PROPOSAL FOR A SCREENING PROTOCOL FOR OCCUPATIONAL THERAPY CARE IN AN INTENSIVE CARE UNIT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202412071208
Dayane Pinto Santos¹
Priscila Monteiro de Almeida²
Danila Lorena Nunes dos Santos³
RESUMO
O terapeuta ocupacional inserido em uma unidade de terapia intensiva apresenta como um dos objetivos de intervenção diminuir os efeitos negativos decorrentes da enfermidade e da hospitalização que, por vezes, interferem no desempenho ocupacional dos sujeitos. Logo, o artigo apresenta como objetivo identificar qual a classificação de risco/prioridade para o atendimento terapêutico ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso. Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura, descritiva, com abordagem quanti e qualitativa, realizada nas bases de dados eletrônicas Biblioteca Virtual de Saúde, Cadernos de terapia ocupacional, Periódico CAPES, PUBMED e SCIELO, utilizando os seguintes Descritores de Ciências da Saúde: terapia ocupacional, unidade de terapia intensiva e classificação de risco. Foram encontrados um total de 3.626 artigos. Contudo, após a aplicação dos filtros nas bases de dados e após leitura do título e do resumo foram selecionados 11 artigos para a pesquisa, apresentando predominantemente nível de evidência VI. Ademais, as intervenções podem ser realizadas com o usuário, com o cuidador/familiar e/ou com a equipe. O terapeuta ocupacional precisa entender quais são os critérios de indicação e de contraindicação, bem como os critérios de elegibilidade do usuário para o atendimento. Desse modo o terapeuta é um profissional que pode e deve estar inserido dentro desse contexto com o intuito de intervir nos aspectos motores, cognitivos, sensoriais, bem como na qualidade de vida, sendo que os critérios de elegibilidade podem ser utilizados em um protocolo de triagem para a classificação de elegibilidade/risco para o atendimento.
Palavras-chaves: terapia ocupacional; unidade de terapia intensiva; classificação de risco.
ABSTRACT
The occupational therapist inserted in an intensive care unit presents as one of the intervention objectives to reduce the negative effects resulting from illness and hospitalization, which sometimes interfere with the subjects’ occupational performance. Therefore, the article aims to identify the risk/priority classification for occupational therapeutic care in an adult and elderly intensive care unit. This is a descriptive literature review research, with a quantitative and qualitative approach, carried out in the electronic databases Virtual Health Library, Occupational Therapy Notebooks, CAPES Journal, PUBMED and SCIELO, using the following Health Sciences Descriptors: occupational therapy, intensive care unit and risk classification. A total of 3.626 articles were found. However, after applying the filters in the databases and after reading the title and abstract, 11 articles were selected for the research, predominantly presenting level of evidence VI. Furthermore, interventions can be carried out with the user, the caregiver/family member and/or the team. The occupational therapist needs to understand the indication and contraindication criteria, as well as the user’s eligibility criteria for care. In this way, the therapist is a professional who can and should be inserted within this context with the aim of intervening in motor, cognitive, sensory aspects, as well as quality of life, and the eligibility criteria can be used in a screening protocol to classify eligibility/risk for care.
keywords: occupational therapy; intensive care unit; risk classification.
1 INTRODUÇÃO
A terapia ocupacional é uma profissão do âmbito da saúde, da educação e social, que possui diversas áreas de atuação, apresentando o desempenho nas ocupações como núcleo da profissão (COFFITO, [s.d.]). Contudo, sua origem se deu no campo da saúde no século XX, nos Estados Unidos, mediante consequências da 1ª Guerra Mundial. Foi nesse período que soldados apresentaram diversas limitações físicas e psíquicas, que afetavam e dificultavam a realização das ocupações, especificamente, as atividades de vida diária (Lima, 2021). No Brasil, a terapia ocupacional começou a ser difundida em 1956 através de cursos na Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro e, em 1957, no Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, apresentando-se com abordagem focada na reabilitação. Contudo, ao longo dos anos e, principalmente, com a influência da reforma psiquiátrica, na década de 70, a terapia ocupacional passou a intervir também com abordagens voltadas para a saúde mental (Galheigo et al., 2018).
Mediante os avanços no campo de atuação da terapia ocupacional, o Conselho Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional (COFFITO) busca estabelecer e divulgar resoluções que formalizem e, potencializem, a prática do terapeuta ocupacional em uma ou mais áreas de atuações. Um exemplo disso é a resolução N° 429 de 08 de julho de 2013, que reconhece a atuação da terapia ocupacional em Contextos Hospitalares, apresentando as seguintes áreas de atuação: intra-hospitalar, extra-hospitalar e cuidados paliativos (COFFITO, 2013). Ademais, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), mediante a resolução N° 7, de 24 de fevereiro de 2010, inclui o terapeuta ocupacional na composição da equipe multiprofissional dentro da unidade de terapia intensiva (ANVISA, 2010).
Contudo, a participação de terapeutas ocupacionais dentro do contexto hospitalar no Brasil ainda é pouco explorada. Sob o ponto de vista de duas pesquisas realizadas nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, no ano de 2016 e 2018, respectivamente, foi mapeado a quantidade e a área de atuação de terapeutas ocupacionais, sendo a parcela de profissionais formados e inseridos no contexto hospitalar representada por aproximadamente 9,1% no Estado do Paraná e 1,5% no Estado do Rio Grande do Sul, representando uma das menores porcentagens encontradas. Ademais, as pesquisas evidenciaram a saúde mental como área de atuação com a maior porcentagem, sendo aproximadamente 30 % em ambas as pesquisas. (Bombarda et al., 2016; Mariotti et al., 2016; Graeber e Borges, 2018). Dessa maneira, percebe-se a distribuição irregular de terapeutas ocupacionais no mercado de trabalho, ocasionando a escassez de profissionais em algumas áreas de atuação, como, por exemplo, no contexto hospitalar.
O contexto hospitalar atende a demandas de alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS), sendo as Unidades Básicas de Saúde a sua principal porta de entrada. Ademais, os hospitais possuem alas que dividem os usuários ali inseridos de acordo com quadro clínico e nível de complexidade. Uma dessas alas é a Unidade de Terapia Intensiva, podendo ser neonatal, infantil, adulto e idoso. A Unidade de Terapia Intensiva surgiu e permanece até os dias atuais com o objetivo de ofertar suporte integral com a presença de tecnologias duras, de alta complexidade, para usuários que estão em estado crítico/grave, com risco iminente de morte, necessitando de cuidados específicos e intensivos, configurando-se como um ambiente tenso, traumatizante, com alta incidência de sofrimento, físico e psíquico, e que altera a funcionalidade dos usuários. Desse modo, é necessário a presença de profissionais qualificados, com habilidades e conhecimentos técnicos e práticos, para atender esse determinado público (Bombarda et al., 2016; Okuma et al., 2017).
Dessa maneira, o terapeuta ocupacional dentro do contexto hospitalar, inserido em uma unidade de terapia intensiva, apresenta como um dos objetivos de intervenção diminuir os efeitos negativos decorrentes da enfermidade e da hospitalização que, por vezes, interferem no desempenho ocupacional dos sujeitos decorrentes da ruptura do cotidiano e, consequentemente, das ocupações. Outrossim, além de intervir nas eventuais dificuldades e déficits, o profissional poderá atuar considerando e utilizando as potencialidades presentes nos usuários (Okuma et al., 2017).
