QUALIDADE DE VIDA E QUALIDADE DO SONO DE UNIVERSITÁRIOS DOS CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

QUALITY OF LIFE AND SLEEP QUALITY OF HEALTH COURSE STUDENTS: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202412092110


Sâmia Eloi Oliveira1; Kaline Oliveira Lins2; Isabela Emanuela Cantanhêde da Cruz3; Maria Clara Monteiro da Silva4; Raquel de Castro Mello5; Eduardo da Silva Coelho6; Francisco Mayron de Sousa e Silva7; Geísa de Morais Santana8; Odeany Ferreira Moura9; Naiana Deodato da Silva10


Resumo:

O sono é caracterizado como um mecanismo fisiológico e comportamental muito importante para a saúde humana, atuando na função de reequilibrar as atividades motora, voluntária e sensorial. Quando afetados, esses processos entram em desequilíbrio, resultando em prejuízos para a saúde física e mental, podendo levar à redução da capacidade cognitiva, alterações no humor, como irritabilidade e depressão, além de comprometer o funcionamento do sistema imunológico e agravar condições crônicas, como hipertensão e diabetes. Tendo ciência disso, o propósito desse estudo foi analisar os fatores que impactam a qualidade de vida e do sono entre universitários da área da saúde, buscando compreender as principais influências responsáveis por essas alterações. Para isso, teve-se como suporte metodológico a realização de uma revisão integrativa de literatura, estruturada em seis etapas. A coleta de dados foi realizada nas bases BVS, PubMed e LILACS, abrangendo artigos de 2019 a 2024, em português e inglês. Após a filtragem, nove artigos foram considerados aptos a integrar a presente revisão. Os resultados do estudo evidenciaram que os principais fatores que impactam a qualidade de vida e do sono em universitários da área da saúde, tiveram influência de altos níveis de estresse, sobrecarga acadêmica e hábitos comportamentais inadequados. Essas condições foram associadas a prejuízos na saúde mental, como ansiedade e depressão, além de déficits cognitivos e redução da produtividade. Em suma, ficou constatado que hábitos inadequados afetam a qualidade do sono e a saúde mental de universitários, comprometendo sua qualidade de vida e desempenho acadêmico.

Palavras-chave: Sono. Qualidade de Vida. Estudantes. Qualidade de Sono.

1 INTRODUÇÃO

O sono é um processo fisiológico essencial, com implicações para a homeostase e o funcionamento geral do organismo. Ele tem um papel na regulação das atividades motoras, voluntárias e sensoriais, além de promover a aprendizagem, a consolidação da memória e o equilíbrio térmico corporal. Durante o sono, múltiplos sistemas fisiológicos atuam de maneira integrada para restaurar a energia, reparar danos metabólicos e preparar o organismo para enfrentar as demandas do dia seguinte, então, a ausência desse mecanismo indispensável pode desencadear consequências alarmantes para a saúde humana (Lessa et al., 2020).

O sono é regulado por três mecanismos principais: o sistema homeostático, impulsionado pelo acúmulo de adenosina que sinaliza a necessidade de descanso; o sistema circadiano, que ajusta os ciclos biológicos ao ritmo claro-escuro do ambiente; e os fatores comportamentais, como hábitos pré-sono, que incluem o uso de dispositivos eletrônicos e que podem desregular esse equilíbrio crítico (Gomes; Quinhones & Engelhardt, 2010). A fragilidade desses sistemas pode abrir portas para uma série de condições adversas.

Evidências apontam que a privação de sono é um catalisador para processos metabólicos e inflamatórios prejudiciais. Essa privação está associada a um aumento do risco de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes tipo 2, distúrbios psiquiátricos, depressão e doenças cardiovasculares. Além disso, o sono insuficiente impacta diretamente a função autonômica, elevando os níveis de cortisol e perpetuando um estado de alerta crônico que desregula o metabolismo e compromete o bem-estar (Callegari et al., 2024).

Em um cenário acadêmico, por exemplo, o desalinhamento dos ciclos vigília-sono em estudantes universitários é um fator de risco considerável. A combinação de horários irregulares, pressão acadêmica e maus hábitos próximos ao descanso resulta em uma cascata de prejuízos à saúde e ao desempenho cognitivo. Este quadro não apenas compromete a eficiência laboral e o aprendizado, mas também contribui para o aumento da morbidade e mortalidade (Phillips et al., 2017).

