LAR, DOCE LAR: LEVANTAMENTO DE DADOS SOBRE O IMPACTO DO AMBIENTE DOMÉSTICO EM FELINOS ACOMETIDOS PELA SÍNDROME DE PANDORA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202412071521


Bianca Lucindo Neves da Silva,
Orientadora: Profª Paula Góes.


RESUMO

A Síndrome de Pandora em felinos domésticos é uma condição complexa e multifatorial que tem despertado crescente interesse devido aos seus desafios diagnósticos e terapêuticos. Este Transtorno do Comportamento Felino (TCF) apresenta uma variedade de sinais clínicos e distúrbios do sistema urinário inferior, impactando significativamente na qualidade de vida dos animais afetados. A compreensão dos fatores genéticos e ambientais envolvidos na síndrome é essencial para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes. O presente trabalho visa realizar um levantamento de dados a respeito do manejo doméstico utilizado por tutores de felinos acometidos pela síndrome de pandora. Identificar, compreender a necessidade de informação e mapear as lacunas de conhecimento relacionadas ao manejo ambiental.

Palavras-Chave: Felis catus, Transtorno do Comportamento Felino (TCF), Distúrbios do sistema urinário inferior, Manejo doméstico, Urina, Cistite Idiopática

ABSTRACT

Pandora Syndrome in domestic felines is a complex and multifactorial condition that has been gaining increasing attention due to its diagnostic and therapeutic challenges. This Feline Behavioral Disorder (FBD) presents a variety of clinical signs and lower urinary tract disturbances, significantly impacting the quality of life of affected animals. Understanding the genetic and environmental factors involved in the syndrome is essential for the development of effective therapeutic strategies. This study aims to conduct a data survey on the domestic management practices used by cat owners dealing with Pandora Syndrome. The goal is to identify and comprehend the need for information and map the knowledge gaps related to environmental management.

Keywords: Felis catus, Feline Behavioral Disorder (FBD), Lower urinary tract disorders, Domestic management, Urine, Idiopathic Cystitis

INTRODUÇÃO

A cada dia, os pets têm sido mais integrados à vida familiar no Brasil, sendo considerados membros essenciais dos lares. Segundo a Pesquisa Radar Pet 2023, cerca de 37 milhões de domicílios no país buscam proporcionar bem-estar e qualidade de vida para seus animais de estimação. Esse movimento reflete a crescente tendência de “parentalidade de pets” (pet parenting), observada em 90% dos tutores de animais de companhia, conforme reportagem da Folha de Pernambuco sobre as mudanças no perfil de relação entre tutores e seus animais.

Nos últimos anos, os gatos têm se tornado a preferência em muitos lares brasileiros, superando os cães em número. Essa mudança está fortemente ligada à personalidade independente dos felinos, que exigem menos supervisão constante e se adaptam melhor a ambientes menores, adequando-se ao estilo de vida moderno. Além disso, devido ao crescimento populacional e ao aumento do custo da moradia, muitas pessoas estão optando por imóveis compactos, seja por compra ou aluguel, situação onde os gatos demonstram se ajustar com mais facilidade do que os cães.

Cervenka (2020) destaca que essa preferência por gatos não é apenas uma questão de conveniência, mas também uma adaptação às novas realidades das grandes cidades, nas quais a relação entre os tutores e seus pets busca um equilíbrio entre cuidados e qualidade de vida.

O distúrbio urinário em gatos, especialmente a eliminação inadequada de urina, pode estar intimamente relacionado a fatores emocionais, como o medo, a ansiedade e a fobia. Gatos que enfrentam altos níveis de estresse ou medo podem começar a urinar fora da caixa de areia, muitas vezes como uma resposta ao desconforto emocional (Beata et al., 2016). Esse comportamento pode ser exacerbado por situações como mudanças no ambiente, a presença de outros animais ou até mesmo visitas ao veterinário. A ansiedade crônica pode também contribuir para problemas como a cistite intersticial felina, uma inflamação dolorosa da bexiga que está frequentemente ligada ao estresse (Westropp et al., 2006).

