TAXA DE INTERNAÇÃO POR ENDOMETRIOSE NO BRASIL NO PERÍODO DE  2019 a 2023

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412191521


Daniele Cordeiro Vasconcelos
Aline Monteiro Rodrigues Alves dos Santos
Bruna Gabriela Pontes Ramos
Michele Pereira da Trindade Vieira


INTRODUÇÃO

A endometriose é uma doença crônica identificada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina, frequentemente associada a sintomas dolorosos e impactos significativos na qualidade de vida das mulheres afetadas. Os sintomas variam desde dor pélvica crônica até dificuldades para conceber e infertilidade, em que pese, haja pacientes que são assintomáticos (RENZO; GERLI; FONSECA, 2015).

No Brasil, acredita-se que uma a cada 10 mulheres tenha os sintomas da endometriose. Esta doença, representa um desafio de saúde pública, com suas manifestações clínicas impactando diretamente o sistema de saúde. Apesar da sua prevalência e do impacto socioeconômico que implica, há uma lacuna significativa no conhecimento epidemiológico detalhado sobre a distribuição geográfica e características das internações hospitalares relacionadas à endometriose no país (RENZO; GERLI; FONSECA, 2015; FONTENELLE.; et al, 2024).

Avanços na pesquisa médica e científica têm ampliado o entendimento sobre a endometriose, destacando a importância de profissionais especializados na identificação precoce e tratamento eficaz da doença (CORREIA, et al., 2024).

A relevância deste estudo reside na possibilidade de identificar padrões epidemiológicos da endometriose no contexto nacional, contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas à melhoria do diagnóstico precoce, tratamento adequado e manejo eficaz dessa condição crônica. Além disso, a análise detalhada dos dados epidemiológicos pode oferecer insights valiosos para a otimização dos recursos e serviços de saúde voltados ao enfrentamento da endometriose no Brasil.

Desse modo, este artigo apresenta uma análise abrangente e atualizada das internações por endometriose no Brasil, fornecendo uma visão epidemiológica das cinco regiões brasileiras que visa subsidiar ações estratégicas voltadas para a saúde da mulher e o enfrentamento das consequências dessa doença complexa e multifacetada.

METODOLOGIA

 Refere-se a um estudo epidemiológico ecológico retrospectivo, quantitativo e descritivo, realizado através dos dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) disponibilizados na plataforma Sistema Único de Saúde (DATASUS). 

As variáveis analisadas foram o total de notificações de regiões do Brasil, regiões/UF de federação, ano de processamento, faixa etária, média de permanência, no período de 2019 a 2023.  A coleta foi realizada em 10/07/2024. 

RESULTADOS

Foram registrados 57.436 casos de internações por endometriose no Brasil, entre o período de 2019 a 2023. A região Sudeste registrou 43,4% (24.912) dos casos, o que representa a maior taxa do país, seguido do Nordeste com 25,9% (14.855); do Sul com 16,3% (9.368); do Centro-Oeste com 7,9% (4.513) e da Região Norte, com a menor taxa do território nacional sendo 6,6% (3.788). 

Título: Internações por Endometriose no Brasil por região 

Fonte: SINAN, 2024

Com relação aos anos estudados, o ano com menor taxa de internação foi em 2020 em relação aos últimos cinco anos, com 7.306 casos de internação por Endometriose no Brasil. Em sequência crescente, está o ano de 2021 com 8.132 internações; 2019 com 12.046 internações e 2022 com 14.144 casos de internações. Já o ano de 2023 obteve a maior taxa de internações do país com 15.808 casos.  

Título: Internações de Endometriose no Brasil por ano de 

Fonte: SINAN, 2024

            Quanto ao critério de faixa-etária dos casos de endometriose do Brasil, a faixa-etária dos “40 a 49 anos” apresentou o maior número de casos de internação com 43,3% (24.870); seguido da faixa-etária de “30 a 39 anos” com 24,6% (14.108), “50 a 59 anos” com 14,3% (8.232); “20 a 29 anos” com 7,1% (4.077); “60 a 69 anos” com 6,8% (3.878) e “70 a 79 anos” com 2,7% (1.531). Os extremos de idade representam juntos 1,2% (327) dos casos de internação por faixa etária devido a endometriose no Brasil nos anos estudados. 

Título: Internações de Endometriose no Brasil por faixa-etária 

Fonte:SINAN, 2024

            A média de permanência de dias de internação entre os anos de 2019 a 2023 na região nordeste foi de 2,4 dias. Em 2022 obteve a maior média do período com 2,5 dias, posteriormente encontra-se o ano de 2019 e 2021 com 2,4 dias. Os anos de 2022 e 2023 tiveram igualmente 2,3 dias, sendo a menor média de dias de permanência de internação. 

Título: Média de permanência por ano de processamento devido à internação por Endometriose 

Fonte: SINAN, 2024

DISCUSSÃO

No Brasil, a endometriose representa um desafio significativo para o sistema de saúde, com uma variedade de fatores influenciando tanto a prevalência quanto o manejo adequado dos casos, especialmente no contexto das internações hospitalares.

Um estudo realizado por Salome et al. (2020), demostrou resultados semelhantes, com maior número de internações na região sudeste 25.618 casos e menor número de internações na região norte 3.464 casos registrados.

