REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412092147
Mabel de Oliveira Cortez Pereira1, Renan Martins Paiva2, Rodrigo de Vasconcelos Rocha Holanda3, Sofia Taumaturgo da Costa4, Lindenberg Barbosa Aguiar5, Brynna Pamplona Augusto Gonçalves de Castro6
RESUMO: Descrições dos achados de Imagem relacionados à degeneração de osteocondroma, uma lesão óssea benigna, em condrossarcoma, uma neoplasia maligna.
PALAVRAS-CHAVE: Osteocondroma; Condrossarcoma; Degeneração maligna; Neoplasia óssea
RELATO DE CASO
M.H.L.O, 49 anos, apresentando quadro de dor, diminuição da força e parestesia no membro superior direito, quando em posição de decúbito lateral esquerdo, com início há 8 meses associado a aumento volumétrico palpável da região cervical direita e anterior. Paciente com relato cirúrgico de excisão de lesão óssea na face medial da tíbia previamente. Exame ultrassonográfico demonstrando massa complexa situada na região cervical direita, heterogênea e predominantemente hipoecoica, com imagens ecogênicas polimorfas de permeio (calcificações), sem fluxo vascular ao Doppler colorido (Fig. 1). Exame tomográfico evidencia formação expansiva sólida e heterogênea com origem na tuberosidade anterior do processo transverso do corpo vertebral C6 à direita, no espaço infra-hioide, medindo 7,3 x 5,3 x 6,2 cm, exibindo volumoso componente de partes moles, com calcificações polimorfas de matriz condroide e acentuado efeito de massa sobre as estruturas adjacentes. Nota-se, ainda, comprometimento do forame transverso e da artéria vertebral direita (Fig.2). A ressonância magnética exibe lesão sólida, com contornos lobulados, demonstrando hipossinal na sequência ponderada em T1 e hipersinal em T2 (nas porções não mineralizadas), bem como, áreas de baixo sinal na sequência de susceptibilidade magnética, inferindo a presença de calcificações. Nota-se, ainda, realce heterogêneo e periférico pelo meio de contraste paramagnético (Fig. 3). O conjunto de achados é sugestivo de osteocondroma com sinais de degeneração maligna para condrossarcoma.
Figura 1: (a) e (b) exame ultrassonográfico demonstrando massa complexa na região cervical direita, com imagens ecogênicas polimorfas, sem fluxo vascular ao Doppler colorido.
Figura 2: Tomografia computadorizada corte sagital (a) e axial (b) da cervical, demonstrando formação expansiva sólida e heterogênea com origem na tuberosidade anterior processo transverso do corpo vertebral C6 à direita, com componente de partes moles e calcificações polimorfas de matriz condroide.
Figura 3: Ressonância magnética cortes coronais, demonstrando formação expansiva na região cervical direita com conteúdo heterogêneo exibindo hipossinal na sequência ponderada em T1 (a) e hipersinal na sequência ponderada em T2 (b).
Figura 4: (a) ressonância magnética corte coronal demonstrando realce periférico pelo meio de contraste paramagnético da capa cartilaginosa que recobre a lesão. (b) corte axial demonstrando áreas de marcado hipossinal na sequência de susceptibilidade magnética (SWI), inferindo presença de calcificações.