Quando um gato sente medo ou está ansioso, seu sistema nervoso autônomo é ativado, o que pode afetar a função da bexiga e levar a dificuldades em controlar a eliminação urinária (Bartges, 2012). O comportamento de urinar fora da caixa de areia pode, portanto, ser visto como um reflexo direto da condição emocional do animal. Assim, ao tratar distúrbios urinários em gatos, é crucial considerar não apenas o tratamento médico para a condição física, mas também abordar os fatores emocionais e comportamentais que podem estar desencadeando o problema (Overall, 2013).

A Síndrome de Pandora, um dos maiores desafios no manejo de felinos domésticos, destaca- se pela complexidade de sua fisiopatologia e pelo impacto considerável sobre o bem-estar dos animais e a qualidade de vida no ambiente doméstico. Caracterizada por sintomas urinários sem causa aparente, a síndrome está associada a fatores estressores diversos, incluindo aspectos psicológicos e comportamentais dos gatos, que frequentemente refletem o ambiente onde vivem e o manejo oferecido pelos tutores. Descrita por Teixeira, Vieira e Torres (2019), a síndrome possui uma origem multifatorial, com interações entre os sistemas psiconeuroendócrino e imunológico, resultando em um quadro clínico complexo e frequentemente recorrente, que afeta tanto a saúde física quanto a mental do animal.

O ambiente doméstico desempenha um papel crucial na manifestação e na intensidade dos sintomas da Síndrome de Pandora. Os gatos são animais altamente sensíveis às alterações ambientais, e o estresse crônico ou agudo é um fator significativo para o desenvolvimento e agravamento da síndrome. Estudos indicam que ambientes pouco enriquecidos e estressantes são comuns entre os felinos acometidos, o que reforça a importância de estratégias de manejo que minimizem esses fatores (LIMA et al., 2021). Nesse contexto, a Terapia de Modificação Ambiental Multimodal (MEMO) tem se destacado como uma abordagem promissora no tratamento da Síndrome de Pandora, focando na modificação do ambiente do animal, aliada a intervenções comportamentais e, em alguns casos, terapias psicotrópicas, mostrando benefícios significativos na gestão dos sintomas e na promoção do bem-estar dos felinos.

A síndrome é frequentemente descrita como uma condição psicossomática, onde o estresse age como um gatilho para a ativação anômala do sistema nervoso simpático e do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), resultando em uma série de alterações fisiológicas no organismo do animal. Estudos sugerem que o estresse provoca a liberação de hormônios, como o cortisol, que prejudicam o sistema imunológico e os tecidos da bexiga, promovendo inflamação sem causa infecciosa direta. Lima et al. (2021) destacam que essa resposta psiconeuroendócrina é um dos principais fatores para a fisiopatologia da síndrome, contribuindo para a recorrência e cronicidade dos sintomas.

O diagnóstico da Síndrome de Pandora em felinos é desafiador, uma vez que seus sintomas, como dificuldades urinárias e alterações comportamentais, podem ser confundidos com outras condições médicas, como cistite idiopática felina. A síndrome é, muitas vezes, diagnosticada por exclusão, após descartadas causas infecciosas e outras patologias. Além disso, a interação de fatores genéticos, ambientais e psicológicos torna o diagnóstico ainda mais complexo. A observação atenta do comportamento do animal, aliada a exames clínicos e testes laboratoriais, é essencial para a identificação precisa da condição e para o desenvolvimento de um plano de manejo adequado.

Devido à complexidade genética dos felinos e à variabilidade da síndrome, a identificação de marcadores genéticos específicos é um desafio, mas os avanços na tecnologia genômica têm trazido novas perspectivas sobre os possíveis genes envolvidos na patogênese da doença. Além disso, a interação entre os sistemas imunológico, nervoso e endócrino reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar no tratamento da Síndrome de Pandora em felinos.

Palavras-chave: Síndrome de Pandora, Cistite Idiopática Felina, Estresse Felino, Terapia de Modificação Ambiental Multimodal (MEMO), Fisiopatologia Felina, Manejo Ambiental, Enriquecimento Ambiental, Transtornos Urinários Felinos

OBJETIVO

Este estudo tem como objetivo investigar os aspectos psicológicos e comportamentais envolvidos na Síndrome de Pandora, analisando o impacto do ambiente domiciliar e os fatores estressores na saúde dos felinos acometidos. Além disso, busca-se identificar estratégias de manejo domiciliar que possam contribuir para a redução do estresse, promovendo o bem-estar e melhorando a qualidade de vida dos gatos diagnosticados com a síndrome. A abordagem do estudo visa proporcionar um entendimento aprofundado da relação entre o ambiente e a saúde dos felinos, enfatizando a importância de práticas de enriquecimento ambiental e de técnicas de manejo para o controle dos sintomas associados à síndrome.

