PRÓTESES BUCOMAXILOFACIAIS NA REABILITAÇÃO DE ANOMALIAS CRANIOFACIAIS: UMA REVISÃO DA LITERATURA

ORAL MAXILLOFACIAL PROSTHESES IN THE REHABILITATION OF CRANIOFACIAL ANOMALIES: A REVIEW OF THE LITERATURE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10241171450


João Victor Pereira1
Gisely Nayara Silva Livramento²
Thaise Batista França³
Roseane Aparecida dos Reis Alves Madureira4
Michelle Aparecida de Medeiros Albano5
Gabriel Uzai da Silva 6
Carlos Miguel Pereira Ribeiro7
Marcelo Hage Ferreira
Victória Cardoso Medeiros9
Isabela Lopes de Araújo.¹⁰


RESUMO

O uso de próteses bucomaxilofaciais é essencial na reabilitação de pacientes com anomalias craniofaciais, tanto congênitas quanto adquiridas. Este artigo revisa a importância dessas próteses no contexto da cirurgia bucomaxilofacial, destacando desafios clínicos e inovações tecnológicas na restauração funcional e estética de indivíduos com deformidades faciais. As anomalias congênitas, como a fissura labiopalatina, e os defeitos adquiridos, frequentemente causados por traumas, cirurgias oncológicas ou queimaduras, exigem tratamentos cuidadosamente planejados.

A literatura aponta que as próteses bucomaxilofaciais são fundamentais para restaurar a função (mastigação e fala), a estética (harmonia facial) e a autoestima dos pacientes. A utilização de tecnologias avançadas, como imagens 3D e impressão digital, tem permitido o desenvolvimento de próteses mais precisas, duráveis e confortáveis, melhorando os resultados clínicos.

Além disso, o artigo discute os desafios técnicos no ajuste das próteses, como sua integração com os tecidos bucais e faciais, e a necessidade de ajustes contínuos ao longo do tempo. A escolha de materiais como resinas, metais e cerâmicas é crucial para a eficácia das próteses, com foco na biocompatibilidade e resistência.

DESCRITORES:

Anomalias craniofaciais, abordagem multidisciplinar, adaptação de próteses, Próteses faciais e Materiais para próteses ósseas.

INTRODUÇÃO

As anomalias craniofaciais englobam um conjunto de condições que afetam a estrutura óssea e os tecidos moles da face, gerando impactos significativos tanto na estética quanto na função do paciente. Essas deformidades podem ser congênitas, como a fissura labiopalatina, ou adquiridas, decorrentes de traumas faciais, cirurgias oncológicas, queimaduras ou infecções graves. Além das implicações físicas, as anomalias craniofaciais frequentemente afetam a autoestima do paciente, gerando complexos psicossociais que dificultam a adaptação ao convívio social e à aceitação de sua imagem.

A reabilitação bucomaxilofacial de pacientes com tais anomalias representa um dos maiores desafios na cirurgia plástica e odontologia. Esses pacientes frequentemente necessitam de abordagens complexas, que envolvem tratamentos tanto cirúrgicos quanto não cirúrgicos, com o objetivo de restaurar a funcionalidade (como mastigação, fala e respiração) e a estética facial. Nesse contexto, as próteses bucomaxilofaciais desempenham um papel crucial, oferecendo soluções personalizadas que visam melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Essas próteses são indicadas para a substituição ou restauração de partes da face e da cavidade oral que foram comprometidas devido a defeitos congênitos ou adquiridos. Elas desempenham três funções principais: restauram a função de mastigação e fala, devolvem a estética facial, e proporcionam um benefício psicológico ao melhorar a autoestima dos pacientes. O uso de próteses também pode reduzir a necessidade de intervenções cirúrgicas repetidas, promovendo maior conforto e menor risco de complicações a longo prazo.

A evolução das tecnologias de diagnóstico e planejamento, como o uso de imagens tridimensionais (3D) e impressão digital, tem possibilitado um avanço significativo na confecção das próteses bucomaxilofaciais. Tais tecnologias permitem a criação de modelos digitais altamente precisos, o que facilita tanto a personalização das próteses quanto o processo de adaptação às características anatômicas de cada paciente. Além disso, o desenvolvimento de materiais mais biocompatíveis, como resinas, metais e cerâmicas, tem permitido a fabricação de próteses mais duráveis, funcionais e confortáveis.

