MODERNIZAÇÃO PORTUÁRIA E OS DESAFIOS NA CABOTAGEM BRASILEIRA.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411301433


Thiago de Sousa Amado1
Orientador: Osvaldo Esteves Sobrinho


Resumo

O estudo analisa como a modernização portuária pode fortalecer a cabotagem no Brasil, considerando a importância de aprimorar a eficiência logística e reduzir custos operacionais. A questão central investiga o impacto de investimentos em infraestrutura, tecnologia e políticas públicas, como o Projeto de Lei BR do Mar, no desenvolvimento do transporte marítimo interno. O objetivo é explorar como a modernização dos portos pode aumentar a competitividade e viabilidade da cabotagem, tornando-a uma alternativa eficiente ao transporte rodoviário. O método utilizado foi uma abordagem qualitativa, com revisão bibliográfica abrangente de legislações, estudos acadêmicos e relatórios governamentais, a fim de compreender as implicações das políticas adotadas e os desafios enfrentados pelo setor. O estudo analisa os benefícios da modernização portuária, como a redução de custos, a agilidade nas operações e a sustentabilidade ambiental, destacando a importância da integração tecnológica para melhorar a eficiência dos portos. Nas considerações finais, o estudo conclui que a modernização portuária é crucial para a expansão da cabotagem, promovendo uma logística mais eficiente e sustentável. Contudo, destaca-se a necessidade de um alinhamento estratégico entre investimentos e políticas públicas para assegurar que os benefícios sejam concretizados. A pesquisa aponta que o sucesso da cabotagem depende da capacidade de modernizar e integrar os portos, permitindo que respondam às demandas do comércio global e se tornem um componente competitivo e sustentável da logística nacional.

Palavras-chave: modernização portuária; cabotagem; Projeto BR do Mar.

Abstratc

The study analyzes how port modernization can strengthen cabotage in Brazil, considering the importance of improving logistics efficiency and reducing operating costs. The central question investigates the impact of investments in infrastructure, technology and public policies, such as the BR do Mar Bill, on the development of domestic maritime transport. The objective is to explore how port modernization can increase the competitiveness and viability of cabotage, making it an efficient alternative to road transport. The method used was a qualitative approach, with a comprehensive literature review of legislation, academic studies and government reports, in order to understand the implications of the policies adopted and the challenges faced by the sector. The study analyzes the benefits of port modernization, such as cost reduction, agility in operations and environmental sustainability, highlighting the importance of technological integration to improve port efficiency. In the final considerations, the study concludes that port modernization is crucial for the expansion of cabotage, promoting more efficient and sustainable logistics. However, it highlights the need for a strategic alignment between investments and public policies to ensure that the benefits are realized. The research indicates that the success of cabotage depends on the ability to modernize and integrate ports, allowing them to respond to the demands of global trade and become a competitive and sustainable component of national logistics.

Keywords: port modernization; cabotage; BR do Mar Project.

Introdução

O avanço das novas tecnologias e o acelerado processo de globalização sempre impulsionou os mercados a se modernizarem, exigindo que as empresas se adaptem às exigências do mercado para que possam se manter competitivas. Assim, no âmbito dos transportes, a logística representa um aspecto de suma relevância para a eficácia do mercado, uma vez que são responsáveis por gerenciar as transações de modo mais eficiente e eficaz.

Atualmente, a maior parte das transações comerciais globais ocorre por meio do transporte marítimo. Assim, com o avanço da globalização, os portos passaram a ser elementos essenciais para o crescimento do comércio internacional de uma nação e, consequentemente, para a economia global. Dessa forma, há uma crescente preocupação com a eficiência dos portos, uma vez que isso impacta diretamente a competitividade e a eficácia da indústria nacional (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

Dessa maneira, a cabotagem, que se refere ao transporte marítimo entre portos dentro de um mesmo país, é fundamental para a logística no Brasil, especialmente por causa de sua vasta extensão territorial. Ela oferece uma opção eficiente e sustentável em comparação com o transporte por terra.