Contudo, para desenvolver o plano de intervenção, é necessário que seja realizada a avaliação do sujeito e, se necessário, podem ser utilizadas escalas/protocolos/documentos de caráter avaliativos. De acordo com a Associação Americana de Terapia Ocupacional – AOTA (2020, pág. 22-24), o processo de avaliação é dividido em três partes, a primeira corresponde à coleta de informações do perfil ocupacional, a segunda à análise do desempenho ocupacional e a terceira à síntese do processo de avaliação, porém, a AOTA não dispensa a utilização de outros documentos que auxiliem o profissional nesse processo (Gomes; Teixeira; Ribeiro, 2021).
De acordo com Souza et al., (2023), o uso de documentos padronizados auxilia o terapeuta ocupacional na busca da presença e da extensão de possíveis deformidades e alterações funcionais e psíquicas, bem como, demais fatores que influenciam no desempenho ocupacional dos sujeitos, buscando assim, identificar a urgência e a necessidade do atendimento da terapia ocupacional. Tal evento, assemelha-se à classificação de risco imposta pelo Ministério da Saúde no SUS pela Portaria N° 2948, de 5 de novembro de 2002. Essa classificação busca identificar os usuários que necessitam de atendimento de maneira imediata, de acordo com o risco do quadro clínico, o grau de risco à saúde e/ou com o nível de sofrimento mediante a realização de uma triagem.
Desse modo, os usuários são classificados através do nível de prioridade organizado por cores, sendo a cor vermelha com alto nível de prioridade, atendimento imediato, cor amarela com médio nível de prioridade, atendimento de urgência, e a cor verde, usuário que não apresenta ainda risco iminente à vida e que poderá aguardar. Tal classificação segue o princípio da equidade, o qual reconhece que todos necessitam de atenção, de forma organizada (Servin et al., [s.d.]).
No entanto, é válido salientar que os termos triagem e avaliação possuem significados diferentes. De acordo com Martins (2019) a triagem apresentará como resultado final a informação se há ou não risco para o desenvolvimento de limitações/alterações nos usuários. Já a avaliação é entendida como algo mais aprofundado que irá possibilitar a realização do diagnóstico. Além disso, é através da avaliação que será possível realizar o(s) diagnóstico(s) e, consequentemente, o plano de intervenção e as intervenções/condutas profissionais (Sasseron, [s.d]).
Diante do exposto, o presente trabalho justifica-se pelo atual cenário da terapia ocupacional no contexto hospitalar, o qual apresenta diversas demandas. Contudo, devido a pouca frequência e permanência de profissionais nesse contexto gera a necessidade de conhecer os critérios de classificação de risco/prioridades para o atendimento terapêutico ocupacional através da triagem, de forma que os usuários que estejam necessitando de atendimento imediato sejam atendidos, proporcionando o acolhimento e a equidade, estabelecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Dessa maneira, o trabalho apresenta como pergunta norteadora “Quais os critérios de priorização para o atendimento terapêutico ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso?” e como objetivo geral identificar qual a classificação de risco/prioridade para o atendimento terapêutico ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso. Visto que, há a presunção de que exista dificuldade em categorizar o usuário com prioridade de atendimento da terapia ocupacional na unidade de terapia intensiva com o público adulto e idoso, em virtude de alta demanda e poucos profissionais no serviço, podendo assim, ocasionar dificuldades em priorizar o atendimento, bem como aumentar o tempo de espera do usuário e a sobrecarga profissional.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de revisão integrativa de literatura, descritiva, com abordagem quanti e qualitativa, apresentando como objetivo geral identificar qual a classificação de risco/prioridade para o atendimento terapêutico ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso. Ademais, de acordo com Mendes et al., (2019), a revisão integrativa (RI) é uma forma de pesquisa que analisa e sintetiza as informações através de um processo organizado e minucioso, devendo seguir as seguintes etapas: elaboração da pergunta da revisão; busca e seleção dos estudos; extração de dados dos estudos; análise crítica dos estudos incluídos na revisão; síntese dos resultados encontrados e a apresentação dos resultados. Além disso, a pesquisa com essa metodologia pode contribuir com a oferta de novos ensinamentos e sugestões presentes e guiados em resultados de pesquisas, contribuindo para a prática clínica e para a identificação da necessidade do conhecimento sobre determinada temática, direcionando assim a elaboração de novas pesquisas (Mendes et al., 2019)
A análise crítica dos artigos aconteceu por meio da classificação do nível de evidência das autoras Melnyk e Fineout-Overholt (2022). As autoras apresentam VII níveis de evidências, sendo o nível I relacionado a pesquisas com alto nível de evidência e o nível VII a pesquisas com baixo nível de evidência. Desse modo, as autoras realizaram a seguinte definição: Nível I – evidência de revisão sistemática ou meta-análise de ensaios clínicos randomizados controlados; Nível II – evidência de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; Nível III – evidência de ensaios clínicos bem delineados sem randomização; Nível IV – evidência de estudos de coorte e de caso controlado bem delineados; Nível V – evidência de revisão sistemática e de estudos descritivos e qualitativos; Nível VI – evidência de um único estudo descritivo ou qualitativo; Nível VII – evidência de opinião de autoridades e/ou relatório de comitês de especialidades (Adaptado das autoras Melnyk e Fineout-Overholt, 2022).
Já a busca dos dados dessa pesquisa ocorreu em bases de dados eletrônicas, as quais foram escolhidas por serem consideradas as mais conhecidas no meio acadêmico para a área de interesse da pesquisa, aumentando assim a probabilidade de haver artigos relacionados com a temática. Sendo assim, após a definição dos descritores e dos critérios de inclusão e exclusão, a busca dos artigos aconteceu nos meses de abril e maio de 2024 nas seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Cadernos de Terapia Ocupacional (UFSCAR), Periódico CAPES, PUBMED e Scientific Electronic Library Online (SCIELO).
Para a busca nas bases de dados foram utilizados os seguintes Descritores de Ciências da Saúde (DeCS): Terapia Ocupacional; Unidade de Terapia Intensiva; Classificação de Risco. Contudo, é importante frisar que o descritor Unidade de Terapia Intensiva apresenta como termo alternativo Terapia Intensiva. Desse modo, tais palavras chaves foram combinadas com os operadores booleanos and e or. As combinações dos DeCS deram-se da seguinte forma: terapia ocupacional and terapia intensiva; terapia ocupacional and classificação de risco; terapia ocupacional and terapia intensiva or classificação de risco.
Além disso, foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: artigos encontrados nas bases de dados definidas acima; apresentar ao menos duas das palavras chaves citadas; artigos do período de 2019 a 2024; com público-alvo adulto e/ou idoso; nos idiomas em português, inglês e espanhol. Já como critérios de exclusão, tivemos os artigos que não abordem o contexto hospitalar; artigos que não abordem intervenções do terapeuta ocupacional; artigos pagos, incompletos e duplicados.