Apesar dos avanços, o uso de próteses bucomaxilofaciais continua a apresentar uma série de desafios técnicos e clínicos. A adaptação das próteses aos tecidos bucais e faciais, muitas vezes alterados por cirurgias ou trauma, exige cuidado e precisão. Além disso, a necessidade de ajustes contínuos ao longo do tempo, devido a mudanças na anatomia facial do paciente, e a manutenção da durabilidade das próteses, exigem acompanhamento contínuo. O planejamento adequado, considerando as particularidades de cada paciente, é essencial para garantir um tratamento eficaz e de longo prazo.

Outro ponto crucial na reabilitação de pacientes com anomalias craniofaciais é a abordagem multidisciplinar, que envolve não apenas cirurgiões bucomaxilofaciais, mas também fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais da saúde. Esta colaboração é fundamental para oferecer um tratamento holístico e eficaz, abordando as diversas dimensões do problema e garantindo que o paciente tenha uma recuperação plena, tanto do ponto de vista funcional quanto psicológico.

Este artigo tem como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre as próteses bucomaxilofaciais, destacando sua importância no tratamento de pacientes com anomalias craniofaciais. Serão abordados os avanços tecnológicos que possibilitaram melhorias no planejamento e na execução das próteses, bem como os desafios clínicos que ainda persistem, como a necessidade de ajustes contínuos, a escolha de materiais adequados e a personalização das próteses. A análise de estudos recentes também permitirá compreender o impacto da reabilitação bucomaxilofacial na qualidade de vida dos pacientes e a importância da abordagem multidisciplinar no sucesso do tratamento.

MATERIAIS E METODOS

Este estudo foi desenvolvido a partir de uma revisão da literatura sobre as próteses bucomaxilofaciais utilizadas na reabilitação de pacientes com anomalias craniofaciais, com foco em artigos publicados entre os anos de 2020 e 2024. A escolha deste período foi motivada pela constante evolução das tecnologias de planejamento e confecção de próteses, bem como pelos avanços em materiais biocompatíveis e novas técnicas de impressão digital que têm impactado diretamente os resultados na reabilitação funcional e estética.

Estratégia de Busca

A busca por artigos foi realizada em bases de dados científicas amplamente reconhecidas, como PubMed, Scopus, Scielo, ScienceDirect e Lilacs, utilizando as seguintes palavras chave:

  • “Próteses bucomaxilofaciais”
  • “Anomalias craniofaciais”
  • “Fissura labiopalatina”
  • “Tecnologia 3D em odontologia”
  • “Materiais biocompatíveis em próteses”
  • “Desafios na adaptação de próteses faciais”
  • “Abordagem multidisciplinar em reabilitação bucomaxilofacial”

Esses descritores foram selecionados para capturar uma visão abrangente sobre as tecnologias, os materiais utilizados nas próteses, os desafios clínicos enfrentados na prática e as técnicas de personalização que contribuem para os resultados de longo prazo.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Os critérios de inclusão para os artigos foram os seguintes:

  1. Artigos científicos publicados entre 2020 e 2024, com foco em próteses bucomaxilofaciais e reabilitação de pacientes com anomalias craniofaciais.
  2. Estudos clínicos e revisões sistemáticas que abordam o uso de tecnologias digitais, como imagens 3D e impressão digital, na produção de próteses.
  3. Artigos que tratam dos materiais biocompatíveis utilizados em próteses faciais, como resinas, cerâmicas e metais, e que analisam seus efeitos na durabilidade e funcionalidade das próteses.

Os critérios de exclusão foram:

  1. Artigos que não abordam diretamente as próteses bucomaxilofaciais ou que se concentram em outros tipos de reabilitação (ex: implantes dentários).
  2. Artigos que não apresentam dados clínicos, como relatos de caso com amostras muito pequenas ou estudos puramente teóricos.
  3. Pesquisas anteriores a 2020, para garantir a análise de informações mais recentes e relevantes.
Seleção dos Artigos

A seleção dos artigos foi feita de maneira sistemática, iniciando pela leitura dos resumos e a avaliação dos títulos. Artigos que atendiam aos critérios de inclusão foram selecionados para uma análise mais detalhada, com ênfase nos seguintes aspectos:

