AVALIAÇÃO DA PRESENÇA DE LÍQUIDO AMINIÓTICO MECONIAL BASEADO EM FATORES MATERNOS E FETAIS DURANTE O PRÉ-NATAL E O PARTO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411301232


Amabille Dellalibera Simões,
Alvaro Nunes Machado,
Liz Silva Loureiro,
Gabriel Aparecido Cantalogo Borges,
Gustavo Alves De Oliveira,
Michaela Franco Tomich,
Iara Guimares Rodrigues


RESUMO

O presente trabalho é resultado de um estudo observacional, transversal e retrospectivo com o objetivo de investigar a relação entre a presença LAM e diversos fatores maternos e fetais. A pesquisa foi conduzida no Hospital Municipal Modesto de Carvalho, em Itumbiara-GO, envolvendo uma amostra de 230 gestantes. Os dados coletados incluíram a presença ou ausência de LAM peso ao nascer, intercorrências durante a gestação e o nascimento, incluindo Apgar dos recém-nascidos. Para a análise estatística dos dados, foi utilizado o software JASP, realizando estudos descritivos e testes de associação, como o teste exato de Fisher. Os resultados obtidos revelaram uma associação significativa entre a presença de LAM e fatores como o tipo de parto e intercorrências durante o trabalho de parto. Observou-se que neonatos expostos a LAM apresentaram uma maior porcentagem de índices de Apgar inferiores a 7, indicando um potencial aumento no risco de asfixia fetal. Embora o índice de Apgar não tenha alcançado significância estatística, a tendência observada sugere que a presença de LAM pode estar relacionada a um estado de saúde comprometido dos RN. A conclusão do estudo enfatiza a importância de um pré-natal adequado e de um monitoramento contínuo do bem-estar fetal para prevenir complicações neonatais associadas ao LAM. Destaca-se que a identificação precoce de fatores de risco, e a implementação de práticas baseadas em evidências, como a monitorização eletrônica em tempo real, podem ser cruciais para melhorar os desfechos. Trata-se de um trabalho com limitações, como a falta de séries temporais nos dados e o desenho retrospectivo do estudo, que dificultam a avaliação de relações causais. Sugere-se que futuras pesquisas com um design prospectivo e multicêntrico sejam realizadas para aprofundar a compreensão das interações entre fatores obstétricos, neonatais e maternos na ocorrência de LAM, visando a aprimorar a qualidade da assistência ao binômio mãe-criança.

Palavras-chave: Líquido Amniótico mecônial;  parto; fator de risco

1 INTRODUÇÃO

O líquido amniótico com mecônio (LAM) é uma condição que ocorre em cerca de 10% a 15% dos partos a termo e está associada a diversos fatores de risco maternos e fetais (Osava et al., 2012). A presença de mecônio no líquido amniótico pode ter implicações significativas para o recém-nascido, aumentando a chance de complicações respiratórias, como a síndrome de aspiração de mecônio (SAM), uma importante causa de morbidade neonatal (Cabrera et al., 2007). Devido a essas consequências, a identificação dos fatores associados à presença de LAM é fundamental para aprimorar o atendimento ao parto e reduzir os riscos para o neonato.

Entre os fatores maternos que contribuem para a presença de mecônio no líquido amniótico, a idade gestacional avançada é um dos mais frequentemente mencionados na literatura. Gestantes com idade gestacional igual ou superior a 41 semanas apresentam um risco significativamente maior de LAM, com estudos demonstrando uma prevalência seis vezes maior em comparação a gestações com 37 semanas (Osava et al., 2012). Esse dado reforça a importância do acompanhamento rigoroso de gestações prolongadas para identificar precocemente sinais de sofrimento fetal.

Outro fator de risco importante é o uso de ocitocina durante o trabalho de parto. A ocitocina, comumente utilizada para induzir ou acelerar o trabalho de parto, foi associada a um aumento na incidência de LAM, sugerindo que o estresse induzido pelo uso desse hormônio pode levar à liberação de mecônio pelo feto (Cabrera et al., 2007). Este achado aponta para a necessidade de reavaliar a prática do uso rotineiro de ocitocina, especialmente em partos de risco, para minimizar complicações associadas ao LAM.

