REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412191535
Allan Sousa Sales1
Ana Vitória Rodrigues de Sá2
Cláudio Alex Vieira Júnior3
Gabriel Lopes Bucar4
Iana Karla Azevedo Messias5
Larissa Pereira Maia Canalli6
Luciana Pinto da Silva Brandão7
Luiza Moreira Rosal Neta Silva8
Matheus Gondim De Oliveira9
Sara Dias Fagundes10
Stefanny Soares Cunha11
Valdeci Ferreira dos Santos Alexandre12
Fabrícia Amaral Gonçalves Pontes13
RESUMO
Este estudo apresenta um relato de experiência sobre um projeto de extensão que visou capacitar professores e monitores de uma escola em Porto Nacional – Tocantins sobre o Suporte Básico de Vida (SBV) e a Obstrução de Vias Aéreas por Corpo Estranho (OVACE). Através de palestras, demonstrações práticas e atividades interativas, o projeto buscou fornecer aos participantes os conhecimentos e habilidades necessárias para agir em situações de emergência. Os resultados demonstraram grande interesse dos participantes pela temática e a importância da capacitação da comunidade para lidar com essas situações. A experiência proporcionou aos acadêmicos a oportunidade de aplicar seus conhecimentos teóricos na prática e de contribuir para a transformação social.
Palavras-chave: Engasgo; Parada Cardiorrespiratória; Suporte Básico de Vida.
1 INTRODUÇÃO
O Suporte Básico de Vida (SBV) é um protocolo com um conjunto de procedimentos que tem o intuito de manter uma vítima de Parada Cárdio Respiratória – PCR com uma perfusão sanguínea cerebral, até a chegada da equipe especializada. Esse protocolo consiste basicamente em saber reconhecer uma PCR, contactar o sistema de emergência, SAMU e Bombeiros, e realizar as manobras de Reanimação Cárdio Pulmonar – RCP de alta qualidade e uso do Desfibrilador Elétrico Automático – DEA assim que disponível. Essas são ações simples, porém fundamentais, que podem ser realizadas por pessoas que não são da área da saúde para reduzir os níveis de morbimortalidade e sequelas por falta de oxigenação em órgão como o cérebro (Prado, Y. Lima et al).
A Obstrução de Vias Aéreas por Corpos Estranhos (OVACE) é definida como o bloqueio da passagem de ar para os pulmões, geralmente quando o mecanismo de proteção dessa passagem, exercido pela epiglote, falha. Quando ocorre uma OVACE a identificação é feita pela presença do sinal universal do engasgo (que consiste em levar as duas mãos ao pescoço), e a conduta depende do nível de obstrução da via aérea, parcial ou total. Se ainda há passagem de ar pela epiglote, presença de tosse e fala, mesmo que com dificuldade, a obstrução é parcial, sendo a conduta ideal é induzir a tosse até que o corpo estranho seja expelido. Contudo, se a vítima parar de emitir sons e/ou tossir, é sinal de uma obstrução total, o que é bastante grave, deve-se nesses casos, iniciar as manobras de desengasgo, pois a passagem de ar foi obstruída e, nessas circunstâncias, pode ter evolução para uma PCR rapidamente (Universidade Federal Da Paraíba, 2021).
As doenças cardiovasculares representam as principais causas de morte no Brasil e no mundo, e a parada cardiorespiratória (PCR) é uma das emergências cardiovasculares com prevalência e morbimortalidade elevados (Brasil, 2022). Cada minuto transcorrido após o início do evento arrítmico súbito sem desfibrilação, a probabilidade de a pessoa sobreviver diminui entre 7 e 10%, com 3 min sem suporte para ajudar a oxigenar já começam a ter sequelas graves e algumas irreversíveis e com 10 min o risco de morte cerebral é alto. Programas de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) com o uso de Desfibrilador Externo Automático (DEA) de maneira precoce, realizado por leigos, é responsável por proporcionar taxas de sobrevivência bastante otimistas, chegando a 85% (SBC, 2019).
Além disso, a OVACE que, segundo o Conselho Nacional de Segurança, está entre as 5 principais causas de morte não intencional, configurando uma das mais recorrentes causas de mortes acidentais em menores de 16 anos. Considerando a prevalência e a velocidade que o engasgo leva a perda de consciência e a morte, evidencia-se a necessidade e importância de abordar e capacitar pessoas, mesmo as que não sejam da área da saúde, a como prestar os primeiros socorros nessas condições (Dodson; Cook, 2023).