MATERIAIS E MÉTODOS
Coleta de Dados

Será elaborado um formulário online contendo perguntas sobre diversos aspectos relacionados ao ambiente em que os gatos vivem, manejo alimentar, práticas de enriquecimento ambiental, e outros fatores relevantes para o bem-estar dos felinos. Este formulário será disponibilizado aos tutores de gatos diagnosticados com Síndrome de Pandora, bem como a tutores de gatos em geral, por meio de plataformas de redes sociais, grupos de apoio a animais de estimação e clínicas veterinárias. A participação será voluntária, com a garantia de anonimato e confidencialidade das respostas, respeitando a privacidade dos tutores.

As perguntas do formulário abordarão questões-chave relacionadas à saúde e ao manejo dos gatos, incluindo:

  • Histórico de saúde do gato: Perguntas sobre o diagnóstico de Síndrome de Pandora, cistite idiopática, distúrbios urinários e outros problemas clínicos, como: “Seu gato foi diagnosticado com a Síndrome de Pandora?” e “Seu gato tem histórico de cistite idiopática ou outros problemas urinários?”
  • Manejo alimentar: Perguntas sobre a dieta e suplementação alimentar, como: “Você segue alguma orientação alimentar específica para o seu gato?”, “Quais tipos de ração seu gato consome?” e “Você já foi orientado por um veterinário a mudar a alimentação devido a questões de saúde?”
  • Enriquecimento ambiental e práticas de manejo: Questionamentos sobre as estratégias utilizadas no ambiente doméstico para reduzir o estresse, como: “Você utiliza recursos de enriquecimento ambiental no seu lar, como brinquedos ou arranhadores?” e “Seu gato tem acesso ao exterior, como passeios ou varandas seguras?” Outras perguntas incluem: “Você implementa mudanças na rotina do gato para reduzir o estresse?”
  • Comportamento do gato: Perguntas sobre mudanças comportamentais observadas no gato antes e após o diagnóstico, como: “Seu gato apresentou mudanças no comportamento, como alteração no apetite, reclusão ou uso inadequado da caixa de areia?” e “Essas mudanças comportamentais ocorreram antes ou depois do diagnóstico médico?”

Além disso, o formulário conterá perguntas eliminatórias para garantir a segmentação dos participantes, como: “Você tem mais de um gato?” e “Seu gato foi diagnosticado com algum distúrbio urinário?”

Análise de Dados

As respostas obtidas serão compiladas e analisadas para identificar padrões, lacunas de conhecimento e áreas de melhoria no manejo ambiental dos gatos com Síndrome de Pandora. A análise será realizada de forma qualitativa e quantitativa.

A análise qualitativa será conduzida com base na metodologia de Análise de Conteúdo de Bardin, que permite categorizar as respostas e identificar temas recorrentes, como as percepções dos tutores sobre o ambiente domiciliar e as práticas de manejo adotadas. As principais categorias a serem analisadas incluem:

  • Histórico de saúde e diagnóstico;
  • Estratégias de manejo e enriquecimento ambiental;
  • Fatores estressores percebidos no ambiente;
  • Comportamento observado nos gatos.

A análise quantitativa será realizada utilizando ferramentas estatísticas adequadas, permitindo a quantificação dos dados, como a prevalência de práticas de enriquecimento ambiental, a frequência de diagnósticos e a relação entre as práticas de manejo e os sintomas comportamentais observados nos gatos.

Essa abordagem metodológica, combinando dados qualitativos e quantitativos, proporcionará uma compreensão abrangente sobre o manejo dos gatos diagnosticados com Síndrome de Pandora e contribuirá para o aprimoramento das estratégias terapêuticas aplicadas a esses felinos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram enviados 50 formulários de pesquisa semiestruturados para tutores de animais, dos quais 33 (66%) foram devidamente respondidos. O questionário continha perguntas eliminatórias, como “Você tem um gato?” e “Você possui mais de um gato?”, para direcionar a análise exclusivamente aos tutores que possuem felinos em casa. Além disso, as questões abordaram práticas específicas de manejo, histórico de saúde, aspectos comportamentais e a percepção dos tutores sobre o ambiente doméstico.

