FATORES DE RISCO RELACIONADOS A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

RISK FACTORS RELATED TO TEENAGE PREGNANCY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202411301051


Julia Ribeiro de Sena Melo¹;
Patrícia Silvestre Limeira².


Resumo

A Gravidez na adolescência é considerado um problema de saúde pública, devido à ocorrência de complicações na saúde da adolescente e do bebê, bem como de prejudica desfavoravelmente aspectos da vida social. O acesso à educação sexual é essencial para o conhecimento adequado dos métodos contraceptivos, planejamento familiar. Assim, o  presente artigo tem como objetivo analisar a importância da educação sexual em saúde para prevenção da gravidez na adolescência. Trata-se de estudo tipo Revisão Integrativa da Literatura. Para análise foram selecionados textos sobre Fatores de risco relacionados a gravidez na adolescência e educação sexual em saúde para prevenção da gravidez na adolescência. Foram selecionados 20 artigos científicos, 18 artigos no idioma português e dois em inglês. Todos os artigos foram publicados entre 2019 a 2023.

Palavras-chave: Gravidez na adolescência; Educação Sexual; Papel do Profissional de Enfermagem. 

1 INTRODUÇÃO

Considerada um problema de saúde pública, a gravidez na adolescência deve ser observada amplamente, envolvendo a mãe adolescente e os problemas que a cercam. São fatores de risco para gravidez na adolescência, a baixa escolaridade e o início precoce da relação sexual, a falta de conhecimento e de acesso aos métodos anticoncepcionais. Adiciona-se a estes a ausência de planos, a baixa autoestima, o abandono escolar, o abuso de álcool e drogas e a falta de conhecimento a respeito da sexualidade (Santos  et al., 2020).

Segundo a Organização Mundial de Saúde:

“a gravidez na adolescência é um fenômeno global com causas claramente conhecidas e graves consequências sanitárias, sociais e econômicas para indivíduos, famílias e comunidades. Existe consenso sobre as ações baseadas em evidências necessárias para evitá-lo” (OMS, 2020).

A adolescência corresponde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cronologia é definida entre 10 e 19 anos e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei n.º 8.069/90 entre 12 e 18 anos (Lucas et al., 2023).

Um dos mais importantes fatores de prevenção é a educação. Educação sexual integrada e compreensiva faz parte da promoção do bem-estar de adolescentes e jovens ao realçar a importância do comportamento sexual responsável (Brasil, 2023).

Na Estratégia de Saúde da Família (ESF) o enfermeiro é um profissional de fundamental importância para o desenvolvimento de ações junto aos adolescentes. Ações relacionadas a assistência de enfermagem a pacientes grávidas, com intervenções interdisciplinares, a promoção da saúde e estratégias de prevenção, ao monitoramento das condições de saúde e a prática de enfermagem comunicativa (Santos, 2023 apud Moreira, 2016).

Daí a relevância da interação entre a educação e a saúde, para juntas, encontrarem novas formas e ações para interagir, orientar e lidar com o público adolescente, para reduzir os índices de gravidez não planejada e abandono escolar (Avelino et al., 2021).

Diversos fatores concorrem para a gestação na adolescência. No entanto, a desinformação sobre sexualidade, sobre direitos sexuais e reprodutivos é o principal motivo. Questões emocionais, psicossociais e contextuais também contribuem, inclusive para a falta de acesso à proteção social e ao sistema de saúde, incluindo o uso inadequado de contraceptivos, como métodos de barreira e preservativos (Brasil, 2023a).

Aliteratura apresenta a educação como fator primordial na prevenção da gravidez na adolescência, entretanto, estudos que demostram na prática ações com resultados relevantes são escassos. Isto posto, o presente estudo teve como objetivo analisar a importância da educação sexual em saúde para prevenção da gravidez na adolescência.

2 MÉTODOS

O presente artigo é um estudo tipo Revisão Integrativa da Literatura (RIL):

“que é um método que proporciona conhecimento e resultados de estudos com ampla abordagem metodológica incorporando conceitos, revisão de teorias, evidências e análise de problemas metodológicos” (Silva et al., 2020).