  • Tecnologias utilizadas no planejamento e fabricação das próteses bucomaxilofaciais
  • Materiais inovadores e suas propriedades, como biocompatibilidade, resistência e durabilidade.
  • Desafios clínicos enfrentados na adaptação das próteses aos pacientes e os métodos de ajuste contínuo ao longo do tempo.
  • Resultados funcionais e estéticos obtidos com as próteses bucomaxilofaciais, bem como a qualidade de vida dos pacientes após o uso dessas próteses.
  • Abordagem multidisciplinar no tratamento de pacientes com anomalias craniofaciais.
Análise Crítica e Síntese

A análise foi conduzida por meio de leitura crítica dos artigos selecionados, com foco nas principais contribuições dos estudos para a área de reabilitação bucomaxilofacial. A síntese das informações foi organizada em tópicos, abordando:

  • Avanços tecnológicos nas técnicas de impressão 3D, planejamento digital e imagens tridimensionais aplicadas na confecção das próteses.
  • O impacto da escolha de materiais biocompatíveis, como cerâmicas, resinas e metais, na durabilidade e funcionalidade das próteses faciais.
  • Desafios relacionados à adaptação das próteses faciais, incluindo problemas de integração com os tecidos bucais e faciais e a necessidade de ajustes contínuos.
  • A eficácia das próteses bucomaxilofaciais na restauração funcional (mastigação, fala, respiração) e estética, e os benefícios psicológicos associados à melhoria da autoestima dos pacientes.
Considerações Éticas

A presente revisão não envolveu a coleta de dados de pacientes, sendo baseada apenas em dados secundários extraídos de artigos publicados. Portanto, não houve necessidade de aprovação por comitês de ética.

REVISÃO DE LITERATURA

A reabilitação bucomaxilofacial é um campo da medicina que lida com a restauração das funções e da estética facial em pacientes com deformidades causadas por anomalias congênitas, como a fissura labiopalatina, ou adquiridas, devido a traumas faciais, tratamentos oncológicos ou queimaduras graves. Esses pacientes frequentemente enfrentam desafios tanto físicos quanto psicológicos significativos, sendo a prótese bucomaxilofacial uma ferramenta essencial para a recuperação funcional e estética. A evolução das tecnologias e a melhoria dos materiais utilizados nas próteses têm transformado o tratamento dessas deformidades, permitindo resultados mais eficazes, duráveis e confortáveis. Nesta revisão da literatura, discutiremos os avanços tecnológicos, os materiais mais utilizados, os desafios clínicos enfrentados na adaptação das próteses, a abordagem multidisciplinar no tratamento de anomalias craniofaciais e o impacto das próteses na qualidade de vida dos pacientes.

Tecnologias Emergentes no Planejamento e Produção de Próteses Bucomaxilofaciais

Nos últimos anos, a tecnologia digital tem proporcionado um grande avanço no campo da reabilitação bucomaxilofacial. O uso de imagens tridimensionais (3D) e impressão digital revolucionou o processo de planejamento e fabricação das próteses faciais, permitindo que as próteses sejam mais precisas, funcionais e personalizadas. Segundo Silva et al. (2020), a impressão 3D tem sido uma das grandes inovações, pois permite a criação de modelos altamente detalhados da anatomia do paciente, incluindo os tecidos faciais e a cavidade bucal, o que facilita a produção de próteses que se ajustam perfeitamente às características do paciente. A modelagem 3D oferece uma visualização clara das deformidades e permite simulações virtuais, proporcionando uma planificação mais eficiente e precisa das intervenções cirúrgicas e protéticas.

A integração de tecnologias de imagens digitais, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM), com software de planejamento digital, tem permitido a criação de modelos virtuais de alta precisão da estrutura craniofacial. Estes modelos 3D são usados para planejar tanto a cirurgia reconstrutiva quanto a produção das próteses, considerando aspectos como a harmonia facial, a função mastigatória e a mobilidade da articulação temporomandibular (ATM). Costa et al. (2021) afirmam que o planejamento assistido por computador (CAD) facilita a fabricação de próteses mais adequadas às condições anatômicas do paciente, minimizando a margem de erro e melhorando a eficácia funcional da prótese.

Além disso, a impressão 3D permite a produção rápida de protótipos de próteses, o que facilita ajustes e alterações durante o processo de adaptação. Como destaca Almeida et al. (2023), o uso de impressoras 3D para a confecção de próteses temporárias ou modelos de prova proporciona uma fase preliminar de ajustes antes da produção final, garantindo maior conforto e aceitação do paciente.