Entretanto, o transporte marítimo no Brasil continua a ter uma participação muito baixa no mercado internacional devido à excessiva burocracia nos processos de fiscalização de mercadorias, à carência de infraestrutura logística, ao congestionamento dos portos e ao tempo elevado para a liberação de cargas. Assim, embora a cabotagem tenha trazido vantagens para o sistema logístico nacional, ainda se depara com obstáculos que comprometem sua eficácia.

O desenvolvimento desta pesquisa se justifica uma vez que nos últimos anos a modernização portuária tem sido considerada um dos métodos mais relevantes para aumentar a competitividade do Brasil no comércio internacional, sendo essencial para atender às crescentes demandas do comércio global. Neste contexto, o Projeto de Lei BR do Mar surge como uma alternativa legislativa destinada a fomentar o desenvolvimento da cabotagem no Brasil, flexibilizando para tanto as regras de afretamento de embarcações estrangeiras, incentivar a entrada de novos operadores no mercado e promover investimentos na infraestrutura portuária.

Assim, o objetivo geral deste trabalho consiste em analisar a relação existente entre a cabotagem e  a modernização portuária no Brasil, com foco especial  no impacto do Projeto de Lei BR do Mar no Porto de Santos. Para tanto, os objetivos específicos consistem em: (i) apresentar a evolução histórica da cabotagem no Brasil; (ii) discorrer sobre os principais aspectos e políticas públicas para a modernização portuária no país; (iii) apresentar os principais objetivos do Projeto Lei BR do Mar.

1  Referencial Teórico

1.1  Cabotagem no Brasil

De acordo com Teixeira (2018), o modal aquaviário era, até o começo do século XX, o mais relevante no Brasil, uma vez que era o único meio capaz de realizar o transporte de cargas por grandes distâncias. O auge da indústria naval brasileira ocorreu no final dos anos 1970, quando o país se destacou como a segunda maior potência na indústria naval global.

Atualmente, apesar da sua vasta extensão territorial, o Brasil é marcado por uma ocupação demográfica concentrada no litoral, no qual estão localizadas as principais cidades, pólos industriais e centros consumidores do país. Vale dizer que essa concentração é resultante do processo de colonização portuguesa, uma vez que esta priorizou as áreas costeiras devido a sua destreza para atividades portuárias, criando dessa maneira uma unidade territorial marítima (Fonseca, 2015).

Sublinha-se que a ocupação territorial litorânea brasileira acompanha a dinâmica global, visto que as regiões portuárias historicamente atuam como centros de redes comerciais conectando assim economias locais e globais. Dessa maneira, é seguro afirmar que o transporte marítimo foi o principal meio de circulação de mercadorias, pessoas e ideias no Brasil, de modo que a cabotagem representou por muitos anos a espinha dorsal do sistema de transporte, estruturando a rede urbana ao longo do litoral, e expandindo para o interior do país (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

Posteriormente à Lei dos Portos de 1993 que modernizou o regime jurídico da infraestrutura portuária do Brasil, em 1997 o governo federal implementou um novo marco regulatório para os serviços de transporte marítimo doméstico no país, ou cabotagem. Entretanto, evidencia-se que essa mudança levou a uma situação de baixa competitividade devido às restrições de capacidade e operacionais características do setor (Assed, 2023).

Atualmente, no Brasil o órgão que atua no modal aquaviário é a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ). que está fundamentada na Lei nº 10.893 de 2004, que define a cabotagem como a navegação realizada entre portos brasileiros, utilizando totalmente ou parcialmente, apenas, a costeira marítima.  Assim, essa agência está vinculada ao Ministério da Infra Estrutura (MINFRA) e tem por finalidade implementar as políticas formuladas por ele. Criada para regular, supervisionar e fiscalizar as atividades relacionadas à prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da infraestrutura aquaviária e portuária (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

Assim, de acordo com os dados publicados pelo Boletim Estatístico da Confederação Nacional de Transporte (CNT), o Brasil possui um extenso sistema de vias navegáveis, totalizando 41.795 km, representando assim um dos maiores potenciais para o transporte hidroviário do mundo, dada a vasta rede de rios e cursos d’água que cortam o território nacional. No entanto, apesar desse panorama, apenas cerca de 19.464 km dessas vias são efetivamente utilizadas para a navegação comercial, refletindo com isso as limitações enfrentadas pelo transporte hidroviário no Brasil, como falta de infraestrutura adequada, necessidade de dragagem e sinalização das rotas, além da variabilidade sazonal os níveis dos rios, que pode afetar a navegabilidade (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

A Figura 01, abaixo, apresenta as estatísticas do modal aquaviário, segundo o CNT:

Figura 1 – Estatísticas do modal aquaviário.

