PREVALÊNCIA DA DOR LOMBAR E DA PERCEPÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM MOTORISTAS DE TRANSPORTE PÚBLICO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

PREVALENCE OF LOWER PAIN AND OF PERCEPTION OF QUALITY OF LIFE IN PUBLIC TRANSPORT DRIVERS: A INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412092107


Georgia Maria Oliveira Gomes1; Deylane Menezes Teles de Oliveira1; Maryana Tallyta Silva Barreto1; Valéria de Sousa Viralino Silva Rodrigues1; Lara Fábia Duarte Neves; Eduarda Freitas Sereno1; Geísa de Morais Santana1; Jéssyca Maria Oliveira da Silva2


RESUMO

A lombalgia é caracterizada por dor e limitação de movimento na coluna lombar, causada pelo sobrecarregamento de músculos, ligamentos e tendões. Os principais fatores incluem posturas inadequadas, movimentos repetitivos e fraqueza muscular na região lombar. Sob essa perspectiva esse estudo teve como objetivo analisar o nível da prevalência de dor lombar e percepção da qualidade de vida em motoristas de transporte público. Por meio de uma revisão integrativa da literatura, uma busca foi realizada nas bases de dados LILACS, BMC Public Health, PUBMED e Scielo, através dos descritores Lombalgia, Qualidade de vida, Transtornos Traumáticos Cumulativos, que discorreram sobre resultados da prevalência de dor lombar e da percepção de qualidade de vida referente a motoristas de transporte público e as buscas resultaram em 71 artigos, sendo que apenas 8 foram considerados elegíveis para a análise de dados. Os resultados do estudo mostraram que a dor lombar é uma condição comum entre os motoristas, afetando substancialmente sua qualidade de vida e capacidade funcional. Entre os fatores identificados, destaca-se a postura inadequada, a falta de pausas durante o expediente, o tabagismo e o sedentarismo, que juntos contribuem para o aumento da prevalência de dor lombar. Em conclusão, esses achados indicam a necessidade de um enfoque multidisciplinar para reduzir a dor lombar entre motoristas, que envolva melhorias nas condições de trabalho, bem como programas de incentivo à mudança de hábitos, como a cessação do tabagismo e a promoção da atividade física.

Palavras-chave: Lombalgia. Qualidade de vida. Transtornos Traumáticos Cumulativos.

 1 INTRODUÇÃO

 A lombalgia ou dor lombar, pode ser definida por dor e limitação da amplitude de movimento na região da coluna lombar com sobrecarga de estruturas como músculos, ligamentos e tendões que favorece desde pequenos desconfortos até dores intensas tornando-as por muitas vezes incapacitantes. Os fatores que provocam essa alteração por muitas vezes trata-se de posturas viciosas ou movimentos repetitivos além do suporte muscular inadequado da lombar por longos períodos, com acentuação da lordose ou retificação lombar devido ao acento inadequado e até mesmo por adotar posturas antálgicas (Alami et al., 2024).

 A fisiopatologia da dor lombar é multifatorial podendo estar associada ao trabalho dos motoristas, estas alterações estão geralmente vinculadas a aspectos genéticos, a associações de fatores intrínsecos e extrínsecos, a alterações decorrentes da idade e a intervenção de fatores biológicos ou psicossociais (Tucci Neto et al., 2020). A dor lombar se enquadra nos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) e apresenta-se quando as atribuições do trabalhador acabam por desencadear o início das dores, visto que muitos das atividades demandam posturas inadequadas e implicam substancialmente em distúrbios musculoesqueléticos (Pereira; Reis, 2021). 

Segundo a Pesquisa Nacional da Saúde – PNS 2,5% dos brasileiros relataram diagnóstico de DORT e cerca de 34,3 milhões de pessoas maiores de 18 anos alegaram problema crônico de coluna no ano de 2019, um aumento de 3,1% em relação ao ano de 2013. A maioria dos estudos sobre lombalgia em motoristas apontam alta incidência na população estudada, o que influencia diretamente tanto nas atividades de vida diárias quanto profissional dos motoristas, desenvolvendo distúrbios decorrentes das atividades laborais como lesões por compressão nervosa e lombalgia explicadas pelo tempo em posição sentada, além de vibrações e pesos (Silva et al., 2021).