DISCUSSSÃO E RESULTADO
As lesões ósseas são tumores comuns que apresentam uma variedade de subtipos, sendo caracterizados a partir da sua faixa etária, localização óssea e algumas peculiaridades inerentes a cada subtipo tumoral. Alguns tipos de lesões ósseas benignas podem sofrer mudanças e ocasionar sua degeneração para tipo maligno de tumor ósseo, no presente caso, a degeneração de um osteocondroma em condrossarcoma ocorre em cerca de 1%, mas se associados a forma hereditária esse percentual pode chegar a 2-5%. O osteocrondroma é um tumor ósseo benigno, sendo um dos mais comuns, podendo corresponder 10-15% de todos os tumores gerais, sua topografia é típica, junto a placa epifisária de ossos longos. Acomete mais homens que mulheres e quando ocorre acima dos 40 anos existe uma maior probabilidade de ocorrer degeneração maligna deste tumor. O osteocondroma pode ser visto em diversas modalidades de exames de imagem, na radiografia simples é detectado como uma projeção óssea exibindo cortical e medular, com crescimento exofítico tipicamente em ossos longos, apresenta camada cartilaginosa que comumente não é vista na radiografia simples. Exames seccionais como a tomografia Computadorizada (TC) demonstram aspectos mais detalhados da lesão, como contiguidade entre a cortical/medular óssea da lesão no osso hospedeiro, detecção de calcificações na lesão, avaliação da capa cartilaginosa e maior definição da relação entre a base e comprimento tumoral (podendo ser de aspecto séssil ou pedunculado). A ressonância magnética é utilizada para avaliar composição da lesão, bem como, permite a possibilidade de medição da cartilagem que envolve o tumor e detecção de realces anômalos (em tumor benigno o realce é habitualmente visto no tecido fibrovascular que recobre a cartilagem, não devendo conter realces na capa cartilaginosa em si – Fig. 4). A ressonância também é útil para avaliar o efeito da lesão nos tecidos circunjacentes, demonstrando possíveis complicações vasculares e nervosas. O osteocondroma pode apresentar várias complicações tais como: deformidade óssea, fraturas, comprometimentos vasculares e transformação maligna, neste último caso, estando relacionada regularmente ao condrossarcoma. A degeneração maligna surge na cartilagem da lesão, podendo ser primária ou secundária, e quando isso ocorre os pacientes podem apresentar sintomas clínicos como queixas álgicas; nesse momento, os exames de Imagem tem papel crucial para detecção precoce de tumores que sofreram essa complicação, apresentando aspectos típicos tais como: crescimento de um osteocondroma sem alteração prévia em paciente adulto, irregularidades ou indistinção das superfícies tumorais, erosão/destruição óssea, presença de massa de tecido mole que exibe calcificações irregulares (“anéis e arcos” e/ou pipoca), espessura da capa cartilaginosa (a qual não deve ultrapassar 1,5 cm em pacientes esqueleticamente maduros) e realce cartilaginoso pelo meio de contraste paramagnético. O estudo histopatológico desempenha importante papel no diagnóstico dessas lesões, sendo possível avaliar crescimento ativo na periferia tumoral, bem como, presença de bandas fibrosas na cartilagem e aumento da celularidade e atipias tumorais. O tratamento das lesões que sofreram degeneração maligna é feito através da ressecção cirúrgica, salvo nos casos em que os condrossarcomas são de baixo grau e confinados ao osso, sendo possível realizar uma curetagem intralesional extensa seguida de tratamento adjuvante.
Conclusão: Osteocondroma é uma das lesões ósseas mais comuns dentre as lesões benignas, entretanto, uma parte pode sofrer complicações, podendo evoluir para degeneração maligna, principalmente em adultos. A maioria dos pacientes são assintomáticos, mas quando ocorre degeneração maligna queixas álgicas podem estar presentes, sobretudo com crescimento da lesão, pois estruturas vitais, incluindo vasos e nervos podem sofrer compressão por parte do tumor. Dito isso, os exames de Imagem desempenham papel crucial na detecção dos sinais precoces de uma transformação maligna de um tumor benigno em maligno, sendo imprescindível o reconhecimento destes por parte dos médicos radiologistas para adequado manejo dos pacientes.
Referências:
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MURPHEY, Mark D.; WALKER, Eric A.; WILSON, Anthony J.; KRANSDORF, Mark J.; TEMPLE, H. Thomas; GANNON, Francis H. From the archives of the AFIP: imaging of primary chondrosarcoma: radiologic-pathologic correlation. Radiographics, v. 23, n. 5, p. 1245-1278, 2003. DOI: 10.1148/rg.235035134.
TEPELENIS, Kostas; PAPATHANAKOS, Georgios; KITSOULI, Aikaterini; TROUPIS, Theodoros; BARBOUTI, Alexandra; VLACHOS, Konstantinos; KANAVAROS, Panagiotis; KITSOULIS, Panagiotis. Osteochondromas: an updated review of epidemiology, pathogenesis, clinical presentation, radiological features and treatment options. In Vivo, v. 35, n. 2, p. 681-691, 2021. DOI: 10.21873/invivo.12356.
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1 Médico residente do Programa de Radiologia e Diagnóstico de Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: mabelocp@gmail.com
2 Médico residente do Programa de Radiologia e Diagnóstico de Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: renanmpaiva@gmail.com
3 Médico residente do Programa de Radiologia e Diagnóstico de Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: rhvrodrigo@hotmail.com
4 Médico residente do Programa de Radiologia e Diagnóstico de Imagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: sofiataumaturgo@alu.ufc.br
5 Preceptor do Programa de Residência de Radiologia e Diagnóstico de Imagem. Médico do Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC. E-mail: map1970@bol.com.br
6 Preceptor do Programa de Residência de Radiologia e Diagnóstico de Imagem. Médico do Hospital Universitário Walter Cantídio da UFC. E-mail: Brynnapamradio@gmail.com