Fonte: CNT (2024).

De acordo com os estudos desenvolvidos por Lobão (2021), o transporte via cabotagem apresenta como benefício a possibilidade de transporte de maiores volumes de carga por menor valor pago por carga transportada, visto que os custos com o transporte são rateados entre as cargas transportadas. Além disso, evidencia-se os benefícios ambientais dessa modalidade modal, visto que há um menor consumo de combustível por tonelada – quilômetro transportado pelos navios, o que diminui a emissão de poluentes.

A vista disso, Fernandes et al (2015) sublinha que

Fomentar a cabotagem é importante para racionalizar o setor de transportes no país, mitigar o Custo Brasil, aumentar a competitividade dos produtos nacionais, reduzir o preço final dos bens, arrefecer os congestionamentos de caminhões nos acessos dos principais portos marítimos brasileiros, impulsionar as redes e os fluxos de mercadorias, entre outros. Além disso, a expansão da cabotagem gera demanda na indústria naval brasileira, contribuindo, assim, com a geração de empregos e renda. Nesse contexto, o presente trabalho tem sua importância baseada na relação direta que o mar possui com o desenvolvimento socioeconômico do país, tratando especificamente da Cabotagem (FERNANDES et al., 2015, p.71).

Assim, é correto afirmar que estimular a cabotagem é fundamental para otimizar o setor de transporte no Brasil, reduzir o Custo Brasil, melhorar a competitividade dos produtos nacionais e diminuir o preço final dos bens. Isso também ajuda a aliviar o tráfego de caminhões nas vias de acesso aos principais portos marítimos do país e a fomentar as redes e os fluxos de mercadorias, entre outras vantagens. Além do mais, a ampliação da cabotagem gera uma demanda significativa na indústria naval brasileira, contribuindo para a criação de empregos e renda (Lobão, 2021).

Como apresentado por Teixeira (2018), as vantagens da navegação por cabotagem estão na sua capacidade de transportar um maior número de cargas, com um menor consumo de combustível por tonelada transportada, uma menor incidência de acidentes, maior segurança da carga, além de causar menos danos ao meio ambiente, reduzindo a emissão de gases poluentes. Em contrapartida, ela perde em velocidade, burocracia e custo de implantação.

Contudo, mesmo diante dessas vantagens, esse setor continua sendo pouco explorado no Brasil. De acordo com os estudos desenvolvidos por Lobão (2021), dados publicados pelo Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS) apontam que em 2019 o Brasil movimentou 61% de suas cargas por meio das rodovias, considerando os Tonelada-Quilômetro Útil (TKUs) movimentados. No mesmo período, 21% das cargas seguiram pelo modal ferroviário, 12% por cabotagem, 4% por dutos, 2% por hidrovias e menos de 1% pelo modal aéreo

Dessa maneira, sublinha-se que a porcentagem expressiva de cargas transportadas pelo setor rodoviário espelha a falta de equilíbrio entre os setores no Brasil, sobrecarregando setores que poderiam operar de forma mais eficiente se fosse adotada uma intermodalidade, isto é, uma combinação mais eficaz entre diferentes setores do transporte, combinando de forma efetiva tempo e custo (Fonseca, 2015).

Assim, é evidente que muitos dos problemas enfrentados no setor rodoviário podem ser supridos pela cabotagem (Lobão, 2021). Afirma-se que um modal como o Rodoviário não é recomendado para transportes de longas distâncias, visto que utilizam em demasia as rodovias gerando frequentemente acidentes, maiores chances de roubos de carga além de apresentar ganhos de escala limitados, pois ele dispõe de uma baixa capacidade de carga transportada quando comparada às grandes cargas que podem ser transportadas por apenas um navio.