A má qualidade do sono se revela como um dos pilares de desequilíbrios fisiológicos mais negligenciados, cujos impactos vão desde a deterioração da função cognitiva até o aumento do risco de acidentes automobilísticos e de trabalho. Em última instância, ela encurta a longevidade ao favorecer o envelhecimento precoce e condições clínicas graves (Merlo & Vela, 2022).

Estudos indicam que a privação de sono está diretamente associada ao aumento de estresse, depressão e uma série de outras condições que comprometem a qualidade de vida. Essa desregulação impacta negativamente o humor, favorecendo o desenvolvimento de transtornos depressivos e ansiosos, além de prejudicar a capacidade de lidar com adversidades (Nollet; Wisden & Franks, 2020). Deste modo, pode-se considerar que esses efeitos em cadeia contribuem para um ciclo vicioso de deterioração física e mental, afetando tanto o bem-estar quanto a funcionalidade do indivíduo.

Com base nessas informações, este estudo tem como objetivo analisar os fatores que impactam a qualidade de vida e do sono entre universitários da área da saúde, buscando compreender as principais influências responsáveis por essas alterações, através de uma revisão minuciosa da literatura. Especificamente se busca identificar os principais fatores que afetam a qualidade do sono em universitários da área da saúde; Analisar a relação entre a qualidade do sono e o desempenho acadêmico; dispor dos efeitos da privação ou má qualidade do sono sobre a saúde mental.

2 METODOLOGIA

Para a realização deste estudo utilizou-se o método de revisão integrativa de literatura, que consiste na análise de artigos, livros, revistas, entre outros. Este também pode ser usado para descrever o estado de um determinado assunto de um ponto de vista teórico ou contextual. A pesquisa de revisão integrativa é caracterizada por ser exploratória e descritiva, permitindo uma compreensão profunda dos temas investigados (Gil, 2010; Casarin, 2020). Esta revisão foi estruturada em seis etapas: elaboração da pergunta norteadora; busca e seleção dos estudos; extração de dados; avaliação dos dados que integraram a revisão; análise dos estudos incluídos; discussão dos resultados.

Para a coleta e seleção dos dados, foi realizado um levantamento de estudos nas principais bases de dados a saber: BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Medline via Pubmed (U. S. National Library of Medicine) e Lilacs(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde). Para a coleta de dados, os artigos foram coletados no período de 2019 a 2024, nos idiomas português e inglês, respectivamente. A metodologia desta investigação seguiu seis etapas, conforme descrito no estudo de Mendes, Silveira & Galvão (2019).

Figura 1. Etapas da revisão conforme descrito no estudo de Mendes, Silveira & Galvão (2019).

Fonte: Autoral, 2024.

Ao final, elaborou-se a seguinte pergunta norteadora: Qual a relação da qualidade de vida e qualidade de sono dos discentes de ensino superior na área da saúde? Com o principal propósito de obter melhores resultados foi aplicada a estratégia PICo, sendo P: Pacientes (Alunos) I: Intervenção: Aplicação do Questionário, que, segundo Santos & Pimenta (2007), permite uma busca mais significativa de informações para constituir evidência de pesquisa, resultando em respostas mais claras e concisas às questões relacionadas ao tema. Deste modo, para seleção dos descritores controlados e não controlados, foram consultados os termos constantes no Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e no Medical Subject Headings (MeSH) (Quadro 1). Considerou-se, portanto, os seguintes termos: Estudantes (Students); Qualidade do Sono (Sleep Quality); Qualidade de Vida (Quality of Life).

Quadro 1 – Descritores controlados e não controlados utilizados para construção da estratégia de busca.

Fonte: Próprio autor, 2024.

Por ser classificado como estudo de revisão, não necessitou ser submetido a comitê de ética em pesquisa para avaliação, conforme resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Por se tratar de um estudo de cunho bibliográfico, não serão realizados procedimentos que possam causar desconforto ou contato com pessoas citadas na publicação. Porém, considerando a externalidade dos dados coletados pelo autor, os mesmos foram analisados ​​e transcritos direta ou indiretamente de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sendo um risco de viés.