Desse modo, a seleção inicial dos artigos foi realizada mediante a aplicação dos critérios apresentados acima através dos filtros disponibilizados pelas plataformas/bases de dados, como ano (2019-2024), idioma (português, inglês e espanhol), temática/assunto principal (terapia ocupacional e ou terapia intensiva), artigo completo e artigo disponível. Após a seleção inicial, os artigos passaram pela seleção final através da análise de conteúdo, que foi realizada mediante a leitura do título e do resumo.
Em seguida, os artigos passaram pela leitura completa com o objetivo de serem discutidos e também classificados de acordo com os níveis da análise clínica fundamentada pelas autoras Melnyk e Fineout-Overholt (2022), já citados anteriormente. Outrossim, para melhor visualização da discussão dos artigos, foi realizada uma divisão em 4 temáticas com o intuito de que sejam alcançados os objetivos específicos e, consequentemente, o objetivo geral da pesquisa.
As temáticas abordadas e discutidas são: perfil do estado clínico dos usuários atendidos por terapeutas ocupacionais em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso; critérios de elegibilidade para o atendimento da terapia ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso; principais condutas/intervenções realizadas por terapeutas ocupacionais em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso e por fim elaboração do protocolo de triagem para o atendimento da terapia ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso.
O protocolo tem como objetivo e benefício a unificação da prática dos profissionais que atuam nas Unidades de Terapia Intensiva, contribuindo para a organização da assistência terapêutica ocupacional, bem como, disseminar tal conhecimento sobre as necessidades e elegibilidade do atendimento da terapia ocupacional à equipe multiprofissional. Ademais, tem também o intuito de proporcionar assistência o mais breve possível, quando necessário, para os usuários dentro do contexto hospitalar que são elegíveis para o atendimento terapêutico ocupacional.
Contudo, é válido salientar os riscos envolvidos na pesquisa, sendo esse a possível ausência de referências, porém, ressalto que a pesquisa está de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), respeitando a necessidade e organização das citações e referências. Além disso, considerando que não há envolvimento de seres humanos, isto é, não houve busca em dados primários, destaca-se que o presente estudo não necessitou ser submetido ao comitê de ética, respeitando a resolução Nº 466, de 12 de dezembro de 2012 (Conselho Nacional de Saúde, 2013).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Durante as pesquisas realizadas nas bases de dados foram encontrados os artigos que serão discutidos a seguir, porém, é válido salientar que o número final de artigos traz a reflexão do quanto a prática do terapeuta ocupacional dentro de uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso ainda é negligenciada principalmente quando falamos de documentos avaliativos para esse público. As pesquisas foram realizadas em cinco bases de dados nos meses de abril e maio de 2024, sendo encontrado o seguinte número (nº) de artigos de acordo com as combinações dos DeCS (Tabela 1):
Tabela 1 – Especificação da quantidade de artigos encontrados.
Fonte: elaborado pelas autoras, 2024.
Diante do exposto, conclui-se que através da pesquisa foram encontrados um total de 3.626 artigos. Contudo, após a aplicação dos filtros nas bases de dados (ano, idioma, temática/assunto principal, artigo completo e artigo disponível) o número diminuiu para 271 artigos, sendo desses, 148 artigos correspondentes a base de dados BVS, 25 oriundos da UFSCAR, 43 artigos do Periódico CAPES, 20 da PUBMED e 48 artigos vindos da plataforma SCIELO. Logo, nota-se que a BVS representa aproximadamente 50% dos artigos selecionados com a ajuda dos filtros. Após essa etapa, os artigos passaram por uma leitura detalhada do título e do resumo com o intuito de aplicar os critérios de inclusão e exclusão relacionados à temática desta pesquisa, objetivando incluí-los ou não na pesquisa e, consequentemente, na discussão para elaboração do protocolo.
Dessa maneira, após a leitura, foram selecionados inicialmente 5 artigos da base de dados BVS, 3 artigos da UFSCAR, 5 do Periódico CAPES, 3 da SCIELO e nenhum artigo da PUBMED. Contudo, dos 16 documentos encontrados, haviam 8 duplicações que foram excluídas, logo, para essa pesquisa foram utilizados 11 artigos. Segue abaixo um gráfico especificando/explicando o caminho realizado para a seleção dos artigos até o seu resultado final (gráfico 1).
Gráfico 1 – Seleção dos artigos.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Outrossim, dos 11 artigos selecionados, 5 estão no idioma português, 5 em inglês e 1 em espanhol. Ademais, 27,27% (3 artigos) desses achados são revisões, outros 36,36 % (4 artigos) são estudos transversais, 18,18% (2 artigos) são relatos de experiência e os demais 18,18% (2 artigos) são classificados como editorial e pesquisa de ação. Portanto, classificando os artigos de acordo Melnyk e Fineout-Overholt (2022), essa pesquisa tem predominantemente nível de evidência VI, visto que há uma maior quantidade de artigos nessa classificação, porém, é válido salientar que também está inserido nessa pesquisa artigos de nível de evidência que vão deste o IV até ao VII. Segue abaixo os artigos organizados por ordem alfabética do título, bem como, com demais informações, como autores, metodologia e nível de evidência (Tabela 2).
Tabela 2 – Especificações dos artigos selecionados.
TÍTULO | AUTORES | METODOLOGIA | NÍVEL DE EVIDÊNCIA |
A atuação do terapeuta ocupacional em Unidade de Terapia Intensiva: uma revisão sistemática. | Bittencourt, Estéfanny da Silva et al. | Revisão sistemática. | V |
Caracterização dos pacientes atendidos pela terapia ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto. | Okuma, Silvia Mayumi et al. | Pesquisa transversal observacional. | VI |
Occupational Therapy in the ICU: A Scoping Review of 221 Documents. | Costigan, F. Aileen et al. | Revisão de escopo. | V |
Occupational therapy service provision in adult intensive care units in Australia: A survey of workload practices, interventions and barriers. | Rapolthy‐Beck, Andrea; Fleming, Jennifer; Turpin, Merrill. | Estudo transversal, sendo uma pesquisa on-line personalizada. | VI |
Occupational Therapy: Essential to Critical Care Rehabilitation. | Margetis, John L. et al. | Editorial. | VII |
Predicting Community Discharge for Occupational Therapy Recipients in the Neurological Critical Care Unit. | Malcolm, Matt P.; Kinney, Adam R.; Graham, James E. | Estudo de coorte transversal retrospectivo. | IV |
Predicting Receipt and Types of Occupational Therapy Services for Patients with Arousal Deficits in the Neuro Critical Care Unit. | Edelstein, Jessica et al. | Estudo transversal retrospectivo. | VI |
Sistematização dos procedimentos para a implementação da comunicação alternativa e ampliada em uma UTI geral. | Coelho, Patrícia Santos de Oliveira et al. | Pesquisa-ação (ação composta de avaliação diagnóstica, orientação da assistência). | VI |
Terapia ocupacional em unidade de terapia intensiva (UTI) adulto privada: relato de experiências. | Garcia, Janaina Moreno. | Relato de experiência. | VI |
Terapia ocupacional em pacientes ingresados en uci con daño neurológico y en estados de mínima conciencia. | Senra, Lucía Ares; Prieto, Carmen Díaz-Mor; Mareca, Rebeca Huerta. | Revisão bibliográfica. | V |
Terapia Ocupacional na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulto e as percepções da equipe. | Bombarda, Tatiana Barbieri et al. | Relato de experiência com análise documental. | VI |
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Além do mais, é importante frisar que durante as buscas nas bases de dados foi notório que existem diversos artigos que abordavam a temática estudada, entretanto, por possuírem acesso privado e/ou necessidade de pagamento, foram excluídos da pesquisa, o que diminuiu o nº da pesquisa. Contudo, apesar das limitações, nota-se, mediante os artigos citados acima, a diversidade e ao mesmo tempo a escassez de artigos dessa temática, sendo necessário mais estudos e, consequentemente, mais publicações sobre a temática.