1.2 Cabotagem no Brasil

O Projeto de Lei n° 4.199/2020 intitulado BR do Mar foi desenvolvido pelo Governo Federal do Brasil e aprovado na câmara dos deputados em dezembro de 2020, aguardando a votação do senado. Assim, esse projeto de lei possui como objetivos:

Art. 3º São objetivos da política a que se refere o art. 1º, dentre outros:
I – incrementar a oferta e a qualidade do transporte por cabotagem;
II – incentivar a concorrência e a competitividade na prestação do serviço de transporte por cabotagem;
III – ampliar a disponibilidade de frota no território nacional;
IV – incentivar a formação, a capacitação e a qualificação de marítimos nacionais;
V – estimular o desenvolvimento da indústria naval nacional para a construção, jumborização, conversão, modernização, docagem e reparação embarcações utilizadas na navegação de cabotagem;
VI – revisar a vinculação das políticas de navegação de cabotagem das políticas de construção naval;
VII – incentivar as operações especiais de cabotagem e os investimentos decorrentes em instalações portuárias, para atendimento de cargas em tipo, rota ou mercado ainda não existentes ou consolidados na cabotagem brasileira; e
VIII – otimizar o uso de recursos advindos da arrecadação do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante – AFRMM (BRASIL, 2020).

Dessa maneira, aponta-se que a PL altera a Lei nº 5.474, de 18 de julho de 1968, a Lei nº 9.432, de 8 de janeiro de 1997, a Lei nº 10.233, de 5 de junho de 2001, e a Lei nº 10.893, de 13 de julho de 2004. Sublinha-se que os objetivos acima transcritos evidenciam que a cabotagem consiste na modalidade mais segura, sustentável e eficiente dentre os modais, sendo então capaz de trazer diversas vantagens competitivas que seriam extremamente saudáveis para a economia do país. Dessa forma a promessa desse PL em aumentar a oferta da cabotagem no Brasil bem como incentivar a concorrência, criar novas rotas e reduzir custos é de suma relevância para o país (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

Ainda, o texto do PL facilita a expansão das operações de cabotagem e a entrada de novos interessados nesse mercado, além de aumentar a possibilidade de as Empresas Brasileiras de Navegação (EBN) afretar embarcações sem a obrigatoriedade de possuírem embarcações próprias, como atualmente é exigido pela legislação vigente. Destaca-se que essa mudança vem acompanhada de incentivos para que as EBN mantenham e aumentem a frota própria, o que contribui para um importante aspecto da navegação de cabotagem, que é a disponibilidade do serviço.

Contudo, Lobão (2021) sublinha em sua pesquisa para a existência de críticas em relação à BR do Mar, uma vez que pode facilitar a atuação de empresas estrangeiras no país, fomentando o comércio, mas mantém alguns entraves no setor para as empresas nacionais. Assim, esse PL propõe uma forma mais liberal de atuação, apostando na força dos agentes frente a competitividade do mercado, acabando com a reserva de mercado

2.2 Políticas Públicas e Desafios para a Modernização Portuária no Brasil

A modernização portuária é um pilar fundamental tanto para o avanço econômico quanto para a competitividade internacional do Brasil. Com a globalização tornando a logística e o transporte de mercadorias fatores essenciais no desenvolvimento das economias, os portos no Brasil têm um papel importante na movimentação de cargas intra e intercontinentais e no comércio internacional. Em um país como o Brasil, a modernização portuária é muito importante para aumentar a eficiência e reduzir os custos logísticos, contribuindo assim para a participação competitiva do país no mercado global (Veiga Lima et al., 2018).

Dada a extensão territorial e o posicionamento estratégico do país no contexto internacional, pode-se observar que a cabotagem se torna um importante componente logístico para soluções eficientes e ambientalmente sustentáveis ​​quando integrada ao sistema de transporte, especialmente como um substituto para o transporte rodoviário, que ainda é dominante e caro tanto econômica quanto ambientalmente (De Araújo Rodrigues, 2018).

