IMPORTANCE OF A CULTURE OF SURVEILLANCE IN THE CONTROL AND PREVENTION OF HAIS: A LITERATURE REVIEW
IMPORTANCIA DE LA CULTURA DE VIGILANCIA EN EL CONTROL Y PREVENCIÓN DE LAS IRAS: UNA REVISIÓN BIBLIOGRÁFICA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202411300858
Vitória Petri Rosa Santos Silva1; Mariana Moura Santos2; Giselle de Carvalho Neder3; Rafael Garteni Santana Santos4; Emilli Kaynne Freire Silva5; Rafaela Melo Oliveira6; Malone Santos Pinheiro7
RESUMO
Introdução: As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) são infecções adquiridas durante o atendimento hospitalar, podendo ocorrer durante a internação ou após a alta, tendo fatores que aumentam o risco de infecção, a idade, as comorbidades e os procedimentos inadequados. A vigilância ativa é essencial para minimizar as consequências decorrentes desse agravo e garantir a segurança da saúde tanto do paciente quanto dos profissionais de saúde. Esse controle no Brasil é feito através do Programa de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (PCIRAS), na tentativa de acompanhar a evolução tecnológica e as evidências científicas das práticas assistenciais. Objetivo: Analisar a importância da cultura de vigilância na prevenção e controle das IRAS, visando a melhoria da qualidade de saúde. Metodologia: Trata-se de uma revisão de literatura, referente à importância das culturas de vigilância no controle e prevenção das IRAS. Sendo utilizado artigos indexados no Google Acadêmico e nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Nature e Science Direct, além de dissertações/tese e obras literárias especializadas no assunto. Conclusão: Com o presente estudo é possível observar não apenas as consequências e o alto índice de IRAS na saúde pública, mas também o aumento crescente na taxa de microorganismos multirresistentes no ambiente hospitalar, o que mostra a necessidade de medidas preventivas para reduzir essa incidência, como, por exemplo, a cultura de vigilância.
Palavras-chave: Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde; Cultura de Vigilância; Prevenção; Controle de Infecção.
ABSTRACT
Introduction: Healthcare-Associated Infections (HAIs) are infections acquired during hospital care, which may occur during hospitalization or after discharge. Factors such as age, comorbidities, and inadequate procedures increase the risk of infection. Active surveillance is essential to minimize the consequences of this issue and ensure the safety of both patients and healthcare professionals. In Brazil, this control is carried out through the Healthcare-Associated Infections Control Program (PCIRAS), in an effort to monitor the technological evolution and scientific evidence of healthcare practices. Objective: To analyze the importance of a surveillance culture in the prevention and control of HAI, aiming at improving the quality of health. Methodology: This is a literature review, referring to the importance of surveillance cultures in the control and prevention of HAI. Articles indexed in Google Scholar and in the Scientific Electronic Library Online (SciELO), Nature and Science Direct databases were used, in addition to dissertations/thesis and specialized literary works on the subject. Conclusion: With this study it is possible to observe not only the consequences and the high incidence of HAI in public health, but also the growing increase in the rate of multidrug-resistant microorganisms in the hospital environment, which shows the need for preventive measures to reduce this incidence, such as, for example, the surveillance culture.
Keywords: HealthCare-Related Infections; Surveillance Cultures; Prevention; Infection control.