Perfil dos Respondentes

Dos 33 tutores que responderam, 58% (19) afirmaram ter gatos, e entre esses, 42% (8) possuíam mais de um felino. Apenas 36% (12) mencionaram adotar práticas específicas de manejo, como enriquecimento ambiental, enquanto nenhum tutor relatou realizar passeios com seus gatos.

Histórico de Saúde do Animal

Entre os tutores, 9% (3) informaram que um ou mais de seus gatos foram diagnosticados com a Síndrome de Pandora. Esses tutores destacaram a presença de sinais clínicos com maior frequência em gatos jovens a adultos, com possíveis associações ao estresse provocado por fatores ambientais.

Aspectos Comportamentais

Alterações comportamentais foram observadas em 48% dos casos antes do diagnóstico de qualquer condição médica, como:

  • Alterações no apetite: 27%
  • Comportamento recluso: 15%
  • Uso inadequado da caixa de areia: 6%

Esses sinais estão frequentemente relacionados a fatores estressores, como mudanças na rotina e ambientes com pouco enriquecimento ambiental.

Estratégias de Manejo Domiciliar

Embora 36% dos tutores afirmem adotar práticas de manejo específicas, a maioria desconhece a importância do enriquecimento ambiental para reduzir o estresse em felinos. Apenas um tutor relatou seguir integralmente as orientações veterinárias, implementando a Terapia de Modificação Ambiental Multimodal (MEMO). Por outro lado, um tutor relatou interromper o tratamento clínico com psicotrópicos devido à apatia apresentada pelo gato e decidiu não buscar alternativas.

Análise de Dados

Os dados foram analisados com base na metodologia de análise de conteúdo de Bardin, que categoriza e interpreta respostas para identificar padrões e correlações temáticas. As categorias principais incluíram:

  • Histórico de Saúde e Diagnóstico
  • Fatores Comportamentais Observados
  • Estratégias de Manejo e Enriquecimento Ambiental
  • Influência do Ambiente na Saúde do Animal

Essa abordagem destacou que a falta de práticas adequadas de manejo e ambientes pouco enriquecidos estão correlacionados com a intensificação dos sinais clínicos da Síndrome de Pandora. Os dados reforçam a necessidade de conscientização sobre a importância de estratégias preventivas e de manejo adequado em lares com múltiplos gatos.

O diagnóstico da Síndrome de Pandora, conforme os resultados da pesquisa, foi informado por 9% dos tutores, que relataram que seus gatos apresentaram sinais clínicos compatíveis com a condição, como dificuldades urinárias, frequentemente associadas ao estresse. A maioria dos tutores observou mudanças no comportamento de seus felinos antes do diagnóstico, como alterações no apetite e comportamento recluso, o que sugere a presença de fatores estressores no ambiente. A análise revela que a falta de práticas adequadas de manejo e o ambiente pouco enriquecido podem contribuir para a intensificação dos sintomas da síndrome.

Manejo e Enriquecimento Ambiental

Para melhorar o manejo e reduzir os sintomas da Síndrome de Pandora, a implementação de práticas de enriquecimento ambiental e “gatificação” pode ser extremamente benéfica. Algumas estratégias incluem:

  • Arranhadores e postes: Oferecer espaços verticais como prateleiras ou arranhadores para permitir que o gato expresse comportamentos naturais de marcação e escalada.
  • Brinquedos interativos: Estimular a caça e o exercício físico com brinquedos que incentivem a interação, como varinhas com penas ou brinquedos que liberam petiscos.
  • Ambientes de exploração: Criar espaços variados e seguros, com caixas ou túneis, que favoreçam o instinto de exploração do felino.
  • Espaços de descanso elevados: Proporcionar lugares tranquilos e elevados onde o gato possa observar o ambiente de forma segura.
  • Alimentação diversificada: Oferecer diferentes tipos de alimentação, como enriquecimento com brinquedos de alimentação ou dividir as refeições ao longo do dia para estimular o instinto de forrageamento.

Essas práticas ajudam a reduzir o estresse e promovem uma vida mais equilibrada para os gatos, contribuindo para o bem-estar físico e psicológico.