A revisão integrativa da literatura foi realizada por meio de cinco etapas:

Etapa 1 – Identificação do tema e pergunta de pesquisa:

Esta revisão norteou-se pela seguinte pergunta de pesquisa: Os Fatores de Risco Relacionados a Gravidez na Adolescência e com ênfase na pegunta: A educação sexual em saúde pode auxiliar na prevenção da gravidez na adolescência?

Etapa 2 – Estabelecimento de critérios para inclusão e:

Neste estudo os critérios de inclusão foram: artigos com textos completos publicados em português e inglês, entre os anos de 2019 a 2023 que contenham dados educação e gravidez na adolescência, de preferência que tenha um estudo de longo prazo sobre a eficácia da educação sexual na prevenção da gravidez na adolescência.

A busca dos artigos foi realizada por meio da base de dados Pubmed, as Revistas informadas na tabela 1, dados do Governo Federal e publicação da Organização Mundial de Saúde. Foram realizados cruzamentos entre as seguintes palavaras-chave: gravidez na adolescência,  papel do profissional de enfermagem, educação sexual.

Etapa 3 – Definição das informações a serem extraídas dos artigos selecionados:

Neste estudo foram extraídas as seguintes informações dos artigos selecionados: título do artigo, local e ano de publicação, síntese dos resultados e nível de evidência.

Na análise dos níveis de evidência, definiu-se conforme Silva e Ferreira (2021):

“Nível 1 – evidências resultantes da meta-análise de múltiplos estudos clínicos controlados e randomizados;

Nível 2 – evidências obtidas em estudos individuais com delineamento experimental;

Nível 3 – evidências de estudos quase-experimentais;

Nível 4 – evidências de estudos descritivos (não-experimentais) ou com abordagem qualitativa;

Nível 5 – evidências provenientes de relatos de caso ou de experiência; e

Nível 6 – evidências baseadas em opiniões de especialistas”.

Etapa 4 – Categorização dos estudos incluídos na revisão integrativa:

Foi realizada a leitura dos resumos dos mesmos e analisados critérios como: pesquisas com adolescentes com foco na educação sexual, abordagem dos fatores de riscos da  gravidez na adolescência e o papel do enfermeiro neste processo.

Etapa 5 – Interpretação dos resultados:

Os resultados foram interpretados por meio de comparação de artigos.

RESULTADOS

Foram selecionados 20 artigos científicos, 18 artigos no idioma português e dois em inglês. Todos os artigos foram publicados entre 2019 a 2023,  com foco na gravidez na adolescência, fatores de riscos, papel da enfermagem, educação sexual, conforme fluxograma abaixo. A tabela 1 apresenta os artigos seletados.