Além disso, estudos mostram que a primiparidade também está associada a uma maior prevalência de LAM, com as mães de primeira viagem apresentando risco 1,49 vezes maior de parto com mecônio em comparação às multíparas (Osava et al., 2012). Esse fator pode estar relacionado ao estresse fisiológico e psicológico da primigesta, que pode influenciar a dinâmica do trabalho de parto e, consequentemente, a liberação de mecônio pelo feto.

A síndrome de aspiração de mecônio é a principal complicação associada ao LAM e ocorre quando o recém-nascido inala o mecônio, causando obstrução das vias respiratórias e inflamação pulmonar (Fernandes et al., 2015). A SAM pode levar a complicações graves, incluindo a necessidade de ventilação mecânica e, em casos extremos, até a morte neonatal. A identificação precoce e o manejo adequado de partos com LAM são essenciais para reduzir os impactos dessa condição nos recém-nascidos.

O índice de Apgar no primeiro e quinto minutos é outro indicador importante na avaliação de recém-nascidos expostos ao LAM. Bebês nascidos com mecônio no líquido amniótico têm maior probabilidade de apresentar um Apgar abaixo de 7, indicando dificuldades respiratórias e necessidade de intervenções neonatais imediatas (Osava et al., 2012). Esse achado destaca a relevância de uma assistência obstétrica e neonatal qualificada para identificar rapidamente sinais de asfixia neonatal.

No contexto dos partos cesáreos, observa-se uma associação positiva entre a presença de mecônio no líquido amniótico e a taxa de cesáreas. Partos com LAM frequentemente evoluem para cesárea, devido ao risco de sofrimento fetal e complicações durante o parto vaginal (Fernandes et al., 2015). A escolha pela cesárea nesses casos visa prevenir a inalação de mecônio e, assim, reduzir o risco de SAM.

A literatura também sugere uma relação entre LAM e intercorrências maternas, como hipertensão e diabetes gestacional. Essas condições estão associadas a um risco aumentado de liberação de mecônio, especialmente em gestações prolongadas ou complicadas (Guamán et al., 2023). Portanto, a presença de doenças maternas durante a gestação pode servir como um indicador para monitoramento mais rigoroso, especialmente em casos de alto risco.

Em relação aos fatores fetais, o peso ao nascer é um fator que pode influenciar a ocorrência de LAM. Estudos indicam que bebês com peso elevado ao nascer, muitas vezes associado a gestações prolongadas, têm maior probabilidade de liberar mecônio (Osava et al., 2012). Esse dado é relevante para a avaliação do risco de SAM em recém-nascidos macrosômicos, especialmente em partos a termo e pós-termo.

Além do peso, o sexo do recém-nascido também pode influenciar a presença de LAM. Algumas pesquisas indicam que o sexo masculino está associado a uma maior incidência de mecônio, embora as razões para essa diferença ainda não sejam totalmente compreendidas (Osava et al., 2012). Investigações adicionais são necessárias para explorar essa possível relação e suas implicações para o manejo obstétrico.

A avaliação da frequência cardíaca e da vitalidade do recém-nascido durante o trabalho de parto são essenciais para prevenir complicações associadas ao LAM. O monitoramento contínuo permite a identificação de sinais de sofrimento fetal, o que pode justificar a realização de intervenções precoces para reduzir o risco de SAM e melhorar os desfechos neonatais (Himes et al., 2013).

A importância das consultas de pré-natal para a detecção e prevenção de fatores de risco para LAM é amplamente reconhecida. Um acompanhamento pré-natal adequado permite a identificação precoce de gestações de risco e possibilita a implementação de estratégias preventivas, como o agendamento de parto para evitar prolongamentos gestacionais que aumentem o risco de LAM e SAM (Osava et al., 2012).

