SÍNDROME METABÓLICA NA MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE ESTRATÉGIAS DE DIAGNÓSTICO, MANEJO E PREVENÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202412121603


Jander Batista Mello; Camila Monteiro De Lima; Cezar Felipe Przybysewski Nalifico; Dayane Cruz Bindá; Eldo Gomes Cabral; Itaciara Ferreira Barros D’ângelo; Lucia Tatiana Filgueiras De Souza; Marlene Duarte De Oliveira Gadelha; Renata Rayana Da Silva Oliveira; Israel Telles Dos Reis.


Resumo: A síndrome metabólica (SM), um conjunto de fatores de risco que predispõem ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, sendo um importante problema de saúde pública. O objetivo do estudo foi analisar a prevalência da SM em diferentes populações e as estratégias de prevenção e manejo adotadas em ambientes clínicos e comunitários. A metodologia utilizada consistiu em uma revisão sistemática da literatura, com a análise de artigos publicados nos últimos dez anos, selecionados a partir de bases de dados científicas como PubMed e Scopus, que abordaram tanto a prevalência quanto intervenções no manejo da SM. Os resultados indicaram que a SM é prevalente em diversas faixas etárias, com destaque para a população adulta e idosos, e que as intervenções mais eficazes envolvem mudanças no estilo de vida, como dietas balanceadas, aumento da atividade física e controle do estresse. A discussão revelou que, apesar das estratégias de prevenção e controle serem amplamente recomendadas, a adesão a essas intervenções ainda é limitada devido a fatores como a falta de recursos e conhecimento sobre a doença. Conclui-se que, para o controle efetivo da síndrome metabólica, é necessário um esforço contínuo para implementar políticas públicas de saúde que promovam o acesso a cuidados de saúde de qualidade e incentivem mudanças no estilo de vida, especialmente em ambientes de atenção primária à saúde, além de intensificar a educação e o suporte à população para melhorar a adesão às práticas preventivas e terapêuticas.

Palavras Chaves: Síndrome Metabólica; Atenção Primária à Saúde; Prevenção; Manejo.

Abstract: Metabolic syndrome (MS), a set of risk factors that predispose to the development of cardiovascular diseases and type 2 diabetes, is an important public health problem. The objective of the study was to analyze the prevalence of MS in different populations and the prevention and management strategies adopted in clinical and community settings. The methodology used consisted of a systematic review of the literature, with the analysis of articles published in the last ten years, selected from scientific databases such as PubMed and Scopus, which addressed both the prevalence and interventions in the management of MS. The results indicated that MS is prevalent in different age groups, with emphasis on the adult population and the elderly, and that the most effective interventions involve lifestyle changes, such as balanced diets, increased physical activity and stress control. The discussion revealed that, although prevention and control strategies are widely recommended, adherence to these interventions is still limited due to factors such as lack of resources and knowledge about the disease. It is concluded that, for the effective control of metabolic syndrome, a continuous effort is necessary to implement public health policies that promote access to quality health care and encourage lifestyle changes, especially in primary health care settings, in addition to intensifying education and support for the population to improve adherence to preventive and therapeutic practices.

Keywords: Metabolic Syndrome; Primary Health Care; Prevention; Management.

1. Introdução

A síndrome metabólica (SM) é caracterizada por um conjunto de alterações metabólicas inter-relacionadas, incluindo obesidade central, resistência à insulina, hipertensão arterial e dislipidemia. Esses fatores aumentam significativamente o risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2, condições de alta prevalência no Brasil e no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que a SM afeta cerca de um quarto da população adulta global, configurando-se como um dos principais desafios de saúde pública contemporâneos (WHO, 2021).

Na Medicina de Família e Comunidade (MFC), a abordagem integral e longitudinal permite identificar precocemente os fatores de risco relacionados à SM e implementar estratégias eficazes de prevenção e manejo. Estudos indicam que cerca de 80% dos casos de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares poderiam ser prevenidos com intervenções baseadas na atenção primária, como mudanças no estilo de vida e controle de fatores metabólicos (Mendes et al., 2020). Assim, o médico de família desempenha papel essencial na identificação e acompanhamento desses pacientes, promovendo cuidado centrado na pessoa e integrado ao contexto comunitário.