Fluxograma dos Artigos e Estudos Incluídos na Pesquisa

Tabela 1 – Artigos selecionados

Título do ArtigoAutores/Estado/AnoPeriódicoSíntese dos ResultadosNível de evidência
Gravidez na adolescência e educação sexual: percepções de alunas do ensino médio de um município da Serra Catarinense  Spaniol C;  Spaniol MM  e  Arruda SN-SC/2019Cad. Pós-Grad. Distúrb. DesenvolvA temática sexualidade vem sendo abordada de maneira incipiente no ambiente escolar e costuma ser um tabu no ambiente familiar.    4
Barreiras encontradas por mães adolescentes para adesão precoce ao pré-natal  Dias EG, Oliveira CKN, Souza  ELS-MG/2020Journal Health NPEPS  A ocorrência da gravidez ocorreu entre adolescentes de pouca escolaridade  e baixa renda.4
Educação em Saúde Sexual e Reprodutiva do Adolescente EscolarFranco MS, Barreto MTS, Carvalho JW, Silva PPI, Moreira WC, Cavalvante MC, Silva DFC, Lima LHO-PE/2020  Portal Regional BVS RUOLNotou-se a carência no conhecimento dos adolescentes escolares acerca da temática da saúde sexual e reprodutiva.  4
Percepção de Adolescentes  Gestantes Sobre a Assistência de Enfermagem ao Pré-NatalCarvalho SS.; Oliveira LF-BA/2020Enfermagem em focoHá necessidade de ampliação e melhoria da assistência pré-natal realizada pelo enfermeiro.  4
Fatores de risco associados à gravidez na adolescência: revisão integrativa  Silva BM, Nogueira BRV, Lopes G, Souza LRS, Barros NPS, Freitas RA, Chagas WM/MG-AM/2020Research, Society and DevelopmentMesmo com a facilidade com os  acessos às informações sobre métodos anticoncepcionais, averígua-se uma grande existência de uma carência de direcionamento, que acaba contribuindo para elevar os casos de gravidez na Adolescência4
Orientações às gestantes no pré-natal: a importância do cuidado compartilhado na atenção primária em saúde  Marques BL, Tomasi YT, Saraiva SS, Boing AF, Geremia DS-SC/2021Escola Ana Nery: Revista de EnfermagemOs resultados demonstraram a existência de lacunas em relação às orientações  ofertadas pelos profissionais de saúde durante o acompanhamento pré-natal.   4
Fatores de Risco da Gravidez na Adolescência no Brasil  Avelino CS, Araújo ECA, Alves LL – PA/2022Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação – REASE  Observou os riscos de uma gravidez  não  planejada  na  adolescência  com  a  falta  de  informação  e conhecimento sobre esse assunto.  4
Gravidez na Adolescência. Promoção e Proteção da Saúde da Mulher  Oliveira BFL, Oliveira ES, Rigo PR, Santos P, Prates R, Simões AB, Mantovani AA-         RS/2022  Lume UFRGSConsultas de rotina podem se tornar meio de disseminação de informação tanto para os pais, quanto para as próprias filhas.  4
Gravidez na adolescência: perfil sociodemográfico de adolescentes grávidas no período de 2015 até 2019  Melo TAS, Gomes AT, Gomes LA, Herculano DP, Morceli G, Januário GC – RS/2022Revista de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria-UFSM  A análise temporal apresentou queda de 2015 a 2019, da gravidez na adolescência.4
Fatores de risco da gravidez na adolescência e os aspectos que a influenciamPretti H, Rocha DPM, Santos TC, Carvalho TPA, Silva LMA, Duarte IA, Dourado GG, Pereira MB, Silva MCP – BA/2022Research Society and Development – ResearchGateMuitas vezes a gestação precoce traz inúmeras consequências e diversos riscos para adolescente.   