Outrossim, após a leitura dos 11 artigos selecionados foi realizada a divisão da discussão por temáticas com o objetivo de contemplar os objetivos dessa pesquisa. No entanto, antes de iniciar as temáticas é válido discutir dois assuntos que não serão contemplados posteriormente.
O primeiro assunto está relacionado com os benefícios da terapia ocupacional dentro do contexto de uma unidade de terapia intensiva. De acordo com Bittencourt et al. (2021) e Okuma et al. (2017), a atuação do terapeuta ocupacional em uma unidade de terapia intensiva apresenta como benefícios a prevenção e/ou a redução dos efeitos decorrentes da Síndrome Pós-Cuidados Intensivos (PICS), do isolamento social causado durante o período de internação, da privação dos aspectos motores, sensoriais e cognitivos, influenciando e ocasionando a aumento de dependência das ocupações e perda da autonomia do usuário.
Logo, a terapia ocupacional apresenta como objetivos centrais alcançar a independência nas ocupações, manutenção/estimulação/desenvolvimento dos aspectos motores, cognitivos e sensoriais, bem como, favorecer conforto e qualidade de vida. No entanto, é válido salientar que as intervenções e os objetivos do terapeuta ocupacional podem variar de acordo com a singularidade do sujeito e com o contexto da UTI em que está inserido o usuário e o profissional (Bombarda et al., 2016).
O segundo conteúdo comum entre os autores, sendo abordado em aproximadamente 45% dos artigos, está relacionado a visibilidade da terapia ocupacional em contextos de unidade de terapia intensiva, sendo destacado a falta de reconhecimento do setor financeiro e da gestão para a aquisição de materiais, além da falta de conhecimento das outras especialidades e da necessidade de pesquisas realizadas e publicadas por terapeutas ocupacionais (Edelstein et al., 2023; Garcia et al., 2023; Senta; Pietro; Mareca, 2014).
Ademais, segundo Margetis et al. (2021) existe pouca disponibilidade de diretrizes baseadas em evidências científicas para a atuação do terapeuta ocupacional, bem como, poucas plataformas exclusivas da terapia ocupacional no ambiente da UTI, fazendo que seja necessário a utilização de plataformas médicas. Tal situação ocasiona dificuldades para a discussão dessa temática e na distinção do papel da terapia ocupacional dentro desse contexto (Biltencourt et al., 2021). Sendo assim, é necessário conhecer o público inserido dentro da UTI para entender as possíveis condutas do terapeuta ocupacional.
3.1 PERFIL DO ESTADO CLÍNICO DOS USUÁRIOS ATENDIDOS POR TERAPEUTAS OCUPACIONAIS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO E IDOSO
Entende-se por unidade de terapia intensiva um ambiente designado para o atendimento de pessoas que estão apresentando instabilidade hemodinâmica ou que apresentam a necessidade de monitorização constante devido às altas chances de evoluir para a instabilidade hemodinâmica e, por conseguinte, ao óbito (Senra; Prieto; Mareca, 2014). Além disso, de acordo com Bombarda et al (2016) e Garcia et al., (2023), as internações em unidades de terapia intensiva adulto e idoso contam com a presença tanto de homens, como de mulheres, com idades que podem variar entre 16 e 101 anos.
Contudo, é válido salientar que possam haver internações em unidades de terapia intensiva adulto e idoso de pacientes com idade a partir dos 13 anos, visto que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) torna explícito que quem tem até 12 anos de idade é considerado criança, logo, o público da faixa etária de 0-12 anos serão atendidos em UTI neonatal ou UTI pediátrica. (Alves, [s.d.]).
Desse modo, considerando tais aspectos, os autores Bombarda et al. (2016), Coelho et al. (2020), Garcia et al. (2023) e Senra, Prieto e Mareca (2016), deixam explícito que as condições mais frequentes encontradas durante as suas pesquisas no contexto de uma UTI são as doenças respiratórias, doenças neurológicas, doenças cardíacas e doenças infecciosas, bem como comprometimentos renais e/ou de demais órgãos, usuários que estejam em pós-operatório que apresentem complicações pós-cirurgia, usuários que apresentem doenças ameaçadoras à vida, como alguns tipos de câncer e usuários que estão inseridos no processo de cuidados paliativos.
Outrossim, em 5 dos 11 artigos encontrados relataram que os usuários internados/hospitalizados na unidade de terapia intensiva poderiam apresentar o uso da ventilação mecânica mediante intubação orotraqueal ou traqueostomia, uso de sedativos e/ou drogas vasoativas, a presença de úlceras por pressão, edemas, desorientação e baixo nível de consciência. Além do mais, há usuários que estão calmos, alerta e orientados, mas que apresentam restrição ao leito, humor deprimido, ansiedade e demais condições que podem ou não indicar necessidade ao atendimento do terapeuta ocupacional (Bombarda et al., 2016; Coelho et al., 2020; Garcia et al., 2023; Edelstein et al., 2023; Rapolthy-Beck; Fleming; Turpin, 2022).
Embora as pesquisas realizadas pelos autores Bittencourt et al. (2021), Coelho et al. (2020), Costigan et al. (2019), Margetis et al. (2021) e Senra, Prieto e Mareca (2014), foquem ou reconheçam que aspectos/domínios motores são os mais prevalentes nas intervenções da terapia ocupacional, os autores Bittencourt et al. (2021) e Okuma et al. (2017), pontuam que a atuação da Terapia Ocupacional em uma UTI Adulto e idoso não se limita aos aspectos motores e enfatiza que usuários em ventilação mecânica, sedados, com limitações para realizar a comunicação efetiva, apresentando delirium e/ou desorientação, agitação psicomotora, prejuízos cognitivos e/mentais e na qualidade de vida também são elegíveis para a atendimento da terapia ocupacional, apresentando demandas que são alvos de intervenção para melhora do usuário.
Ademais, de acordo com Coelho et al. (2020), usuários internados em uma UTI necessitam de monitorização contínua, medicações específicas para manter a funcionalidade vital, bem como de procedimentos de suporte avançado de vida, que também podem ser chamados de medidas/intervenções invasivas, como a intubação orotraqueal e/ou traqueostomia, utilização de ventiladores mecânicos, sondas, cateter arterial, bombas de infusão e dentre outras.