Este estudo tem como objetivo investigar a relação entre a presença de líquido amniótico com mecônio e fatores maternos e fetais em partos realizados em um hospital de Itumbiara-GO. A compreensão desses fatores pode contribuir para a melhoria das práticas obstétricas e para a redução de complicações neonatais associadas ao LAM, proporcionando uma assistência mais segura e eficaz para mães e recém-nascidos.

2. METODOLOGIA

O estudo possui um delineamento observacional, transversal e retrospectivo, com o objetivo de investigar a relação entre a presença de líquido amniótico com mecônio (LAM) e fatores maternos e fetais. Os dados foram coletados a partir dos prontuários de 230 gestantes atendidas para parto no Hospital Municipal Modesto de Carvalho, localizado em Itumbiara-GO, nos meses de setembro, outubro e novembro de 2024.  As informações coletaras foram: a presença ou ausência de líquido amniótico com mecônio no momento do parto, idade gestacional (em semanas), ocorrência de intercorrências durante a gestação (sim ou não), tipo de parto (vaginal ou cesariana), peso ao nascer (em gramas), intercorrências durante o nascimento (sim ou não), ocorrência de desconforto respiratório (sim ou não) e o índice de Apgar no primeiro e no quinto minutos de vida do recém-nascido.

Para análise dos dados as informações transcritas no MS-excel inicialmente foram  exportadas para o programa de análises estatísticas JASP, versão 1.18.3 (JASP Team, 2024), onde foi executado todo o planejamento de análise de dados. A primeira análise foi a descritiva, que organizou e apresentou os dados sob a forma de tabelas de frequência absoluta (n) e relativa em percentuais em todos os dados, excetuando-se a idade gestacional em meses, que por ser uma variável contínua foi apresentada sob forma de média e desvio padrão.

A análise seguinte foi a verificação de associação entre as características do parto (tipo de parto, intercorrência no parto, Apgar no primeiro minuto) e idade materna por meio das comparações das frequências das ocorrências dessas variáveis a presença de LAM, por meio do teste exato de Fisher (Kim, 2017; Vieira, 2018). Além da comparação de frequências, foi calculado o V de Cramer que quantifica a magnitude das diferenças entre variáveis categóricas. Essa medidas tem valores que variam entre 0 e 1 (independente do sentido ou sinal) e, valores abaixo de 0,1 são considerados insignificantes; entre 0,11 e 0,29 fracos, 0,30 á 0,49 moderados e acima de 0,50  fortes (Lenhard e Lenhard, 2017; Serdar et al., 2021).

Para comparar se as médias das idades gestacionais em meses são significativamente diferentes entre os nascituros que tiveram LAM e os que não tiveram foi utilizado o teste t de student com 1000 reamostragens (bootstraps) para mitigar o efeito da ausência de normalidade da variável indicado no teste de Shapiro-Wilk.  Foi calculado também como medida de tamanho do efeito o Δ (delta) de Glass e valores acima de 0,4 são considerados moderados e acima de 0,8 grandes (Delacre, Lakens e Leys, 2017; Serdar et al., 2021).

Para verificar se as variáveis idade gestacional no parto, Apgar no primeiro minuto, peso ao nascer, intercorrência na gestação, intercorrência no parto e tipo de parto (variáveis independentes) podem ser preditores significativos da ocorrência de LAM (variável dependente), foi utilizada a regressão logística, multinominal.  Ela estima a probabilidade de ocorrência de um evento com base em uma ou mais variáveis independentes que podem ser contínuas, ordinais ou categóricas (Savalei e Rhemtulla, 2013; Vieira, 2018) .