O processo de análise foi estruturado em etapas claramente definidas e com prazo de forma sistemática. Na quarta etapa, foi realizada uma categorização dos dados por meio de uma triagem independente realizada por dois pesquisadores, cada qual em ambiente distinto. No geral, os resultados foram comparados e específicos, a fim de verificar sua adequação aos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos. Para a busca, utilizaram-se operadores booleanos, como “E” ou “AND”, que permitiram uma combinação de descritores, possibilitando maior abrangência e precisão.

Na quinta etapa, os artigos que atenderam aos critérios de inclusão foram analisados ​​pelos autores e, em seguida, organizados em tabelas que permitiram uma separação detalhada das informações. Essa etapa foi fundamental para a sistematização dos dados e para garantir a clareza do processo de análise.

A sexta etapa envolveu a síntese de todo o processo. Os dados foram organizados em uma tabela contendo informações essenciais, como o nome do autor, ano de publicação, título do periódico, tipo de estudo, objetivos, metodologia, amostra ou grupos detalhados e principais tópicos. A organização estruturada das informações teve como objetivo facilitar o entendimento por parte do leitor e contribuir para a transparência da pesquisa. Por fim, a apresentação dos resultados da revisão foi realizada de forma clara e detalhada, com o intuito de possibilitar uma compreensão ampla e organizada.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A seleção dos materiais atribuiu-se a uma busca que resultou em 49 publicações, identificado utilizando os descritores, buscados através das plataformas PubMed onde foram encontrados 39 artigos; Biblioteca Virtual em Saúde onde foram coletados um total de 09 artigos e, na plataforma Lilacs foram encontrados 01 artigos. Após a coleta inicial, a primeira triagem dos artigos ocorreu com base no tema, avaliando a sua relação com a temática desta pesquisa. Posteriormente, na segunda triagem, foram excluídas as publicações que apresentavam somente resumo, estavam incompletos ou eram duplicados, bem como aqueles que apresentavam-se como artigos de revisão.

Ao termino deste processo restaram somente 09 publicações para integrar esta revisão e estes estão dispostos no fluxograma a seguir (Figura 02).

Figura 2 – Fluxograma do Processo de busca e seleção dos artigos.

Fonte: Autor, 2024.

A seleção dos estudos correspondentes a essa pesquisa se dispõe na tabela abaixo, onde os critérios de elegibilidade dos artigos foram feitos em conformidade com os descritores supracitados nos métodos do estudo e, com base nisso, eleitos para a realização da tabela que se sucede com base em autor e ano; tipo de estudo; objetivos e os resultados encontrados.

O Quadro 2 apresenta uma organização cronológica dos dados coletados, visando facilitar a compreensão e interpretação de cada estudo selecionado. Os dados analisados incluem Autor/Ano, título, periódico e tipo de metodologia adotada em cada estudo. Essa estruturação permite uma visualização clara e sistemática das informações, auxiliando na contextualização e avaliação dos estudos revisados.

Quadro 2 – Artigos selecionados para a pesquisa, contendo autores e ano, objetivo, metodologia e amostra, resultados e revista.