A monitorização contínua, relatada de maneira mais específica pelos autores Bittencourt et al. (2021) e Coelho et al. (2020), é realizada na UTI por meio de dispositivos/equipamentos/exames que buscam identificar e monitorar os parâmetros hemodinâmicos que contemplam informações relacionadas a frequência cardíaca; pressão arterial e/ou pressão arterial média; saturação; temperatura, assincronia do ventilador, hemorragia ativa, exames físicos, exames laboratoriais, dentre outros. Tal monitorização é essencial para que os profissionais acompanhem a evolução dos usuários e tomem condutas de acordo com a necessidade de cada um (Bittencourt et al., 2021).
Tais equipamentos/dispositivos de alta tecnologia e que são essenciais para a manutenção vital dos usuários são chamados de tecnologia de ensino dura. Há três tipos de tecnologia de ensino: a tecnologia leve, leve-dura e dura. A tecnologia dura já foi citada acima. A tecnologia leve é definida como o uso da interação interpessoal do profissional com o usuário, família e/ou equipe. O uso dessa tecnologia possibilita que a humanização seja inserida no processo do cuidado e que intervenções relacionadas ao acolhimento, orientação e educação familiar e do paciente ocorram. Já a tecnologia leve-dura é caracterizada pelo o uso do conhecimento científico de maneira organizada, essa tecnologia é observada no raciocínio clínico do profissional (Fernandes et al.).
3.2 PRINCIPAIS CONDUTAS/INTERVENÇÕES REALIZADAS POR TERAPEUTAS OCUPACIONAIS EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO E IDOSO
Durante a análise dos artigos foi notado que em mais de 80% dos artigos (nº 9 artigos) foram abordadas as principais intervenções realizadas pelos terapeutas ocupacionais, sendo essas intervenções realizadas de maneira solo ou em conjunto com outro profissional, podendo ser voltadas para o usuário, cuidador/familiar e/ou para equipe. Além disso, nos dois artigos elaborados pelos autores Bombarda et al. (2016) e Rapolthy-Beck, Fleming e Turpin (2022), foi acrescentado também a percepção da equipe sobre a terapia ocupacional, o que possibilitou o aumento do número de intervenções realizadas pelo terapeuta.
Sendo assim, as intervenções aqui expostas serão divididas em três categorias de acordo com o público alvo da intervenção: intervenções para o usuário, para o cuidador/familiar e para a equipe. Ademais, dentro da categoria intervenções para o usuário haverá três subdivisões, sendo essas: aspectos motores, aspectos cognitivos e aspectos sensoriais. Segue as principais intervenções que foram encontradas (imagem 1).
Imagem 1 – Principais intervenções terapêuticas ocupacionais encontradas.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Mediante o mapeamento acima nota-se a ampla oportunidade de intervenções que podem ser realizadas pelos terapeutas ocupacionais em uma UTI adulto e idoso. Contudo, dos 9 artigos que abordam a atuação do terapeuta ocupacional, 5 reconhecem e/ou abordam os aspectos/domínios motores como os mais prevalentes durante as intervenções. Esse dado mostra o quanto ainda é escasso as produções científicas que estejam ligadas a outros aspectos e, consequentemente, contribuem para um entendimento pobre e limitado das intervenções possíveis a serem realizadas pelo terapeuta ocupacional.
Ademais, vale ressaltar que as intervenções citadas acima são apenas as principais e as que mais apareceram durante a leitura dos artigos, do mesmo modo, indago que outras intervenções podem e devem ser realizadas, visto que, é necessário considerar a singularidade e a individualidade do usuário, do profissional, da unidade de terapia intensiva e da equipe profissional que está ali inserida. Um dos exemplos de intervenções que também podem ser realizadas são os atendimentos multiprofissionais e as consultorias a outros profissionais (Gomes; Teixeira; Ribeiro, 2021).
Outra questão importante foi o número de escalas avaliativas que foram apresentadas em mais de 80% dos artigos. Segundo os autores Bombarda et al. (2016) e Senra, Prieto e Mareca (2014), a avaliação da terapia ocupacional se faz necessária para que a partir dela sejam elaboradas e desempenhadas as futuras intervenções, respeitando a singularidade de cada usuário e intervindo de acordo com os objetivos estabelecidos. Além disso, de acordo com Bombarda et al. (2016), é necessário que haja um roteiro avaliativo no setor.
As escalas avaliativas mais citadas foram escala de Glasgow, para avaliar nível de consciência; escala de Ramsay para avaliar nível de sedação; escala de Braden para avaliar risco de lesão por pressão; Mini-Mental Teste para avaliação cognitiva; Medida de Independência Funcional (MIF) para avaliar a funcionalidade; dentre outras (Garcia et al., 2023; Senra; Prieto; Mareca, 2014). Além dessas escalas padronizadas, também foi relatado sobre o uso de avaliações não padronizadas para avaliar habilidades comunicativas, coletar perfil ocupacional, avaliação cognitiva, sensorial, motora e dentre outras. (Coelho et al., 2020).
No entanto, em nenhum dos artigos analisados foram citados ou utilizados documentos de triagem, contudo os autores Coelho et al. (2020), deixaram claro a utilização de uma ficha de registro simples, elaborado por um terapeuta ocupacional, e utilizada durante e após a análise dos prontuários, bem como utilizada durante uma rápida visita beira leito dos usuários para nortear a possibilidade da elegibilidade para a avaliação/atendimento da terapia ocupacional (T.O). Logo, essa situação pode ser classificada como uma triagem, embora não tenha sido nomeada pelos autores. Dessa forma, é necessário entender os conceitos e as características sobre os termos triagem e avaliação, já discutidos na introdução.
Além do mais, é importante ressaltar que a avaliação do usuário internado em uma unidade de terapia intensiva deve ocorrer de maneira periódica, de preferência acontecer diariamente, haja visto que existe a possibilidade de melhora do quadro clínico do usuário, como também a possibilidade do óbito ou da alta, além da ocorrência de novas admissões, isto é, novos usuários ingressarem nesse ambiente, ocasionando assim a alta rotatividade dos usuários (Coelho et al., 2020). Sendo assim, entende-se que a triagem também deve ser realizada diariamente, visto que o processo da triagem antecede a avaliação.
3.3 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE PARA O ATENDIMENTO DA TERAPIA OCUPACIONAL EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO E IDOSO
Para a realização do atendimento da terapia ocupacional em uma UTI é necessário que esse usuário tenha passado por uma triagem que irá avaliar diversos aspectos com o intuito de identificar se o atendimento será benéfico ou prejudicial. Logo, é necessário entender as indicações e contraindicações para conseguir classificar o usuário como elegível ou não para o atendimento.
De acordo com Bittencourt et al. (2021), os parâmetros de indicação e contraindicação são essenciais para determinar o acontecimento, a suspensão e/ou encerramento do atendimento da terapia ocupacional. Além disso, são considerados parâmetros essenciais para indicação e/ou contraindicação as variáveis hemodinâmicas, que englobam frequência cardíaca, pressão arterial, e variáveis respiratórias que especificam informações sobre a frequência respiratória e saturação de oxigênio. Têm-se ainda as informações relacionadas a presença de hemorragias ativas, presença de lesão medular, estado mental e nível de consciência, desconforto/dor e demais condições que possam interferir no estado hemodinâmico do usuário (Bittencourt et al., 2021).