No cenário cotidiano, motoristas expõem-se a consideráveis condições de atividades que podem ser prejudiciais, dentre elas evidenciam-se ruídos, temperatura altas, vibrações, posturas forçadas, cargas psicológicas e físicas, posto de trabalho pouco ergonômico e violência urbana, logo diferentes fatores ambientais e de convívio social influenciam diretamente no estado psicológico do motorista, que por sua vez, podem apresentar comportamentos de impaciência, restrição dos reflexos resultado de insónias, além de distúrbios de atenção que é imprescindível na direção segura (Guerra; Suazo; Campo, 2020). Tais aspectos revelam que a qualidade de vida dos motoristas de transporte coletivo é marcada pelo ambiente no qual é vivenciado, onde são apresentadas numerosas adversidades quanto ao tráfego, clima, trajeto das vias em mau estado, transportes velhos, sem conforto, e concomitantemente lidar com pessoas, preocupações, pressão psicológica e estresse (Vitta et al., 2013).

Por serem responsáveis pelo deslocamento seguro de passageiros e cargas, esses profissionais são expostos a diversos riscos e desafios no exercício de suas funções, que podem afetar diretamente seu bem-estar físico e psicológico, logo se torna fundamental avaliar as condições de trabalho e de saúde dos profissionais que atuam nessa área (Alcantara et al., 2020). Nesse contexto o presente estudo tem por objetivo analisar a prevalência de dor lombar e da percepção da qualidade de vida em motoristas de transporte público, sendo essencial para uma melhor reunião e entendimento sobre os dados já existentes na literatura.

2 METODOLOGIA

Foi utilizado como método a revisão integrativa da literatura um método que possibilita a integração do conhecimento e a aplicação dos resultados de estudos relevantes na prática. (Sousa et al., 2017). Além disso, a pesquisa foi realizada com base na metodologia PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), utilizando os seguintes critérios: formulação da pergunta da pesquisa, busca bibliográfica, seleção de estudos, extração de dados, análise de dados, avaliação da qualidade e discussão.

Sendo assim, a pergunta norteadora da pesquisa foi: qual o nível de prevalência de dor lombar e percepção da qualidade de vida em motoristas de transporte público? A busca foi realizada entre os meses de outubro e novembro de 2024, nas bases de dados LICACS, BMC Public Health, PUBMED e Scielo, os descritores foram utilizados através do DeCS/MeSH (Descritores em Ciências da Saúde/Medical Subject Headings) e com os seguintes operadores Booleanos: AND e OR.

Quadro 1. Descritores selecionados mediante a estratégia PICo.

Fonte: Autoral, 2024.

Foram incluídos estudos publicados em bases de dados na integra nos últimos 10 anos (2014 a 2024) que discorreram sobre resultados da prevalência de dor lombar e da percepção de qualidade de vida referente a motoristas de transporte público, nos idiomas português inglês ou espanhol. Foram excluídos estudos que não apresentaram resultados de prevalência e percepção, duplicados, incompletos, como também estudos do tipo: relato de experiencias, relato de caso, editorias e revisão de literatura e artigos foram utilizados para compor a pesquisa.

Em relação a seleção e avaliação dos estudos, foi utilizado três etapas: leitura do título e resumo como triagem inicial, avaliando se enquadraram nos critérios de inclusão e exclusão, em seguida, após a seleção dos estudos, eles foram lidos na íntegra, observando se eles respondiam à pergunta norteadora deste estudo. Foi utilizado uma ferramenta para avaliar a qualidade do estudo, a Escala de Newcastle-Ottawa (NOS), que considera três domínios principais: seleção dos participantes, comparabilidade entre os grupos e avaliação dos desfechos, onde os estudos receberam pontuação para casa domínio (baixa, moderada e alta qualidade), no qual, quanto mais próximo de alto, melhor o estudo.  Essa ferramenta garantiu que apenas estudos de moderada a alta qualidade fossem considerados para a síntese final.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

As buscas resultaram em 71 artigos, sendo que apenas 10 foram considerados elegíveis para a análise de dados (Fluxograma 1).

Fluxograma 1. Estratégia de busca e seleção dos artigos.

Fonte: Autoral, 2024.

Após a triagem dos artigos selecionados na etapa inicial, procedeu-se à análise detalhada de cada estudo, considerando critérios essenciais para assegurar a relevância e qualidade científica da pesquisa. Foram avaliados aspectos como a autoria e o ano de publicação, o objetivo específico do estudo, o delineamento metodológico e os principais resultados obtidos. Com o objetivo de facilitar a visualização e permitir uma análise comparativa entre os diferentes estudos selecionados, será apresentada a seguir uma tabela síntese, sendo uma estrutura que sistematiza as informações relevantes, oferecendo uma visão integrada dos aspectos analisados.