O resultado é apresentado em termos de razões de chance odds ratios (OR), que expressam a chance de um evento ocorrer em relação a uma chance de referência. No presente trabalho quando a OR apresenta um p valor significativo no teste de Wald e um valor igual á 1,00 assume-se que há associação (ou predição) entre a variável(is) independente (es) e a variável dependente (ocorrência de LAM); quando ela é maior que 1,00 ela é associa ao aumento de chances da predição (ou seja do de associa-se a ocorrência de LAM), quando ela é inferior a 1,0 uma redução na chance do desfecho. O presente estudo foi testado o modelo com todas as variáveis dependentes introduzidas simultaneamente no modelo e assim foi estimada a OR e realizado teste de Wald para determinar se as variáveis dependentes são associadas significativamente. O ajuste do modelo foi analisado caso ele tenha sido significativo e tenham variáveis dependentes que não se associam essa variáveis são retiradas e a análise será executada novamente para ver o ajuste e a qualidade do modelo por meio do Critério Bayesiano de Informação (BIC) e pelo Critério de Informação de Akaike (AIC)(Hair Jr et al., 2009; Doorn, Van et al., 2021).

O modelo de maior qualidade, ou seja, mais parcimonioso (relação entre quantidade de fatores e covariáveis e com maior AIC e menor BIC) será utilizado para o presente estudo. Para verificar o quanto o modelo selecionado explica a relação das variáveis independentes e dependentes será utilizado o R2 de Nagelkerke (NAGELKERKE, 1991).  Esse coeficiente é um pseudo R2 que varia de 0,0 á 1,0 e quão bem o modelo explica a variação no desfecho e, valores próximos de 0 indicam que o modelo explica pouco da variabilidade observada nos dados e, valores próximos de 1 indicam que o modelo explica grande parte da variabilidade dos dados. Em regressão logística na prática, mesmo valores de Nagelkerke R² em torno de 0.20 a 0.40 podem ser considerados moderados.

O nível de decisão para a rejeição da hipótese nula do presente estudo é de p < 0,05. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, conforme parecer número 6.724.726/2024. Todas as informações coletadas foram tratadas com confidencialidade e privacidade, seguindo as diretrizes éticas para pesquisas com seres humanos e em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

3. RESULTADOS

Foram coletados os dados de 230 parturientes, a maioria na faixa etária entre 21 a 30 anos (60,87%), com a maior frequência de primigestas (35,65%) e nulíparas (37,83%) e, em relação a abortos, a maioria não relatou nenhum (81,30%). Sobre as características da gestação, a maioria fez mais de 6 consultas pré-natais (77,83%), apresentou intercorrência na gestação (55,65%), sendo a intercorrência mais prevalente a infecção do trato urinário (64,38%) isoladamente ou associadas á outras, conforme detalhado na tabela 1.

No que concerne o parto (tabela 2), a idade gestacional média foi de 38,83 meses (+2,67), os partos em sua maioria foram cesáreos (57,39%), sem rotura de bolsa (81,30%) e sem presença de líquido amniótico meconial (LAM) (80,00%). Das42 parturientes que tiveram rotura de bolsa, 73,81% de seus filhos necessitaram de reanimação. Em relação as características dos nascituros, a maioria teve a pontuação na escola de Apgar >7 (91,74%), com peso ao nascer entre 2500 e 3500g, do sexo masculino (52,61%), sem intercorrências no parto (72,17%) e, das 59 intercorrências do parto, a de maior prevalência foi o desconforto respiratório (69,49%).

No conjunto de análises para verificar a presença de LAM nos bebês e as características de parto (tabela 3), foi encontrada uma maior e significativa na proporção de LAM nos partos cesáreos (p<0,01; V de Cramer = 0,18). Um resultado similar foi encontrado na avaliação de acordo com a presença de intercorrências no parto onde foi observado que nos partos onde elas ocorreram houve uma proporção significativamente maior de crianças com LAM (p<0,01; V de Cramer = 0,24). Em relação a escala de Apgar no primeiro minuto (p = 0,12) e a idade materna (p=0,34) e não foram encontradas diferenças significativas em suas proporções. Na comparação das médias entre a idade gestacional das parturientes de acordo com a presença ou não de LAM não foi encontrada diferença significativa (p = 0,07; 95% IC = -1,07 a – 0,03; t = 0,269; diferença média= -0,51; Δ de Glass = -0,50).