Desse modo, é crucial que o profissional inserido dentro do contexto da UTI tenha conhecimento sobre os valores referências, sinais e sintomas de cada parâmetro com o intuito de classificar o usuário em dois estados: estado hemodinâmico estável, que representa usuário com bons parâmetros, e estado hemodinâmico instável, que representa o usuário com parâmetros alterados e sem condições para o atendimento da terapia ocupacional. Sendo assim, a classificação desse estado do usuário irá determinar qual o caminho o atendimento do terapeuta ocupacional irá tomar, se será postergado, suspenso, interrompido e/ou iniciado (Bittencourt et al., 2021).
Outro fator relevante que precisa ser observado é a idade do usuário, de acordo com pesquisas realizadas pelos autores Edelstein et al. (2023) e Okuma et al. (2017), os usuários atendidos pela terapia ocupacional na UTI representavam em sua maioria a faixa etária de mais de 60 anos e também idade média 58 anos, respectivamente. Segundo a avaliação da pesquisa de Okuma et al. (2017), dificuldades/limitações nos aspectos motores e no quesito independência nas atividades de vida diária (AVD’S) estavam presentes nos usuários internados na UTI independente do sexo, da idade e dos dias de internação, no entanto, quando avaliado os aspectos cognitivos foi observado que os idosos são os mais afetados.
Sendo assim, conclui-se, que usuários idosos apresentam maior predisposição para apresentar limitações e queixas relacionadas aos aspectos cognitivos, sendo esses: déficit cognitivo transitório, queixa de memória recente, presença de delirium e interação social prejudicada e dentre outros (Okuma et al., 2017). Ainda mais, de acordo com as pesquisas realizadas por Edelstein et al. (2023), a idade avançada foi vista como um fator que está ligado à ocorrência de diversas complicações clínicas, tornando o usuário idoso com maior predisposição e/ou indicação para o atendimento da terapia ocupacional. Logo, a idade igual e/ou maior a 60 anos é vista como um dos critérios de elegibilidade para o atendimento da T.O.
Além disso, os autores Edelstein et al. (2023), relatam que um outro fator que foi visto como critério de elegibilidade é a presença de comorbidade. De acordo com Carvalho ([s.d.]), o termo comorbidade é definido como a presença de duas ou mais doenças no usuário que podem afetar a qualidade de vida. É exposto ainda que a presença de comorbidades podem existir em qualquer idade, mas são mais comuns em pessoas idosas.
Outrossim, de acordo com as pesquisas de Okuma et al., (2017), a presença de edema também foi um aspecto a ser avaliado e, quando presente, recebe intervenção da T.O mediante o posicionamento correto, realização de massagens e afins. Ademais, a presença do edema foi observado na maioria dos idosos que passaram por mais de 7 dias de internação. O edema é caracterizado como o acúmulo de líquidos nos tecidos moles apresentando como principais sinais/sintomas dor, sensação de aperto, dentre outros (Thompson; Shea, 2020). Desse modo, fica evidente que a presença de edema também é um critério de elegibilidade para o atendimento da T.O.
Já sobre o critério tempo de internação, é exposto na literatura que o tempo de intervenção prolongado pode trazer limitações funcionais, cognitivas e na qualidade de vida dos usuários, sendo necessário intervenção da T.O (Bittencourt et al., 2021). De acordo com Ferreira et al., (2018), a falta de atividade física, bem como, mobilizações, ocasionam uma perda de massa muscular e força que variam de 1% a 5% por dia de internação na UTI, ou seja, nas primeiras 24 horas já há perdas que interferem nos aspectos motores. Além disso, após sete dias de internação tem-se perda de aproximadamente 20% da força muscular que vai aumentando gradualmente a cada dia e/ou semana de internação na UTI. Essa perda irá impactar diretamente na funcionalidade dos usuários, sendo necessário ser realizado o atendimento da terapia ocupacional o quanto antes (Bittencourt et al., 2021; Okuma et al., 2020).
Por conseguinte, é relevante que seja realizada a avaliação do nível de consciência do usuário, já que quanto menor o nível de consciência, menor será o nível de independência. Existem diversas avaliações disponíveis na íntegra, sendo que cada UTI apresenta qual tipo de avaliação utilizar, porém, as avaliações mais citadas e utilizadas são as escalas de Coma de Glasgow (ECG) e Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS). Ambas as escalas irão pontuar o estado/nível de consciência (Coelho et al., 2020; Garcia et al., 2023; Senra; Prieto; Mareca, 2014).
A escala ECG é utilizada para usuários sem uso de sedativos e a escala de RASS utilizada para usuários em uso de sedativos. Alterações no nível de consciência acendem um alerta para a presença de déficits motores, cognitivos e/ou sensoriais, podendo ser deformidades, alterações físicas, delirium, desorganização sensorial e afins. Desse modo, o nível de consciência é um critério importante a ser avaliado pelo terapeuta ocupacional para a tomada de decisão (Coelho et al., 2020; Garcia et al., 2023; Senra; Prieto; Mareca, 2014).
A escala de Coma de Glasgow (ECG), criada em 1974 por Teasdale e Jennett, é uma das mais utilizadas para avaliar o nível de consciência de usuários graves e traumatizados e busca avaliar aspectos relacionados a resposta ocular, resposta verbal e resposta motora (Silva; Cunha, 2020). Contudo, em 2018 a escala passou por atualizações, apresentando agora um novo item para ser avaliado, a resposta pupilar, bem como a inclusão do critério não-testável (NT), que representa a não avaliação do item (SANAR, [s.d.]).
A ECG irá apresentar 1 como pontuação mínima e 15 como pontuação máxima, sendo 1 representando a ausência das respostas ocular, verbal, motora e pupilar, e 15 representa o nível de consciência adequado/esperado por meio das respostas ocular, verbal, motora e pupilar presentes da maneira esperada (SANAR, [s.d.]). Além disso, pontuação igual ou menor a 8 é considerada risco/indicação para intubação orotraqueal (Sousa; Santos, 2021). Segue a escala ECG adaptada do SANAR ([s.d.]) (tabela 3).
Tabela 3: escala ECG adaptada do SANAR ([s.d.]).
Fonte: Adaptado do SANAR ([s.d]).
Após avaliar e obter a pontuação das respostas ocular, verbal e motora, deve-se fazer a avaliação da resposta pupilar e, em seguida, diminuir o valor total das respostas ocular, verbal e motora pelo valor obtido da resposta pupilar (SANAR, [s.d.]). Segue um gráfico para melhor visualização (imagem 2).
Imagem 2: Passo a passo para o resultado da pontuação final da ECG.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Já a Richmond Agitation-Sedation Scale (RASS), de acordo com Massaud-Ribeiro et al. (2021), é uma escala validada e considerada como uma das melhores escalas para avaliar o nível de sedação em um adulto, logo, o usuário obrigatoriamente deve estar fazendo uso de algum sedativo. Ademais, a aplicação da escala é feita mediante observação e contato com o usuário, o que irá permitir identificar o nível de sedação e, consequentemente, o estado/nível de consciência em que o usuário se encontra (Massaud-Ribeiro et al., 2021).