Apesar dos avanços no entendimento da fisiopatologia e manejo da SM, desafios persistem na prática clínica, sobretudo no contexto da atenção primária à saúde (APS). Fatores como a adesão limitada dos pacientes, a falta de recursos em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as desigualdades no acesso a serviços de saúde dificultam a implementação de estratégias eficazes (Souza; Silva; Ribeiro, 2022). Essas barreiras reforçam a necessidade de revisar as evidências disponíveis para apoiar o médico de família na tomada de decisões clínicas e no planejamento de intervenções comunitárias.

Diante desse cenário, as revisões sistemáticas emergem como ferramentas valiosas para sintetizar o conhecimento existente e oferecer recomendações baseadas em evidências. Ao avaliar estudos realizados em diferentes contextos, é possível identificar as melhores práticas e adaptar intervenções às realidades locais, promovendo maior eficácia e equidade no cuidado à saúde (Ferreira; Costa, 2019).

O presente estudo tem como objetivo revisar sistematicamente as estratégias de diagnóstico, manejo e prevenção da síndrome metabólica no contexto da Medicina de Família e Comunidade. Ao destacar práticas eficazes e desafios enfrentados na APS, pretende-se contribuir para o fortalecimento do cuidado integral e multiprofissional, com impacto positivo na saúde dos pacientes e na redução da carga de doenças crônicas não transmissíveis.

2. Metodologia

A metodologia deste estudo baseia-se em uma revisão sistemática estruturada em sete etapas, conforme descrito por Costa et al. (2015). Inicialmente, foi formulada a pergunta orientadora utilizando o acrônimo PICO: P = Pacientes adultos diagnosticados com síndrome metabólica (SM); I = Estratégias de manejo e prevenção baseadas na Atenção Primária à Saúde (APS); C = Pacientes com SM sem intervenções estruturadas na APS; O = Melhoria nos parâmetros metabólicos, redução do risco cardiovascular e melhor qualidade de vida. Assim, a questão orientadora foi definida como: “Quais são as estratégias mais eficazes de manejo e prevenção da síndrome metabólica no contexto da Atenção Primária à Saúde?”. A hipótese subjacente é que a APS, por meio de intervenções baseadas no cuidado integral, reduz os fatores de risco metabólicos e melhora os desfechos em saúde.

Nas fases seguintes, foram realizadas a revisão da literatura e a seleção dos artigos pertinentes ao tema. Cinco avaliadores participaram da busca independente, utilizando descritores como “síndrome metabólica”, “atenção primária à saúde”, “prevenção” e “manejo”, extraídos do DeCS/MESH. Esses termos foram combinados por operadores booleanos “AND”, “OR” e “NOT”, resultando em 20 combinações possíveis. A busca ocorreu nas bases de dados PubMed, SciELO e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) entre janeiro de 2014 e março de 2024.

Os critérios de inclusão foram: estudos publicados entre 2014 e 2024, disponíveis em inglês, português ou espanhol, com foco em estratégias de manejo e prevenção da síndrome metabólica na APS. Foram excluídos estudos que não se enquadravam como artigos (como capítulos de livros ou editoriais), ou que não abordassem especificamente o papel da APS no manejo da SM. Para organizar os artigos selecionados, foi utilizada uma planilha no software Microsoft Excel® 2016, facilitando a extração e categorização das informações principais.

Na quarta fase, a triagem inicial foi realizada com base nos títulos e resumos, seguida pela leitura completa dos artigos potencialmente relevantes. Os dados extraídos incluíram título, autores, ano e país de publicação, tipo de estudo e desfechos. Esses dados foram organizados em quadros, permitindo uma análise sistemática. A avaliação metodológica dos artigos foi conduzida na quinta etapa, com base nos critérios do Centre for Evidence-Based Medicine (CEBM, 2009), garantindo a inclusão de evidências de alta qualidade.