Uso de Medicação Psicotrópica no Tratamento de Comportamentos Patológicos em Gatos

O uso de medicação psicotrópica em gatos para o tratamento de problemas comportamentais deve ser cuidadosamente considerado e não deve ser visto como uma solução imediata ou isolada. A prescrição deve ser precedida de um diagnóstico completo, que inclua exame físico, hemograma e avaliação comportamental, para garantir que a medicação seja indicada apenas para comportamentos patológicos, não sendo aplicada a comportamentos normais que os tutores possam considerar problemáticos. Além disso, a maioria das medicações utilizadas em felinos não possui registro específico para a espécie, sendo, em muitos casos, baseadas na literatura médica humana. Isso exige que os veterinários conheçam bem os medicamentos, seus efeitos e as possíveis diferenças de metabolização entre espécies.

Embora a medicação possa ser uma ferramenta útil, ela deve ser associada a modificações comportamentais e manejo ambiental, com o objetivo de alcançar respostas desejáveis. O tratamento geralmente requer acompanhamento a longo prazo, com avaliações periódicas, incluindo exames de sangue para monitoramento das funções hepática e renal, especialmente em animais mais velhos ou com histórico clínico. É importante que os tutores compreendam que os efeitos da medicação podem levar de 6 a 8 semanas para se manifestar e que a suspensão deve ser gradual para evitar efeitos adversos. Caso o tratamento não apresente resultados, uma revisão do diagnóstico, da medicação e do protocolo de modificação comportamental é essencial para o sucesso terapêutico.

Amitriptilina no Tratamento da Síndrome de Pandora

A amitriptilina, um antidepressivo tricíclico (ATC), tem sido amplamente utilizada no tratamento de problemas comportamentais em gatos, incluindo a síndrome de Pandora. Ela age principalmente bloqueando a recaptação de neurotransmissores como a serotonina e a norepinefrina, melhorando a comunicação entre os neurônios e proporcionando alívio para distúrbios de humor e comportamento.

A amitriptilina é frequentemente indicada para aliviar sintomas relacionados ao estresse e à ansiedade, ajudando a melhorar a qualidade de vida do animal e facilitar o processo de modificação comportamental. A droga atua primariamente ao bloquear a recaptação de serotonina e norepinefrina, neurotransmissores essenciais na regulação do humor e comportamento. Isso resulta em um aumento na disponibilidade desses neurotransmissores nas sinapses, proporcionando uma melhoria no estado emocional do animal e ajudando a controlar os sintomas da síndrome de Pandora.

A dose recomendada de amitriptilina para gatos geralmente varia entre 0,5 a 1 mg/kg, a cada 24 horas, dependendo da gravidade dos sintomas e da resposta clínica do animal. A medicação é geralmente administrada por via oral, na forma de comprimidos, que devem ser dados de forma consistente para garantir a eficácia do tratamento. É importante que o proprietário siga as orientações do veterinário quanto à dose e à frequência de administração, para evitar riscos de overdose ou efeitos colaterais. O tratamento com amitriptilina não oferece efeitos imediatos e pode levar de 4 a 8 semanas para apresentar resultados terapêuticos significativos. Portanto, os proprietários devem ter paciência durante o período de ajuste da medicação e garantir a continuidade do tratamento. Em muitos casos, a amitriptilina pode ser necessária por um período prolongado, especialmente se os sintomas da síndrome de Pandora forem graves ou crônicos. Isso deve ser discutido com o veterinário, já que o controle da dose e a reavaliação regular do estado do gato são essenciais.

É fundamental que os veterinários monitorem o progresso do tratamento, ajustando a dose conforme necessário. A amitriptilina pode ter efeitos colaterais, como sonolência, constipação, boca seca e ganho de peso, que devem ser acompanhados de perto. Além disso, a interrupção abrupta do medicamento deve ser evitada, pois pode causar efeitos rebote. Caso o veterinário decida suspender a medicação, ele deve orientar um desmame gradual.

Embora a amitriptilina seja eficaz no controle de sintomas comportamentais associados à síndrome de Pandora, ela não deve ser considerada a única forma de tratamento. A modificação do comportamento e o manejo ambiental, como a criação de um ambiente seguro e enriquecido, são essenciais para o sucesso do tratamento. O uso da medicação psicotrópica deve ser sempre parte de um plano de tratamento abrangente, que inclua também treinamento comportamental e ajustes no ambiente do gato (LITTLE, 2016, p. 335).