Materiais para Próteses Bucomaxilofaciais: Avanços e Desafios

A escolha do material para as próteses bucomaxilofaciais é fundamental para garantir sua durabilidade, funcionalidade e estética. Em estudos recentes, destaca-se a importância de materiais biocompatíveis que minimizem a possibilidade de rejeição e irritação nos tecidos bucais e faciais. A maioria das próteses bucomaxilofaciais é feita a partir de resinas, cerâmicas e metais, que devem possuir propriedades específicas para atender às exigências de resistência, flexibilidade, biocompatibilidade e estética.

As resinas fotopolimerizáveis têm se mostrado uma excelente opção para a confecção de próteses devido à sua facilidade de adaptação, resistência ao desgaste e capacidade de serem moldadas de forma precisa, o que as torna especialmente úteis para próteses removíveis e temporárias. Moura et al. (2022) observaram que as resinas, além de serem mais econômicas, apresentam resultados estéticos satisfatórios, com a capacidade de simular a cor e textura dos dentes naturais. No entanto, elas podem apresentar limitações em termos de resistência a longo prazo, especialmente em próteses utilizadas em áreas de maior pressão mastigatória.

Por outro lado, as cerâmicas dentárias de última geração oferecem vantagens estéticas substanciais. Ferreira et al. (2023) apontaram que as cerâmicas, além de serem altamente estéticas, apresentam maior resistência ao desgaste, o que as torna ideais para a confecção de próteses faciais permanentes em pacientes que necessitam de uma restauração duradoura. A cerâmica também permite uma melhor transluscência e simulação da cor dos dentes naturais, proporcionando uma aparência mais realista. No entanto, seu uso está mais restrito à reconstrução de regiões específicas da face, devido ao seu custo mais elevado e maior fragilidade em áreas expostas a maiores forças mecânicas.

O uso de metais, como o titânio e suas ligas, também é comum em próteses faciais, especialmente em casos que exigem maior estabilidade estrutural e resistência. O titânio tem a vantagem de ser biocompatível, com uma taxa de integração óssea (osseointegração) excelente, o que o torna ideal para casos de próteses fixas ou para próteses que necessitam de fixação mais robusta, como próteses faciais após grandes defeitos causados por traumas ou cânceres. No entanto, seu uso em regiões visíveis pode ser um desafio estético, devido à sua cor metálica, o que limita sua aplicação em áreas que exigem um resultado mais natural.

Desafios na Adaptação das Próteses Bucomaxilofaciais

Apesar dos avanços na fabricação de próteses, a adaptação clínica das próteses bucomaxilofaciais continua sendo um dos maiores desafios. Oliveira et al. (2021) destacam que as mudanças na anatomia facial e bucal do paciente, seja por cicatrização após cirurgia ou por atrofia óssea e modificação dos tecidos moles, exigem ajustes contínuos nas próteses. Em muitos casos, as próteses podem necessitar de alterações periódicas para se adaptar às alterações anatômicas ao longo do tempo, especialmente após a cicatrização de áreas afetadas por trauma ou cirurgia.

A integração da prótese aos tecidos bucais e faciais é outra dificuldade significativa. Os tecidos bucais, principalmente após grandes cirurgias oncológicas ou radioterapia, podem sofrer alterações que comprometem a fixação da prótese. Nesses casos, a utilização de próteses fixas ou implantes osseointegrados pode ser mais eficaz, mas não é adequada para todos os pacientes, especialmente em casos com falta de suporte ósseo adequado. Nascimento et al. (2022) sugeriram que a combinação de próteses fixas e removíveis pode ser uma solução eficaz para pacientes com comprometimento ósseo devido a tratamentos oncológicos.

Abordagem Multidisciplinar no Tratamento de Anomalias Craniofaciais

A abordagem multidisciplinar é fundamental para o sucesso no tratamento de pacientes com deformidades faciais. A combinação de cirurgiões bucomaxilofaciais, odontologistas, fonoaudiólogos, psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais é essencial para uma reabilitação completa e eficaz. Lima et al. (2024) destacaram que a colaboração entre essas especialidades tem um impacto positivo tanto na eficiência do tratamento quanto na qualidade de vida dos pacientes, já que aborda as necessidades físicas, estéticas e emocionais de forma holística.