A epidemiologia da endometriose no Brasil revela diferenças regionais importantes. A região Norte, por exemplo, muitas vezes apresenta maiores dificuldades de acesso a serviços de saúde especializados, devido ao espaço geográfico, o que pode resultar em diagnósticos tardios e dificuldade no acesso a internações hospitalares, demonstrando uma possível subnotificação dessa região (SCHEFFER et al.; 2018).

Em relação a faixa etária dos “40 a 49 anos” apresentou o maior número de casos de internação com 43,3% (24.870), seguido da faixa-etária de “30 a 39 anos” com 24,6% (14.108), indo de encontro com o estudo realizado por Salome et al. (2020), em que foi observado 24.923 casos faixa etária de “40 a 49 anos” e 14.785 casos na faixa etária de “30 a 39 anos”.  O diagnóstico da endometriose é feito sobretudo no período na menacme, comprovando os resultados encontrados.

No que diz respeito ao tempo de internação por região, notou-se resultados divergentes no trabalho realizado Salome et al. (2020), em que foi observado um maior tempo de internação (3,1 dias) na região norte.

Aspectos sociais e culturais também desempenham um papel crucial. Tabus e estigmas relacionados à saúde ginecológica ainda persistem em diversas comunidades, influenciando a busca por cuidados médicos e o relato de sintomas por parte das pacientes. A falta de informação sobre a endometriose e suas manifestações pode levar a um subdiagnóstico e atraso no tratamento, contribuindo para o aumento das taxas de internações hospitalares (LEAL et al.; 2024).

Estudos epidemiológicos têm contribuído significativamente para entender a prevalência e os fatores de risco associados à endometriose. Pesquisas recentes sugerem uma variação geográfica na prevalência da doença, com taxas mais altas relatadas em regiões industrializadas e em mulheres com fatores de risco específicos, como história familiar positiva para endometriose, nuliparidade e menarca precoce (KONINCK et al., 2021; SHAFRIR et al., 2018).

Além disso, a endometriose está associada a uma série de comorbidades, incluindo dor crônica, síndrome do intestino irritável, fibromialgia   e doenças autoimunes, o que ressalta a importância de uma abordagem multidisciplinar no manejo da doença (BULLETTI et al., 2010).

CONCLUSÃO

Em suma, a internação por endometriose no Brasil reflete não apenas desafios clínicos, mas também sociais, culturais e estruturais. É crucial investir em educação pública sobre a doença, melhorar o acesso a serviços de saúde ginecológica de qualidade em todas as regiões do país, e promover uma abordagem multidisciplinar para reduzir o impacto da endometriose na vida das mulheres brasileiras.

REFERÊNCIAS

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Correia AQP.; et al. Endometriose – aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos e manejo terapêutico. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 7, n. 2, p. e68194, 2024. DOI: 10.34119/bjhrv7n2-142. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/68194. Acesso em: 14 jul. 2024.

Fontenelle CRP.; et al. Perfil epidemiológico de mulheres em idade reprodutiva com endometriose no brasil (2018-2023). Revista Contemporânea, [S. l.], v. 4, n. 3, p. e3834, 2024. DOI: 10.56083/RCV4N3-211. Disponível em: https://ojs.revistacontemporanea.com/ojs/index.php/home/article/view/3834. Acesso em: 14 jul. 2024.

Leal BAS.; et al. ENDOMETRIOSE E SEUS CUIDADOS CLÍNICOS: REVISÃO DE LITERATURA. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences.  Volume 6, Issue 2 (2024), Page 88-102.

Renzo, GCD; Gerli S; Fonseca E. Manual Prático de Ginecologia e Obstetrícia para Clínica e Emergência. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2015. E-book. ISBN 9788595152632. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595152632/. Acesso em: 13 jul. 2024.

 Salomé DGM; Braga ACBP; Lara TM; Caetano OA. Endometriose: epidemiologia nacional dos últimos 5 anos. Revista de Saúde. 2020 Jul./Dez.; 11 (2): 39 – 43.

Scheffer, M., et al. (2018). Demografia Médica no Brasil 2018. FMUSP, CFM, Cremesp.

Shafrir AL, Farland LV, Shah DK, Harris HR, Kvaskoff M, Zondervan K, Missmer SA. Risk for and consequences of endometriosis: A critical epidemiologic review. Best Pract Res Clin Obstet Gynaecol. 2018 Aug;51:1-15. doi: 10.1016/j.bpobgyn.2018.06.001. Epub 2018 Jul 3. PMID: 30017581.

Koninckx PR, Fernandes R, Ussia A, Schindler L, Wattiez A, Al-Suwaidi S, Amro B, Al-Maamari B, Hakim Z, Tahlak M. Pathogenesis Based Diagnosis and Treatment of Endometriosis. Front Endocrinol (Lausanne). 2021 Nov 25;12:745548. doi: 10.3389/fendo.2021.745548. PMID: 34899597; PMCID: PMC8656967.


1 Graduanda em Medicina
Faculdade de Ciências Médicas do Pará- FACIMPA – Marabá – PA, Brasil.

2 Graduanda em Medicina
Centro Universitário – UNINORTE, Rio Branco – AC, Brasil.

3 Graduanda em Medicina
Centro Universitário UNIFACISA – Campina Grande – PB, Brasil.

4 Enfermeira, Mestra em saúde da Família.
Universidade Federal do Pará- UFPA, Belém – PA, Brasil.