Quadro 2. Análise dos artigos por autor (es), objetivo, metodologia e resultados. Pedreiras – MA, Brasil.

AUTOR/ANOOBJETIVOSMETODOLOGIARESULTADOSPONTUAÇÃO
Maradei; Quintana, 2014.Descobrir em que medida os movimentos lombo pélvicos feitos com o auxílio do assento PSP influenciam a percepção de DL nos motoristas.Foram realizados diversos estudos experimentais para realizar movimentos de macro reposicionamento com o auxílio de um assento.Indivíduos assintomáticos se movem menos do que indivíduos sintomáticos e que as estratégias de movimento são diferentes; Os macros reposicionamentos são realizados com uma frequência de 12,6 minutos e a velocidade sem instabilidade percebida é de 0,17 rad/s; A inclinação do assento influencia a pressão intradiscal (p= 0,003).7/9 estrelas. Classificação: Boa qualidade metodológica  
Mascarenhas, et al., 2014.Investigar a prevalência de dor lombar e sua associação com as variáveis sociodemográficas, ocupacionais e estilo de vida em motoristas de táxi do município de Jequié/BA.Estudo descritivo analítico transversal, com 101 motoristas do município de Jequié – BA.  A prevalência de dor lombar entre os taxistas foi de 54,5%; Confirmou-se redução das atividades no último ano devido à dor lombar por 12,7%;  Verificou-se que a maior prevalência da dor lombar foi encontrada entre os indivíduos que não realizavam atividades de lazer semanal; Constatou-se que quanto mais elevada a faixa etária, maior a intensidade da dor e maior o uso de medicamentos; Aqueles que realizavam outra atividade remunerada apresentaram associação com a redução das atividades nos últimos 12 meses;8/9 estrelas. Classificação: Boa qualidade metodológica   
Silva, et al., 2016.Identificar as características ocupacionais e a percepção de qualidade de vida dos motoristas do transporte coletivo urbano.Estudo transversal, quantitativo, realizado com 20 motoristas do transporte coletivo urbano, que responderam ao questionário socioeconômico, demográfico, ocupacional e ao Whoqol-bref.Observou-se média de idade 43± 13 anos, 85% possuem ensino fundamental; 55% possuem renda maior que dois salários-mínimos; 15% são tabagistas; 50% são ex-tabagistas e 40% fazem uso de álcool.6/9 estrelas. Classificação: Moderada qualidade metodológica para estudo transversal. (baixa devido ao número de amostra de 20 participante)  
Azevedo, Benedito e Silva, 2020.Analisar os fatores associados ao afastamento por dorsopatias em motoristas de ônibus de uma empresa de transporte coletivo.Estudo transversal, analítico, com informações de um banco de dados de 2.229 motoristas profissionais de ônibus de uma empresa da cidade de São Paulo, BrasilA média de idade da amostra foi de 47,33 anos e o tempo médio de serviço foi de 8,65 anos. A maioria dos participantes era do sexo masculino (98,06%) e trabalhava durante o dia (85,9%). Houve prevalência de 17% de afastamento no período estudado. A faixa etária foi a única variável com distribuição estatisticamente significativa, com menor probabilidade de afastamento por dorsopatias naqueles com ≥ 40 anos.7/9 estrelas. Classificação: Boa qualidade metodológica para estudo transversal.  
Verma et al., 2022.Avaliar a prevalência de lombalgia e os fatores associados a ela.Estudo transversal que incluiu 237 condutores de ônibus de estações de ônibus governamentais.Dor nas costas autorreferida nos últimos 12 meses na coluna lombossacral ou próximo a ela foi considerada um caso de lombalgia. O estudo revelou que 27,4% apresentavam lombalgia.7/9 estrelas. Classificação: Boa qualidade metodológica para estudo transversal.  
Arruda, Farias e Souza, 2022.Analisar a prevalência e fatores associados a dor lombar em motoristas de ônibus da cidade de Rio Branco, Acre.Estudo transversal com 213 motoristas de ônibus urbano de Rio Branco, Acre.A prevalência de percepção de dor lombar em motorista de ônibus foi de 54%. Os principais fatores associados a percepção de dor lombar foram número de filho, percepção de saúde insatisfatória, horas extras acima de 15 horas mensais e tempo de pausa menor de 10 minutos.5/9 estrelas. Classificação: Moderada qualidade metodológica para estudo transversal. (nota diminuída devido a amostra ter sido por voluntariado  
Sá e Sampaio, 2022.Avaliar a qualidade do sono, o estresse e a qualidade de vida de motoristas profissionais das cidades brasileiras de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA).Os participantes (317, 99,1% do sexo masculino), cuja idade variou entre 21 e 65 anos, responderam a escalas e um questionário estruturado.Os resultados indicaram que a maioria dos motoristas tem boa qualidade de vida e que a sonolência diurna excessiva e a qualidade ruim de sono ocorreram em taxas menores que aquelas observadas em estudos internacionais.7/9 estrelas. Classificação: Boa qualidade metodológica   
Nabi et al., (2023).Avaliar a prevalência de lombalgia e fatores associados entre motoristas de ônibus profissionais em Bangladesh.Foi realizado um estudo transversal com 368 motoristas profissionais de ônibus, por meio de um questionário semiestruturado.           Encontrou-se alta prevalência de lombalgia, associada a fatores como:  idade, renda mensal, tempo de trabalho, dias de trabalho mensais, jornada diária de trabalho, condição do assento do motorista, e hábito de fumar.7,5/9 estrelas. Classificação: alta qualidade metodológica
Fonte: Autoral, 2024.