Essa escala apresenta SCORES que variam de -5 a +4, sendo que cada pontuação representa um tipo de estado em que o usuário pode ser encontrado. Os números negativos, -1, -2, -3, -4 e -5, representam do estado de sonolência até ao estado de coma, respectivamente. Já os números positivos, +1, +2, +3 e +4, expõem os estados de agitação. Por fim, o número 0 condiz com o usuário que está tranquilo, isto é, alerta e calmo (Massaud-Ribeiro et al., 2021). Segue abaixo a RASS (tabela 4), adaptada do artigo de Massaud-Ribeiro et al. (2021).
Tabela 4: Escala RASS.
Fonte: Adaptado de Massaud-Ribeiro et al. (2021).
Além desses critérios citados de forma direta nos artigos, existem outros fatores que merecem atenção do terapeuta ocupacional. Usuários que apresentem risco ou presença de lesão por pressão necessitam ser atendidos pelo T.O com o objetivo de prevenir e/ou evitar agravos. A lesão por pressão (LP) são áreas de necrose em partes moles do corpo que sofrem pressão das proeminências ósseas e/ou áreas externas duras. A idade acima de 65 anos é um fator de risco e o tratamento pode ser feito mediante a utilização de medicamentos e mediante o posicionamento, com uso de dispositivos/órteses de posicionamento realizados pelo T.O, para diminuir a pressão da região acometida (Ayman; Phillips, 2021).
Outro critério de elegibilidade para a T.O é a presença de sequelas neurológicas, as quais ocasionam diversos déficits e perdas funcionais que irão impactar no nível de dependência e, consequentemente, na presença de edemas e LP. Logo, são usuários que se encaixam nos critérios de elegibilidade para o atendimento da T.O (Alves et al., 2020).
O quesito da alta do usuário da UTI para outro setor/enfermaria é opcional, contudo, será abordado como um fator que poderá prolongar ou não o período de internação na UTI, podendo determinar a continuação da aplicação do protocolo de triagem.
3.4 ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO DE TRIAGEM PARA O ATENDIMENTO DA TERAPIA OCUPACIONAL EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA ADULTO E IDOSO
Para que a elaboração do protocolo esteja de acordo com as informações encontradas nos artigos é necessário delimitar quais são as prioridades e/ou os critérios de elegibilidade dos usuários para o atendimento terapêutico ocupacional em uma unidade de terapia intensiva adulto e idoso. Dessa maneira, pode-se concluir que os critérios de elegibilidade/prioridades que serão utilizados no protocolo são: estado hemodinâmico (estável ou instável); idade acima de 60 anos; nível de consciência mediante avaliação com uso das escalas ECG e RASS; nível de dependência; permanência do usuário na UTI; tempo de internação; presença de sequelas neurológicas; presença de comorbidades; presença de edemas; presença de lesão por pressão (LP).
Dessa forma, após discussão das informações e utilização do raciocínio clínico, foi construído o protocolo de triagem (imagem 4) para ser utilizado dentro do contexto de uma UTI adulto e idoso. O protocolo apresenta um campo para o preenchimento de informações pessoais do usuário, como nome, data de nascimento, data e motivo da internação/admissão. Ademais, o protocolo têm 10 questões que devem ser respondidas e pontuadas mediante a marcação de um X no campo correspondente. A aplicação e o preenchimento do protocolo deve ser feito pelo(a) terapeuta ocupacional do setor. O somatório das questões pode variar de 0 até 10 pontos.
O resultado final do somatório representa em qual classificação de risco/prioridade para o atendimento da terapia ocupacional o usuário se encaixa, podendo ser classificado em alto, médio ou baixo nível. O resultado alto nível significa que o usuário necessita de atendimento imediato e não pode ser postergado e/ou negligenciado. O resultado com médio nível representa que o usuário necessita de atendimento, mas não precisa ser realizado de maneira imediata, podendo ser priorizado os usuários com classificação de nível alto. Já os usuários que se encaixarem na classificação de baixo nível não apresentam a necessidade de atendimento imediato ou urgente, podendo ter seu atendimento postergado e serem atendidos após o atendimento dos usuários classificados como alto e médio risco.
A pontuação que representa cada tipo de classificação de risco é a seguinte: classificação de nível alto são usuários que pontuem valor igual ou maior que 7 pontos; classificação de nível médio são usuários que apresentem pontuação entre 6 e 3 pontos; já usuários classificados com risco baixo terão a pontuação que varia de 0 a 3 pontos. Segue abaixo um fluxograma sobre os níveis de classificação de risco/prioridade para o atendimento da terapia ocupacional (fluxograma 1).
Fluxograma 1: Especificação do resultado da pontuação do protocolo.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Sendo assim, o protocolo tende a considerar e avaliar os critérios de elegibilidade já destacados através da leitura do prontuário, da observação do usuário, conversa rápida com o usuário quando possível/necessário e escala avaliativa do nível de consciência. Esses critérios são pontuados no valor 0 ou 1, sendo o valor 0 considerado ausência do critério de elegibilidade/prioridade e 1 considerado a presença do critério. Para pontuar os itens abordados no protocolo é necessário que as respostas obtidas sejam interpretadas e sigam as orientações que serão expostas abaixo.
Os dois critérios que apresentam a capacidade de suspender temporariamente ou definitivamente a aplicação do protocolo de triagem são o estado hemodinâmico e o quesito relacionado a alta do usuário. Sendo assim, o estado hemodinâmico do usuário deve ser pontuado no protocolo com uma das duas respostas possíveis, sendo essas “usuário instável” ou “usuário estável”. Caso o usuário esteja em instabilidade hemodinâmica a aplicação do protocolo de triagem deve ser suspensa e reaplicada novamente após o usuário apresentar-se estável. Já o usuário que se apresentar estável deverá ser pontuado 1 no protocolo e seguir com a triagem.
Para pontuar a pergunta relacionada a alta do usuário será da seguinte forma: caso o usuário esteja com alta confirmada ou alta programada para o dia em que está sendo realizada a aplicação do protocolo de triagem, o mesmo pode ser suspenso, visto que o usuário irá para outro setor/enfermaria/unidade e poderá ser avaliado por outro terapeuta ocupacional caso haja indicação/necessidade. Contudo, caso o usuário não esteja de alta no dia da aplicação do protocolo será pontuado 1 e a aplicação do protocolo seguirá normalmente, pois entende-se que o usuário ainda necessita estar no ambiente de UTI. Segue abaixo uma imagem para esquematizar o conteúdo apresentado acima (imagem 3).
Imagem 3: esquema para pontuar pergunta relacionada a alta do usuário.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Além disso, a idade é vista como fator/critério de prioridade/elegibilidade, que será pontuada considerando a idade cronológica, sendo que usuários com idade igual ou maior do que 60 anos pontuam 1 no protocolo, pois são considerados usuários com maiores chances de apresentarem complicações relacionadas à internação. Já os usuários com idade igual ou menor do que 59 anos irão pontuar 0. Ademais, para pontuar os itens sobre comorbidades, sequelas neurológicas, edema visível em membros (MM) e presença de lesão por pressão será considerado 0 pontos no protocolo caso a resposta seja “não” e 1 ponto caso a resposta seja “sim”, sendo que cada item deve ser observado e pontuado de maneira individual.
