhos, e se envolvem de maneiras diferentes, como acompanhando as crianças na realização do dever, lembrando-os da tarefa e assegurando que a façam com capricho e organização no trabalho.

Para Marcondes e Sigolo (2012), o envolvimento dos familiares de alunos e alunas está relacionado ao suporte oferecido por eles às crianças no momento da realização das tarefas, além do comparecimento às reuniões. No entanto, para os próprios familiares, seu envolvimento com a escolarização consiste, sobretudo, na organização do cotidiano dos filhos e no esforço de propiciar a eles condições adequadas para que permaneçam na escola.

Bhering e De Nez (2002) concluíram que o envolvimento de familiares e filhos/filhas em casa mostrou-se limitado, tanto no tempo em que passam juntos como na qualidade das interações, devido a dificuldades que impedem a promoção de atividades que favoreçam a relação entre pais e crianças. Além das dimensões de “comunicação” e “envolvimento”, a relação entre família e escola tem se manifestado de diversas maneiras. No que diz respeito à “ajuda” como forma de interação entre família e escola, Varani e Silva (2010) destacam a Associação de Pais e Mestres (APM), a participação em eventos com objetivos lucrativos (como festas juninas), o apoio com as tarefas de casa e também por meio da prestação de serviços à escola, incluindo pequenos reparos, serviços de limpeza, preparação da merenda, organização ou execução de tarefas relacionadas a festas e excursões.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação entre professores e pais vai além de uma simples troca de informações ou de frequências em reuniões escolares, sinalizando para um verdadeiro intercâmbio entre essas duas partes resulta em benefícios mútuos. Esse processo favorece a ajuda recíproca e o aprimoramento dos métodos educacionais, contribuindo para uma educação mais eficaz. Quando os professores se aproximam das preocupações e da vida profissional dos pais, e vice-versa, cria-se uma divisão de responsabilidades que fortalece a qualidade da educação. No entanto, é fundamental compreender as realidades tanto da família quanto da escola para entender o impacto dessa relação no contexto educacional contemporâneo brasileiro.

A participação da família na vida escolar da criança é um aspecto significativo, pois abre novas possibilidades de aprendizado. As interações entre as condições sociais e a base biológica do comportamento humano desempenham um papel crucial no desenvolvimento das funções mentais mais complexas das crianças. Vygotsky, ao abordar a importância do ambiente social, destaca que são as interações sociais que moldam e direcionam o pensamento e o comportamento das crianças, além da influência das estruturas orgânicas determinadas pela maturação biológica. Para ele, enquanto os fatores biológicos são importantes no início da vida, é o ambiente social que tem um papel central na formação das capacidades cognitivas e comportamentais das crianças.

De fato, a convivência familiar exerce um papel fundamental no processo de aprendizagem da criança. Esse papel vai muito além do que é ensinado em sala de aula, uma vez que o envolvimento dos pais é crucial para garantir que o aprendizado escolar seja plenamente assimilado. Quando os pais se envolvem ativamente, complementando e reforçando o que é ensinado, ampliam as possibilidades de aprendizado dos alunos. Conforme Vygotsky, a formação de conceitos é fortemente influenciada pelas relações entre o pensamento e a linguagem, ressaltando a importância do contexto cultural na construção de significados. Nesse sentido, a colaboração entre família e escola não só potencializa o aprendizado, mas também contribui para o desenvolvimento integral das crianças.

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