A dor lombar afeta várias dimensões da vida desses profissionais, compromete o bem-estar físico e interfere na disposição e na mobilidade. Esse desconforto físico pode afetar o humor, a paciência e a capacidade de concentração, prejudicando o atendimento e a qualidade de vida. Além disso, a dor lombar pode interferir no sono, pois a dificuldade de relaxar e a dor noturna podem resultar em noites mal dormidas, o que, por sua vez, compromete o rendimento durante o trabalho, aumentando o risco de acidentes e diminuindo a produtividade.

Partindo dessa premissa, a análise do estudo de Maradei e Quintana (2014), sobre a influência dos movimentos lombo pélvicos na percepção de dor lombar em motoristas que permanecem sentados por períodos prolongados, foi realizada com o objetivo de descobrir em que medida os movimentos lombo pélvicos feitos com o auxílio do assento PSP influenciam a percepção de DL nos motoristas. A pesquisa parte da premissa de que o corpo responde naturalmente à sensação de desconforto em posturas prolongadas através de movimentos de reposicionamento, embora esses movimentos não eliminem o incômodo e a dor lombar.

Os resultados do estudo indicaram que indivíduos com dor (sintomáticos) realizam movimentos de reposicionamento com mais frequência do que aqueles sem dor (assintomáticos), e essas estratégias de movimento variam entre os grupos. Os reposicionamentos são feitos, em média, a cada 12,6 minutos e a uma velocidade de 0,17 rad/s sem causar percepção de instabilidade. A pesquisa também revelou que a inclinação do assento afeta a pressão intradiscal, sendo que inclinações negativas transferem a carga das tuberosidades isquiáticas para os joelhos e pés, diminuindo a pressão sobre a coluna (p=0,003) (Maradei; Quintana, 2014).

Outros estudos correlacionam a posição do assento como um fator significativo. Em particular, as inclinações negativas do assento têm o efeito de redistribuir a carga das tuberosidades isquiáticas para outras partes do corpo, como joelhos e pés, o que diminui a pressão intradiscal e que a introdução de mudanças no ambiente de trabalho, como ajustar a inclinação do assento e fazer pausas regulares, pode melhorar a postura e reduzir a dor (Jia et al., 2024).

No contexto ocupacional, fatores sociodemográficos, como idade, sexo e tempo de trabalho, tem um papel singular no desenvolvimento de dor lombar. Estudos indicam que motoristas mais velhos ou com mais anos de serviço estão mais propensos a apresentar essa condição, possivelmente devido ao desgaste natural do corpo e à exposição prolongada a posturas inadequadas (Stulberg, 2024).

Com essa premissa, o estudo de Mascarenhas et al. (2014), investigou a prevalência de dor lombar entre motoristas de táxi no município de Jequié, Bahia, identificando sua associação com fatores sociodemográficos, ocupacionais e de estilo de vida. Com base em uma amostra de 101 motoristas, o estudo revela que 54,5% dos participantes relataram sofrer de dor lombar, sendo que a maioria (78,2%) descreveu a dor como de intensidade moderada. Esse alto índice de dor lombar entre os taxistas é um reflexo das longas jornadas em posição sentada e das condições ergonomicamente desfavoráveis da profissão.