Para a análise de regressão logística os testes de muticolinearidade preliminares indicaram que nenhum valor de tolerância foi inferior à 0,50 e nenhum valor de VIF foi superior à 2,00. A tolerância variou entre 0,75 (idade gestacional no momento do parto) e 0,99 (Intercorrência na gestação) e a VIF entre 1,04 (tipo de parto) e 1,37 (peso ao nascer). Assim foi realizada a análise de regressão logística onde foram calculadas as razões de chance e a estatística de Wald além da estimação dos modelos (tabela 4). O modelo 1 foi considerado ajustado (p = <0,01; AIC H₁ = 190,08; BIC H₁ = 216,93 e R² de   Nagelkerke = 0,20). O resultado evidenciou que a idade gestacional, a presença de intercorrência no parto e tipo de parto está significativamente associada a presença de LAM nas crianças e que as variáveis Apggar no primeiro minuto de vida, peso ao nascer e intercorrências gestacionais não se associaram significativamente a ocorrência de LAM. Posteriormente foi executada uma análise aonde somente as características que foram significativas foram incluídas (modelo 2) e o modelo foi considerado novamente significativa, mas foi mais parcimonioso, apesar de explicar discretamente menos o modelo (p = <0,01; AIC H₁ = 196,04; BIC H₁ = 209,60 e R² de   Nagelkerke = 0,16). Esse modelo (2) foi utilizado pra considerar as razões de chance (OR) das variáveis independentes. Na idade gestacional (OR = 1,39), e observou-se que para cada semana a chance da ocorrência de LAM aumenta em 39,00%. Em relação a intercorrência no parto (OR = 3,25), verificou-se que quando ela ocorre a chance de LAM é 225,00% maior do que quando ela não ocorre e, na análise do tipo de parto (OR = 0,36), no parto normal a chance de ocorrer LAM é 64,00% em relação ao parto cesáreo.

 Tabela 4 – Valores dos estimadores dos modelos de regressão e razões de chance das características das parturientes de acordo com a presença de líquido amniótico meconial nas 230 participantes. Elaboração: As autoras

4. DISCUSSÃO

Os resultados aportados pelo presente estudo, especificamente os da tabela 3, mostram associações significativas entre o tipo de parto e intercorrências durante o TP com desfechos neonatais associados ao Apgar de 1 minuto de vida. Estes três fatores interconectados apontam para dinâmicas obstétricas e neonatais que devem se subjugar a práticas baseadas em evidência, especialmente em casos de líquido amniótico meconial. Assim, ambos os resultados corroboram a primazia da eficácia interveniente em saúde materna bem como a importância do estado do conhecimento afeto ao panorama neonatal.

O RCV que mostrou o efeito modulo mais forte da LAM nesta amostra foi o tipo de parto, uma vez que as cesarianas tinham maior alcançabilidade da LAM (24,22%) em comparação com o parto (9,67%) de acordo com a Tabela 3. (AISID ANAL, 2016, p.01; V de Cramer = 0,18). Isso ecoa a literatura, já que as cesarianas têm sido frequentemente associadas ao desejo de evitar possível morbidade neonatal grave em casos de risco fetal. Fernandes, Rudek e Souto (2016) aduzem que uma vez que bebês LAM expostos mais provavelmente desenvolverão complicações respiratórias, uma cesariana tem sido usada regularmente para reduzir o risco de aspiração do mecônio. Cabrera Cuellar et al. (2007) observam que o procedimento pode ser justificado pela probabilidade de desenvolver síndrome de aspiração do mecônio, uma condição associada ao LAM que pode precisar de ventilação mecânica intensa e prolongada e uma maneira de UTIN.

Osava et al. (2024) indicam que não acontece que, apesar da comprovação do benefício em termos dos resultados finais do bebê, a cardinalidade está impulsionando-se na cesariana causa morbidade relacionada ao parto, especialmente no caso de descarga. Todos esses achados ressaltam a importância dos critérios explícitos para a decisão de tratamento uterino, definindo o limite dos fenômenos associado ao feto e. O uso da LAM requer uma vigilância firme ao nascer, o que leva a um raciocínio objetivo e orientação de cuidados no controle fetal.

