NUTRIÇÃO E CUIDADO INTEGRAL: APOIO À SAÚDE DE CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE, ASSISTIDAS PELO CENTRO DE EDUCAÇÃO E RECUPERAÇÃO INFANTIL (CERI), EM PORTO NACIONAL-TO

NUTRITION AND INTEGRAL CARE: HEALTH SUPPORT FOR CHILDREN IN VULNERABLE SITUATIONS, SUPPORTED BY THE CHILDREN’S EDUCATION AND RECOVERY CENTER (CERI), IN PORTO NACIONAL-TO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411301442


Ana Clara Leobas¹; Ênio Carlos Reis Peres²; Cazuza Vale Oliveira³; Lara Lima Dourado⁴; Maria Teresa Martins Paranhos⁵; Rafaella Gomes da Silva⁶; Sara de Freitas Tavares⁷; Edinaura Rios Cunha⁸; Larissa Jacome Barros Silvestre⁹; Lilia Cristina Carvalho Santos Constantino¹⁰; Lorena Kabrini Barros Costa¹¹; Marcia Ferreira Sales¹²; Nelzir Martins Costa¹³; Sara Janai Corado Lopes¹⁴; Josy Barros Noleto de Souza¹⁵; Professor orientador: Nailson Pereira Ribeiro¹⁶.


Resumo

Este trabalho é fruto de uma experiência vivenciada pelos acadêmicos do terceiro período do curso de Medicina da FAPAC/ITPAC Porto Nacional 2024/2, no Centro de Educação e Recuperação Infantil (CERI), e está alinhado com os objetivos da disciplina Práticas Interdisciplinares de Extensão, Pesquisa e Ensino III (PIEPE III). Neste contexto, esta pesquisa apresenta intervenções educativas voltadas à saúde de crianças em situação de vulnerabilidade nutricional, e objetivou contribuir para a melhoria do estado nutricional das crianças do CERI, por meio de ações voltadas para a alimentação adequada, bem como sensibilizar os seus responsáveis sobre a alimentação infantil adequada. Diante do exposto, percebe-se que este trabalho possui uma análise aprofundada sobre a importância da educação nutricional para o autocuidado e o bem-estar das crianças, pautada em artigos científicos e publicações relevantes referentes ao tema proposto. O objetivo principal foi alcançado ao contribuir para uma maior participação e engajamento das famílias nas atividades do CERI, fortalecendo assim os laços comunitários; a troca de experiências e saberes entre os estudantes do ITPAC Porto e a comunidade participante, bem como contribuiu na melhoria da qualidade de vida das crianças atendidas.

Palavras-chave: Alimentação infantil. Vulnerabilidade nutricional. Intervenções educativas. Bem-estar.

1 INTRODUÇÃO

A nutrição desempenha um papel significativo no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, especialmente em contextos de vulnerabilidade nutricional. O acesso inadequado a alimentos nutritivos e os desafios socioeconômicos enfrentados por muitas famílias podem levar a déficits nutricionais significativos e afetar a saúde e o bem-estar infantil. A abordagem integral do cuidado, que inclui suporte nutricional e intervenções educativas, é fundamental para mitigar esses desafios e promover um desenvolvimento saudável. Este trabalho visa abordar essas questões por meio de uma série de ações integradas que buscam melhorar a qualidade de vida e o estado nutricional de crianças em situação de vulnerabilidade.

No Brasil, a nutrição infantil adequada configura-se como um grande desafio responsável por impactar significativamente a saúde e o desenvolvimento de crianças. Uma alimentação adequada, principalmente no período dos primeiros mil dias de vida, é fator fundamental na programação metabólica, no desdobramento cognitivo, no fortalecimento do sistema imunológico relacionado à ingestão de vitaminas e na saúde mental a longo prazo; corroborando assim, para essa fase da infância ser uma das janelas cruciais de intervenções nutricionais (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021).

É de grande importância direcionar a atenção para o estado nutricional de crianças em vulnerabilidade, por isso o Centrinho de Porto Nacional tem um papel valoroso, que busca proporcionar uma maior integração com a comunidade, trabalhando em conjunto, gerando assim um ambiente leve e saudável. Posto isso, observa-se a grande importância de abordar este assunto e dessa forma levar conhecimento e informações.

O estudo tem a sua importância pautada na atenção ao cenário histórico de acometimento desnutricional; a abordagem com foco na formação contínua em nutrição e desnutrição é essencial para que a classe médica estudantil atualize seus conhecimentos e práticas, garantindo que as ações cotidianas sejam baseadas nas melhores evidências disponíveis. Além disso, o fornecimento de dados atualizados, são essenciais para influenciar políticas de saúde, com enfoque no eixo nutricional, contribuindo para melhorias nas condições alimentares da comunidade em geral. A estratégia de projetos e dinâmicas executadas de forma lúdica facilita o entendimento e a assimilação das ideias pelas mães e pelas crianças, garantindo assim o desenvolvimento efetivo das ações de educação em saúde.

Diante do exposto, percebe-se que esse assunto é de grande valia, uma vez que a prevenção de doenças ao longo da vida da criança está diretamente relacionada com a forma com que seu desenvolvimento alimentar se deu desde a infância até a adolescência. Além disso, a orientação com as mães sobre a dinâmica alimentar envolvendo os seus filhos, propicia conhecimento a respeito do manejo adequado e dos benefícios proporcionados pela diversidade dos nutrientes.

E é partindo dessa premissa, que o presente artigo tem como objetivos; contribuir para a melhoria do estado nutricional das crianças do Centro de Educação e Reabilitação Infantil (CERI), por meio de ações voltadas para a alimentação adequada, bem como sensibilizar os responsáveis por essas crianças sobre a alimentação infantil adequada; e por fim, mobilizar um projeto de arrecadação, visando promover uma melhor alimentação para as crianças do local.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Desnutrição Infantil: Causas, Consequências e Impactos no Desenvolvimento

O conceito de desnutrição tem sido, ao longo das últimas décadas, amplamente discutido e formulado, dado a importância do problema biopsicossocial a que se refere. Em meados de 2003, no Brasil, a partir da postulação do “ Projeto Fome Zero”, várias discussões acerca das dimensões da fome no país surgiram, suscitando diversos estudos sociais acerca do problema. Monteiro (2003, p. 8), definiu a desnutrição como:

A desnutrição ou, mais corretamente, as deficiências nutricionais – porque são várias as modalidades de desnutrição – são doenças que decorrem do aporte alimentar insuficiente em energia e nutrientes ou, ainda, com alguma frequência, do inadequado aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos – geralmente motivado pela presença de doenças, em particular doenças infecciosas.

Embora novas definições tenham sido formuladas, o cerne do conceito na atualidade continua o mesmo, tratando a desnutrição como um problema não só de saúde, mas também social. Nesse sentido, a Organização Mundial da Saúde (OMS), define a desnutrição como deficiências, excessos ou desequilíbrios na ingestão de energia e/ou nutrientes de uma pessoa. Três grandes categorias abrangem essa condição atualmente: desnutrição, carência de micronutrientes e, ainda, a sobrealimentação, que leva ao sobrepeso (OMS, 2024).

Nessa perspectiva, as causas da desnutrição infantil no Brasil estão especialmente atreladas à questões socioeconômicas. De acordo com o IBGE, mais de 13 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza, enquanto 27,2% das crianças brasileiras enfrentam algum tipo de insegurança alimentar. Os coeficientes da pobreza no Brasil remetem também à falta de acesso a serviços básicos de saúde e educação, além de caracterizarem a exclusão social, o que culmina em um ciclo vicioso de incapacidade das famílias de fornecer uma alimentação adequada (IBGE, 2020).

Além da pobreza, outros fatores importantes contribuem para a desnutrição infantil, tais como o saneamento básico precário e a carência infraestrutural da saúde pública. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) revelam que aproximadamente 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso a água potável, enquanto outros 100 milhões vivem sem coleta de esgoto adequada. Essas condições favorecem a proliferação de doenças infecciosas, que dificultam a absorção de nutrientes pelas crianças, levando ao quadro de desnutrição, ao passo que a desnutrição também leva a imunodeficiência que torna o indivíduo mais suscetível a infecções (KATONA & KATONA-APTE, 2008; FREEMAN, 2017).

A desnutrição infantil, então, destaca-se como um problema de saúde pública grave, com sérias consequências para o desenvolvimento físico, cognitivo e social das crianças. Alflah et al. (2023) destaca que a Desnutrição Aguda Grave (DAG) tem consequências devastadoras na saúde infantil, afetando não somente o crescimento físico, mas também o desenvolvimento cognitivo e social. Crianças com DAG enfrentam maior risco de morte devido a infecções comuns, como pneumonias e diarreia, quando comparadas a crianças com estado nutricional adequado. A desnutrição, na sua forma agravada, compromete severamente a função imunológica, resultando em maior suscetibilidade a doenças infectocontagiosas, além de prolongar seu tempo de recuperação.

2.2 Importância da Nutrição na Primeira Infância

É durante a primeira infância onde o ser humano desenvolve os seus sentidos, é quando ocorre a descoberta de odores, sabores e texturas. Dentre estes sentidos um dos que mais são explorados é o paladar, a criança durante a fase de desenvolvimento neuro motor costuma levar tudo à boca a fim de descobrir mais sobre o mundo o qual estão inseridas, esta fase é conhecida como “fase oral” e ocorre durante os 3 meses geralmente e continua até os 5 anos, quando ocorre a formação completa do sistema cognitivo. Mais tarde, por volta dos seis meses, o corpo do bebê já está preparado para receber outras formas de alimentação que não seja apenas o aleitamento materno, devendo dar prioridade aos alimentos in natura. Aos seis meses é quando as enzimas digestivas começam a ser mais eficazes, os rins se tornam mais ativos e o sistema imunológico está apto a ter contato com certos nutrientes, como por exemplo as proteínas. É importante esperar que essas evoluções ocorram a fim de evitar que surjam alergias alimentares à criança (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2024).

Nos primeiros mil dias é necessário ficar atento ao estado nutricional da criança e observar a qualidade do alimento que lhe é oferecido, visto que este período é onde ocorre maior desenvolvimento dos sistemas com alta atividade metabólica. No entanto a vigília ao estado nutricional deve continuar, especialistas afirmam que comumente as deficiências nutricionais estão relacionadas principalmente à falta de ferro, vitamina A, iodo e zinco, que são moléculas importantes para o funcionamento do corpo como um todo, principalmente para o desenvolvimento cognitivo que ocorre até cerca dos 5 anos de idade (BBC News Brasil, 2022).

A desnutrição afeta diretamente o sistema imunológico, causa debilidade física e pode até mesmo levar a involução do crescimento, causando prejuízos que podem perdurar até a vida adulta, por exemplo, indivíduos desnutridos durante a infância possuem maior risco para o surgimento de doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes. É importante frisar que a desnutrição não diz respeito apenas a ausência de alimentação, mas também a má qualidade desta (NEXO, 2022).

2.3 Acolhimento Institucional e Saúde Integral

Antes da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), as instituições existentes para acolhimento de crianças e adolescentes eram os antigos orfanatos, educandários ou colégios internos, amparadas pelo Código do Menor. Durante décadas, essas instituições ficaram conhecidas como espaços de abandono, funcionando como grandes instituições fechadas, isoladas da comunidade e atendendo muitas crianças ao mesmo tempo. Nelas, as crianças e adolescentes permaneciam até completar 18 anos, não existindo, portanto, trabalho para garantir a convivência familiar e comunitária (INSTITUTO FAZENDO HISTÓRIA, 2018).

O Centro de Educação e Reabilitação Infantil (CERI), chamado de Centrinho, foi criado pela COMSAÚDE em maio de 1993 e visa a educação e recuperação de crianças desnutridas de Porto Nacional, a formação profissional e sociopolítica dos funcionários bem como ações educativas junto às famílias das crianças atendidas. Atende anualmente em média 50 crianças, entre 8 meses e 6 anos e funciona como semi-internato, com participação das mães no dia a dia (BRASA, 2015).

Para contribuir para diminuição da fome e desnutrição infantil em Porto Nacional são oferecidos: atendimento médico pediátrico, enfermagem, promoção de alimentação saudável e nutritiva, visitas familiares, atividades educativas e recreativas, desenvolvimento psicomotor das crianças, implantação de quintais produtivos nas residências das famílias, palestras sobre alimentação e autoestima e cursos de capacitação para funcionários (BRASA, 2015).

2.4 Intervenções Nutricionais e Estratégias de Educação para Famílias

As parcerias público-privadas (PPP) são uma abordagem crescente e eficaz para enfrentar desafios globais de saúde, como o duplo fardo da desnutrição, que compreende tanto a subnutrição quanto o sobrepeso e a obesidade. Essas parcerias podem assumir várias formas, porém, tradicionalmente, são lideradas por governos, agências de saúde pública ou organizações não governamentais (ONGs), enquanto o setor privado desempenha um papel de apoio. Esse modelo visa aproveitar as competências e recursos do setor privado em conjunto com as diretrizes e a liderança do setor público, criando uma estrutura colaborativa que potencializa os resultados em saúde. Nos últimos anos, a rápida ascensão das mídias sociais e das tecnologias de comunicação de massa tem fornecido uma tecnologia disruptiva que possibilita a implementação de novos programas de intervenção nutricional em larga escala. As mídias sociais oferecem uma plataforma de baixo custo e alta disseminação para a transmissão de mensagens de saúde pública, o que pode aumentar o alcance e a eficácia das iniciativas voltadas para a promoção de hábitos alimentares saudáveis (DREWNOWSKI A. et. al. 2018)

Sob essa perspectiva, as parcerias público-privadas (PPP) oferecem uma série de oportunidades, benefícios e desafios para o envolvimento de organizações não governamentais (ONGs) com o setor privado no enfrentamento dos desafios globais de nutrição em saúde pública. Entre os benefícios das PPP estão a ampliação da visibilidade da nutrição e da saúde nas agendas políticas, a mobilização de fundos e o apoio à pesquisa, o fortalecimento dos processos do sistema alimentar, a facilitação da transferência de tecnologia e a expansão do acesso a medicamentos, vacinas, alimentos e assistência nutricional em crises humanitárias. No entanto, essas parcerias também apresentam desafios significativos, como o equilíbrio entre interesses comerciais e de saúde pública, a gestão de conflitos de interesse, a garantia de que as atividades de co-branding promovam produtos e ambientes alimentares saudáveis, o cumprimento de códigos éticos de conduta, a avaliação da compatibilidade entre as partes e a análise dos resultados obtidos. O sucesso dessas parcerias depende de ferramentas e abordagens que permitam maximizar os benefícios enquanto minimizam os riscos associados aos desafios identificados (KRAAK VI et. al., 2012)

A desnutrição, que abrange subnutrição, sobrepeso, obesidade e deficiências de micronutrientes, continua a impactar milhões de mulheres e crianças, especialmente em países de baixa e média renda (LMICs). Desde a série Lancet de 2013 sobre nutrição materna e infantil, as evidências sobre as dez intervenções recomendadas se fortaleceram, incluindo a suplementação pré-natal de múltiplos micronutrientes, que reduz o risco de natimortos, baixo peso ao nascer e bebês pequenos para a idade gestacional. As intervenções baseadas em alimentos suplementares, especialmente em áreas de insegurança alimentar, e abordagens comunitárias utilizando alimentos terapêuticos localmente produzidos têm se mostrado eficazes no tratamento da desnutrição aguda infantil. Intervenções emergentes, como suplementos nutricionais preventivos à base de lipídios para crianças de 6 a 23 meses, também demonstram resultados positivos no crescimento infantil.

Para a obesidade infantil, intervenções integradas que combinam dieta, exercícios e terapia comportamental são as mais eficazes, embora haja escassez de evidências em países de baixa e média renda. Além disso, estratégias indiretas, como a prevenção da malária e a promoção de água, saneamento e higiene, também oferecem benefícios nutricionais. O desafio futuro é expandir a cobertura dessas intervenções, especialmente para os mais vulneráveis, e abordar o crescente fardo duplo da desnutrição nesses países (KEATS EC et. al., 2021).

3 METODOLOGIA

O presente trabalho está alinhado com os objetivos da disciplina Práticas Interdisciplinares de Extensão, Pesquisa e Ensino III (PIEPE III), na qual os estudantes do terceiro período do curso de Medicina da FAPAC/ITPAC Porto Nacional 2024/2, se dedicaram à aplicação de conhecimentos fora do ambiente institucional.  O local escolhido para a realização do projeto é o Centro de Educação e Recuperação Infantil (CERI), conhecido popularmente como “Centrinho das Crianças” ou “Centrinho” de Porto, localizado no município de Porto Nacional – Tocantins. O CERI é um dos projetos permanentes da Comunidade de Saúde, Desenvolvimento e Educação (COMSAÚDE) sendo conhecido como um ambiente no qual crianças que são socialmente vulneráveis encontram apoio e cuidado.

O projeto de extensão consistiu em realizar atividades de educação em saúde focando na nutrição infantil e na importância desta no desenvolvimento do ser humano com a finalidade de permitir que não apenas as crianças conheçam e entendam sobre os benefícios, mas também as mães destas para que elas possam fornecer alimentos mais saudáveis, compreendam que a alimentação nessa fase é de suma importância e percebam que mesmo refeições simples podem ser nutritivas.

No contexto do projeto, consideramos as diretrizes éticas vigentes propostas pelo Código de Ética do Estudante de Medicina, garantindo o respeito à dignidade das crianças em situação de vulnerabilidade e o consentimento informado dos responsáveis. Para todos os fins, não houve a necessidade de submissão ao Comitê de Ética e Pesquisa (CEP), que regula questões éticas em pesquisas científicas, porque o trabalho se configurou como uma extensão, sem necessidade da coleta de dados da população-alvo. Ele foi conduzido em parceria com o Centro de Educação e Recuperação Infantil (CERI), que contribui ao disponibilizar seu espaço e público-alvo para a realização das ações e atividades de extensão. Todas as atividades foram planejadas para atender aos princípios de beneficência e não maleficência, com o objetivo de melhorar a saúde e o bem-estar das crianças.

O público-alvo deste estudo consiste nas crianças que frequentam o CERI, as mães e os responsáveis por estas crianças. Infelizmente este público encontra-se em situação de fragilização social e muitas vezes são negligenciadas pelas políticas públicas do governo. O risco social no qual estas crianças e mães se encontram os deixam expostos a diversas patologias, principalmente no âmbito alimentar onde a falta de alimentação adequada e de qualidade é um grande problema observado entre essa comunidade.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS

A literatura científica atual reforça a importância da nutrição para o desenvolvimento infantil e os impactos negativos da insegurança alimentar. A falta de nutrientes essenciais durante os primeiros anos de vida está associada a problemas de crescimento, desenvolvimento cognitivo e saúde geral (VICTORA et al., 2021; DEWEY & MAYERS, 2023). Deficiências de micronutrientes, como ferro e vitamina A, podem resultar em anemia, comprometimento do sistema imunológico e outros problemas de saúde (BLACK et al., 2020; BHUTTA et al., 2021). Além disso, a insegurança alimentar e as condições socioeconômicas adversas estão fortemente ligadas à desnutrição e a problemas de saúde associados (GUNDERSEN & ZILIAK, 2021).

Programas de intervenção que combinam nutrição e educação têm demonstrado eficácia significativa na melhoria das condições de saúde e no crescimento das crianças em situações vulneráveis. Estudos recentes mostram que estratégias que oferecem suporte alimentar e educação nutricional podem melhorar significativamente os índices de crescimento e a saúde geral das crianças (MORRIS et al., 2021; LASSI et al., 2022). Essas abordagens não só tratam deficiências nutricionais, mas também capacitam comunidades para a promoção de práticas sustentáveis a longo prazo (RUEL et al., 2022).

 E foi a partir desse contexto e dessas discussões que o presente trabalho surgiu. Diante disso, o seu desenvolvimento ocorreu em três etapas principais: A primeira etapa do projeto foi uma visita ao Centrinho, com o objetivo de conhecer a estrutura do local, a rotina das crianças e as principais dificuldades enfrentadas pela instituição. Durante essa visita, aconteceram conversas com os responsáveis pelo espaço e observações in loco, o que permitiu a identificação das principais necessidades. Essas informações foram fundamentais para direcionar as intervenções planejadas no projeto, assegurando que as atividades futuras fossem adaptadas às realidades específicas do local e atendessem às necessidades mais urgentes, como a suplementação alimentar e o suporte educacional para as mães e cuidadores.

Após a visita, a equipe elaborou o projeto com base nas necessidades identificadas, delineando os objetivos e estratégias para a execução das atividades. Ele foi apresentado à banca de professores da Instituição, que avaliou sua viabilidade. E por fim, houve a  realização do projeto que se deu por meio de uma roda de conversa com os responsáveis pelas crianças, que consistiu em um momento educativo sobre a importância da nutrição infantil e estratégias para enfrentar a desnutrição. O papel dos mediadores esteve pautado em compartilhar informações práticas e fornecer orientações sobre cuidados alimentares às mães das crianças assistidas pela instituição, bem como oferecer uma escuta ativa a respeito dos desafios enfrentados pelas famílias que frequentam o CERI.

Os acadêmicos de medicina, com a supervisão do orientador do projeto, conduziram o momento dando ênfase a um estilo de vida que estimula hábitos alimentares saudáveis. Houve uma arrecadação de fundos e alimentos, na qual a comunidade local foi envolvida em uma campanha para angariar recursos que serão destinados à compra de alimentos para o Centrinho. A partir da divulgação em rede social de banner informativo com número pix para depósito em dinheiro, a comunidade tomou conhecimento do projeto e foi convidada a ajudar.

5 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta ação proporcionou uma análise aprofundada sobre nutrição infantil e a sua importância para o desenvolvimento do ser humano. Nesse sentido, o objetivo principal foi alcançado ao contribuir para a melhoria do estado nutricional das crianças do Centro de Educação e Reabilitação Infantil (CERI), por meio de ações voltadas para a alimentação adequada e de uma sensibilização dos responsáveis por essas crianças, sobre a alimentação infantil adequada.

Somado a isso, notou-se que por meio do projeto, houve uma maior participação e engajamento das famílias nas atividades do CERI, fortalecendo assim os laços comunitários; a troca de experiências e saberes entre os estudantes do ITPAC Porto e a comunidade participante, bem como contribuiu na melhoria da qualidade de vida das crianças e das famílias atendidas.

Diante do exposto, percebe-se que a educação alimentar nutricional, como estratégia para auxiliar na prevenção de agravos, é essencial para aumentar o conhecimento da população sobre o assunto. Somado a isso, notou-se que os hábitos alimentares têm grande importância na determinação das deficiências nutricionais e na ocorrência das doenças crônicas.  Sendo assim, espera-se que esse estudo contribua com as discussões voltadas para essa problemática e que possibilite reflexões e novas possibilidades.

REFERÊNCIAS

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¹Acadêmica do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: anaclaraleobas56@gmail.com.
²Acadêmico do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: eniocarllos.reis@gmail.com.
³Acadêmico do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: cazuzavale592@gmail.com.
⁴Acadêmica do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: laradouradopaiva@gmail.com.
⁵Acadêmica do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: martinsparanhosm@gmail.com.
⁶Acadêmica do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: gomesdasilvarafaella@gmail.com.
⁷Acadêmica do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. E-mail: sarafreitas141271@gmail.com.
⁸Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Mestra em Geografia (UFT-TO). E-mail: edinaura.cunha@itpacporto.edu.br.
⁹Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Doutora em Ciências (IPEN/USP). E-mail: larissa.silvestre@itpacporto.edu.br.
¹⁰Psicóloga do ITPAC – Porto Nacional-TO. Especialista em Atendimento Sistêmico, Família, Rede Social e Docência do Ensino Superior (CEULP ULBRA/Faculdade Única). E-mail: liliaconstantino74@gmail.com.
¹¹Psicopedagoga do ITPAC – Porto Nacional-TO. Especialista em Psicanálise da Clínica aos Espaços Institucionais, Intervenção ABA – Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista e Deficiência Intelectual (IPOG/GO). E-mail: lorena.costa@itpacporto.edu.br.
¹²Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Especialista em Assistência de Enfermagem em Urgência e Emergência, em UTI Geral e Oncologia Clínica (CGESP-GO). E-mail: marcia.sales@itpacporto.edu.br.
¹³Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Doutora em Ensino de Língua e Literatura (PPGL/UFT). E-mail: nelzir.costa@afya.com.br.
¹⁴Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Especialista em Saúde da Família e Docência do Ensino Superior (Faculdade Iguaçu). E-mail: sara.lopes@itpacporto.edu.br.
¹⁵Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Especialista em Urgência e Emergência, Enfermagem do Trabalho e UTI (CGESP-GO). E-mail: josy.souza@itpacporto.edu.br.
¹⁶Docente do curso de Medicina do ITPAC – Porto Nacional-TO. Especialista em Psicologia Clínica e Docência do Ensino Superior (Faculdade Iguaçu). E-mail: nailsonhistoria@gmail.com.