A modernização dos portos brasileiros por meio de políticas públicas tem tido um enfoque para a atração de mais agentes privados e investimentos. A Lei dos Portos (Lei nº 8.630/1993) marcou o início dessa tendência, quando autorizou o papel dos terminais de uso privado e das empresas por meio de parcerias com o governo. Nessa linha, destaca-se o Projeto de Lei BR do Mar, que, ao incentivar o frete de cabotagem e a frota nacional e modernizar os portos, busca fomentar a competitividade brasileira em relação ao setor (Veiga Lima et al., 2018).

Contudo, a modernização dos portos no Brasil enfrenta muitos problemas, incluindo o excesso de regulamentação e o redirecionamento da gestão para áreas fracas. A burocracia na fiscalização e liberação de cargas nos portos ainda constitui um grande obstáculo ao funcionamento do transporte marítimo. Nesse sentido, legislações como a BR do Mar visam flexibilizar e facilitar esse processo, reduzindo o tempo de espera e facilitando o trabalho (De Araújo Rodrigues, 2018).

Além disso, sublinha-se que muitos portos do Brasil continuam enfrentando problemas estruturais, como falta de perfuração e sinalização adequada, além de atrasos e demoras no desembaraço de cargas, que prejudicam a eficiência e a competitividade do porto. Estes desafios demonstram a necessidade de investimento público e privado para apoiar a construção e renovação dos portos existentes para satisfazer as crescentes exigências do comércio internacional (Veiga Lima et al., 2018).

.Outro desafio importante é o equilíbrio entre a abertura dos mercados aos trabalhadores internacionais e a proteção das empresas nacionais. Ao renovar os portos, políticas como a BR do Mar visam atrair novos trabalhadores e aumentar a concorrência na indústria para melhorar a qualidade e a prestação de serviços portuários (Veiga Lima et al., 2018). No entanto, critica-se que esta flexibilidade da economia do país por vezes faz com que as empresas estrangeiras prejudiquem o país e dificultem a concorrência interna. Portanto, é necessário garantir o equilíbrio dos direitos públicos entre os interesses nacionais e internacionais, para fortalecer a indústria marítima brasileira e promover o desenvolvimento do comércio nas áreas portuárias, sem esquecer a importância de atrair empresas estrangeiras promotoras da inovação (De Araújo Rodrigues, 2018).

O objetivo de renovar os portos brasileiros e incentivar a navegação de cabotagem é reduzir custos logísticos e impulsionar o produto nacional para o mundo.  Com isso,a expansão do transporte marítimo doméstico não só proporcionará uma alternativa sustentável ao transporte rodoviário, reduzindo as emissões de gases com efeito de estufa, mas também melhorará a eficiência logística, reduzirá o tráfego rodoviário e reduzirá os acidentes e o atrito. Políticas como a Lei dos Portos e o Projeto de Lei BR do Mar são importantes para criar um ambiente competitivo em termos de economia, meio ambiente e criação de empregos, e enfatizam a renovação portuária como prioridade (Veiga Lima et al., 2018).

2.3 Objetivos do Projeto de Lei BR do Mar e Suas Implicações para a Cabotagem no Brasil

O Projeto Lei BR do Mar (PL nº 4.199/2020) foi desenvolvido pelo Governo Federal Brasileiro para promover o transporte marítimo através do sistema de transporte nacional, melhorando assim a indústria e aumentando a concorrência. O plano, aprovado pela Câmara dos Deputados e pendente de julgamento final, estabelece metas e diretrizes que visam promover a eficiência e a sustentabilidade do transporte marítimo e o desenvolvimento econômico do país e das suas instituições (Bueno, 2023).

O principal objetivo do projeto BR do Mar, de acordo com Bueno (2023), é melhorar os equipamentos e a qualidade do transporte, ampliar a capacidade de embarque de mercadorias nos portos do Brasil, além de gerar mais lucro e atrair mais atenção para o transporte de mercadorias no litoral . Isto reduz os custos do equipamento, reduz o tráfego rodoviário e reduz o impacto ambiental. Outro objetivo é melhorar a concorrência e a concorrência na economia, fazer alterações nas leis para facilitar a entrada de novas empresas, incluindo trabalhadores internacionais, o que irá melhorar a qualidade dos serviços e reduzir o custo de entrega (Barbosa et al., 2022).