Portanto, entende-se que é importante capacitar a comunidade com SBV e com as manobras de desengasgo para poder proporcionar melhores taxas de sobrevivência para as vítimas e redução de sequelas em ambas as condições, pois, tendo uma pessoa capacitada, quando ocorre qualquer umas das situações, para realizar o atendimento inicial enquanto o suporte avançado faz o deslocamento. Assim, quanto mais pessoas forem capacitadas em SBV e desengasgo, maiores são as chances de uma futura vítima receber o suporte inicial adequado, isso é fundamental para reduzir as taxas de mortalidade e as sequelas.
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, elaborado a partir da vivência dos alunos do segundo período de medicina do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC) de Porto Nacional – Tocantins, incluídos no componente curricular da matéria de Práticas Interdisciplinares de Extensão, Pesquisa e Ensino (PIEPE), em um projeto de extensão sobre SBV e OVACE com 20 professores e 14 monitores de uma escola de Porto Nacional.
No dia 05/09 o grupo realizou a visita ao colégio para conhecer o espaço e definir com qual o público o projeto iria ser realizado. Dessa forma, tendo entendido melhor a localidade de realização e as pessoas as quais frequentam o local, foi possível inferir de maneira mais fidedigna as necessidades e complementaridades que poderiam ser levadas por intermédio da ação extensiva. Após a definição do tema e público de intervenção o grupo iniciou a escrita do projeto, buscou parcerias e delineou como ele será executado e no dia 11/10 ocorreu um encontro com professora orientadora para a correção do pré-projeto.
O projeto foi executado na manhã do dia 30/10/2024 com uma palestra ministrada pela Liga de Cirurgia do Trauma (LCT) sobre SBV e OVACE, simultaneamente com demonstração prática em bonecos de simulação de como identificar uma PCR e como fazer uma RCP de alta qualidade, além do esclarecimento de dúvidas que surgiam entre o público-alvo. Seguida por uma parte teórica e, também, demonstração prática sobre desengasgo em adultos – manobra de Heimlich, crianças maiores de 1 ano – manobra de Heimlich adaptada e manobras de desengasgo em lactentes.
Durante toda a ação, o público-alvo demonstrou bastante interesse sobre a temática que estava sendo tratada, fazendo perguntas valiosas. Ao final foram convidados monitores e professores para praticar as manobras com os bonecos de simulação sob orientação dos integrantes da liga e os alunos que estavam realizando o projeto de extensão. Além disso foram realizados sorteios de brindes para os participantes do colégio, assim como a distribuição de lembrança para os participantes.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo American Heart Association (AHA), o aprendizado em Suporte Básico de Vida – SBV pode começar desde a infância, geralmente a partir dos 8 a 10 anos de idade. Nessa fase, as crianças já possuem maturidade cognitiva e física suficiente para entender os conceitos básicos de uma emergência, como reconhecer uma parada cardíaca e realizar compressões torácicas de maneira eficaz. No entanto, é importante adaptar o conteúdo e as técnicas ao nível de desenvolvimento da criança. À medida que a idade avança, o treinamento pode se tornar mais detalhado e incluir práticas mais avançadas, como o uso de um DEA.
O protagonismo dos adolescentes em situação de emergência é uma questão cada vez mais relevante, especialmente no contexto da educação em saúde. Capacitar os jovens para agir em situações críticas, como acidentes e paradas cardiorrespiratórias, através do ensino de Suporte Básico de Vida (SBV), é essencial não apenas para a segurança individual, mas também para o fortalecimento de uma cultura de responsabilidade social. Nos últimos anos, pesquisas têm ressaltado os benefícios de proporcionar essa formação aos adolescentes, destacando sua capacidade de agir e influenciar positivamente o entorno.
Um dos principais aspectos do protagonismo adolescente é a capacidade de tomar decisões rápidas e eficazes em emergência. De acordo com Lima et al. (2021), adolescentes que recebem treinamento em SBV se sentem mais preparados para intervir em emergências. Essa formação os empodera, fazendo com que se sintam capazes de agir em vez de permanecer como meros espectadores, um fator crucial em momentos em que cada segundo conta. Um papel importante da ação é a formação de uma cultura de prevenção e saúde. Conforme destacado por Lima e Costa (2023), a educação em SBV nas escolas pode contribuir para a formação de hábitos saudáveis e de prevenção de acidentes. Quando crianças aprendem sobre a importância de agir em situações de risco, elas se tornam multiplicadoras desse conhecimento em suas famílias e comunidades, o que pode impactar positivamente a saúde pública.