AUTOR/ANOREVISTA/DOIOBJETIVOMETODOLOGIA E AMOSTRARESULTADOS
Średniawa et al., 2019Trends in psychiatry and psychotherapy; https://doi.org/10.1590/2237-6089-2017-0154Investigar a relação entre insônia, estresse, estratégias de coping, e certos fatores sociais e médicos em estudantes. Um estudo transversal foi conduzido em março de 2017 com uma amostra de 264 estudantes de sete universidades públicas de Cracóvia, usando a Escala de Estresse Percebido 10, uma versão abreviada do inventário de Orientação de Enfrentamento a Problemas Experienciados (mini-inventário COPE) e a Escala de Insônia de Atenas.De acordo com este estudo, um décimo dos estudantes de Cracóvia percebe um alto nível de estresse, e um quinto dos respondentes sofrem de insônia. Há uma forte correlação positiva entre nível de insônia e nível de estresse. 
Mendes; Martino, 2020Revista da Escola de Enfermagem da USP. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2018053903593 Identificar os fatores de estresse do ambiente universitário e as repercussões na qualidade de sono e de vida de estudantes do último ano da graduação em Enfermagem. Estudo transversal, comparativo, quantitativo, foi realizado com uma amostra de 55 estudantes do último ano de graduação em enfermagem de uma instituição privada do sul de Minas Gerais. Foram aplicados o Instrumento de Avaliação do Estresse em Estudantes de Enfermagem (AEEE), o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (IQSP), o questionário de qualidade de vida WHOQOL-Bref e o questionário de caracterização sociodemográfica.Houve correlação forte entre o Gerenciamento do Tempo do estresse com o sono e os domínios físico, psicológico e de ambiente da qualidade de vida, além da associação significante para insônia e algumas variáveis sociodemográficas
Perotta et al., 2021BMC Med Educ 21. https://doi.org/10.1186/s12909-021-02544-8Avaliar a relação entre privação do sono, qualidade do sono e sonolência diurna, e qualidade de vida, percepção do ambiente acadêmico e sintomas de depressão e ansiedade.Para estudar o impacto da qualidade do sono, destruição diurna e privação de sono em estudantes de medicina, analisamos dados de um estudo multicêntrico com estudantes de medicina no Brasil (22 escolas médicas, 1350 estudantes de medicina casualmente).Estudantes de medicina que relataram mais privação de sono apresentaram razões de chances significativamente maiores de apresentar sintomas de ansiedade e depressão e menores chances de boa qualidade de vida ou percepção do ambiente educacional.
Reis et al., 2022Estudos e Pesquisas em Psicologia https://doi.org/10.12957/epp.2022.66452Analisar os aspectos cognitivos e comportamentais dos estudantes de uma universidade pública durante a graduação, considerando autopercepção de depressão, ansiedade e estresse, bem como uso de substâncias psicoativas e qualidade do sono. Foi realizado um delineamento longitudinal com 34 estudantes ingressantes em 2015/1 e formandos em 2018/2, aplicando-se questionário online. Do total de universitários, 22 eram mulheres e 12 eram homens, sendo que o consumo de drogas aumentou para ambos os sexos.Houve correlação positiva fraca entre depressão e ansiedade ou estresse, mas correlação positiva moderada entre estresse e ansiedade no final do curso.
Salinas et al., 2023 Revista medica de Chile.https://doi.org/10.4067/s0034-98872023000300330.Investigar indicadores de saúde, estilos de vida e qualidade de vida associados à qualidade do sono em estudantes universitários.O Sleep Self-Report (SSR), o tempo de tela, o International Physical Activity Questionnaire (PAQ) e o questionário SF-36 sobre qualidade de vida relacionada à saúde foram respondidos por 621 estudantes universitários por meio de uma plataforma online. Fatores de risco para qualidade de vida e estilos de vida, como beber álcool três ou mais vezes por semana, ter comportamentos sedentários por mais de seis horas por dia, dormir menos de seis horas por dia, sofrer altos níveis de dor corporal e baixa função social estão associados à má qualidade do sono em estudantes universitários.
Prokeš, 2023 Sec. Psicologia da Saúde; https://doi.org/10.3389/fpsyg.2023.1231773Medir a satisfação com a vida relatada por estudantes universitários tchecos em relação ao contato social, estressores acadêmicos e de trabalho escolhidos e sono. Aplicando um modelo de equação estrutural, o estudo atual entrevistou uma grande amostra de estudantes universitários tchecos durante a pandemia de COVID-19 no final da primavera de 2021 e observou os efeitos de mediação do sono nesse grupo.O estudo descobriu que trabalhar, manter contato social e assistir palestras pessoalmente tiveram um forte efeito na satisfação com a vida.
Oliveira et al., 2023Revista Baiana De Enfermagem‏37. https://doi.org/10.18471/rbe.v37.49758Identificar fatores preditores de insônia em estudantes de Enfermagem. Estudo transversal realizado com 199 alunos do 1º ao 10º semestre do curso de Enfermagem de uma Universidade Federal, Brasil. Aplicou-se o questionário sociodemográfico e de saúde e o Sense of Coherence de Antonovsky. ResultadosOs fatores sociais, individuais, acadêmicos e de saúde influenciam no desfecho da insônia.
Pinheiro et al., 2024Revista Da ABENO. https://doi.org/10.30979/revabeno.v24i1.1828Avaliar a qualidade de vida (QV) dos estudantes de dois cursos de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) durante a pandemia da Coronavirus Disease 2019. Foi realizado um estudo transversal, com coleta de dados em maio de 2020, por meio de questionários que mensuraram as variável sociodemográfica, relacionadas ao curso e comportamentais, além do World Health Organization Questionnaire for Quality of Life-bref. Foi realizada regressão logística multinomial. Ocorreu a participação de 396 estudantes.A QV dos acadêmicos de Odontologia da UFC foi insatisfatória, a partir da análise dos baixos escores dos questionários.
Pape et al., 2024BMC Psychol 12 , 626 (2024). https://doi.org/10.1186/s40359-024-02057-1 avaliar a eficácia de uma intervenção multicomponente de sono-humor na melhoria do sono e da saúde mental em estudantes universitários com sintomas de insônia clinicamente significativos e investigar possíveis mediadores. ensaio piloto randomizado controlado. Trinta e cinco participantes foram randomizados para a intervenção Sleep Mood Intervention: Live Effectively (SMILE) ( n  = 23) ou grupo de lista de espera ( n  = 12).  Houve uma interação significativa entre o tempo e o tratamento nos sintomas de insônia, com uma redução significativa na gravidade da insônia no grupo SMILE em comparação com o grupo de lista de espera.  