Os resultados do estudo de Mascarenhas et al. (2014) indicam, ainda, que a dor lombar impacta negativamente o bem-estar e a capacidade funcional dos motoristas, com 12,7% relatando redução de atividades no último ano devido à dor e que fatores como idade e ausência de atividades de lazer foram associados a um aumento na intensidade da dor. A análise também sugere que motoristas que cumulavam atividades agravaram as queixas de dor lombar. Esses resultados mostram a importância de intervenções preventivas específicas para essa população, como programas de promoção da saúde, incentivo a atividades físicas regulares, apoio ergonômico e medidas de controle da dor.

Silva et al. (2016), investiga as características ocupacionais e a qualidade de vida dos motoristas de ônibus do transporte coletivo urbano, com uma amostra de 20 motoristas. Os resultados indicam que fatores como renda, escolaridade e a própria percepção de saúde são determinantes na qualidade de vida dos motoristas. Os autores recomendam uma maior atenção por parte dos empregadores e de profissionais da saúde para esses aspectos, sublinhando a necessidade de intervenções que possam melhorar as condições de vida e de trabalho desses profissionais. As sugestões incluem o desenvolvimento de programas de promoção de saúde, ações para redução do estresse ocupacional visando a melhoria da qualidade de vida, e a saúde e ao bem-estar dos motoristas de transporte coletivo.

O estudo de Azevedo, Benedito e Silva-Júnior (2022), investigou a prevalência e os fatores associados ao afastamento por dorsopatias (doenças relacionadas à coluna) em motoristas de ônibus de uma empresa em São Paulo, Brasil. A pesquisa foi conduzida com uma amostra de 2.229 motoristas e a análise focou em variáveis como idade, sexo, tempo de serviço e turno de trabalho.

Os resultados mostraram uma média de idade de 47,33 anos e média de serviço de 8,65 anos, com prevalência de afastamento de 17% e uma média de 1,86 dias de ausência por atestado médico. A faixa etária foi um fator significativo: motoristas mais jovens apresentaram maior tendência ao afastamento por dorsopatias em comparação com os mais velhos. A conclusão do estudo aponta que, embora o absenteísmo seja alto entre motoristas, a probabilidade de afastamento diminui com a idade, possivelmente devido à adaptação ao trabalho ou a estratégias desenvolvidas pelos trabalhadores mais velhos para evitar o agravamento dos sintomas (Azevedo; Benedito; Silva-Júnior, 2022).

Para Garima Verma et al. (2022), que analisou a prevalência e os fatores associados à lombalgia entre condutores de ônibus no distrito de Udupi, Karnataka, a dor lombar é uma área muitas vezes negligenciada em pesquisas sobre essa condição em motoristas. Assim, com uma amostra de 237 condutores que trabalham em estações de ônibus governamentais, os dados foram coletados por meio de entrevistas e questionários estruturados, englobando fatores ocupacionais, não ocupacionais e ambientais. Os resultados indicaram que 27,4% dos condutores relataram lombalgia na coluna lombossacral ou em áreas próximas nos últimos 12 meses. A análise multivariada identificou fatores de risco relevantes, como o tabagismo e a postura inadequada, ambos associados a um aumento na ocorrência de dor lombar. Estes achados são consistentes com a literatura (Magnavita; Garbarino, 2017; Mendes et al., 2021), que frequentemente associa fatores como vibração do veículo, longas horas sentado e estresse ocupacional à lombalgia entre profissionais do transporte.

Além dos fatores mencionados, os resultados do estudo de Almeida e Kraychete (2017) é semelhante ao enfatizar que fumar é um fator de risco significativo para o desenvolvimento de LBP. Eles também notaram que a má postura, frequentemente exacerbada por ficar sentado por muito tempo ou técnicas de levantamento inadequadas, é outro fator-chave. Além disso, outros fatores de risco identificados incluem idade acima de 30 anos, sexo masculino, baixa posição social e estilo de vida sedentário.

O estudo de Arruda, Farias e Souza (2022), sobre dor lombar em motoristas de ônibus de Rio Branco revela uma alta prevalência de 54% dessa condição, com fatores associados como número de filhos, percepção de saúde insatisfatória, excesso de horas extras (acima de 15 horas mensais) e pausas menores que 10 minutos. Esses achados indicam que, além dos fatores ocupacionais, aspectos familiares e pessoais também influenciam a percepção de dor, destacando a dor lombar como um sério problema de saúde pública entre esses trabalhadores. A intervenção em pausas e jornada de trabalho é essencial para a prevenção. Esses achados são semelhantes ao estudo de Mascarenhas et al. (2014), que implica que condições de trabalho e fatores pessoais influenciam a intensidade da dor nos motoristas.