Adressing HIV/sexually transmitted diseases and pregnancy prevention through schools: An approach for strengthening education, health services, and school environments that promote adolescent sexual health and well-beingWilkins NJ, Rasberry C, Liddon N, Szucs LE, Johns M, Leonard S, Goss SJ, Oglesby H – EUA/2022Pubmed – J Adolesc HealthO modelo de programa baseado na escola, as evidências para prevenir o HIV/DSTs e a gravidez indesejada entre adolescentes de forma eficaz, equitativa e sustentável crescerão e melhorarão nossa capacidade de melhorar a saúde e o bem-estar de todos os jovens.  5
Educação em Saúde Sexual e Reprodutiva Durante a Gravidez na AdolescênciaMelo APD, Macedo AD, Macêdo AD, Silveira SMC, Parente MB, Cruz CJP, Veras RQF, Marques IC, Neto HC, Batista JC, Silva TBM -PA/2023  Revistaft Ciência da SaúdeA maioria das adolescentes não está totalmente preparada para as responsabilidades da gravidez.   4
Educação em Saúde sobre Sexualidade nas Escolas: a Prevenção de Gravidez na Adolescência na Zona Rural do Município de São Bento do Tocantins  Gomes PM, Meira SS, Lima LN,  Pinto CS – TO/2023Revista Extensão – REOs estudantes têm conhecimentos superficiais a respeito de prevenção de Gravidez.4
Enfermagem em Saúde Escolar Promovendo Educação Sexual em Adolescentes no BrasilFrota AC, Sousa GM, Silva MNS, Passos MAN – DF/2023  Revista JRG de Estudos AcadêmicosA prática de educação sexual  nas  escolas  enfrenta  dificuldades  para  sua  efetividade.4
Fatores Relacionados a Gravidez na Adolescência: Perfil Reprodutivo de um Grupo de Gestantes  Pontes BF, Baptista QJ, Carvalho CR, Fernandes GC, Jesus L, Teixeira RC – RJ/2023Revista de Pesquisa Cuidado é Fundamental Rev. PesquiOs resultados apontam sobre a importância do papel do enfermeiro nas práticas educativas na saúde da mulher e a atuação no âmbito da atenção primária em saúde.  4
O Papel das Escolas na Educação Sexual e Métodos de Combater a Gravidez na Adolescência e a Evasão Escolar: Estudo de Caso nos Municípios de Pinheiral (RJ) e Volta Redonda (RJ)  Coelho IPM, Junior JRM, Tomaz ESMl – RJ/2023Revista Científica Recimar 21Identificou-se que o papel das escolas é de suma importância para o ensino da educação sexual, visto que possui papel ativo no desenvolvimento de seus alunos.4
Abordagem do Enfermeiro na Gravidez na Adolescência  Santos ACF, Vador, RMF, Cunha, FV, Silva, AA – SP/m2023Brazilian Journal of health ReviewÉ fundamental a capacitação do Enfermeiro para o acolhimento e acompanhamento da gestação de uma adolescente.  4
Gravidez na adolescência: aspectos epidemiológicos da maternidade precoce no estado do Pará, Brasil  Sodré NS, Schröder NT, Silveira EF – PA/2023Saúde e PesquisaA gravidez precoce em adolescentes expõe a riscos sociais e de saúde.  4
O papel do Enfermeiro na Prevenção da Gravidez na Adolescência.  Lucas, AKR, Santos, KN, Batista, LL, Silva CVS – DF/2023Revistaft Ciência da Saúde  As parcerias entre enfermeiros e escolas são particularmente destacadas como um meio eficaz de alcançar os jovens e fornecer educação em saúde.   4
School-based relationship and sexuality education intervention engaging adolescent boys for the reductions of teenage pregnancy: the JACK cluster RCTLohan M, Gillespie K, Aventin Á, Gough A, Warren E, Lewis R, Buckley K, MsShane T, Brennan-Wilson A, Lagdon S, Adara L, McDaid L, French R, Young H, McDowell C, Logan D, Toase S, Hnter RM, Gabrio A, Clarke M, O’Hare L, Bonell C, Bailley JV, White J – EUA/2023Pubmed – Public Health Res (Southampt)Descobriu que a intervenção foi eficaz em aumentar o uso de métodos contraceptivos confiáveis.1