CONCLUSÃO

A Síndrome de Pandora, uma condição complexa de natureza comportamental e fisiológica, apresenta um desafio significativo no manejo de felinos domésticos. Este estudo sublinhou a importância do ambiente e das práticas de manejo, como o enriquecimento ambiental, na mitigação dos sintomas associados a essa síndrome. A análise dos dados demonstrou que a modificação ambiental é uma estratégia eficaz para reduzir o estresse e promover o bem- estar felino, com destaque para a Terapia de Modificação Ambiental Multimodal (MEMO), que combina abordagens comportamentais e ambientais no tratamento da cistite idiopática felina (CIF), uma das manifestações mais comuns da síndrome.

Embora a interação entre os fatores psicológicos, fisiológicos e ambientais seja reconhecida, é essencial que os tutores adotem um manejo adequado, pautado nas evidências científicas disponíveis, para promover uma melhoria substancial na qualidade de vida dos gatos afetados. O ambiente doméstico, quando modificado para atender às necessidades naturais dos felinos, pode contribuir significativamente para a redução de sintomas como a disúria, poliúria e comportamentos de marcação, frequentemente observados nos casos de Síndrome de Pandora. Além disso, a implementação de estratégias como a “gatificação” e o uso de terapias psicotrópicas, sob orientação veterinária, pode complementar o tratamento, oferecendo um cuidado mais holístico e eficaz.

Portanto, este estudo reforça a necessidade de conscientização e educação sobre o impacto do ambiente no comportamento e na saúde dos felinos. A combinação de manejo ambiental adequado com intervenções clínicas baseadas em protocolos veterinários, como a MEMO e o uso controlado de psicofármacos, representa uma abordagem promissora para o tratamento da Síndrome de Pandora.

REFERÊNCIAS

Folha de Pernambuco. De animais de estimação a família: pesquisa identifica novo perfil    de    relação    entre    tutores    e    pets.    Folha    Pet,    2023.    Disponível    em: https://www.folhape.com.br/colunistas/folha-pet/de-animais-de-estimacao-a-familia- pesquisa-identifica-novo-perfil-de-relacao-entre-tutores-e-pets/41444/. Acesso em: 21 nov. 2024.

UNICURITIBA. Maioria dos brasileiros considera seu pet um membro da família. Unicuritiba, 2023. Disponível em: https://www.unicuritiba.edu.br/noticias/maioria-dos- brasileiros-considera-seu-pet-um-membro-da-familia/. Acesso em: 21 nov. 2024.

TEIXEIRA, K. C.; VIEIRA, M. Z.; TORRES, M. L. M. Síndrome de Pandora: aspectos psiconeuroendócrinos. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP, v. 17, n. 1, p. 16-19, 8 maio 2019.

MÜLLER, R. A. M.; RORIG, M. C. de L.; SCHLINDWEIN, J. L.; MÜLLER, R. A. M. Síndrome de Pandora em felinos: revisão de literatura. Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, v. 9, n. 8, p. 2410–2425, 2023. DOI: https://doi.org/10.51891/rease.v9i8.11059.

LIMA, G. R. F.; ARAÚJO, V. M. J. de; FERREIRA, L. D.; ANASTÁCIO, F. D. L.; ALCÂNTARA, L. M.; SOUSA, A. F. B.; CARNEIRO, N. F.; RODRIGUES, V. H. V. Pandora Syndrome: Physiopathogeny and Therapeutic. Research, Society and Development, v. 10, n. 7, p. e58810716953, 2021. DOI: 10.33448/rsd-v10i7.16953.

CUNHA, E. Z. F.; de SOUZA, R. A. M.; GENARO, G. Síndrome de Pandora: qualidade de vida em ambiente doméstico e a saúde mental dos gatos. 2021.

CARDOSO, L. S. B.; LARA, B. P.; DIAS, T. P.; da SILVA, L. F.; CLEFF, M. B. Compreendendo as consequências do diagnóstico assertivo da síndrome de Pandora e a responsabilidade do médico veterinário. Brazilian Journal of Animal and Environmental Research, v. 4, n. 1, p. 564–570, 2021.

LITTLE, Susan. O Gato, Medicina Interna. São Paulo: Roca, 2016