Outras intercorrências durante o trabalho de parto foram um fator significante associado à presença de LAM, com uma proporção de 33,89% em partos com intercorrências versus 12,72% em partos sem intercorrências, uma diferença estatisticamente significante. Como os autores apontam, essas intercorrências, frequentemente incluindo sofrimento fetal e alterações da frequência cardíaca, são fatores bem conhecidos como predisponentes à LAM, uma vez que podem desencadear a evacuação do mecônio intraútero.

De acordo com Guamán et al. (2024): “intercorrências durante o trabalho de parto aumentam significativamente o risco de LAM e, consequentemente, a necessidade de intervenções emergenciais para proteger o neonato”. Como mencionado acima, o sofrimento fetal pode estar associado à hipóxia, o que, por sua vez, pode promover a evacuação do mecônio pelo feto. Portanto, esses achados indicam a necessidade de monitoramento constante durante o trabalho de parto, com tecnologia moderna como a cardiotocografia permitindo a avaliação em tempo real do bem-estar do feto. De acordo com Himes et al. (2013), “a identificação precoce de sinais de sofrimento fetal é crítica para prevenir complicações neonatais associadas à LAM, incluindo disfunção pulmonar por aspiração mecônio”.

Além disso, essas intercorrências no parto, como os autores apontam, também levam a uma proporção significativamente maior de partos por cesariana como identificado por nossa pesquisa, com uma interdependência significativa entre esses fatores. Assim, o tratamento de intercorrências no parto, junto com a tomada de decisão cuidadosa a respeito da cesariana, é crítico no tratamento de LAM.

Embora o índice de Apgar no primeiro minuto não tenha tido significância estatística neste estudo , os 35,71% de neonatos LAM-expostos com Apgar abaixo de 7 revelaram uma tendência significativa. Estudos anteriores identificaram a presença de LAM ao nascimento como um fator de risco para intercorrências respiratórias em neonatos . Fernandes, Rudek e Souto (2016) observaram que “o índice de Apgar abaixo de 7 em neonatos expostos ao LAM é comum e muitas vezes reflete a necessidade de reanimação e fornecimento de suporte ventilatório”. Embora sem significado estatístico, a alta proporção de Apgar insatisfatório em casos de LAM destaca a importância de uma assistência neonatal de alta qualidade que identifique rapidamente os sinais de asfixia ao nascer e forneça intervenções eficazes.

O gesto aponta para a necessidade de exames minuciosos em partos LAM, especialmente com intercorrências no TP, para reduzir os resultados neonatais adversos. Os resultados deste estudo, especialmente no que se refere ao modo de parto, às intercorrências do TP e ao índice de Apgar, indicam a complexidade da relação entre esses fatores e os resultados neonatais. URES. Partos com intercorrências apresentam proporção significativamente alta de LAM, o que implica um aumento na busca de cesáreas como medida preventiva. Mais uma vez, destaca-se, portanto, a necessidade de orientar protocolos em decisões obstétricas. Além disso, a tendência dos nascimentos LAM de Apgar baixo confirma a importância da intervenção e da assistência neonatal. Esses resultados reiteram a importância de tomar decisões informadas e observar áreas que exigem estudo adicional.

A Tabela 1 também revelou dados importantes de intercorrências gestacionais, sendo que mais da metade das gestantes tiveram alguma forma de intercorrência, com a infecção do trato urinário apresentando a maior prevalência. Os achados da relação entre intercorrências gestacionais e complicações do parto, incluindo LAM, são reforçados na literatura. De acordo com Guamán et al. (2024) , “o manejo cuidadoso de condições clínicas, como hipertensão e infecção durante a gravidez é crucial para diminuir as complicações do parto e melhorar os resultados neonatais”. Esses dados enfatizam a importância do pré-natal em identificar e gerenciar precocemente todas as condições gestacionais que possam impactar o bem-estar fetal.