Outro ponto que cabe ressaltar é o papel dos adolescentes como agentes multiplicadores de conhecimento. Segundo Santos e Almeida (2023), quando jovens são capacitados em SBV, eles não apenas atuam em emergências, mas também compartilham o que aprenderam com familiares e amigos, ampliando o impacto da educação em saúde. Isso transforma o aprendizado em uma ferramenta de prevenção e conscientização, alcançando um público maior e promovendo uma cultura de cuidados e segurança.
Em suma, o protagonismo dos adolescentes em situações de emergência é vital para a promoção da saúde e segurança na comunidade. O ensino de Suporte Básico de Vida não apenas capacita os jovens a agirem com eficácia em momentos críticos, mas também fomenta valores de empatia e responsabilidade social. Portanto, é imperativo que escolas e organizações promovam programas de ensino de SBV, reconhecendo a importância de preparar os adolescentes para se tornarem protagonistas em suas comunidades. Desse modo, o projeto realizado, que estende para além dos muros da universidade os conhecimentos científicos, atuou levando benefício para a comunidade, capacitando professores e monitores no protocolo de suporte básico de vida.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa experiencia proporcionou aos acadêmicos um contato mais próximo com a comunidade e suas necessidades, nela evidenciou-se o despreparo da população sobre a temática, assim como o interesse deles em aprender o máximo sobre. A atividade desenvolvida faz parte da extensão universitária que é uma atividade extracurricular e um compromisso fundamental das instituições de ensino superior com a comunidade geral. Na sua essência visa estender os conhecimentos desenvolvidos na universidade e com isso levar benefícios para a população, promovendo transformação social (UNICAMP, 2023).
Aproximar os acadêmicos à comunidade é fundamental para a formação como profissional humano, pois eles aprendem a transmitir os conhecimentos recebidos em linguagem técnica para uma linguagem menos formal nas ações em que vão orientar a população, além de prepará-la para situações adversas com os conhecimentos embasados cientificamente.
REFERÊNCIAS
American Heart Association. Diretrizes para Reanimação Cardiopulmonar e Atendimento Cardiovascular de Emergência. Circulação, v. 142, n. 16_suppl_2, pág. S337-S357, 2020. Disponível em: https://cpr.heart.org/-/media/cpr-files/cpr-guidelinesfiles/highlights/hghlghts_2020eccguidelines_portuguese.pdf. Acesso em: 09 out. 2024.
Brasil. Ministério da Saúde. Doenças cardiovasculares: principal causa de morte no mundo pode ser prevenida. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/pt-br/noticias/saude-e-
vigilancia-sanitaria/2022/09/doencas-cardiovasculares-principal-causa-de-morte-no-mundo- pode-ser-prevenida. Acesso em: 21 set. 2024.
Dodson, H.; Cook, J. Foreign. Body Airway Obstruction. In: StatPearls. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing, 2023.
Lima, T. P. A importância do ensino de SBV nas escolas: impactos na saúde pública.
Cadernos de Saúde Pública, v. 39, n. 1, p. e00012346, 2021.
Prado, Y. Lima et al. . IMPORTÂNCIA DO SUPORTE BÁSICO DE VIDA NA PRIMEIRARESPOSTA A EMERGÊNCIAS MÉDICAS. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences , [S. l.], v. 6, n. 4, p. 1534–1542, 2024. DOI: 10.36557/2674-8169.2024v6n4p1534-1542. Disponível em:https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/1922. Acesso em: 17 set. 2024.
Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Diretriz de ressuscitação cardiopulmonar e cuidados cardiovasculares de emergência da Sociedade Brasileira de Cardiologia – 2019. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 113, supl. 2, 2019. Disponível em: <http://publicacoes.cardiol.br/portal/abc/portugues/2019/v11303/pdf/11303025.pdf >. Acesso em: 12 set. 2024.
UNICAMP. O que é extensão? 2023. Disponível em:https://www.proec.unicamp.br/extensionando/extensionando-o-que-e-extensao/. Acesso em: 15 set. 2024.
Universidade Federal Da Paraíba (UFPB). Cartilha de primeiros socorros: obstrução de
vias aéreas por corpo estranho (OVACE). João Pessoa: Editora CCTA, 2021. Disponível em: https://www.ccta.ufpb.br/editoraccta/contents/titulos/saude/cartilha-de-primeiros-socorros- obstrucao-de-vias-aereas-por-corpo-estranho/cartilha-ovace-novo.pdf. Acesso em: 19 set.2024.