A equipe multidisciplinar atua não apenas no planejamento e execução das cirurgias, mas também no acompanhamento pós-operatório, incluindo a adaptação das próteses, fisioterapia para reabilitação funcional e acompanhamento psicológico para lidar com os aspectos emocionais decorrentes das deformidades faciais.

Impacto das Próteses na Qualidade de Vida

O impacto das próteses bucomaxilofaciais na qualidade de vida dos pacientes tem sido amplamente discutido na literatura. A melhoria da autoestima, da funcionalidade mastigatória, da fala e da estética facial são alguns dos benefícios que as próteses proporcionam aos pacientes. Santos et al. (2023) encontraram uma correlação significativa entre o uso de próteses esteticamente satisfatórias e a melhora no bem-estar emocional dos pacientes, destacando que a recuperação da aparência facial não apenas ajuda na autoimagem, mas também facilita a interação social e melhora a integração social do paciente.

Em pacientes com deformidades faciais graves, as próteses faciais não apenas desempenham uma função restauradora, mas também têm um efeito psicológico profundo, ajudando os pacientes a superar as barreiras emocionais causadas pela mudança em sua aparência. Estudos indicam que pacientes com próteses mais estéticas e funcionais experimentam uma redução na ansiedade e uma maior satisfação geral com a qualidade de vida.

Discussão

A utilização de próteses bucomaxilofaciais tem demonstrado grande importância na reabilitação de pacientes com deformidades faciais, sendo uma ferramenta essencial para restaurar tanto a função quanto a estética. No entanto, apesar dos avanços significativos nas tecnologias e materiais, muitos desafios persistem, especialmente no que se refere à adaptação das próteses, longividade e personalização. A complexidade do tratamento exige uma abordagem integrada, que envolva não só os cirurgiões bucomaxilofaciais, mas também uma equipe multidisciplinar de odontologistas, fonoaudiólogos, psicólogos, e outros profissionais da saúde, com o objetivo de promover uma recuperação plena, tanto física quanto emocional, para o paciente.

Avanços Tecnológicos e a Personalização das Próteses

A evolução das tecnologias digitais, como a impressão 3D, tem sido um grande marco no desenvolvimento de próteses bucomaxilofaciais mais precisas e personalizadas. As imagens tridimensionais proporcionam um planejamento mais preciso, permitindo a criação de modelos virtuais detalhados da anatomia facial e bucal do paciente. Isso não só melhora a adequação da prótese à estrutura facial do paciente, mas também contribui para uma maior previsão do resultado estético e funcional. Em relação a isso, Silva et al. (2020) enfatizam que o uso dessas tecnologias pode reduzir consideravelmente o tempo de adaptação da prótese, minimizando ajustes frequentes e aumentando a satisfação do paciente.

No entanto, o uso dessas tecnologias avançadas, embora eficiente, ainda não elimina completamente a necessidade de ajustes clínicos pós-operatórios. Apesar dos avanços, a interação da prótese com os tecidos faciais, que continuam a se modificar com o tempo, exige acompanhamento contínuo. Alterações como a atrofia óssea ou mudanças nos tecidos moles podem comprometer a adesão e a funcionalidade das próteses, exigindo ajustes periódicos. Portanto, mesmo com o uso de tecnologias 3D de ponta, a personalização contínua ainda é necessária, tornando o tratamento um processo dinâmico.

Escolha dos Materiais: Impacto na Durabilidade e Estética

A escolha do material da prótese é outro fator determinante para o sucesso da reabilitação. Resinas, cerâmicas e metais como titânio são os materiais mais utilizados, cada um com suas vantagens e limitações. Ferreira et al. (2023) destacam que as resinas fotopolimerizáveis oferecem uma boa estética e facilidade de adaptação, mas sua durabilidade pode ser comprometida em áreas de grande desgaste, como na cavidade bucal. Já as cerâmicas oferecem resultados estéticos superiores, sendo mais resistentes ao desgaste, mas podem ser mais frágeis e caras, limitando seu uso em determinadas situações.

O titânio, por sua vez, apresenta grande resistência e é altamente biocompatível, o que o torna ideal para implantes e próteses fixas. No entanto, seu uso em áreas visíveis pode prejudicar o aspecto estético devido à sua cor metálica. A escolha do material, portanto, deve ser cuidadosamente ponderada, levando em conta a localização da deformidade, as necessidades funcionais e as preferências do paciente.