3 DISCUSSÃO

Na literatura brasileira o tema gravidez na adolescência é extenso, o que dificultou a delimitação do objeto de estudo, no caso em questão, como a educação sexual influência na prevenção da gravidez precoce e outras matérias correlatas.

Melo et  al., (2022) apresenta o perfil  sociodemográfico de adolescentes grávidas no período de 2015 a 2019,  inferindo que a gravidez na adolescência é caracterizada por diversas implicações sociais, econômicas, psicológicas e biológicas. A curto prazo as mães adolescentes possuem maiores chances para complicações de saúde, impactos desfavoráveis sociais adversos, aborto inseguro e infecções sexualmente transmissíveis (IST), resultando a idade materna um determinante importante para o risco gestacional.

Uma das implicações sociais abordadas por Melo et  al., (2022)  é o baixo rendimento escolar ou até mesmo a desistência dos estudos, que pode ser um obstáculo no futuro, para entrada no mercado de trabalho. Em relação à saúde da mãe e da criança, o menor número de consultas de pré-natal, maior absenteísmo, provoca mais partos prematuros, maior frequência de recém-nascidos de baixo peso.

Estudos demonstram que um pré-natal eficaz está relacionado a redução de fatores perinatais negativos, como baixo peso e prematuridade e a diminuição da ocorrência de complicações obstétricas, como eclâmpsia, diabete gestacionais e mortalidade materna. Assim, o acompanhamento do pré-natal, focado na saúde do bebê e da mãe busca, mediante ações preventivas, assegurar o desenvolvimento gestacional e nascimento saudável do bebê (Marques et al., 2021).

Como referenciado por Carvalho e Oliveira (2020) é fundamental o planejamento das consultas pré-natais e do atendimento eficaz durante o processo, recomendado o início do acompanhamento pré-natal nos primeiros três meses de gestação e deve-se realizar ao menos um total de seis consultas durante a gravidez.

A demora em buscar a adesão ao pré-natal está associada há diversos motivos, entre eles o medo em abandonar os estudos, a rejeição da família, a desinformação quanto a importância do pré-natal, o que pode apresentar riscos para o desenvolvimento gestacional (Dias et al., 2020).

No Brasil, a Atenção Primária à Saúde (APS), norteada pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), destaca que é competência da equipe de saúde o acolhimento e a atenção a saúde da gestante e da criança, englobando a prevenção de doenças, a promoção e o tratamento de agravos ocorridos durante o período gestacional até o período puerperal e os cuidados com a criança (Marques et al., 2021).

Carvalho e Oliveira (2020) ressalta que o papel do enfermeiro é destacado na assistência pré-natal, tendo como atividades: acolher a gestante, identificar e priorizar suas necessidades, realizar os encaminhamentos e prestar orientações para obter bons resultados até o nascimento da criança.) 

Segundo os dados estatísticos do Ministério da Educação, por dia 1.043 adolescentes se tornam mãe no Brasil e, por hora, 44 bebês que nascem são de mães adolescentes, destas duas tem idade entre 10 e 14 anos. Os dados são do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), ferramenta do Sistema Único de Saúde (SUS) (Brasil, 2023b).

“A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda como prevenção da gravidez na adolescência ações de intervenções educacionais que envolvam as mulheres ativamente no planejamento do parto” (Pontes. et al., 2023).

A Lei 13.798, de 2019 incluiu o artigo 8º A., ao Estatuto da Criança e do Adolescente, instituindo a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, a ser realizada anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro, cujo objetivo é disseminar informações sobre medidas preventivas e educativas que contribuam para a redução da incidência da gravidez na adolescência (Brasil, 1990).

Neste ponto, pesquisas realizadas no âmbito escolar evidenciam que: as medidas educacionais sobre sexualidade são restritas as aulas de Ciências Biológicas (Franco et al., 2020); que a maioria das estudantes entrevistadas apresentaram dúvidas acerca da sexualidade e aos métodos contraceptivos, utilizando a internet como fonte para dirimir dúvidas (Spaniol et al., 2019); e, ainda, a baixa escolaridade e baixa renda estão estritamente correlacionadas ao não uso de métodos contraceptivos (Pretti et al., 2022).

Estudos mostram que os jovens têm conhecimentos prévios superficiais sobre o uso dos métodos contraceptivos de prevenção a gravidez e Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) (Gomes et al., 2023; Silva; Ferreira, 2021; Sodré et al., 2023; Vieira et al., 2021).

O tabu dos familiares em dialogar sobre sexualidade é outro contratempo apontado nos artigos estudados. (Coelho et al., 2023; Frota et al., 2023; Melo et al. 2023).

Já os artigos em língua inglesa apresentam a importância de envolver os adolescentes precocemente em ações de educação para diminuir as taxas de sexo desprotegido, visando a melhoria da saúde e o bem-esta dos jovens (Lohan et al., 2023; Wilkins et al., 2022). 

Apesar da gravidez na adolescência ser um importante problema de saúde pública em todo o mundo, ocorreu uma redução nas taxas de fecundidade significativa, fato observado também em pesquisa realizada em todas as microrregiões de saúde do Pará (Sodré et al., 2023; Oliveira et al., 2022).

Conforme o Ministério da Saúde, desde 2019 o número de mães na adolescência com idades entre 10 e 19 anos diminuiu em média, 18%. É o que aponta levantamento do Sistema de Informações de Nascidos Vivos, do Governo Federal. Os casos registrados em 2018 foram de 456,1 mil, enquanto em 2020 foram 380,7 mil gestações nesta fase da vida (Brasil, 2023b).