Os achados acima descritos demonstram que o manejo obstétrico do LAM deve ser uma abordagem multidimensional que combina o monitoramento regular do bem-estar do feto, decisões informadas sobre a via de parto e intervenção neonatal precoce. Para garantir melhores desfechos clínicos, os profissionais de saúde obstétricos e neonatais precisam ser treinados para reconhecer e manejar corretamente fatores de risco de LAM, como sinais de sofrimento fetal ou intercorrências no TP.

Além disso, tecnologias biométricas avançadas, como marcadores de sofrimento fetal ou algoritmos de IA, podem revolucionar o manejo do LAM, permitindo intervenções mais sensíveis e eficazes. Por último, são necessários mais estudos multirresumos para validar e expandir esses achados, especialmente em populações com diferentes perfis clínicos. A análise multivariada dos fatores do LAM pode fornecer informações valiosas sobre a interação entre distúrbios maternos, intervenções obstétricas e desfechos neonatais, o que pode levar ao desenvolvimento de protocolos clínicos mais eficazes.

5. CONCLUSÃO

Este estudo destacou fatores obstétricos e neonatais associados à presença de líquido amniótico meconial, mostrando uma importante associação entre tipo de parto, intercorrências no trabalho de parto e índice de Apgar no primeiro minuto. Embora o índice de Apgar não tenha apresentado significância estatística, observou-se maior porcentagem de neonatos expostos com Apgar menor que 7. Isso reforça a necessidade de criteriosa tomada de decisão obstétrica e monitorização do bem-estar fetal. Os dados podem indicar que os neonatos expostos nasceram “mais doentes”, sem, no entanto, definir com clareza o índice de Apgar mais baixo. Talvez a presença do líquido amniótico meconial indique um grau de asfixia fetal que não influencie drasticamente o índice de Apgar.

Além dos fatores de risco ao LAM detectados, o presente estudo evidencia a importância do pré-natal no manejo de condições como intercorrências gestacionais. A investigação de complicações maternas em gestação de pré-natal de risco, por exemplo, pode auxiliar na redução da ocorrência de LAM e, consequentemente, de desfechos perinatais ruins, tais como a classificação de Apgar menor ou igual a 7. No quadro de regulação brasileira, a implementação de monitorização fetal eletrônica real-time eletiva nas gestações de pré-natal de risco, tornando viável o agendamento do parto neste contexto, talvez possa auxiliar na diminuição de LAM.
A monitorização eletrônica real-time para todas as gestações, infelizmente, não é factível devido aos custos, mas pode se tornar um objetivo a ser buscado no futuro próximo. Este estudo também foi limitado pelo caráter transversal e retrospectivo do estudo, não sendo possível avaliar relações causais relevantes entre fatores avaliados. O tamanho de amostra único também representa uma limitação, visto que impede generalizações para outros contextos populacionais e clínicos. Enfim, a falta de séries temporais nos dados nos impediu de verificar o desempenho dos neonatos a longo prazo devido à presença do líquido amniótico meconial. Considerando as limitações identificadas, incluindo o panorâmico e retrospectivo design do presente estudo, estudos futuros com design prospectivo e multi-center coorte s devem ser realizados para aprofundar a compreensão da relação entre fatores obstétricos, neonatais e fatores maternos na ocorrência de LAM.

Ademais, a identificação e implementação prática de marcadores para prevenir o sofrimento fetal pré-natal, tal como a implementação de métodos baseados em AI para prever complicações obstétricas, provavelmente delinearão futuros estudos. A investigação da intercorrência pré-natal e periparto nos neonatos também pode contribuir para o avanço do conhecimento clínico. Os resultados desta investigação reforçam que a evidência-base prática clínica, o robusto pré-natal adequado, o manejo crítico da situação fetal, e a jornada de decisão obstétrica devem ter vital importância. Portanto, é esperado menos LAM, complicações relacionadas ao LAM, e de modo geral, mais segurança e qualidade na assistência ao binômio mãe/criança ao implementar estes achados na esfera clínica.

6. REFERÊNCIAS

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