Embora os avanços materiais sejam significativos, a duração e a resistência das próteses ainda dependem de vários fatores, como o tipo de deformidade e o grau de comprometimento anatômico do paciente. A literatura sugere que, apesar das melhorias nos materiais, os pacientes com grandes defeitos faciais ou que passaram por tratamentos oncológicos exigem materiais com resistência superior, como ligas metálicas, que, embora eficazes, apresentam desafios estéticos.

Desafios na Adaptação das Próteses

Os desafios relativos à adaptação das próteses bucomaxilofaciais são ainda um tema recorrente na literatura. Em pacientes que sofreram traumas faciais graves ou passaram por tratamentos oncológicos, os tecidos faciais podem passar por alterações significativas, como a cicatrização e a reatrofia óssea, que podem dificultar a fixação da prótese. Oliveira et al. (2021) observam que a adaptação das próteses às mudanças anatômicas dos pacientes continua a ser uma preocupação central, mesmo com o uso das tecnologias mais avançadas.

Outro desafio encontrado na adaptação das próteses é o ajuste contínuo necessário ao longo do tempo. A formação de cicatrizes ou a modificação nos tecidos moles pode alterar o encaixe da prótese, afetando sua funcionalidade e estética. Em muitos casos, o ajuste clínico da prótese deve ser feito periodicamente, o que pode gerar desconforto e aumentar o custo do tratamento a longo prazo. Isso reforça a importância de acompanhamento constante, além do uso de materiais e técnicas que permitam ajustes fáceis e eficazes.

A Abordagem Multidisciplinar: Elemento-chave para o Sucesso Terapêutico

A abordagem multidisciplinar é fundamental para o sucesso do tratamento de pacientes com deformidades faciais. Como observado por Lima et al. (2024), a colaboração entre cirurgiões bucomaxilofaciais, odontologistas, fonoaudiólogos, psicólogos e outros especialistas permite uma abordagem integrada que atende tanto às necessidades funcionais quanto emocionais do paciente. A reabilitação psicológica, por exemplo, tem um papel crucial na recuperação da autoestima do paciente, que frequentemente sofre impactos emocionais profundos devido à mudança na aparência facial.

Em pacientes com deformidades faciais resultantes de traumas, cirurgias oncológicas ou fissura labiopalatina, o impacto emocional pode ser tão significativo quanto o físico. O acompanhamento psicológico pode ajudar o paciente a lidar com questões relacionadas à autoimagem e adaptação social. Além disso, o apoio de fonoaudiólogos é essencial para a reabilitação da fala e da deglutição, aspectos fundamentais para a reintegração do paciente à vida cotidiana.

Impacto Psicológico e Social das Próteses Bucomaxilofaciais

O impacto das próteses na qualidade de vida do paciente vai além da funcionalidade e estética. Diversos estudos indicam que a restauração facial proporciona uma melhora significativa na autoestima e bem-estar emocional dos pacientes, contribuindo para a redução de ansiedade e depressão (Santos et al., 2023). Isso é particularmente relevante em pacientes que sofreram deformações faciais graves, pois a aparência física tem um papel fundamental na interação social e na autoimagem.

A restauração estética proporcionada pelas próteses também facilita a reintegração social do paciente, permitindo que ele recupere a confiança em sua aparência e melhore sua qualidade de vida. Além disso, a recuperação funcional, que restaura a capacidade de falar, mastigar e até de respirar adequadamente, tem um impacto direto na vida diária do paciente, permitindo maior independência e melhor integração social.

Conclusão

A utilização de próteses bucomaxilofaciais continua sendo um avanço significativo na medicina e odontologia, especialmente para pacientes com deformidades faciais congênitas ou adquiridas. Apesar das inovações tecnológicas e materiais, os desafios relacionados à adaptação clínica, personalização das próteses e o seguimento a longo prazo ainda são questões que exigem atenção constante. A abordagem multidisciplinar, que envolve uma equipe de profissionais com diferentes especializações, é fundamental para garantir que o tratamento seja completo e eficaz, abrangendo não apenas a recuperação física, mas também o apoio emocional necessário para o sucesso da reabilitação. A qualidade de vida dos pacientes, tanto no aspecto funcional quanto psicológico, continua a ser uma das maiores vitórias proporcionadas pelas próteses bucomaxilofaciais

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REFERÊNCIAS

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