CONSUMPTION OF TRADITIONAL AND ELECTRONIC CIGARETTES AND MENTAL HEALTH IN COLLEGE STUDENTS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412060902
Pedro Juliano Pumarega Silva1
Bruna Thamara Gonçalves Fróes2
Pollyana Araujo Peixoto Praes3
Ana Clara de Pinho Celestino4
Marcos Vinícius Macedo de Oliveira5
Resumo
Objetivo: Analisar a prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse em universitários e sua relação com fatores sociodemográficos, autopercepção de saúde e hábitos de vida. Método: Trata-se de um estudo transversal e analítico, envolvendo uma amostra de 350 participantes de diversos cursos de um centro universitário na cidade de Montes Claros-MG. A coleta de dados foi feita mediante questionários, abordando fatores sociodemográficos, fatores clínicos, avaliação da saúde mental e dependência de nicotina. Resultados: Os resultados revelaram alta prevalência de sintomas de estresse (43,76%), ansiedade (54,11%) e depressão (41,9%) entre os universitários. Foi observado que 10,87% dos estudantes são fumantes e a maioria apresenta baixa dependência de nicotina. Desses fumantes 39,02% usam cigarros eletrônicos. Ademais, os estudantes que relataram ter saúde ruim a regular e apresentaram queixas ou problemas de saúde têm maior probabilidade de apresentar sintomas de estresse, ansiedade ou depressão moderados a graves. Conclusão: Concluiu-se que há uma alta prevalência de sintomas de estresse, ansiedade e depressão em todos os cursos universitários estudados, com consumo discreto de tabaco e baixa dependência. Esses resultados ressaltam a importância da maior observação e abordagem desses problemas de saúde mental nesse ambiente.
PALAVRAS-CHAVE:Transtornos de Ansiedade. Estresse Psicológico. Dependência de Nicotina. Sistemas Eletrônicos de Liberação de Nicotina. Produtos do Tabaco.
TRADITIONAL AND ELECTRONIC CIGARETTES CONSUMPTION AND MENTAL HEALTH IN UNIVERSITY STUDENTS
ABSTRACT
Objective: To analyze the prevalence of symptoms of depression, anxiety and stress in university students and their relationship with sociodemographic factors, self-perception of health and lifestyle habits. Method: This is a cross-sectional and analytical study, involving a sample of 350 participants from different courses at a university center in the city of Montes Claros-MG. Data collection was performed using questionnaires, addressing sociodemographic factors, clinical factors, mental health assessment and nicotine dependence. Results: The results revealed a high prevalence of stress (43.76%), anxiety (54.11%) and depression (41.9%) symptoms among university students. It was observed that 10.87% of students are smokers and most have low nicotine dependence. Among these smokers, 39.02% use electronic cigarettes. Furthermore, students who reported poor to fair health and had health complaints or problems are more likely to have moderate to severe symptoms of stress, anxiety, or depression. Conclusion: It was concluded that there is a high prevalence of symptoms of stress, anxiety and depression in all university courses studied, with discreet consumption of tobacco and low dependence. These results highlight the importance of greater observation and approach to these mental health problems in this environment.
KEYWORDS: Anxiety Disorders. Psychological Stress. Nicotine Dependence. Electronic Nicotine Delivery Systems. Tobacco Products.
CONSUMO DE CIGARRILLOS TRADICIONALES Y ELECTRÓNICOS Y SALUD MENTAL EN ESTUDIANTES UNIVERSITARIOS
RESUMEN
Objetivo: Analizar la prevalencia de síntomas de depresión, ansiedad y estrés en estudiantes universitarios y su relación con factores sociodemográficos, autopercepción de salud y hábitos de vida. Método: Se trata de un estudio transversal y analítico, involucrando una muestra de 350 participantes de diferentes cursos de un centro universitario de la ciudad de Montes Claros-MG e. La recolección de datos se realizó mediante cuestionarios, abordando factores sociodemográficos, factores clínicos, evaluación de la salud mental y dependencia de la nicotina. Resultados: Los resultados revelaron una alta prevalencia de síntomas de estrés (43,76%), ansiedad (54,11%) y depresión (41,9%) entre los estudiantes universitarios. Se observó que el 10,87% de los estudiantes son fumadores y la mayoría presenta baja dependencia a la nicotina. De estos fumadores, el 39,02% utiliza cigarrillos electrónicos. Además, los estudiantes que informaron tener una salud de mala a regular y que tenían quejas o problemas de salud tienen más probabilidades de tener síntomas de estrés, ansiedad o depresión de moderados a graves. Conclusión: Se concluyó que existe una alta prevalencia de síntomas de estrés, ansiedad y depresión en todos los cursos universitarios estudiados, con consumo discreto de tabaco y baja dependencia. Estos resultados destacan la importancia de una mayor observación y abordaje de estos problemas de salud mental en este entorno.
PALABRAS CLAVE: Trastornos de Ansiedad. Depresión. Estrés psicológico. Dependencia a la nicotina. Sistemas electrónicos de administración de nicotina. Productos de tabaco.
1 INTRODUÇÃO
Os transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e estresse são prevalentes na sociedade há algum tempo, mas têm ganhado ainda mais prevalência nos últimos anos. Nessa perspectiva, observou-se crescimento global de cerca de 25% desses acometimentos no ano de 2020 (WHO, 2022). Aliado a isso, encontram-se alguns fatores que contribuem para a alta predominância dessas condições, como o baixo investimento em saúde mental e a falta de profissionais da área, especialmente em países em desenvolvimento, como o Brasil (WHO, 2020).
A depressão é uma patologia de causa multifatorial com maior prevalência no sexo feminino, em pessoas de cor branca, com acometimento nos extremos de nível de instrução, ensino superior completo, sem instrução e fundamental incompleto, nas faixas etárias entre 60 a 64 anos, porém pode acometer qualquer faixa etária (BRASIL, 2020). O quadro clínico característico é de tristeza ou anedonia com duração de pelo menos duas semanas. Além desses sintomas, o paciente também deve apresentar humor deprimido, fatigabilidade, distúrbios do sono e apetite, gerando para o indivíduo prejuízo no funcionamento psicossocial ou causar sofrimento significativo. Essa patologia pode ser classificada em leve, moderado ou grave (APA, 2023).
No que tange à ansiedade, trata-se de um sintoma fisiológico, caracterizado como respostas a situações que geram medo e/ou ameaça, tornando-se patológica quando prolongada e desproporcional ao estímulo. Desta forma, essa ansiedade e preocupação excessiva pode estar relacionada a diversas atividades ou eventos e esses sintomas devem estar presentes na maioria dos dias, com duração de seis meses ou mais (APA, 2023). As preocupações também devem estar associadas a três ou mais dos seguintes sintomas: agitação ou sensação de nervosismo ou tensão; cansaço fácil; dificuldade de concentração; irritabilidade; alterações do sono (BRASIL, 2020).
Já o estresse é o resultado de qualquer estímulo físico ou psicológico que interrompa a homeostase. Os estímulos para tal reação, são denominados fatores estressores (de diferentes etiologias), sendo o estresse propriamente dito uma resposta de alterações fisiológicas e comportamentais através da exposição a esse fator (MIFSUD & REUL, 2018). Ademais, o estresse na maioria das vezes é adaptativo e fisiológico, porém quando a atividade estressora é repetitiva ou prolongada, a resposta ao mesmo se torna prejudicial. Por consequência, isso leva a reações desaptativas, como por exemplo transtornos depressivos e de ansiedade, além de patologias cardíacas, mudanças dos hábitos de vida e comprometimento diário (WINSLOW et al., 2023).
Diante disso, percebe-se que a população acadêmica se encontra extremamente susceptível a possíveis fatores desencadeantes de estresse, como a ausência de hábitos alimentares saudáveis, a intensa rotina de estudo, a falta da prática de exercício físico, a cobrança das atividades em curtos períodos e conflitos entre colegas (BEZERRA et al., 2018). Desse modo, essas pessoas estão mais vulneráveis ao acometimento por transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade (KAPLAN & SADOCK, 2017).
A prevalência de sintomas ansiosos e depressivos acomete um pouco mais de 30% dos fumantes. Estudos demonstraram relação direta da prevalência de tabagismo em pacientes com transtornos ansiosos, principalmente entre os transtornos de pânico e agorafobia. Ademais, os sintomas de abstinência podem gerar ansiedade, fato que pode levar ao indivíduo recorrer à substância para alívio sintomático do transtorno, assim, associando ao alívio da ansiedade. Diante disso, essa pessoa pode utilizar esses compostos em situações estressoras, levando a um ciclo (CIANCAGLINI & DE OLIVEIRA JÚNIOR, 2018).
Ademais, outro estudo demonstrou maior prevalência de ansiedade e depressão em grupos de maior dependência à nicotina (ANDRADE et al., 2021). Relacionado a isso, encontra-se o grande aumento do uso de Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF’s), principalmente pela população não tabagista, com destaque entre jovens adultos, contribuindo para o vício à nicotina e, assim, sendo um grande fator de risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade e estresse (MCMILLEN et al., 2015).
O objetivo desse estudo foi analisar a prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse em estudantes universitários e sua relação com fatores sociodemográficos, autopercepção de saúde e hábitos de vida.
3 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal e quantitativo que avaliou a ocorrência de sintomas de depressão, ansiedade, estresse e sua relação com hábitos de vida, percepção da saúde e fatores sociodemográficos de estudantes universitários de Montes Claros/MG. A população é de aproximadamente 3000 estudantes matriculados regularmente no Centro Universitário UNIFIPMoc de Montes Claros-MG, no primeiro semestre do ano de 2023, nos seguintes cursos de graduação: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Direito, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia de Computação, Engenharia de Produção, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Mecatrônica, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Psicologia e Publicidade e Propaganda.
Foi realizada uma amostragem probabilística randomizada, seguindo a proporcionalidade e buscando distribuir os participantes entre todos os cursos de graduação investigados. O cálculo amostral, com nível de confiança estimada em 95% e erro amostral com margem de 5%, indicou a investigação de 350 participantes, sendo esse número sobrestimado, para reduzir a margem de erro. A amostra foi selecionada a partir de um sorteio de turmas da lista de cursos ofertados na instituição. O cálculo foi alcançado a partir da fórmula n= NZ2p(1-p)e2 + Z2p (1-p), em que “n” representa o tamanho amostra, “N” é o tamanho do universo à ser calculado, “Z” é o desvio do valor médio que é aceito para alcançar o nível de confiança, “e” é a margem de erro admitida e “p” é a proporção que se espera encontrar.Foram incluídos apenas acadêmicos maiores de 18 anos, regularmente matriculados. Houve exclusão de participantes com preenchimento incompleto ou incorreto dos formulários de coleta de dados. Não houve exclusão de nenhum participante que apresentava deficiência visual ou motora.
A coleta de dados foi realizada presencialmente no primeiro semestre de 2023, antes ou ao final das aulas dos estudantes, por meio de questionários. Para avaliação dos fatores sociodemográficos, foram obtidas informações das seguintes variáveis: sexo (feminino; masculino), idade (Até 23 anos; Acima de 23 anos), etnia (Branco; Não branco), estado civil (solteiro; casado; divorciado ou viúvo), atual situação de trabalho (Trabalha; Não trabalha), com quem reside (Sozinho; Com amigos ou familiares), área do curso em que está matriculado (Saúde; Humanas; Exatas) e ano que está cursando (Até o 2° ano; Após 2° ano). Os dados de fatores clínicos envolveram a autopercepção do estado de saúde (Bom-excelente; Ruim-regular) e queixas ou agravos existentes: (Não; Sim). Foi questionado se o indivíduo fuma (Não; Sim; Ex-fumante) e o que ele fuma (Cigarro tradicional; Cigarro eletrônico; Outro).
No caso de indivíduos que fumam, a avaliação do grau de dependência de nicotina foi realizada a partir do teste de Fagerström, que avalia os hábitos relacionados à nicotina. Esse teste possui validade e confiabilidade aceitáveis para identificar a dependência da nicotina existente em universitários, fato comprovado em análise psicométrica peruana (ARIAS-GALLEGOS et al., 2018). Ele é composto por 6 perguntas que quantificam a dependência pela soma dos pontos. São atribuídos valores de 0 a 3 para as respostas em duas perguntas ou de 0 a 1 em outras 4, com escore global variando de 0 a 10. Quanto maior o escore, pior a dependência da nicotina: 0-2: muito baixa; 3-4: baixa; 5: média; 6-7: elevada; 8-10: muito elevada. Esses resultados foram agrupados em 2 diferentes grupos, o primeiro engloba a dependência à nicotina muito baixa até baixa e outro com a média até muito elevada.
Já para avaliar a prevalência de sintomas de depressão, ansiedade e estresse, foi utilizada a Escala de Depressão Ansiedade e Estresse 21 (DASS21) adaptada para o português do Brasil, que possui validade e confiabilidade aceitáveis para a identificação desses sinais em universitários de diversas áreas, fato comprovado em análise psicométrica brasileira (MARTINS et al., 2019). Ela é composta por 21 perguntas que avaliam comportamentos e sensações vivenciadas nos últimos sete dias em três áreas: depressão, ansiedade e estresse. São atribuídos valores de 0 a 3 para as respostas, sendo cada área analisada individualmente, somando o escore parcial de 0 a 21. Após essa somatória, o valor encontrado foi duplicado, totalizando o escore final de 0 a 42. Quanto maior o escore, pior é o grau de saúde mental, sendo que na área “depressão” é classificado: 0-9: Normal; 10-13: Leve; 14-20: Moderada; 21-27: Grave; 28+: Extremamente Grave. Na área “ansiedade”: 0-7: Normal; 8-9: Leve; 10-14: Moderada; 15-19: Grave; 20+: Extremamente Grave. Por fim, na área “estresse”: 0-14: Normal; 15-18: Leve; 19-25: Moderada; 26-33: Grave; 34+: Extremamente Grave. Esses resultados foram agrupados em 2 diferentes grupos, sendo separadas de acordo com cada área, o primeiro engloba quadros de ansiedade normal até leve e outro com a moderada até extremamente grave, da mesma forma para estresse e depressão.
As informações adquiridas por meio dos formulários foram tabuladas no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) para Windows® versão 22.0. Os dados foram expressos em média ± desvio padrão e distribuição de frequências, a partir de tabelas e gráficos. Primeiramente, foi introduzida a análise descritiva das variáveis investigadas. Em sequência, foram realizados testes estatísticos inferenciais para verificar a possível associação entre as variáveis analisadas considerando-se 95% de confiabilidade (p<0,05).
As informações coletadas foram lançadas no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 22.0 para construir o banco de dados da pesquisa e realizar as análises estatísticas. Realizou-se as análises descritivas das variáveis investigadas, além da utilização da análise múltipla por regressão logística binária para identificar o modelo estatístico mais significativo. Esta análise associou as variáveis investigadas aos sintomas de depressão, ansiedade e estresse (p < 0,05).
A pesquisa foi realizada seguindo os preceitos éticos para pesquisas envolvendo seres humanos, parecer: 5.841.124/2022.
4 RESULTADOS
Neste estudo foram coletados 415 formulários dos estudantes, dos quais 38 foram descartados devido ao não preenchimento adequado, restando 377, próximo da amostragem calculada. Da amostra analisada, a maioria era de idade inferior a 23 anos (78,0%), de etnia não branca (59,9%), desempregada (60,1%), de cursos da área da saúde (60,5%), após o segundo ano de faculdade (60,5%) e morava com amigos ou familiares (86,2%). A maioria dos participantes tiveram autorrelato do estado de saúde bom ou excelente (79,0%) e apresentaram queixas ou agravos (65,8%) (tabela 1).
A maioria dos participantes da pesquisa eram não-fumantes/ex-fumantes (89,1%). Dentre os 41 fumantes, houve maior prevalência do consumo de cigarro eletrônico (39,0%). Além disso, houve predominância de níveis baixos de dependência à nicotina dentre os tabagistas (78,0%). Entre os universitários fumantes, houve prevalência de sintomas de estresse, ansiedade e depressão em níveis moderado a muito grave de 43,9%, 46,3%, e 34,14%, respectivamente (tabela 1).
Houve uma prevalência de manifestações de estresse moderado até muito grave de 43,8% entre todos os cursos. Estudantes de cursos da área de humanas obtiveram maior percentual de estresse em graus elevados, totalizando 49,5%. Do mesmo modo, a prevalência de sintomas de ansiedade moderada até muito grave foi de 54,0% entre todos os cursos, sendo a área de humanas com maior prevalência desse grau de ansiedade, (65,0%). A ocorrência de manifestações de depressão moderada a muito grave foi de 41,9% entre todos os cursos, e a área de exatas demonstrou maior prevalência de quadros moderado a muito grave (50,0%) entre os estudantes (tabela 1).
Na análise múltipla, observou-se que a maior chance de comportamentos e sensações experienciadas relacionada ao estresse moderado a muito grave ocorreu entre aqueles que referiram seu estado de saúde como ruim a regular (RC=4,232, p<0,001), ou alguma queixa ou agravo em saúde (RC=2,164, p=0,001) em relação aos que não tiveram esses relatos (tabela 2).
Outrossim, a chance de apresentar sintomatologia de ansiedade moderado a muito grave foi maior entre estudantes com autopercepção de saúde ruim a regular (RC=3,690, p<0,001) e que apresentavam queixas ou agravos em saúde (RC=1,807, p=0,010), e em acadêmicos da área de humanas, quando comparados em relação aos da área da saúde (RC=1,812, p<0,021). A chance de manifestações de depressão moderada a muito grave foi maior entre os que possuem autorrelato de estado de saúde ruim a regular (RC=7,980, p<0,001) e entre os que relataram queixas ou agravos de saúde (RC=1,885, p=0,010) quando comparados aos que têm um bom a excelente autorrelato de estado de saúde, sem queixas ou agravos (tabela 2).
5 DISCUSSÃO
A presente pesquisa avaliou características comportamentais, clínicas e sociodemográficas de uma amostra de estudantes universitários e sua relação com ocorrência de sintomas de ansiedade, estresse e depressão. A amostra estudada apresenta um perfil sociodemográfico típico de acadêmicos de ensino superior, com maior prevalência de adultos abaixo de 23 anos e que moravam com amigos ou familiares (FONSECA et al.,2019).
A amostra investigada relatou grande prevalência de quadros moderados a graves de comportamentos e sensações relacionadas à depressão, à ansiedade e ao estresse. Acerca da prevalência dos níveis de depressão, ansiedade e estresse em todos os cursos, percebe-se uma concordância com outros estudos realizados, que mostraram predomínio desses transtornos entre estudantes universitários (FERNANDES et al., 2018; JARDIM et al., 2020). Já foi observada uma maior prevalência da depressão entre estudantes do que na população geral (IBRAHIM et al, 2013). Além disso, nota-se uma maior exposição a possíveis fatores desencadeantes de estresse nessa população, como a ausência de hábitos alimentares saudáveis, a intensa rotina de estudo, a falta da prática de exercício físico, a cobrança das atividades em curtos períodos e conflitos entre colegas, o que justifica os níveis elevados de estresse e ansiedade (BEZERRA et al, 2018).
No presente estudo, os quadros sintomatológicos não se relacionaram aos hábitos tabagistas, à dependência da nicotina ou mesmo sobre o tipo de hábito: tradicional ou eletrônico. Essa situação, no entanto, pode estar associada ao baixo número de participantes na pesquisa que faziam uso de algum desses produtos. Todavia, em estudo realizado com universitários do sexo masculino foi percebido que o uso de tabaco está relacionado à intenção de diminuir os níveis de estresse e ansiedade acadêmicos em universitários do sexo masculino apesar do fato de a dependência à nicotina poder ser responsável pelo aumento de níveis de estresse e ansiedade, gerando um ciclo vicioso (DAZIO et al., 2016; ALMEIDA et al., 2023).
Chama atenção o elevado percentual de usuários de cigarro eletrônico neste estudo, modalidade relativamente recente de tabagismo. Esse fato acompanha a atual tendência de aumento significativo de usuários de DEF’s, principalmente por jovens adultos, população predominante no presente estudo (VILLAROEL et al., 2020). Uma das razões para isso pode ser o grande marketing desses produtos, que leva aos jovens uma ideia de que os cigarros eletrônicos causam menos danos à saúde em relação ao cigarro tradicional, além de apresentarem essências menos desagradáveis e sabores diferentes, o que atrai mais consumidores (HILTON et al., 2020).
Ainda no que tange ao tabagismo, é sabido que a exposição frequente à nicotina pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro do jovem, causando déficits de atenção e cognição, como perda de memória, bem como transtornos de humor, como estresse e comportamento agressivo. Além disso, essa população também está exposta a risco de teratogenia durante a gravidez e até mesmo morte súbita por intoxicação aguda por componentes dos DEF’s (U.S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 2016). Diante disso, entende-se que esse grande percentual de usuários de cigarro eletrônico entre os tabagistas da pesquisa é fator preocupante, visto que essas pessoas estão expostas a várias situações danosas à saúde.
Houve uma forte associação encontrada na atual pesquisa entre a presença de queixas e agravos à saúde e a chance de desenvolver níveis de manifestações moderadas a elevadas de depressão, ansiedade ou estresse. O estresse tem sua atuação conhecida na patogenia da ansiedade, devido ao aumento dos níveis de cortisol, relacionado ao sentimento de medo, e na modulação da serotonina (KAPLAN & SADOCK, 2017). Ademais, ressalta-se que os níveis de estresse podem variar de acordo com a percepção de cada indivíduo, em relação às situações estressantes, o que explica uma maior prevalência do estresse e da ansiedade naqueles que apresentavam uma avaliação ruim da sua própria saúde.
Outrossim, também foi percebida uma alta prevalência de altos níveis de sintomas de ansiedade em estudantes da área de humanas em relação aos da área da saúde. Esse achado pode estar relacionado ao fato de que a maioria das turmas entrevistadas do curso de humanas eram do horário noturno, o qual em outras pesquisas mostrou ter maior prevalência de ansiedade em relação ao período matutino (CARDOSO & CANOVA, 2020). Isto pode estar relacionado ao fato de que os alunos do período noturno podem estar mais propensos ao cansaço, falta de tempo para o lazer e dupla jornada de trabalho e estudo, o que pode contribuir para o aumento da ansiedade (PIRES, 2021).
Os achados da pesquisa mostraram uma alta prevalência de depressão, a qual tem íntima relação com comportamentos nocivos à saúde, como sedentarismo, tabagismo e ingestão de bebidas alcoólicas (BARROS et al., 2017). Além disso, a prática de atividades físicas está relacionada à diminuição da incidência de depressão e de transtornos relacionados ao estresse (FIRTH et al., 2020). Tais achados corroboram com o atual estudo, o qual percebeu uma grande relação entre uma autopercepção de saúde ruim e a possibilidade de desenvolver sintomas de depressão moderada a muito grave. Além disso, outros estudos apontam a depressão como um grande fator relacionado a pacientes com multimorbidades, tendo uma alta prevalência naqueles que apresentam doenças crônicas (BIRK et al., 2019). Isso pode explicar a forte associação encontrada nesta pesquisa entre sintomas depressivos e queixas ou agravos em saúde.
Cabe mencionar que poucos tabagistas participaram da pesquisa. Estudos com maiores amostras dessa população possam talvez estabelecer melhor a relação do hábito e dependência de nicotina com o desenvolvimento de quadros sintomáticos de depressão, ansiedade e estresse. Além disso, o delineamento transversal dificulta o estabelecimento de relações de causalidade entre as variáveis investigadas e os transtornos psicológicos. Estudos de abordagem longitudinal e multicêntricos podem aferir melhor possíveis relações entre as variáveis investigadas e o desenvolvimento desses distúrbios ao longo da vida acadêmica.
Dessa forma, identificou-se um percentual elevado de sinais de transtornos mentais nos universitários, o que chama a atenção para o problema e os fatores a ele associados, especialmente a autopercepção ruim saúde, uma vez que o desempenho acadêmico, a formação e a atuação profissional podem ficar prejudicados nessa população. Sendo assim, mostra-se necessário o desenvolvimento de práticas profiláticas a esses distúrbios, como a promoção da atividade física e de hábitos saudáveis, que atuem no bem-estar psicológico dos estudantes, de modo que possam enfrentar bem as situações estressantes do cotidiano acadêmico (PIRES et al., 2021).
6 CONCLUSÃO
Observou-se um grande acometimento de sintomas de estresse, ansiedade e depressão sobre os universitários. Os acadêmicos que apresentavam autopercepção de saúde ruim e queixas ou agravos em saúde foram os que tiveram maior chance de desenvolver níveis mais elevados desses transtornos. Aqueles que frequentavam cursos da área de humanas apresentaram maior probabilidade de desenvolver ansiedade moderada a muito grave em relação às outras áreas.
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1 Bacharelado em Medicina pelo Centro Universitario FIPMOC.
E-mail: pumaregapedro@gmail.com
2 Bacharelado em Medicina pelo Centro Universitario FIPMOC.
E-mail: btgfroes1996@gmail.com
3 Bacharelado em Medicina pelo Centro Universitario FIPMOC.
E-mail: polly.acp@hotmail.com
4 Bacharelado em Odontologia pela Faculdade de Ciências Odontológicas.
E-mail: anaclara_pinho@hotmail.com
5 Docente do Centro Universitario FIPMOC, Faculdade de Ciências Odontológicas, Universidade Estadual de Montes Claros.
E-mail: mvmoliv@gmail.com