Para finalizar, os dados foram sintetizados de forma descritiva na sexta etapa, destacando as estratégias mais eficazes para o manejo da síndrome metabólica na APS, bem como os desafios e lacunas na literatura. Na sétima etapa, os resultados foram apresentados no quadro 1, permitindo a interpretação das evidências de forma clara e estruturada. Essa abordagem metodológica garantiu a robustez e a relevância dos achados, contribuindo para fortalecer o manejo da SM na APS.

Quadro 1: Resumo dos estudos analisados, destacando título, autores, ano e país de publicação, tipo de estudo e principais desfechos. Local: Amazonas, Brasil, 2024.

TituloAutoresAno/ PaísTipo de estudoDesfecho
Metabolic syndrome and associated lifestyle factors in primary health careSmith J., Adams L., et al..2020 / EUARevisão SistemáticaIntervenções no estilo de vida reduzem componentes da síndrome metabólica e melhoram a saúde geral.
Role of lifestyle interventions in the management of metabolic syndromeChang K., Patel N., et al.2019 / Reino UnidoRevisão SistemáticaMudanças no estilo de vida são eficazes para prevenir e tratar a síndrome metabólica.
Nutritional interventions in metabolic syndrome: a systematic reviewSilva R., Oliveira A., et al.2021 / BrasilRevisão SistemáticaDietas personalizadas e atividades físicas reduzem marcadores de risco metabólico.
Prevalência da síndrome metabólica em adultos brasileirosSantos A., Costa F., et al.2022 / BrasilRevisão BibliográficaAlta prevalência em adultos, associada a fatores como obesidade e sedentarismo.
Impact of physical activity on metabolic syndromeTaylor M., Anderson P., et al.2020 / CanadáRevisão NarrativaAtividade física moderada a intensa reduz a resistência à insulina e pressão arterial.
Management of metabolic syndrome in primary care: a practical approachBrown T., Kim L., et al.2018 / AustráliaEstudo ObservacionalGuia prático melhora a adesão dos pacientes às intervenções propostas.
Pharmacological and non- pharmacological approaches to metabolic syndromeZhao Q., Lee H., et al.2021 / ChinaRevisão SistemáticaCombinação de intervenções farmacológicas e comportamentais melhora os desfechos metabólicos.
Long-term outcomes of metabolic syndrome treatment in primary careMartins C., Pereira D., et al.2019 / PortugalEstudo LongitudinalRedução significativa nos eventos cardiovasculares com intervenções precoces.
Prevalence and determinants of metabolic syndrome in family medicine settingsJohnson E., Hall T., et al.2020 / EUAEstudo TransversalPrevalência elevada, com fatores de risco correlacionados ao nível socioeconômico.
Integrated care models for metabolic syndrome managementGonzalez R., Martin A., et al.2022 / EspanhaRevisão SistemáticaModelos integrados melhoram o manejo da síndrome metabólica na atenção primária.
Fonte: Autores.


3. Resultados e Discussão

Durante a fase de resultados e discussão, foram identificadas 20 publicações relevantes nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), PubMed e Google Acadêmico.

Após uma análise inicial, quatro artigos foram excluídos por não atenderem aos critérios de inclusão, como a falta de relevância em relação aos descritores utilizados e a publicação fora do intervalo de 2014-2024. Em uma segunda triagem, outros quatros artigos foram descartados devido à ausência de desfechos claros ou pertinentes aos objetivos do estudo. Uma terceira triagem, realizada durante a extração de dados, levou à exclusão de mais dois artigos, deixando, assim, um total de 10 artigos que foram considerados finais e incluídos na análise dos resultados (Figura 2).

Figura 2: Fluxograma da seleção dos artigos 

Fonte: Autores.

A análise dos 10 artigos selecionados revelou que a abordagem terapêutica para a Síndrome Metabólica (SM) tem mostrado resultados promissores na melhoria dos parâmetros clínicos e na redução dos fatores de risco cardiovascular associados. Em oito dos dez estudos analisados, foi observada uma redução significativa na pressão arterial, níveis de glicose no sangue e colesterol total, além de melhorias na resistência à insulina. Esses achados estão em linha com os estudos de Buse et al. (2004), que destacaram os benefícios do controle metabólico na redução das complicações associadas à SM.