Fonte: Autoral, 2024.

Średniawa et al., (2019) fizeram um estudo cujo objetivo foi investigar a relação entre insônia, estresse, estratégias de coping e fatores sociais e médicos em estudantes universitários de Cracóvia, Polônia. Realizado em março de 2017, com 264 participantes, o estudo revelou que 10% dos estudantes apresentaram altos níveis de estresse, sendo mais comuns em pessoas com doenças crônicas e fumantes. A insônia foi observada em 19,7% dos estudantes e apresentou uma forte correlação com o estresse percebido. O estudo conclui que, para melhorar a qualidade de vida dos estudantes, é essencial considerar a interação entre estresse e insônia, destacando a importância de intervenções médicas para tratar esses problemas.

O estudo de Mendes & Martino (2020), teve como objetivo identificar os fatores de estresse do ambiente universitário e suas repercussões na qualidade de sono e qualidade de vida dos estudantes. A pesquisa foi conduzida de forma transversal, comparativa e quantitativa com 55 estudantes do último ano de Enfermagem em uma instituição particular no sul de Minas Gerais. A análise dos dados revelou que o gerenciamento do tempo foi o fator de estresse com maior impacto na qualidade do sono e nos domínios físico, psicológico e ambiental da qualidade de vida dos participantes. Além disso, fatores como insônia foram associados a certas variáveis sociodemográficas, evidenciando que o estresse relacionado ao curso universitário tem um impacto significativo na saúde física e mental dos estudantes.

O estudo conduzido por Perotta et al., (2021), investigou o impacto da qualidade do sono, destruição diurna e privação do sono na saúde mental e na percepção do ambiente acadêmico de estudantes de medicina no Brasil. Os resultados mostraram que 37,8% dos estudantes apresentaram sonolência diurna leve e 8,7% moderada/grave, com maior prevalência entre as mulheres. Estudantes com menor sonolência diurna apresentaram melhor qualidade de vida e percepção do ambiente educacional, além de menores sintomas de ansiedade e depressão. A privação de sono foi associada a maiores chances de sintomas de ansiedade e depressão, além de menor qualidade de vida e percepção negativa do ambiente acadêmico.

Reis et al., (2022), buscou analisar os aspectos cognitivos e comportamentais de estudantes universitários, focando em sua autopercepção de depressão, ansiedade, estresse, uso de substâncias psicoativas e qualidade do sono ao longo da graduação. Os resultados mostraram que, ao longo do curso, o consumo de substâncias psicoativas aumentou para ambos os sexos e o estresse apresentou um aumento na frequência total. Além disso, foi observado um aumento expressivo nos distúrbios do sono, especialmente nos homens, correlacionando de forma fraca com os níveis de depressão, ansiedade ou estresse ao fim do curso. Em relação à qualidade de vida e qualidade do sono, o aumento dos distúrbios de sono, especialmente entre os homens, e a maior percepção de estresse e depressão indicam uma relação direta entre os desafios acadêmicos e o comprometimento do bem-estar geral dos estudantes.

Conduzido por Salinas et al., (2023), o estudo foi realizado com o objetivo de investigar os indicadores de saúde, estilos de vida e qualidade de vida associados à qualidade do sono em estudantes universitários. A pesquisa focou na relação entre comportamentos diários, como atividade física, sedentarismo e consumo de álcool, com a qualidade do sono e os impactos disso na qualidade de vida. Os resultados indicaram que estudantes com má qualidade de sono apresentaram comportamentos mais sedentários, menor atividade física e pior qualidade de vida. Especificamente, estudantes que consumiam álcool três ou mais vezes por semana, passavam mais de seis horas sentados por dia, dormiam menos de 6 horas, relataram mais dores no corpo e tinham menor função social estavam mais propensos a ter má qualidade do sono.

Em termos de qualidade de vida, os resultados sugerem que os estudantes com sono prejudicado também apresentam uma diminuição na função social e maior presença de dores no corpo, o que impacta negativamente seu bem-estar físico e social (Salinas et al., 2023).

Prokeš (2023), investigaram o papel das rotinas de sono e da qualidade do sono como mediadores entre os estressores vivenciados pelos estudantes universitários e sua satisfação com a vida. O estudo aplicou um modelo de equação estrutural em uma amostra de estudantes universitários tchecos, analisando os dados durante a pandemia de COVID-19, com foco no impacto do sono e das rotinas de sono nas percepções de bem-estar e satisfação com a vida.

Os resultados indicaram que fatores como trabalho, contato social e participação em aulas presenciais influenciaram positivamente a satisfação com a vida dos estudantes. A qualidade do sono foi um fator a ser avaliado, pois uma boa qualidade de sono e uma rotina de sono consistente está diretamente associadas a uma maior satisfação com a vida. A análise também revelou que a qualidade do sono mediava parcialmente, tanto de forma direta quanto indireta, a relação entre os estressores e a satisfação com a vida dos estudantes (Prokeš, 2023).

Oliveira et al., (2023) tiveram como objetivo identificar os fatores preditores de insônia em estudantes de Enfermagem de uma universidade pública, considerando variáveis sociodemográficas, de saúde e acadêmicas. O estudo foi realizado com 199 alunos do 1º ao 10º semestre do curso de Enfermagem de uma Universidade Federal no Brasil, no período de junho a setembro de 2019. Os resultados indicaram que fatores como renda, tempo de lazer, horas suficientes de sono, uso de drogas psiquiátricas, plano de saúde, menor sensação de coerência e depressão moderada-grave apresentaram uma associação significativa com a insônia nos estudantes.

Os dados sugerem que a insônia em estudantes de Enfermagem está associada a fatores sociais, individuais, acadêmicos e de saúde, como dificuldades financeiras, falta de tempo para lazer, distúrbios emocionais e o uso de medicamentos psiquiátricos. A qualidade do sono, neste contexto, está relacionada ao bem-estar geral e à qualidade de vida dos estudantes, com um sono inadequado impactando negativamente sua saúde mental e acadêmica (Oliveira et al., 2023).

Pinheiro et al., (2024), buscaram avaliar a qualidade de vida (QV) dos estudantes de dois cursos de Odontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) durante a pandemia da COVID-19. O estudo foi transversal e realizado em maio de 2020, com 396 estudantes participantes. Os resultados indicaram que 64,1% dos estudantes apresentavam-se insatisfeitos com a sua qualidade de vida. Variáveis como renda mensal, religião, qualidade do sono, insônia e prática de atividade física estiveram significativamente associadas à insatisfação com a QV. A insônia e a baixa qualidade do sono, em particular, tiveram forte impacto negativo na qualidade de vida dos estudantes.

O estudo de Pape et al., (2024) teve como objetivo avaliar a eficácia de uma intervenção multicomponente de sono-humor na melhoria do sono e da saúde mental de estudantes universitários com sintomas clínicos de insônia, além de investigar possíveis mediadores desse efeito. Os resultados mostraram uma interação significativa entre o tempo e o tratamento nos sintomas de insônia, com uma redução significativa na gravidade da insônia no grupo SMILE em comparação com o grupo de lista de espera.

Os estudos analisados destacam diferentes perspectivas sobre os impactos do estresse, da qualidade do sono e de fatores relacionados na saúde física e mental de estudantes universitários. Por meio das analises, pode-se observar que o estresse é um fator determinante para a qualidade do sono e, consequentemente, para a saúde mental dos estudantes.

Por exemplo, o estudo de Średniawa et al., (2019) identificaram uma forte associação entre estresse e insônia, enquanto Mendes & Martino (2020) reforçaram que o estresse gerado pelo ambiente universitário impacta negativamente a qualidade do sono, a saúde física e a qualidade de vida. Esse padrão também foi evidenciado por Reis et al., (2022), que verificaram um aumento no estresse ao longo da graduação, correlacionando-o com distúrbios do sono e comprometimento do bem-estar geral.

Por meio das análises os fatores sociodemográficos também apareceram como relevantes nos estudos e foram significativos nos resultados. Oliveira et al., (2023) e Pinheiro et al., (2024) identificaram que variáveis como renda, tempo de lazer e prática de atividades físicas influenciam diretamente a qualidade do sono e a insatisfação com a qualidade de vida.

Em síntese, os estudos evidenciam que a interação entre estresse, insônia e qualidade do sono é um fator-chave para a saúde e a qualidade de vida dos estudantes universitários. Apesar das diferenças metodológicas e contextuais, há consenso sobre a importância de intervenções que promovam o manejo do estresse e a melhoria do sono, visando ao bem-estar acadêmico e geral. Ademais, variáveis individuais e contextuais, como gênero, curso, fase da graduação e o impacto da pandemia, influenciam de maneira significativa as experiências dos estudantes, indicando a necessidade de estratégias personalizadas para atender às demandas específicas desse grupo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste estudo destacou a relevância técnica e científica da qualidade do sono como elemento determinante para a qualidade de vida dos estudantes universitários. O conjunto de estudos analisados aponta, de forma consistente, que o sono inadequado está associado a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão e estresse, além de impactar negativamente o desempenho acadêmico e o bem-estar físico e social. A abordagem multidimensional dessa problemática acentua a necessidade de compreender o sono como um fator central na promoção da saúde e no enfrentamento dos desafios impostos pelo ambiente acadêmico.

Os fatores que contribuem para a má qualidade do sono, como demandas excessivas, dificuldades de gerenciamento do tempo e estressores sociais, criam um cenário de vulnerabilidade entre os estudantes. Essa realidade exige uma atuação institucional mais assertiva, baseada em intervenções que priorizem tanto a saúde mental quanto a física. Medidas como o desenvolvimento de estratégias para a gestão do estresse, incentivo a práticas saudáveis e políticas que promovam o equilíbrio entre vida acadêmica e pessoal são indispensáveis para reduzir os efeitos adversos observados.

Por fim, recomenda-se o desenvolvimento de pesquisas aplicadas, com foco na implementação e avaliação de estratégias de intervenção voltadas para a promoção da qualidade do sono no ambiente acadêmico, podendo incluir a criação de programas educativos, oficinas de manejo do estresse e políticas institucionais que promovam práticas saudáveis, ocasião em que essas iniciativas poderão contribuir de forma direta para a melhoria da qualidade de vida e do desempenho acadêmico dos estudantes.

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1 Discente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. E-mail: seo@faesf.com.br
2 Discente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. E-mail: kalineoliver95@gmail.com
3 Discente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. E-mail: iecc@faesf.com.br
4 Fisioterapeuta. E-mail: fisio.mariaclarasilva@gmail.com
5 Fisioterapeuta. E-mail: Raquellcmello@gmail.com
6 Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. Email: esc@faesf.com.br
7 Doutorando em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Piauí – E-mail: mayrondcf@gmail.com
8 Mestra em Biotecnologia em Saúde Humana e Animal pela Universidade Estadual do Ceará – E-mail: gdms@faesf.com.br
9 Fisioterapeuta. E-mail: mouraodeany@gmail.com
10 Docente do curso de Fisioterapia da Faculdade de Educação São Francisco – FAESF. Email: nds@faesf.com.br