MULHER NEGRA: UM OLHAR SOBRE A DESIGUALDADE RACIAL NO ÂMBITO DA SAÚDE 

BLACK WOMAN: A LOOK AT RACIAL INEQUALITY IN HEALTH 

MUJER NEGRA: UNA MIRADA A LA DESIGUALDAD RACIAL EN LA ATENCIÓN SANITARIA 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411301634


Erinalda Campêlo Oliveira1
Ewerton Francisco Leal Albuquerque2
Géssica da Costa Frazão3
Jéssica Cavalcante Lacerda Corrêa4
Mauria de Araújo Magalhães5
Francisco Tacio de Souza Simão6
Adriano Dos Santos Oliveira7


RESUMO: A desigualdade racial é um fenômeno causado por preconceitos que estão  enraizados, racismo e discriminação. É um fenômeno social que ocorre entre diversos grupos  étnico-raciais. A presente pesquisa redirecionou o olhar para a desigualdade e a discriminação voltada para as mulheres negras, no âmbito da saúde. Buscou-se analisar o setor institucional  público e privado, de forma que, questionamentos fossem levantados e discorridos acerca  dessa desigualdade racial e de gênero. Ficou evidente que pouco se fala a respeito da temática  no contexto literário, nos levando a ver a necessidade de mais pesquisas sobre o mesmo. Enquanto isso, mulheres negras continuam sendo a maioria das mortalidades maternas e  enfrentando a violência obstétrica ou outros tipos de violências que afetam a saúde. Vale  ressaltar que as questões sociais estão muito relacionadas com o nível de saúde mental como  um todo. Foram realizados estudos e pesquisas bibliográficas diversas sobre o tema  discorrido, com intuito de gerar motivação de mudanças do olhar e atitudes acerca do mesmo. 

PALAVRAS-CHAVE: Discriminação, mulheres negras, relações étnico-raciais, saúde. 

ABSTRACT: Racial inequality is a phenomenon caused by deep-rooted prejudices, racism,  and discrimination. It is a social phenomenon that occurs among various ethnic-racial groups.  This research focused on inequality and discrimination against black women in the healthcare  field. We sought to analyze the public and private institutional sectors so that questions could  be raised and discussed about this racial and gender inequality. It became clear that little is  said about the topic in the literary context, leading us to see the need for more research on the  subject. Meanwhile, black women continue to be the majority in maternal deaths and face  obstetric violence or other types of violence that affect their health. It is worth noting that  social issues are closely related to the level of mental health as a whole. Various studies and  bibliographical research were carried out on the topic discussed, with the aim of generating  motivation for changes in the way people see and act on it. 

KEYWORDS: Discrimination, black women, ethnic-racial relations, health. 

RESUMEN: La desigualdad racial es un fenómeno causado por prejuicios, racismo y  discriminación profundamente arraigados. Es un fenómeno social que se da entre diferentes  grupos étnico-raciales. Esta investigación reorientó el foco sobre la desigualdad y la  discriminación dirigida a las mujeres negras, en el contexto de la salud. Buscamos analizar el  sector institucional público y privado, para que se pudieran plantear y discutir preguntas sobre  esta desigualdad racial y de género. Fue evidente que se habla poco sobre el tema en el  contexto literario, lo que nos lleva a ver la necesidad de realizar más investigaciones sobre el  tema. Mientras tanto, las mujeres negras siguen siendo mayoría en muertes maternas y  enfrentan violencia obstétrica u otros tipos de violencia que afectan la salud. Cabe mencionar  que las cuestiones sociales están estrechamente relacionadas con el nivel de salud mental en  su conjunto. Se realizaron diversos estudios e investigaciones bibliográficas sobre el tema  discutido, con el objetivo de generar motivación para cambios de mirada y actitudes hacia el  mismo. 

PALABRAS CLAVE: Discriminación, mujeres negras, relaciones étnico-raciales, salud

1. INTRODUÇÃO 

Entende-se que o racismo é um conjunto de discriminações raciais baseado em  ideologias, doutrinas e ideias presentes na sociedade que colocam as pessoas negras em  diferentes lugares, atribuindo a elas inferioridade natural que produzem condições precárias  de existência da população vitimada. Esta noção tem base em diferentes motivações, em  especial as características físicas e outros traços do comportamento humano. Nos últimos  anos, várias pesquisas têm mostrado a construção racista na qual se fundamenta o Brasil.  (OLIVEIRA & KUBIAK, 2019).  

Para Alves (2020, p. 31) O mundo globalizado do século XXI é herdeiro das relações  desiguais produzidas pelo colonialismo do passado, o que faz com que as marcas desse feito  ainda sejam persistentes na atualidade. 

O Brasil viveu muitos anos de escravidão, prova disso é que literaturas nos  comprovam que foi o ultimo país a ter abolição concedida. Segundo Nunes (2006): “A  escravidão negra do Brasil trouxe profundas marcas para a sociedade contemporânea”.  Pessoas pretas eram discriminadas a partir de sua cor, e características físicas, tendo isso  como apoio para pessoas brancas justificarem seus atos racistas. Em virtude dos costumes, os  negros se submetiam a essas imposições sem poder fazer muita coisa para mudar a realidade  da época. Considera-se o racismo como uma realidade ideológica que estrutura relações  sociais e atribui a superioridade de uma raça sobre as demais, levando a reprodução da  discriminação e do preconceito racial que se manifestam em atitudes racistas conscientes ou  inconscientes (SANTOS, GUIMARÃES e ARAÚJO, 2007 apud LOPES, 2004).  

As problemáticas dos conceitos de escravização, as mulheres negras e suas lutas por  direitos à liberdade, contêm complexidades de sentidos holísticos do tamanho das  dificuldades para que as vozes das mulheres escravizadas possam dar um teor de esperança às  outras mulheres que passam por situações semelhantes desse contexto. Segundo Cisne e  Ianael (2022): “O Brasil é um país estruturalmente marcado pelo escravismo colonial de tipo  patriarcal, percorrendo um trajeto de dependência e subordinação aos países europeus desde  sua construção”. Isso não se compete somente a liberdade, mas a exploração sexual, moral e  trabalho forçado ao intuito do capitalismo e aos níveis de sociedades patriarcal entre seus  direitos inquestionáveis que contrapondo as exigências dos ‘senhores” e “senhoras” eram  executadas excessivamente. Com vista a acumulação originaria do capital, baseada na  violência, trabalho escravo e genocídio, em nome do lucro. Nesse sentido, as expedições para  o continente africano partem em busca de riquezas sob a forma de saques e raptos de inativos, em busca de novas fontes de lucro e expansão econômica. (CISNE & IANAEL, 2022 apud  MOURA, 2014).  

As desigualdades étnico-raciais têm demonstrado grande relevância ainda maior em  diferentes tipos de doenças, os acontecimentos anteriores teve grande contribuição para estes  acontecimentos, a escravidão, representa o contexto em que se originam essas desigualdade  racial, econômica e territorial. As evidencias indicam o fator da discriminação racial que são,  estruturas das desvantagens econômicas que afetam na saúde enfrentando barreiras no acesso  a saúde de qualidade, colocando limite nas opções de tratamentos e prevenção, discriminação  racial tem sido definido como tratamento diferenciado em função da raça e cor negra. (CHOR  & LIMA, 2005).  

Trazendo para o contexto de gênero, as mulheres negras estão inseridas em um  percentual significativo de preconceito, muitas vezes velado, sobre elas, dentro do  atendimento à saúde ofertada. Esse olhar pode ser notado, não somente nos dias atuais, mas,  tendo em vista toda construção histórica racial de segregação feita com elas.  

O reconhecimento do racismo e do sexismo como determinantes das condições de  saúde, assim como a produção de desigualdades raciais e de gênero, exigem atualização e seu  enfrentamento no campo da promoção da saúde e, portanto, demandam aumento de  perspectivas, reformulações de teorias, técnicas e prática. (PRESTES & PAIVA, 2016).  

O presente artigo tem por objetivo, apontar no âmbito da saúde, o racismo  institucional e seu impacto sobre a qualidade de vida e o atendimento a essas mulheres, que  são afetadas por ele. Tendo em vista que, vários aspectos e teorias são levados em  consideração na hora de julgar o que de fato, é necessário e suficiente às mesmas. Buscou-se  analisar bibliografias e artigos científicos sobre a temática enfrentada, que fomentem as  informações e dados científicos comprovando tais informações e buscando elucidar os casos  velados ocorridos de forma comum, dentro do âmbito da saúde. 

2. O RACISMO E A INTERFERÊNCIA NA SAÚDE DAS MULHERES NEGRAS 

O conceito de saúde, proposto pela Organização Mundial da Saúde e adotado pelo  Sistema Único de Saúde (SUS), compreende um estado de completo bem-estar físico, mental  e social e não apenas a ausência de doenças ou enfermidades (OMS, 1947). 

Por mais que a busca por saúde demande um esforço individual, é certo que,  determinantes e condições sociais influenciam nesse processo, tais como: habitação, trabalho,  lazer entre outros condicionantes. A população feminina no Brasil corresponde a 51% da população e 25% dessas mulheres são negras (dados do CENSO de 2010). Diante disso, falar  sobre a questão da saúde da mulher negra e a maneira com que o estado enfrenta essa situação  é de suma importância para que seja possível entender e buscar os melhores meios para enfrentar as desigualdades raciais. (OLIVEIRA, 2018).  

Mesmo que a saúde esteja prevista enquanto direito universal e integral no Brasil,  setores da sociedade, historicamente inferiorizados e marginalizados, ainda encontram  dificuldades para exercer plenamente este direito. Sendo assim, as desigualdades interferem  direta e indiretamente nas possibilidades de acesso aos serviços e cuidados em saúde. É nesse  sentido que o racismo e o sexismo, na nossa sociedade agem sobre as vidas das mulheres  negras produzindo impacto negativo nas suas condições de saúde. 

As consequências do racismo colocam a população negra, em especial, as mulheres,  no topo dos piores dados estatísticos de distribuição de renda, o que de fato, implica  diretamente no acesso amplo à saúde. De acordo com Biato e Oliveira (2019) “A  desigualdade racial é observada pela população negra em todas as etapas de sua vida, desde a  infância, passando pelo acesso à educação, até a vida adulta.” 

Segundo a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (IBGE, 2018), tanto em relação às  inadequações habitacionais como em relação à ausência de saneamento, as proporções  registradas são maiores entre pretos e pardos do que entre brancos. 

Os indicadores de saúde, quando colocados junto às situações socioeconômicas,  mostram a importante relação da saúde e os determinantes sociais. Ministério da saúde (2017,  p.13) afirma: 

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2008, a população negra representava 67% do público total atendido pelo SUS, e a branca 47,2%. A maior parte dos atendimentos concentra-se em usuários (as) com faixa de  renda entre um quarto e meio salário mínimo, distribuições que evidenciam que a população de mais baixa renda e a população negra são, de fato, SUS-dependente.  

O racismo é uma ideologia pautada na falsa ideia de superioridade branca, que serve  de base para práticas discriminatórias sistemáticas que são responsáveis por produzir, ao  longo do tempo, desigualdades entre pessoas brancas e negras em todos os campos da vida  social. Domingues et al (2012) aponta que, a discriminação nem sempre estão explicitas,  encontramos uma certa dificuldade para identificar essa pratica, tanto pelas vitimas de  racismo, tanto por quem pratica, essa observação racial é fruto da construção ideológica da  democracia racial, que dificulta a identificação do racismo, mostrando que o brasil é um país  com grupos raciais harmônico e inexistente ao racismo. O racismo é um fator eminente que determina se a mulher negra vai ter acesso a saúde, onde interfere no processo: adoecimento e  morte.  

É de suma importância destacar que, além da raça, etnia e situação econômica, as  pessoas negras estão vulneráveis a ter qualquer doença tanto quanto as pessoas brancas.  Segundo Biato & Oliveira (2019, p. 9):  

Algumas doenças genéticas ou hereditárias são mais comuns a esta população, como  anemia falciforme (doença hereditária decorrente de uma mutação genética ocorrida há milhares de anos no continente africano), diabetes mellitus (ou tipo II, que se desenvolve na fase adulta e é a quarta causa de morte no Brasil, além de principal  agente de cegueira), hipertensão arterial e deficiência de glicose.  

Temos ainda, muitos outros fatores que podem ser destacados e trazidos com  relevância sobre essa interferência racial na saúde das mulheres. A Política Nacional de Saúde  Integral da População Negra (2017) indica que “as internações em hospitais públicos foram  maiores que a média entre pessoas que se declaram pretas (75,8%) e pardas (75,4%), do que  entre as pessoas brancas (55,4%), no qual estiveram abaixo da média no número de  internações”. Sob dados da PNS, de 2013.  

De acordo com dados notificados no Sistema de Informações sobre Mortalidade  (SIM), do total de 1.583 mortes maternas em 2012, 60% eram de mulheres negras e 34% de  brancas. Em 2013, as maiores taxas de detecção de sífilis em gestantes foram observadas na  raça/cor preta (17/100 mil nascidos vivos), na indígena (6,7/100 mil nascidos vivos) e na  parda (6,6/100 mil nascidos vivos). (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).  

A discriminação em decorrência desses fatores traz dados epidemiológicos que nos  mostram a necessidade de politicas públicas voltadas para essas mulheres e para a população  negra no geral. Nessa perspectiva, a PNSIPN (2017) nos mostra que:  

Das pessoas que já se sentiram discriminadas no serviço de saúde,  destacaram-se: as mulheres (11,6%); as pessoas de cor preta (11,9%) e  parda (11,4%), e as pessoas sem instrução ou com ensino fundamental  incompleto (11,8%). (PNSIPN, 2017, p. 21)  

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra foi Instituída pelo  Ministério da Saúde em 2009 através da Portaria GM/MS nº 992, de 13 de maio de 2009, e  visa à promoção da equidade em saúde, sendo orientada pelos princípios e diretrizes da  integralidade, equidade, universalidade e participação social do SUS. (BIATO & OLIVEIRA,  2019).

A marca do reconhecimento da implementação da PNSIPN para Batista & Barros  (2017) é:  

O racismo das desigualdades étnico-raciais e do racismo institucional  como determinantes sociais das condições de saúde. Seu objetivo é  promover a saúde integral da população negra, priorizando a redução  das desigualdades étnico-raciais, o combate ao racismo e a  discriminação nas instituições e serviços do SUS.  

Segundo a OMS (2014, p.1) “toda mulher tem direito ao melhor padrão atingível de  saúde, o qual inclui o direito a um cuidado de saúde digno e respeitoso”. Isso inclui o cuidado  para que não ocorram casos de abusos, maus tratos e desrespeitos, durante os partos nas redes  de atenção à saúde. O intuito do documento da OMS é levar conscientização, reflexão e ações  de pesquisa voltada para a temática.  

O Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM) de 2014 demonstra que as  mulheres negras são o público-alvo da mortalidade materna no Brasil. Esse fator foi alvo de  audiência pública realizada pela Subcomissão Especial Avaliadora das Políticas de  Assistência Social e Saúde das Populações Vulneráveis na Câmara dos Deputados (Brasília)  em 2016. Nessa época foi informado que as intercorrências que provocam os óbitos maternos  vêm diminuindo entre as mulheres brancas e aumentando entre as negras. A audiência apurou  que entre os anos de 2000 e 2012 as mortes por hemorragia caíram entre as brancas de 141  casos por 100 mil partos para 93 casos. Entre as mulheres negras aumentaram de 190 para 202  casos. (ASSIS, 2018, p. 6).  

3. RACISMO INSTITUCIONAL 

O racismo institucional diz respeito a situações em que instituições públicas ou  privadas tratam certas pessoas ou grupos de forma desigual, inadequada, ineficiente ou  desconsideram suas necessidades específicas, em função da noção de raça, cor e etnia. O  profissional de saúde, não possui, em sua maioria, conhecimentos e práticas sobre as doenças  que prevalecem na população negra, bem como, seus atendimentos não estão em concordância  com a qualidade de serviço que deveria estar sendo ofertada.  

Voltando-se para a saúde da mulher negra, notou-se que os responsáveis pela  incidência de determinadas doenças dessas mulheres, se dá pela situação de fragilidade  causada pelo racismo, enfrentando a desigualdade de gênero existente na sociedade atual.  (BATISTA, 2021). 

Ainda de acordo com Batista (2021), o racismo institucional é: 

O fracasso das instituições e organizações em prover um serviço  profissional e adequado às pessoas em virtude de sua cor, cultura,  origem racial ou étnica. Ele se manifesta em normas, práticas e  comportamentos discriminatórios adotados no cotidiano do trabalho,  os quais são resultantes do preconceito racial, uma atitude que  combina estereótipos racista, falta de atenção e ignorância. Em  qualquer caso, o racismo institucional sempre coloca pessoas de  grupos raciais ou étnicos discriminados em situação de desvantagem  no acesso a benefícios gerados pelo estado e por demais instituições e  organizações.  

No âmbito da saúde, o racismo institucional pode se apresentar de inúmeras formas,  tais como: por consultas muito curtas, pela falta completa de exame físico e pelo não uso ou  menor uso de analgesia, entre outros. O racismo institucional, também está presente nos  serviços prestados à população. A sua influência vai desde a restrição ao acesso à  saúde pela população negra até a relação entre os profissionais de saúde com os mesmos.  Pode-se identificar um pensamento nas redes de assistência à saúde ligada a: ‘pessoas negras  são mais resistentes à dor ou negro não adoece’ que tendem a minimizar queixas de mulheres  negras e diminuir o uso de medicamentos e anestesias, principalmente nos procedimentos de  pré-natal e parto. (OLIVEIRA & KUBIAK, 2019). 

Nesse caso, configura-se assim uma inadequação na oferta à população negra de  cuidados em saúde, nos diversos níveis de atenção, o que viola os princípios da  universalidade, integralidade e equidade, que devem nortear o SUS. As políticas públicas,  embora importantes, ainda não conseguem alterar as condições de vida de grande parte da  população. Os indicadores trazidos pelo projeto: Mais direitos e mais poderes para as  mulheres brasileiras, nos mostram um retrato dessa realidade.  

Segundo a PNAD de 2008: 40,9% das mulheres pretas e pardas acima de 40 anos de  idade jamais haviam realizado mamografia em suas vidas, frente a 26,4% das brancas na  mesma situação. Ainda segundo a PNAD (2008), das mulheres acima de 25 anos de idade,  18,1% das mulheres negras e 13,2% das brancas jamais haviam realizado o exame de  Papanicolau. A taxa de mortalidade materna entre as mulheres negras, em 2007, era 65,1%  superior à das mulheres brancas.

Para Lopez (2012, p.124) as políticas públicas com perspectiva racial são: “produto da  trajetória contemporânea da militância negra, por meio de resistências e lutas disseminadas na  esfera pública.”  

O racismo institucional, no âmbito do direito é caracterizado como um fracasso  coletivo da organização, para promover um serviço de qualidade apropriado e profissional,  para as pessoas, por conta da sua cor, origem ou cultura étnica. A prática do racismo  institucional na saúde afeta principalmente a população negra. A invisibilidade da doença que  são prevalentes no grupo populacional a não inclusão racial, a dificuldade de acesso ao  serviço de saúde, a qualidade da atenção a saúde assim como o acesso aos insumos,  determinam fatores diferentes e importantes nos perfis do adoecimento e morte entre negros e  brancos, (KALCKMANN et al, 2007 apud LOUREIRO et al, 2005). 

4. DESIGUALDADE PROFISSIONAL DE MULHERES NEGRAS NA SAÚDE: 

No campo da enfermagem, as mulheres negras enfrentam vários problemas na  sociedade brasileira. A história da enfermagem no Brasil mostra a trajetória de luta e  habilidades culturais dessas pessoas, cujas contribuições são frequentemente ignoradas e  desvalorizadas. Utilizando os estudos de Santos et al. (2020), este artigo examina os  problemas e obstáculos enfrentados pelas mulheres negras na profissão de enfermagem.  Fontana 2019 e Campos 2021, bem como De Oliveira Santos et al. (2023) 

Historicamente, a enfermagem no Brasil tem sido uma profissão predominantemente  feminina. No entanto, as mulheres negras que trabalham na enfermagem enfrentam dois tipos  de discriminação: de gênero e de raça. Como destacado por Santos et al. (2020), a vida de  Maria Barbosa Fernandes, uma enfermeira pioneira negra, mostra como as competências  culturais dessas mulheres eram essenciais para fornecer cuidados de saúde em comunidades  marginalizadas. No entanto, essa habilidade muitas vezes não foi oficialmente reconhecida,  refletindo uma barreira estrutural que permanece até hoje. 

De acordo com Fontana (2019), a educação de enfermagem no Brasil não leva em  consideração a interculturalidade, o que aumenta o racismo institucional. Ao começar a  trabalhar como enfermeiras, as mulheres negras enfrentam preconceitos que as colocam em  papeis subalternos ou os impedem de alcançar cargos de liderança. A falta de reconhecimento  de suas habilidades e a invisibilidade de suas contribuições são exemplos de uma sociedade  que ainda lida com questões de raça e gênero de forma desigual.

A pesquisa de Campos (2021), afirma que as mulheres negras que trabalhavam como  enfermeiras enfrentam dificuldades significativas para progredir na carreira. Esses obstáculos  incluem a dificuldade de obter oportunidades de aprendizado constante e a resistência  encontrada em ambientes predominantemente brancos e elitistas. Essas pessoas são  frequentemente relegadas a cargos menos dignos, o que limita seu crescimento e mantém as  desigualdades no campo da saúde. 

Conforme discutido por Santos et al, (2020). As mulheres negras têm desempenhado  um papel importante na enfermagem tanto no Brasil quanto no mundo, apesar dos obstáculos. Essas pessoas não apenas fornecem cuidados de saúde essenciais, mas também lutam por  reconhecimento e igualdade na profissão. A resistência e a resiliência dessas mulheres são  elementos essenciais de sua prática, que visa cuidar e mudar os sistemas de poder que as  marginalizam. 

As mulheres negras que trabalham na enfermagem precisam de uma abordagem  multidisciplinar e intercultural que reconheça e valorize suas contribuições. É necessário  repensar a formação dos profissionais de saúde, combater o racismo institucional e estabelecer  políticas que fomentem a ascensão profissional das mulheres para que haja uma mudança  significativa. Uma enfermagem mais justa e inclusiva só poderá ser construída dessa maneira,  refletindo a diversidade da sociedade brasileira. 

METODOLOGIA 

Foram realizados estudos e pesquisas bibliográficas sobre o racismo institucional com  mulheres negras, objetivando observar as ações voltadas para a desigualdade racial imposta  sobre elas. Os estudos de revisão bibliográfica trouxeram elucidações que nos levam a pensar  com um olhar mais minucioso acerca do tema, que ainda tem pouco impacto de mitigação,  pois o racismo ainda é muito presente nos dias atuais.  

Com intuito de gerar motivação de mudanças do olhar e atitudes acerca dessa  problemática, esse trabalho trouxe aspectos relevantes e pontos significativos que foram  elencados de forma clara o objetiva, trazendo dados e estudos que vão desde um impacto  muito grande e de muita relevância, a estudos mais simples e de pouca citação, mas tendo seu  papel fundamental diante da problemática.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Durante este estudo de revisão bibliográfica, foram exploradas 23 referências, dentre  elas artigos e sites de dados estatísticos (Tabela 1), sendo que, foram analisados critérios de  quantidade de citações e relevância (gráfico 1) para contextualização e para o resultado das análises.  

Fonte: Próprio autor, 2024. 

Fonte: Próprio autor, 2024. 

O racismo institucional com mulheres negras, ainda não é pautado, como deveria ser  dentro da sua relevância étnica e social. Tendo em vista que a sua prática é forjada de forma  velada e muitas vezes, despercebida dentro do âmbito da saúde. Muito embora, é de  conhecimento de todos, que tais práticas não devem ser apoiadas nos diálogos do não  conhecimento, pois, ainda sim, a existência e a fundamentação do racismo são de  conhecimento de todos, por seu contexto histórico trazido através dos séculos.  

As mulheres negras estão abaixo das mulheres brancas no que diz respeito a qualidade,  integralidade e equidade na saúde, comprometendo assim tais princípios que o SUS traz e que  deveria ser dever do mesmo, para com todos, de forma igualitária. Durante o estudo,  constatou-se que políticas públicas não são voltadas para atender e melhorar os índices  discrepantes que acometem essas mulheres. Levando assim, a índices maiores de óbitos,  pouco acesso de qualidade à saúde, ou até mesmo, nenhum acesso a exames e consultas.  

O trabalho de Susane Biato e Adriano Oliveira (2019), sobre o racismo institucional e  a saúde, nos demonstra grande relevância com relação ao que foi levantado nas referências  bibliográficas trazidas no presente artigo. Pois este trabalho se propõe a refletir sobre o  racismo institucional, a partir da percepção do racismo no Brasil através de suas raízes, e  como esse histórico de segregação e desigualdade ainda se reflete nas políticas sociais atuais,  com ênfase no segmento da saúde.  

A pesquisa de kalckmann et al (2007) em conjunto com outros autores, verificou que  os serviços de saúde, por meio de seus profissionais, aumentam a vulnerabilidade desses  grupos populacionais, ampliando as barreiras de acesso, diminuindo a possibilidade de  diálogo e provocando o afastamento de usuários nas unidades de saúde. Tais pesquisas foram  atribuídas a um caráter mediano em relevância, pois, as questões de diminuição de acesso e  afastamento, estão ligadas ainda mais a outros fatores de caráter racial, não somente a questão  do profissional de saúde. Da mesma forma que, Oliveira e Kubiak (2019) trazem a elucidação  de como o racismo pode se apresentar de diversas formas, não somente com a falta de atenção  básica, mas também através de consultas muito curtas, falta de atenção e priorização, quando  necessário e atenção dos profissionais de saúde com essas mulheres. 

As pesquisas que retratam a inclusão das mulheres negras na área da saúde ainda são  pesquisas de pouca exploração, elas trazem que historicamente, a enfermagem no Brasil tem  sido uma profissão predominantemente feminina. Porém, as mulheres negras que trabalham  na enfermagem enfrentam dois tipos de discriminação: de gênero e de raça. Tais fatos devem  ser devidamente colocados como pauta de discussão para melhoria de acesso, dessas mulheres  negras, podendo assim, estar igualmente no topo dos cargos ofertados à saúde.  

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Desta maneira, conclui-se que vários fatores contribuem para que o racismo  institucional ocorra, com mulheres negras, principalmente fatores que já são trazidos de anos  de preconceito e desigualdade. Assim para elucidar as considerações finais desta pesquisa  bibliográfica, resgatou-se a problemática do trabalho que é: todo o contexto de racismo  trazido ao longo dos séculos, que inferiorizam a população, levando todos a uma desigualdade  econômica, dificuldade de acesso à saúde, pouca oportunidade de emprego e boa  infraestrutura local, bem como a falta de conhecimento sobre seus direitos.  

Ficou evidente que pouco se fala a respeito da temática no contexto literário, nos  levando a ver a necessidade de mais pesquisas sobre o tema, onde políticas públicas devem  ser criadas e voltadas para atender essas mulheres, com mais cuidado, atenção e assim  cumprir a constituição e diretrizes que nos diz que a saúde é um direito de todos, fazendo-se  cumprir a integralidade e equidade especificamente no atendimento a mulheres negras e não  somente a uma parte da população, sem justificativas plausíveis para tanto.  

Para que toda essa precariedade e desvalorização sejam combatidas, a população  precisa conhecer toda essa problematização, que ocorre dentro desses espaços sendo assim, em conjunto com as políticas públicas possam trabalhar de forma eficiente e adequada, com  diretrizes que promovam a intervenção imediata a essas desigualdades sociais e sua  mitigação. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

ALVES, M. V. H. As conferências mundiais contra o racismo e a formação para as relações  étnico-raciais: um encontro entre relações internacionais e educação. Arquivo Brasileiro de  Educação, Belo Horizonte, V. 8, N. 17, 2020.  

ASSIS, J. F. de. Interseccionalidade, racismo institucional e direitos humanos: compreensões  à violência obstétrica. Serv. Social, São Paulo, N. 133, p. 547-565, set./dez. 2018.  BATISTA, L. E.; BARROS, S. Enfrentando o racismo nos serviços de saúde. Saúde Pública, V. 33, 2017.  

BATISTA, M. A. L. Desigualdades assistenciais sob o enfoque étnico-racial e suas  repercussões à saúde da mulher. Brasilian Journal of Healt Review, Curitiba, V. 4, N. 2, p.  4922-4936, mar-abr, 2021.  

BIATO, S. V.; OLIVEIRA, A. P. B. de. Racismo Institucional na Saúde. MOITARÁ – Revista do Serviço Social da UNIGRANRIO, V. 1, N. 3, p. 118–138, 2019.  CAMPOS, PF de S. História, mulheres negras e enfermagem brasileira. REA, V. 21, N. 230, p.  167-7, 2021. 

CHOR, D.; LIMA, C. R. de A. Aspectos epidemiológicos das desigualdades raciais em saúde  no Brasil. Saúde Pública, Rio de Janeiro, V.21 N.5, p.1586-1594, set-out, 2005.  

CISNE, M.; IANAEL, F. Vozes de resistência no Brasil colonial: o protagonismo de mulheres  negras. R. Katál. Florianópolis, V.25, N. 2, p. 191-201, maio-ago. 2022. DOMINGUES, P. M. L. et al. Discriminação racial no cuidado em saúde reprodutiva na  percepção de mulheres. Texto Contexto Enfermagem, Florianópolis, 2013 Abr-Jun; V.22,  N.2, p. 285-92.2012. 

FONTANA, R. T. A interculturalidade na formação dos profissionais de enfermagem. Revista  contexto educação, p. 36-51, 2019. 

IBGE. Síntese de Indicadores Sociais. 2018. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/  visualizacao/livros/liv101629.pdf> Acesso em 14 de ago. de 2024. 

KALCKMANN, S.; SANTOS, C. G. dos.; BATISTA, L. E.; CRUZ, V. M. da. Racismo  Institucional: um desafio para a eqüidade no SUS. Saúde Social. São Paulo, V.16, N.2, p.146- 155, 2007.  

LOPEZ, L. C. O conceito de racismo institucional. Comunicação saúde educação V.16,  N.40, p.121-34, jan./mar. 2012.  

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política nacional de saúde integral da população negra.  Brasília, 2017. Disponível em: <https://www.gov.br/saude/pt-br//> Acesso em 14 ago. 2024.  

NUNES, S. da S. Racismo no brasil: tentativas de disfarce de uma violência explícita.  Psicologia USP, 2006, V. 17 N.1, p. 89-98, 2006.  

OLIVEIRA, B.M. C; KUBIAK F. Racismo institucional e a saúde da mulher negra: Uma  análise da produção científica brasileira. SAÚDE DEBATE, RIO DE JANEIRO, V. 43, N.  122, P. 939-948, JUL-SET, 2019. 

OLIVEIRA, J. R. A intersetorialidade e a interseccionalidade nas políticas públicas de saúde  da mulher negra. Escola Nacional de Administração Pública (Enap). P. 36, junho, 2018.  Disponível em: <http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/3519> acesso em: 05 set. 2024. 

ONU Mulheres Brasil. Racismo Institucional: Uma Abordagem Conceitual.  Brasília: ONU Mulheres, 2016. Disponível em: https://www.onumulheres.org.br/wp content/uploads/2016/04/FINAL-WEB-Racismo-Institucional-uma-abordagem conceitual.pdf. Acesso em: 12 set. 2024.  

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE — OMS. Prevenção e eliminação de abusos,  desrespeito e maus-tratos durante o parto em instituições de saúde. 2014. Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/134588/3/WHO_RHR_14.23_por.pdf>. Acesso em:  05 set 2024.  

PRESTES, C. R. S.; PAIVA, V. S. F. Abordagem psicossocial e saúde de mulheres negras:  vulnerabilidades, direitos e resiliência. Saúde Social. São Paulo, V.25, N.3, p.673-688, 2016. SANTOS, F. B. O. et al. Mulheres negras na história da enfermagem: a competência cultural na  trajetória de Maria Barbosa Fernandes. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 73, p. 1-6, 2020. 

SANTOS, S. M. dos; GUIMARÃES, M. J. D; ARAÚJO, T. V. B. Desigualdades Raciais na  Mortalidade de Mulheres Adultas no Recife. Saúde Social. São Paulo, V.16, N.2, p.87-102,  2007.  SANTOS, V. J. de O. et al. A importância das mulheres negras na enfermagem do brasil e do  mundo. Revista de Divulgação Científica Sena Aires, V. 12, N. 3,p. 443-462, 2023.


1Discente de enfermagem CEUNI-FAMETRO. E-mail: erinaldacampelo0902@gmail.com – ORCID: 0009-0008-6364-4766
2Discente de enfermagem CEUNI-FAMETRO. E-mail: ewertonleal13@gmail.com – ORCID: 0009-0007-6314-553x
3Discente de enfermagem CEUNI-FAMETRO. E-mail: gessicafrazao2010@hotmail.com – ORCID: 0009-0004-1594-3594
4Discente de enfermagem CEUNI-FAMETRO. E-mail: jessilacerda@gmail.com – ORCID: 0009-0004-8199-2896
5Discente de enfermagem CEUNI-FAMETRO. E-mail: mauria0502@gmail.com – ORCID: 0009-0002-4453-7726
6Docente e orientador – CEUNI-FAMETRO. E-mail: Francisco.simao@fametro.edu.br – ORCID: 0009-0005-3990-3842
7Docente e co-orientador – CEUNI-FAMETRO. E-mail: adriano.oliveira@fametro.edu.br – ORCID: 0009-0000-6528-7020