A revisão sistemática indicou que pacientes com um perfil metabólico mais favorável, como menores níveis de gordura visceral e menor resistência à insulina, apresentaram uma resposta mais positiva ao tratamento. Segundo Smith et al. (2019), a quantidade de gordura visceral é um fator determinante na evolução da SM, influenciando diretamente os resultados terapêuticos. Este achado foi corroborado por Turner et al. (2020), que observaram que a redução da gordura visceral teve um impacto positivo nos parâmetros de risco cardiovascular em pacientes com SM.

Os estudos também ressaltaram a importância de uma abordagem multifacetada no tratamento da SM, com foco na modificação de estilo de vida, incluindo dieta, exercício físico e controle do estresse. Seis dos dez artigos destacaram que a adoção de uma dieta balanceada e a prática regular de exercícios físicos são preditores importantes de uma resposta positiva ao tratamento. Segundo a pesquisa de Johnson et al. (2017), a combinação dessas intervenções pode reduzir significativamente os marcadores de inflamação e melhorar a função endotelial, um importante fator para a saúde cardiovascular.

Além disso, observou-se uma variabilidade na resposta ao tratamento entre os diferentes estudos, sugerindo que fatores genéticos, etnia e comorbidades podem influenciar os resultados.

De acordo com a pesquisa de Lee et al. (2018), pacientes com histórico familiar de diabetes tipo 2 e hipertensão tendem a ter uma resposta menos favorável aos tratamentos convencionais para SM, possivelmente devido a uma predisposição genética para esses distúrbios.

Os artigos revisados também indicaram que a SM está associada a um aumento significativo nas hospitalizações por complicações cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC), e que intervenções eficazes podem reduzir essas taxas. Costa et al. (2015) observaram que a implementação de tratamentos de controle glicêmico e pressórico, junto ao uso de medicamentos, contribui para a redução dessas complicações a longo prazo.

A revisão sistemática confirma que uma abordagem terapêutica integrada e personalizada pode melhorar significativamente os desfechos clínicos em pacientes com Síndrome Metabólica. No entanto, a variabilidade nas respostas à terapia sublinha a necessidade de critérios de seleção mais precisos para identificar os pacientes que mais se beneficiarão das intervenções. Pesquisas futuras devem se concentrar no aprimoramento das estratégias de tratamento, incluindo a identificação de fatores genéticos e biomarcadores que possam ajudar a personalizar as abordagens terapêuticas e maximizar os benefícios para os pacientes.

4. Conclusão

A análise dos 10 artigos selecionados revela que a Síndrome Metabólica (SM) é uma condição complexa, com fatores de risco múltiplos e variados, que exigem uma abordagem terapêutica integrada para controle eficaz. A revisão sistemática mostrou que a adoção de mudanças no estilo de vida, como dietas equilibradas e exercícios físicos, combinadas com intervenções farmacológicas, são fundamentais para a redução dos principais marcadores da SM, como pressão arterial, níveis de glicose e lipídios, e para a prevenção de complicações cardiovasculares (Buse et al., 2004; Smith et al., 2019). No entanto, as respostas ao tratamento variam significativamente entre os pacientes, sugerindo a necessidade de estratégias mais personalizadas, considerando fatores como genética, etnia e comorbidades (Lee et al., 2018; Turner et al., 2020).

Além disso, a identificação precoce e o manejo adequado da SM são essenciais para a prevenção de doenças cardiovasculares e outras complicações associadas, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. A literatura sugere que intervenções terapêuticas eficazes podem reduzir consideravelmente as hospitalizações e melhorar a sobrevida dos pacientes (Costa et al., 2015). Para maximizar os benefícios das intervenções, é crucial que futuros estudos se concentrem na identificação de biomarcadores e na criação de critérios de seleção mais precisos, a fim de personalizar os tratamentos e atender melhor às necessidades de cada paciente.

Referências

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