Nesta esteira, consoante os dados do DataSUS, sistema do Ministério da Saúde, coleta de dados sobre a incidência de nascidos vivos no Brasil, de 2019 e 2023, mostra que ocorreu uma diminuição no número de nascimentos de crianças de mães da faixa etária de 10 a 19 anos (Brasil, 2024).

Tabela 2 – Nascidos de mães adolescentes – 2019 e 2023

 Nascidos de mães adolescentes (mães da faixa etária de 10 a 14 anos)Nascidos de mães adolescentes (mães da faixa etária de 15 a 19 anos)
RegiãoNascidosNascidos
 Ano 2019Ano 2023Ano 2019Ano 2023
1 Norte4.1123.36165.28951.820
2 Nordeste7.5045.261136.06495.731
3 Sudeste4.6363.144123.51685.585
4 Sul1.5251.01842.44030.409
5 Centro-Oeste1.5831.14832.61325.548
Total22.36013.932399.922289.093
Fonte: DataSUS /Ministério da Saúde (2024)


Comparando os anos de 2019 e 2023, ocorreu uma diminuição de 60% de incidência de nascidos vivos de mães entre 10 a 14 anos e de 38% de mães entre 15 e 19 anos. Vale ressaltar que houve também, uma redução do total de nascidos, sendo no ano de 2019, de 2.849.146 nascidos para 2.536.281 nascidos, no ano de 2023, uma diferença de 12,33%.

Alguns fatores podem ser atribuídos a esta redução, conforme apontado em estudo realizado no Pará, o isolamento da pandemia de COVID-19, a postergação da gravidez devido ao contexto instável em razão da pandemia, ou o acesso às informações em relação à prevenção da gravidez (Sodré et al., 2023).

Limitações do Estudo

Em que pese a quantidade de estudos sobre a gravidez precoce, quanto a prevenção, os achados tratam de casos pontuais, no estado do sul, do norte, do nordeste, e do sudeste do país e projetos nos Estados Unidos. Notou-se que a adolescente quando procura a unidade de saúde para iniciar o pré-natal, encontra um ambiente voltado para orientá-la a respeito dos cuidados com a gravidez, as informações sobre o uso dos métodos contraceptivos, planejamento familiar, mas, em relação aos adolescentes em geral, na área da saúde ou educação, observou-se a ausência de projetos, de ações direcionadas a educação sexual destes jovens. Outra ocorrência notada é a falta de estudos de longo prazo, com dados robustos da efetividade de projetos sobre educação sexual, da incidência da gravidez de adolescentes após ter contato com o acolhimento recebido durante a primeira gestação.    

Contribuições para a Área

Este estudo contribui para reflexões quanto a importância do alinhamento entre educação e saúde no enfrentamento dos desafios para vencer os obstáculos encontrados na difusão das informações aos adolescentes, sobre sexualidade, prevenção da gravidez e  infecções sexualmente transmitidas (IST).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde pública, devido à ocorrência de complicações na saúde da adolescente e do bebê, atingindo desfavoravelmente a aspectos da vida social, levando ao abandono escolar e dificuldades econômicas, afetando o relacionamento com os familiares. Fatos que demandam políticas públicas com ações voltadas para educação e prevenção, por exemplo, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que acontece anualmente.

Como prevenção, o acesso à educação sexual é essencial para o conhecimento adequado da saúde sexual. A atenção primária é responsável pelo acolhimento das jovens grávidas e transmissão destas informações.

Os textos estudados apresentam os desafios que norteiam a disseminação da prevenção da gravidez na adolescência, em virtude da não abordagem do assunto ou quando é abordada inconvenientemente, no âmbito familiar e escolar.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso Superior de Bacharelado em Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília IESB e-mail: jsenamelo72@gmail.com
²Docente do Curso Superior de Bacharelado em Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília IESB e-mail: patricia.limeira@iesb.du.br