Já sobre o tempo de internação, que quanto maior for mais perdas o sujeito terá, é importante que o atendimento ocorra o quanto antes (Bittencourt et al., 2021; Ferreira et al., 2018; Okuma et al., 2020). Desse modo, para a construção e pontuação do protocolo pode ser levado em consideração o tempo médio de internação de cada UTI, sendo pontuado 1 quando os dias de internação do usuário for maior que o tempo médio e 0 quando o usuário estiver dentro do período do tempo médio de internação da UTI em que ele esteja inserido. Exemplo: o tempo médio de uma determinada UTI são de dois dias, caso o usuário que esteja passando pela triagem tenha tempo de internação de um a dois dias ele irá pontuar 0, no entanto, caso o usuário apresente um número igual ou maior do que três dias de internação será pontuado 1 no protocolo. Entretanto, é válido salientar que os autores reforçam que os atendimentos devem iniciar o mais breve possível, sendo viável a adaptação desse critério para pontuar 1 em um tempo menor de internação. No entanto, para esse protocolo será considerado como tempo médio de internação dois dias.
Partindo para as escalas avaliativas GLASGOW e RASS (Massaud-Ribeiro et al., 2021; SANAR, [s.d.]), deverá seguir os seguintes critérios: GLASGOW utilizada para usuários que não apresentem o uso de sedativos e RASS para usuários com uso de sedativos. Essas escalas devem ser consideradas dentro do protocolo da seguinte maneira: quando a escala de GLASGOW pontuar igual a 15 será considerado o número 0 do protocolo, visto que não há alteração nos aspectos visuais, verbais e motores do usuário, apresentando assim o nível de consciência adequado, porém, quando pontuar um valor igual ou menor do que 14 pontos na escala de GLASGOW será pontuado 1 ponto no protocolo. Já na escala de RASS será pontuado o valor 0 no protocolo quando a escala também pontuar 0 e pontuado 1 ponto no protocolo quando o valor pontuado na escala seja diferente de 0. Para visualização, segue abaixo uma imagem explicativa (imagem 3).
Imagem 3: explicação para utilização das escalas de avaliação do nível de consciência.
Fonte: Elaborado pelas autoras, 2024.
Para a avaliação do nível de dependência é necessário que seja avaliado em qual nível de funcionalidade está o usuário em relação às suas atividades de vida diária (AVD’S), sendo essas divididas em: cuidados pessoais (que englobam alimentação; cuidados com a aparência exterior; habilidade de vestir a parte alta do corpo; habilidade de vestir a parte inferior do corpo; utilização do toalete.); controle de esfíncteres (representa controle de bexiga e controle de fezes.); mobilidade/transferência (destinada a transferência do leito, da cadeira, da cadeira de rodas; transferência ao vaso sanitário; transferência para a banheira ou chuveiro.); locomoção (representa deambulação sobre o plano horizontal e subir/descer escadas.); comunicação (envolve compreensão e expressão.); comportamento social (representa interação social, resolução de problemas e memória). Caso o usuário necessite de ajuda parcial ou total para realizar um ou mais desses componentes, devido ao processo de internação, ele será classificado como dependente, caso não apresente a necessidade de ajuda será classificado como independente. (Benvegnu et al., 2008).
Embora a Medida de Independência Funcional (MIF) considere três níveis de dependência, a dependência completa, dependência modificada e independência, no protocolo serão utilizados dois termos, dependência e independência, com o intuito de facilitar a pontuação do protocolo, sendo pontuado 0 para independente e 1 para dependente (Borges et al., 2019). Esse fato foi pensado por levar em consideração que os usuários com dependência modificada e/ou dependência completa precisam de atendimento da terapia ocupacional objetivando estabelecer e/ou possibilitar, quando possível, a independência dos usuários.
Por fim, é válido salientar que o protocolo proposto pode ser adaptado de acordo com a necessidade de cada usuário, de cada unidade de terapia intensiva e/ou de cada profissional, com o intuito de respeitar as singularidades e o contexto em que o mesmo será utilizado. Ademais, é importante ressaltar que esse protocolo é a primeira etapa de um projeto, sendo o próximo passo a validação do mesmo.
Dessa maneira, sendo exposto as orientações e o passo a passo para o uso do protocolo, segue abaixo o protocolo proposto (imagem 5).
Imagem 5: Protocolo de triagem para o atendimento da terapia ocupacional.
Fonte: elaborado pelas autoras, 2024.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A unidade de terapia intensiva é um ambiente complexo que necessita de profissionais qualificados para atender as demandas dos usuários que se encontram com o quadro clínico crítico/grave. Entende-se que os usuários em um ambiente de unidade de terapia intensiva podem apresentar diversas especificidades e podem ser encontrados de diversas maneiras, podendo estarem orientados, desorientados, em uso de sedação, em uso de drogas vasoativas, bem como, utilizando dispositivos invasivos ou não, em monitorização, acompanhados por familiares/cuidadores ou não, dentre outras condições.
Dessa forma, o terapeuta ocupacional é um profissional que pode e deve estar inserido dentro desse contexto com o intuito de intervir nos aspectos motores, cognitivos, sensoriais, bem como na qualidade de vida. Além disso, poderá intervir também com os familiares/cuidadores e com a equipe. Para a atuação do terapeuta ocupacional nesse contexto é crucial que o profissional entenda quais são os critérios de indicação e contraindicação, além de conhecer os parâmetros vitais e quais aspectos/informações/condições devem ser utilizadas para identificar qual usuário está apto a receber o atendimento.
Sendo assim, foram encontrados como principais critérios de elegibilidade do usuário para a realização do atendimento do terapeuta ocupacional o estado hemodinâmico estável, a idade igual/maior de 60 anos, o nível de consciência alterado mediante avaliação com uso das escalas ECG e RASS, o nível de dependência do usuário avaliado através da Medida de Independência Funcional, a permanência do usuário na UTI, o tempo de internação igual ou maior do que três dias, a presença de sequelas neurológicas, a presença de comorbidades, a presença de edemas e a presença de LP.
Por fim, esses critérios de elegibilidade podem ser utilizados em um protocolo de triagem para o atendimento da terapia ocupacional com o intuito de possibilitar a classificação de elegibilidade/risco para o atendimento, podendo ser classificado como alto, médio e baixo risco, com o objetivo de estabelecer uma ordem de prioridade de acordo com as necessidades dos usuários, visto que existem muitas demandas e poucos profissionais da terapia ocupacional inseridos nesse contexto, o que contribui para uma literatura escassa, para a falta de reconhecimento da terapia ocupacional nesse contexto e para dificuldades na discriminação do papel do terapeuta ocupacional em uma unidade de terapia intensiva.
REFERÊNCIAS
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1Pós-graduanda pela Universidade Federal do Maranhão – ORCID ID: 0000-0002-1957-5766. E-mail: daisan1999@hotmail.com
2Mestre e preceptora da Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão.
3Doutora e preceptora da Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão.