O EFEITO DA MOBILIZAÇÃO PRECOCE EM PACIENTES PÓS-AVC

THE EFFECT OF EARLY MOBILIZATION ON POST-STROKE PATIENTS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202412091517


Divina Carla Osorio de Farias1
Geisvania Hatelley Maciel Santos1
Kaline Ribeiro dos Santos1
Jader Rodrigues Figueiredo da Silva2


RESUMO 

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma alteração neurológica de rápido desenvolvimento causada pela interrupção do fluxo sanguíneo em área encefálica exigida. A mobilização precoce visa reduzir o tempo de permanência no hospital ou no leito, buscando acelerar a recuperação das habilidades de locomoção dos pacientes.  Este estudo analisa os efeitos da mobilização precoce em pacientes pós AVC, além de técnicas utilizadas e os resultados obtidos na recuperação funcional. Foi realizada uma revisão sistemática da literatura em bases como PubMed, Scielo e BVS, com recorte temporal de 2014 a 2024. Os critérios de inclusão restringiram a análise a estudos completos que abordassem diretamente a mobilização precoce no pós-AVC. Dos 513 artigos inicialmente identificados, 13 foram incluídos na análise final. Na maioria dos estudos incluídos observou-se que a mobilização precoce pode reduzir o tempo de internação e melhorar a mobilidade funcional, embora a eficácia varie conforme a técnica aplicada, a intensidade e o tempo de início da intervenção. Técnicas como mobilização ativa-assistida e fisioterapia convencional associada a bandagens funcionais mostraram-se seguras e eficazes na recuperação de pacientes. Conclui-se que intervenções precoces, quando adequadamente aplicadas, podem otimizar a recuperação funcional e a qualidade de vida. 

Palavras-Chave: Mobilização Precoce. Acidente Vascular Cerebral. Reabilitação Funcional. 

ABSTRACT 

Stroke is a rapidly developing neurological disorder caused by the interruption of blood flow to the required brain area. Early mobilization aims to reduce the length of hospital stay or bed rest, seeking to accelerate the recovery of patients’ locomotion abilities. This study analyzes the effects of early mobilization in post-stroke patients, in addition to the techniques used and the results obtained in functional recovery. A systematic review of the literature was carried out in databases such as PubMed, Scielo and BVS, with a time frame from 2014 to 2024. The inclusion criteria restricted the analysis to complete studies that directly addressed early mobilization in poststroke patients. Of the 513 articles initially identified, 13 were included in the final analysis. In most of the included studies, it was observed that early mobilization can reduce the length of hospital stay and improve functional mobility, although the effectiveness varies according to the technique applied, the intensity and the time of initiation of the intervention. Techniques such as active-assisted mobilization and conventional physiotherapy associated with functional taping have proven to be safe and effective in patient recovery. It is concluded that early interventions, when properly applied, can optimize functional recovery and quality of life. 

Keywords: Early Mobilization. Stroke. Functional rehabilitation. 

INTRODUÇÃO 

De acordo com Mendes (2016) “O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma alteração neurológica de rápido desenvolvimento causada pela interrupção do fluxo sanguíneo em área encefálica exigida”. Essa condição apresenta uma variedade de sintomas que podem mudar dependendo da parte do cérebro afetada. Os sintomas incluem uma ligeira paralisia ou fragilidade num lado do corpo, dificuldade em falar, compreender ou se expressar, visão turva, confusão e desequilíbrio. 

A incidência do Acidente Vascular Cerebral (AVC) reflete uma preocupação complexa que vai além das estatísticas de saúde pública. “A Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares enfatiza que casos sequenciais de AVC, independentemente da idade ou sexo dos indivíduos, transcendem a mera estatística, constituindo um impacto substancial tanto em termos econômicos quanto sociais” (Carvalho, 2014). 

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é uma das principais causas de mortalidade e incapacidade no mundo, afetando anualmente cerca de 15 milhões de pessoas, das quais 5 milhões morrem e outras 5 milhões ficam permanentemente incapacitadas. No Brasil, o AVC é responsável por aproximadamente 100 mil mortes por ano, configurando-se como a segunda maior causa de óbito no país. Estudos indicam que a mobilização precoce em pacientes pós-AVC tem potencial para reduzir as complicações associadas à imobilidade, como trombose venosa profunda e pneumonia, que são frequentes em até 60% dos casos em ambiente hospitalar (Destro et al., 2022). 

Além disso, evidências sugerem que a introdução de atividades funcionais nas primeiras 24 a 48 horas pode diminuir o tempo de internação em até 20%, contribuindo para uma recuperação mais eficiente e menos onerosa aos sistemas de saúde. Essas estatísticas reforçam a importância de implementar estratégias de mobilização precoce como parte dos protocolos de reabilitação pós-AVC (Anjos et al., 2021). 

No âmbito dos fatores de risco para o AVC, é dividida em dois tipos de fatores de risco: os modificáveis e os não modificáveis. “Os fatores de riscos modificáveis, como hipertensão, fibrilação atrial, diabetes mellitus, tabagismo e dislipidemias, desempenham um papel significativo na predisposição ao AVC”. E existem os fatores não modificáveis como “sexo, idade, hereditariedade e localização geográfica”, que apesar de não serem suscetíveis a alterações, desempenham um papel igualmente crucial no desenvolvimento dessas condições cerebrovasculares (Rodrigues et al., 2017). 

De acordo com Silva et al. (2022) o AVC causa alterações motoras, sensoriais e cognitivas, limitando movimentos e velocidade de movimentos motores dos pacientes, como a marcha e o equilíbrio. 

Mateus et al. (2021) mostra que, a mobilização precoce visa reduzir o tempo de permanência no hospital ou no leito, buscando acelerar a recuperação das habilidades de locomoção dos pacientes. No entanto, a falta de uma padronização em relação à frequência, intensidade e tipo de exercícios, assim como o momento ideal para iniciar a intervenção, faz com que os resultados desse método variem. Nesse contexto, a pesquisa teve como foco analisar os efeitos da mobilização precoce em comparação à terapia convencional em pacientes pós-AVC durante o período de internação. 

Segundo Maia (2015) é de suma importância que tenha o tratamento fisioterapêutico para os indivíduos que tiveram AVC tenham uma reintegração no contexto social, com o auxílio do profissional fisioterapeuta, pois o profissional visa um tratamento que humanizado e adequado que envolva o paciente e sua família, onde o profissional utilizará métodos e técnicas para um diagnóstico e avaliação do paciente, tendo a finalidade de detectar as condições do paciente, para que seja feito um plano de tratamento com métodos e técnicas certas. 

OBJETIVO 

O objetivo deste estudo é analisar o efeito da mobilização precoce em pacientes pós-AVC. 

OBJETIVOS ESPECÍFICOS 

  • Identificar as técnicas de mobilização precoce usadas no tratamento pós- AVC. 
  • Citar os resultados da mobilização precoce sobre a recuperação da mobilidade funcional em pacientes pós-AVC 

JUSTIFICATIVA 

O interesse por investigar o impacto da mobilização precoce em pacientes pós-AVC surgiu a partir das observações realizadas durante as práticas na Clínica Jasmina Bucar, especificamente na disciplina de Neuro Funcional. Nessas experiências, foi evidente que muitos pacientes enfrentavam desafios consideráveis em termos de mobilidade e na execução de atividades cotidianas. Tais dificuldades reforçaram a importância de explorar estratégias terapêuticas que possam atenuar esses déficits e promover uma recuperação mais rápida e eficaz. 

Este estudo busca preencher lacunas no entendimento das melhores práticas para a mobilização precoce, ao apresentar uma análise que pode potencialmente enriquecer a assistência aos pacientes e aprimorar a prática fisioterapêutica. Ao sintetizar informações sobre as intervenções e métodos baseados em evidências, espera-se fornecer um recurso valioso para profissionais da saúde, contribuindo para a reabilitação mais eficaz e o bem-estar geral dos pacientes. 

METODOLOGIA 

Este estudo seguiu uma metodologia de revisão sistemática da literatura com o objetivo de analisar os efeitos da mobilização precoce em pacientes pós-AVC. A pesquisa foi realizada nas bases de dados PubMed, Scielo e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), abrangendo publicações no período de 2014 a 2024, nos idiomas português e inglês. Os descritores utilizados foram: “mobilização precoce pós-AVC”, “reabilitação de pacientes pós-AVC” e “recuperação funcional pós-AVC”. 

Os critérios de inclusão adotados foram: artigos completos que abordassem diretamente a temática da mobilização precoce em pacientes pós-AVC, publicados entre 2014 e 2024. Por outro lado, os critérios de exclusão incluíram: artigos publicados antes de 2014, publicações duplicadas, obras incompletas e estudos que não se relacionassem de forma pertinente à proposta do trabalho. 

O processo de seleção envolveu a triagem de 513 artigos inicialmente identificados (123 do PubMed, 207 do Scielo e 183 da BVS). Após a leitura dos títulos, 100 artigos foram selecionados para uma análise preliminar. Destes, 48 foram excluídos por não estarem dentro do período definido ou por serem duplicados, restando 52 artigos para a leitura dos resumos. Após essa etapa, 39 artigos foram desconsiderados por não se enquadrarem na temática específica do estudo. Assim, 13 artigos foram incluídos na análise descritiva para compor a revisão sistemática. 

Essa metodologia garantiu a seleção criteriosa e abrangente de estudos relevantes, permitindo uma síntese detalhada e baseada em evidências sobre os efeitos da mobilização precoce em pacientes que sofreram AVC. 

RESULTADOS 

Após a análise dos estudos que utilizam a mobilização precoce em pacientes pós-AVC, foram selecionados autores que identificaram efeitos na recuperação dos pacientes pós-AVC. 

No quadro 1 é demonstrado relatos de pesquisa com autores, ano, objetivos, metodologia e resultados, relacionados ao efeito da mobilização precoce na recuperação dos pacientes pós-AVC. 

Quadro 1- Resultados da mobilização precoce sobre a recuperação da mobilidade funcional em pacientes pós-AVC.

Autor e ano Metodologia Objetivo do artigo Resultados 
Bernhardt, J. et al. (2015) Ensaio clínico controlado randomizado, simples-cego e de grupos paralelos em pacientes com AVC isquêmico ou hemorrágico, primeiro ou Comparar a eficácia da mobilização frequente, de dose mais alta e muito precoce com o tratamento usual após o AVC. O estudo randomizado envolvendo 2.104 pacientes, a mobilização precoce foi comparada com o tratamento usual (tradicionalmente iniciado mais tarde (> 24 h), com atividade fora da cama menos frequente e de menor intensidade). No grupo de mobilização precoce, 92% dos pacientes foram mobilizados dentro de 24 horas após o AVC, 
recorrente, que preencheram os critérios fisiológicos foram aleatoriamente designados (1:1), por meio de um procedimento de randomização em bloco gerado por computador baseado na web (tamanho do bloco de seis), para receber apenas os cuidados usuais da unidade de  AVC ou mobilização muito precoce, além dos cuidados usuais.   enquanto 59% dos pacientes no grupo de tratamento habitual receberam uma intervenção dentro desse período. Iniciando nas primeiras 24 horas e tem como principal objetivo as atividades sentado, em pé e deambulação. Sendo no mínimo três sessões adicionais fora da cama. O período de intervenção durou 14 dias ou até a alta. E se dividiu em grupo controle e grupo intervenção. Embora a taxa de letalidade aos três meses tenha sido maior no grupo de mobilização muito precoce, nenhuma diferença significativa foi registrada entre os grupos. 
Chippala, P.; Sharma, R. (2016) Ensaio clínico controlado randomizado, cego simples. Avaliar o efeito da mobilização muito precoce no estado funcional após acidente vascular cerebral agudo.  O grupo de intervenção, que recebeu a mobilização precoce, apresentou melhorias significativas nas previsões do Índice de Barthel em comparação com o grupo de tratamento padrão. A melhoria foi observada tanto na alta quanto no acompanhamento de três meses. Na alta, a mudança nas alcançadas foi mais pronunciada no grupo de intervenção (mediana = 35) em comparação com o grupo padrão (mediana = 17,50). Além disso, no acompanhamento de três meses, o grupo de intervenção manteve uma melhoria significativa, com uma mediana de 42,50, enquanto o grupo padrão teve uma mediana de 30. Essas diferenças foram estatisticamente significativas, tanto no momento da alta quanto no acompanhamento. (P<0,001). Esses resultados sugerem que uma mobilização precoce pode ter um impacto positivo no estado funcional dos pacientes Pós-AVC 
Sundseth, A. et al. (2014) Estudo prospectivo, randomizado e controlado com avaliação de desfecho cega com pacientes hospitalizados dentro de 24 horas do início O objetivo do estudo foi comparar as proporções de pacientes com uma pontuação modificada na Escala de Rankin ≤2 avaliada 3 meses após o O estudo onde, 27 pacientes foram mobilizados dentro de 24 horas após a internação, enquanto 25 pacientes foram mobilizados entre 24 e 48 horas após a internação. O tempo mediano para a primeira mobilização foi de 7,5 horas (com intervalo interquartil de 2,5 a 16,3) para o primeiro grupo e 30 horas (com intervalo interquartil de 25,5 a 38,0) 
do AVC designados para 2 grupos; 1 que foi mobilizado dentro de 24 horas da admissão e 1 que foi mobilizado de 24 a 48 horas após a admissão. AVC em pacientes mobilizados em 24 horas versus entre 24 a 48 horas de hospitalização, e foi explorado se outros fatores estavam associados a um bom resultado. para o segundo grupo. Em termos de resultados, 55% dos pacientes tiveram um bom resultado, mas nenhuma das pesquisas científicas teve uma associação significativa com esse bom resultado. Esses achados sugerem que, embora a mobilização precoce tenha sido realizada dentro de um intervalo de tempo variável, não houve uma relação clara entre o momento da mobilização e a melhoria funcional dos pacientes. 

Fonte: Elaborado pelos autores, 2024. 

No quadro 2 é demonstrado relatos de pesquisa com autores, ano, objetivos, técnica utilizada e resultados, sobre as técnicas de mobilização precoce em pacientes pós-AVC. 

Quadro 2- Técnicas de mobilização precoce e seus efeitos usados no tratamento pós-AVC.

Autor e ano Técnica de Mobilização Objetivo do artigo Resultados 
Bi-HueiWang et al. (2014) Electroacupuntura, exercícios passivos de amplitude de movimento, alongamentos, fortalecimento, treino de equilíbrio, funcional). Investigar a eficácia clínica da eletroacupuntura (EA) na inibição da espasticidade dos membros superiores em pacientes com acidente vascular cerebral crônico. A combinação de EA de 6 semanas e tratamento de reabilitação padrão reduziu a espasticidade do cotovelo para sobreviventes de AVC crônico. No entanto, nenhum efeito significativo foi observado na espasticidade das articulações do punho. 
Mota et al. (2014) Sessões de fisioterapia convencional (exercícios de alongamento dos músculos flexores e extensores das articulações do punho e cotovelo, 2 séries de 30 segundos; fortalecimento dos mesmos grupos musculares usando halteres, 2 séries de 5 repetições; crioestimulação dos músculos extensores do punho e cotovelo, aplicada por 1 minuto) associada ao uso de bandagens funcionais. Relatar a evolução motora de pacientes com sequelas de AVC que utilizaram bandagens funcionais associadas ao tratamento fisioterapêutico convencional. Houve aumento na amplitude de movimento e na força muscular dos pacientes, e redução na espasticidade flexora do punho e cotovelo. Por outro lado, os escores de funcionalidade mantiveram valores semelhantes antes e após o tratamento, embora os pacientes tenham relatado maior qualidade na realização das atividades. 
Kitaji et al. (2020) Mobilização ativa-assistida precoce Avaliar a segurança e os benefícios da mobilização ativa-assistida precoce em pacientes pós-AVC isquêmico. O estudo concluiu que a mobilização ativa-assistida precoce, quando aplicada sob supervisão, pode melhorar a funcionalidade e promover a recuperação mais rápida em pacientes pós-AVC. Além disso, a 
abordagem demonstrada é segura, com baixo risco de complicações, e favoreceu o retorno mais rápido às atividades diárias dos pacientes. Uma intervenção precoce também demonstrou ser eficaz na redução de complicações associadas à imobilidade, contribuindo para uma recuperação mais eficaz. 
Destro et al. (2022) Mobilização Passiva O objetivo do estudo foi avaliar os efeitos da mobilização passiva precoce em pacientes com sepse, com foco na melhoria da função endotelial e na resposta de reatividade vascular (RRV). O estudo buscou investigar se essa intervenção poderia ser benéfica para pacientes críticos, promovendo a recuperação vascular e funcional. Os resultados demonstraram que a mobilização passiva precoce teve um impacto positivo na função endotelial, com uma melhora significativa na resposta de reatividade vascular dos pacientes. Embora o estudo tenha sido suspenso com pacientes com sepse, os resultados indicam que a mobilização passiva pode ser eficaz em condições de disfunção endotelial, o que pode ser extrapolado para outras condições graves, como pacientes pós-AVC. Esses resultados sugerem que a mobilização passiva pode ser uma intervenção segura e eficaz para promover a recuperação vascular e funcional em pacientes com diversas patologias críticas. 
Mota et al. (2016) Terapia do espelho, associada à fisioterapia convencional (alongamento dos músculos flexores e extensores de punho e cotovelo, pronadores e supinadores). O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito da terapia do espelho, associada à fisioterapia convencional, na amplitude de movimento (ADM), no grau de espasticidade do membro superior afetado e no nível de independência nas atividades de vida diária (AVD) de pacientes crônicos após acidente vascular cerebral (AVC). Foi observado aumento da amplitude de movimento para a maioria dos movimentos analisados após a intervenção; entretanto, apenas os movimentos de extensão do punho e supinação do antebraço apresentaram significância considerável. 

Fonte: Elaborado pelos autores, 2024. 