Outro objetivo fundamental da BR do Mar é aumentar a presença de navios no território nacional, incentivando as Empresas Brasileiras de Navegação (EBN) a ampliarem sua capacidade operacional. Para atingir esse objetivo, o projeto facilitará o registro de embarcações estrangeiras indocumentadas, flexibiliza as exigências atuais e ajudará as empresas brasileiras a responder rapidamente ao “marketing”. Além disso, o processo visa modernizar a frota existente e incentivar a renovação e expansão da navegação costeira, necessária para melhorar a eficiência operacional e reduzir custos (Barbosa et al., 2022).

De acordo com Barbosa et al (2022), a formação, qualificação e certificação dos marítimos do país também estão entre os objetivos deste programa. O governo central quer promover o desenvolvimento de trabalhadores qualificados para o setor naval, criando oportunidades de emprego e profissionais qualificados para uma gestão eficiente e segura. Desta forma, o BR for Mar não só pretende aumentar os serviços de cabotagem, mas também garantir que estes serviços sejam geridos por profissionais qualificados, fortalecendo a função pública e promovendo o crescimento económico da zona portuária (Buono, 2023).

Além disso, evidencia-se que o projeto BR do Mar visa também promover o desenvolvimento dos serviços marítimos no país e promover a construção, reparação e manutenção de navios de guerra, de forma a reanimar o setor militar brasileiro, criar empregos e dinamizar a economia. O crescimento da frota é fundamental para garantir a sustentabilidade a longo prazo do transporte marítimo. Outro objetivo do projeto é incentivar o investimento em projetos especiais de transporte costeiro e instalações portuárias para atender novos tipos de mercadorias e rotas ainda não exploradas, diversificação de serviços e conexão mais eficiente de regiões do país (Barbosa et al., 2022).

Por fim, aponta-se que o Projeto BR do Mar propõe otimizar o uso dos recursos do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM), direcionando-os para o desenvolvimento e modernização do setor de cabotagem, promovendo investimentos estratégicos. A gestão eficaz desses recursos é essencial para alcançar os objetivos do projeto, assegurando a sustentabilidade financeira e eficiência logística do transporte marítimo no Brasil (Buono, 2023). Nesse sentido, o BR do Mar busca transformar a cabotagem em uma alternativa eficiente e sustentável, ampliando a frota, qualificando profissionais e promovendo investimentos no setor naval e portuário, com o objetivo de tornar o Brasil mais competitivo logisticamente.

2.4 A Influência da Modernização Portuária na Expansão e Eficiência da Cabotagem no Brasil

A modernização portuária é um fator determinante para o desenvolvimento e a eficiência da cabotagem no Brasil. O transporte marítimo interno, conhecido como cabotagem, é uma modalidade essencial para um país de dimensões continentais como o Brasil, que possui uma extensa costa e diversas cidades estratégicas situadas ao longo do litoral (Júnior, 2019). A capacidade de utilizar os portos de maneira eficiente e integrada é crucial para otimizar a movimentação de cargas e reduzir os custos logísticos, oferecendo uma alternativa viável e sustentável ao transporte rodoviário. Neste contexto, a modernização dos portos brasileiros surge como um elemento chave para o fortalecimento e expansão da cabotagem, com impactos diretos na logística, na economia e na sustentabilidade do país (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

Um dos principais elos entre a modernização portuária e a navegação costeira é a redução de custos. Portos modernos com equipamentos adequados e tecnologia avançada podem reduzir os tempos de espera para carga e descarga, simplificar processos e reduzir custos associados a atrasos logísticos. Este valor é importante para a navegação de cabotagem, pois permite que os navios façam outras viagens em menos tempo e torna o sistema competitivo com o transporte rodoviário (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019). Podem ser feitas melhorias na infraestrutura física do porto, como a profundidade dos canais de acesso e a capacidade do porto, permitindo a movimentação eficiente de navios grandes e modernos. Isto, por sua vez, aumenta a sua capacidade de carga e reduz os custos de transporte por tonelada (Júnior, 2019).