O estudo de Sá e Sampaio (2022) explora a relação entre qualidade do sono, estresse e qualidade de vida em motoristas profissionais nas cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Com 317 participantes, os resultados indicaram que a maioria dos motoristas apresenta boa qualidade de vida, embora a sonolência diurna excessiva e a qualidade ruim do sono estejam presentes em níveis inferiores aos de estudos internacionais. O estresse apresentou prevalência similar a outros estudos. Além disso, uma boa qualidade de sono foi associada a uma melhor qualidade de vida, e o sono ruim foi relacionado ao estresse na fase de resistência. Por fim, o estudo enfatiza a necessidade de ações interventivas no ambiente de trabalho desses motoristas, considerando os riscos ocupacionais e a violência no trânsito.

Já o estudo de Nabi et al. (2023) lança luz sobre a complexa realidade desses profissionais, explorando como o estilo de vida ruim dos motoristas tem impacto significativo na dor lombar e consequentemente na qualidade de vida. Por meio de um estudo transversal a pesquisa busca compreender a prevalência de dor lombar entre motoristas de ônibus intermunicipais e avaliar possíveis fatores contribuintes. Neste estudo, com 368 participantes destacou-se alta prevalência de dor lombar, por longas jornadas de trabalho, tabagismo, assento inadequado, e o uso de estimulantes ilícitos. Assim como o estudo de Nabi et al. (2023), um estudo revelou que motoristas que trabalham mais de 50 horas por semana correm um risco significativamente maior de sentir dor nas costas em comparação com aqueles que trabalham menos horas. E aqueles motoristas que se sentam em assentos desconfortáveis ​​ou mal projetados, ou com suporte lombar insuficiente, relatam uma incidência maior de dor lombar (Fadhli et al., 2016).

Esses achados mostram que fatores como o tabagismo e a postura inadequada tem relação direta na ocorrência de dor lombar. A análise multivariada de estudos recentes, como os de Verma et al. (2023) e Sá e Sampaio (2022), reforça a ideia de que esses comportamentos e condições aumentam a prevalência de dores nas costas. Deste modo, o controle de fatores de risco, como hábitos de vida e condições ergonômicas, é essencial para a redução da dor lombar e a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, especialmente em profissões que envolvem longas jornadas de trabalho.

4 CONCLUSÃO

Os resultados indicaram que a dor lombar é uma condição comum entre os motoristas, afetando substancialmente sua qualidade de vida e capacidade funcional, como também que essa condição está associada a uma série de fatores sociodemográficos, ocupacionais e de estilo de vida. Entre os fatores identificados, destaca-se a postura inadequada, a falta de pausas durante o expediente, o tabagismo e o sedentarismo, que juntos contribuem para o aumento da prevalência de dor lombar. A postura inadequada e a longa duração de períodos em que os motoristas permanecem sentados são fatores para o surgimento e a exacerbação dessa dor, com a repetição de movimentos e a sobrecarga na coluna. A baixa percepção de qualidade de vida também tem relação direta com o estilo vida e as condições comportamentais na intensidade da dor.

Esses achados indicam a necessidade de um enfoque multidisciplinar para reduzir a dor lombar entre motoristas, que não apenas envolva melhorias nas condições de trabalho, como ergonomia e pausas regulares, mas também programas de incentivo à mudança de hábitos, como a cessação do tabagismo e a promoção da atividade física. Por fim, sugere-se a realização de mais estudos na área de saúde ocupacional, a fim de aprofundar a compreensão sobre os fatores sociodemográficos, ocupacionais e de estilo de vida que influenciam a prevalência da dor lombar e a qualidade de vida desses profissionais, além de abordar a relação entre saúde mental, estresse ocupacional e a dor crônica, proporcionando dados que possam informar políticas públicas mais eficazes para melhorar as condições de trabalho e a qualidade de vida desses trabalhadores.

REFERÊNCIAS

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1 Discente do Curso Superior de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco

2 Docente do Curso Superior de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco. Especialista em Fisioterapia Esportiva (SONAFE). e-mail: jessycaprof.fisio@outlook.com