DISCUSSÃO  

Mateus et al. (2021), relata em seu estudo, resultados divergentes aos de Bernhardt et al. (2015), demonstrando em sua pesquisa que a mobilização precoce é caracterizada pela redução do tempo de imobilização no leito, com o objetivo de promover uma recuperação mais rápida da capacidade de locomoção ou movimentação dos pacientes. No entanto, os resultados dessa prática em indivíduos que sofreram um AVC apresentam variações, uma vez que ainda não há consenso sobre aspectos importantes, como a regularidade, a intensidade, o tipo de exercícios aplicados e o momento ideal para começar essas intervenções. 

Isso encontra eco na literatura de Langhorne et al. (2018), que destacam que a mobilização excessivamente agressiva pode, paradoxalmente, retardar a recuperação funcional e aumentar a taxa de complicações, como quedas e instabilidade cardiovascular. 

A mobilização precoce tem sido amplamente estudada como uma estratégia para diminuir o tempo de hospitalização e melhorar o prognóstico funcional dos pacientes que sofreram AVC. Silva et al. (2022) destaca que, embora a mobilização precoce seja promissora, há controvérsias quanto à padronização dos protocolos, especialmente em relação ao tempo e à intensidade ideais para o início dessa intervenção. Essa falta de consenso reflete a variação nos resultados entre os estudos, indicando que fatores individuais do paciente e do contexto clínico influenciam a eficácia da prática. 

O estudo de Cumming et al. (2017), se alinham aos resultados de Chippala e Sharma (2016), que relataram que a mobilização precoce, quando moderada e bem supervisionada, pode levar a uma recuperação acelerada e a um menor tempo de hospitalização. Esse estudo também apontou que intervenções iniciadas dentro das primeiras 24 horas devem focar em atividades de baixa intensidade para evitar complicações potenciais. 

A falta de correlação significativa entre o tempo da primeira mobilização (dentro de 24 horas ou entre 24 a 48 horas) e a melhoria funcional a longo prazo demonstrada no estudo de Sundseth et al. (2014), pode ser interpretada à luz de estudos de Anjos et al. (2021), que observaram que fatores como a gravidade inicial do AVC, as comorbidades do paciente e a adesão à terapia multidisciplinar podem influenciar mais os resultados do que o momento exato da mobilização. A abordagem de Winstein et al. (2016) sobre reabilitação pós-AVC também reforça a necessidade de intervenções personalizadas e adaptadas às capacidades e limitações de cada paciente. 

Adicionalmente, a revisão de Veerbeek et al. (2018) sobre intervenções precoces e intensivas em AVCs agudos destaca que os protocolos devem ser cuidadosamente estruturados para maximizar os benefícios sem exceder o limite seguro de intensidade. O risco de lesão e de resposta inflamatória exacerbada pode ser aumentado quando a mobilização é realizada sem uma supervisão clínica adequada. Este ponto é sustentado por Rowe et al. (2019), que enfatizaram a importância de um equilíbrio entre atividade e repouso para promover a neuroplasticidade sem sobrecarregar o paciente. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Com base na maioria dos resultados apresentados e discutidos, conclui-se que a mobilização precoce em pacientes pós-AVC é uma estratégia promissora para acelerar a recuperação funcional e melhorar a qualidade de vida desses indivíduos. Os estudos analisados evidenciam que intervenções iniciadas nas primeiras 24 a 48 horas podem contribuir significativamente para a melhora do estado funcional, redução do tempo de hospitalização e prevenção de complicações relacionadas à imobilidade, como trombose venosa profunda e úlceras por pressão.  

Apesar dos benefícios observados, ainda existem lacunas relacionadas à padronização dos protocolos de mobilização precoce, destacando a necessidade de mais estudos que explorem a personalização das intervenções para maximizar os resultados e reduzir riscos. 

Por fim, este estudo contribui para a literatura ao consolidar evidências sobre os benefícios e limitações da mobilização precoce, servindo como uma base para futuras pesquisas e para a prática clínica. Recomenda-se que as intervenções sejam realizadas sob supervisão profissional rigorosa, com protocolos ajustados às necessidades específicas de cada paciente, visando uma reabilitação mais segura e eficiente. 

REFERÊNCIAS 

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 1Estudantes da Faculdade de Floriano. Graduada em Fisioterapia na Faculdade de Floriano. E-mail: Karlladivina2@gmail.com; Hatelleygeisvania@gmail.com; Kalinesantos498@gmail.com
2Professor Orientador do curso de Fisioterapia da Faculdade de Floriano. E-mail: jrf.fisio@outlook.com