Outro fator importante a ser considerado é a integração de tecnologia e logística proporcionada pela resiliência do porto. A utilização de tecnologias avançadas, como sistemas de monitoramento em tempo real, automação e otimização da movimentação de cargas, são fundamentais para o bom funcionamento dos portos. O uso dessas tecnologias permitirá que os portos brasileiros se integrem melhor aos diversos modais de transporte, facilitando a troca de mercadorias entre navios, rodoviários e ferroviários. Essa combinação é muito importante para o desenvolvimento do transporte costeiro, pois mantém a mobilidade e facilita sua organização no Brasil em uma abordagem competitiva de longo prazo (Júnior, 2019).

Além disso, Júnior (2019) aponta que as melhorias portuárias podem ter um impacto direto na expansão das rotas e no desenvolvimento de novos mercados de cabines. Com um porto mais moderno e eficiente será possível explorar rotas desconectadas, conectando áreas que hoje dependem apenas do transporte rodoviário. A ampliação das rotas e a criação de novas estações especializadas permitem diferenciar os tipos de cargas transportadas e que atendem diferentes setores produtivos, o que pode ser um fator determinante para aumentar a importância da cabotagem na situação logística nacional. Esta diversificação não só expande o alcance do porto, mas também abre novas oportunidades económicas para o desenvolvimento na área portuária e áreas adjacentes, apoiando assim o crescimento económico local (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

A sustentabilidade ambiental é um passo importante entre a modernização portuária e a cabotagem. Os portos modernos com tecnologia eficiente reduzem a produção e o consumo de energia, enquanto a cabotagem, que é mais eficiente que o transporte rodoviário, reduz as emissões de gases com efeito de estufa. Graças aos portos modernos, a cabotagem não é apenas economicamente rentável, mas também ecológica. No entanto, estas melhorias devem ser acompanhadas de políticas públicas fortes, como o projeto BR do Mar, e de investimentos contínuos em infraestrutura e tecnologia. Em suma, os portos modernos fortalecem as cabines, aumentam a competitividade das instalações e promovem a sustentabilidade ambiental (Maegima; Incirilo; Do Nascimento, 2019).

Considerações Finais

Este projeto destaca a importância da inovação portuária para o desenvolvimento da cabotagem e da logística no Brasil. Devido ao extenso litoral e aos centros comerciais, a cabotagem é um meio de transporte econômico e seguro. No entanto, para atingir seu pleno potencial, é necessário modernizar os portos brasileiros, incorporando alta tecnologia, planejamento eficiente e boas infraestruturas de transporte.

O estudo analisou como a evolução portuária pode tornar a navegação costeira mais competitiva por meio de políticas econômicas e sociais. A modernização dos portos traz benefícios como a redução de custos operacionais, otimização do tempo e aumento do volume de carga, melhorando a eficiência das operações e impulsionando o crescimento econômico do Brasil. O Projeto Legal do BR do Mar foi avaliado para entender os esforços do governo em modernizar a navegação costeira e os portos. A iniciativa visa aumentar a competitividade, expandir os serviços marítimos e flexibilizar regulamentações, atraindo novos operadores. Contudo, o estudo ressalta a importância de monitoramento contínuo para garantir a eficácia dessas medidas e benefícios duradouros, especialmente para as empresas brasileiras.

A sustentabilidade também foi abordada, destacando os benefícios ambientais e econômicos da renovação portuária, como a redução das emissões de gases e o uso mais eficiente de combustível. Portos sustentáveis e tecnologias inovadoras contribuirão para a redução dos impactos ambientais e apoiarão as metas globais de sustentabilidade.

Apesar dos avanços, o estudo reconhece desafios, como a necessidade de políticas públicas que garantam mais investimentos em infraestruturas e operações portuárias. Para maximizar o potencial da cabotagem, é essencial uma boa coordenação entre os setores público e privado, um planejamento estratégico claro e um ambiente regulatório eficiente.

Em resumo, a reforma portuária é essencial para transformar a cabotagem em um sistema forte, eficiente e sustentável no Brasil. A combinação de infraestruturas modernas, tecnologia integrada e políticas públicas eficazes pode posicionar o país para competir globalmente, promovendo crescimento econômico e ambiental. Para alcançar esses benefícios, é necessário monitoramento constante e implementação eficaz das políticas.

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1thiago.amado@fatec.sp.gov.br