RESUMEN
Introducción: Las Infecciones Relacionadas con la Atención de la Salud (IRAS) son infecciones adquiridas durante la atención hospitalaria, que pueden ocurrir durante la hospitalización o después del alta. Los factores que aumentan el riesgo de infección incluyen la edad, las comorbilidades y los procedimientos inadecuados. La vigilancia activa es esencial para minimizar las consecuencias de este problema y garantizar la seguridad de la salud tanto de los pacientes como de los profesionales sanitarios. Este control en Brasil se realiza a través del Programa de Control de Infecciones Relacionadas con la Atención de la Salud (PCIRAS), con el objetivo de seguir la evolución tecnológica y las evidencias científicas de las prácticas asistenciales. Objetivo: Analizar la importancia de la cultura de vigilancia en la prevención y el control de las IRAS, con miras a mejorar la calidad de la salud. Metodología: Se trata de una revisión de literatura sobre la importancia de las culturas de vigilancia en el control y la prevención de las IRAS. Se utilizaron artículos indexados en Google Académico y en las bases de datos Scientific Electronic Library Online (SciELO), Nature y Science Direct, además de disertaciones, tesis y obras literarias especializadas en el tema. Conclusión: Este estudio permite observar no solo las consecuencias y la alta incidencia de las IRAS en la salud pública, sino también el aumento progresivo de la tasa de microorganismos multirresistentes en el entorno hospitalario. Esto destaca la necesidad de medidas preventivas para reducir esta incidencia, como, por ejemplo, la cultura de vigilancia.
Palabras clave: Infecciones Relacionadas con la Atención de la Salud; Cultura de Vigilancia; Prevención; Control de Infecciones.
INTRODUÇÃO
As Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS) caracterizam-se como infecções adquiridas durante o processo de cuidado em um hospital ou outra unidade prestadora de assistência à saúde, e que não estavam presentes ou em incubação na admissão do paciente. Tais infecções podem se manifestar durante a internação ou após a alta hospitalar (CAVALCANTE et al., 2019). As principais IRAS que acometem pacientes hospitalizados são as Infecções de Trato Urinário (ITU), as Infecções Primárias de Corrente Sanguínea (IPCS), as Infecções de Sítio Cirúrgico (ISC) e as Pneumonias Hospitalares (PH) (TAUFFER et al., 2019). Tais infecções aumentam a morbimortalidade e tornam o sistema de saúde mais oneroso, deixando claro a necessidade de medidas preventivas que visem diminuir o índice de IRAS e a transmissão de patógenos multirresistentes (SINÉSIO et al., 2019)
Os fatores relacionados ao paciente (idade, estado nutricional, infecção preexistente e comorbidades), os procedimentos, a dificuldade técnica e a duração prolongada de cirurgia, a preparação pré-operatória e a esterilização inadequada dos instrumentos cirúrgicos podem agravar o risco de infecção de forma significativa. Tanto a virulência, como a capacidade de invasão do organismo envolvido, o estado fisiológico e a integridade imunológica do hospedeiro, também representam alguns dos elementos que podem determinar a ocorrência ou não de infecção (SINÉSIO et al., 2019).
A análise de vigilância de infecções é um pré-requisito fundamental para a assistência de qualidade e prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde. Reconhece-se que a vigilância de rotina dessas infecções pode reduzir sua incidência (SINÉSIO et al., 2019). Estima-se que um terço das IRAS podem ser prevenidas quando se institui um programa de controle de infecção local, mas processo de busca por infecções hospitalares em hospitais pode depender da disponibilidade de profissionais qualificados para realizar o processo, da qualidade e quantidade de medidas preventivas adotadas e adequadamente implementadas e as potenciais nuances entre os fatores metodológicos podem variar conforme aspectos culturais na busca por infecções de cada organização ou unidade hospitalar (MENESES, 2024).
Na tentativa de mitigar os prejuízos, no Brasil foi criado o Programa de Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (PCIRAS) com o intuito de contribuir para a qualificação do cuidado assistencial em todos os estabelecimentos de saúde, através de ações que visam prevenção e controle das IRAS (RIBEIRO et al., 2023). Ainda que as atividades dos PCIRAS acompanhem a evolução tecnológica e as evidências científicas das práticas assistenciais, em muitas instituições o processo de trabalho permanece semelhante desde sua origem, pautado predominantemente em indicadores epidemiológicos de resultados de ocorrência dessas infecções. Isso faz com que esta forma de avaliação seja insuficiente para reconhecer outros aspectos relacionados à estrutura e ao processo de trabalho desses programas que podem comprometer a segurança dos procedimentos realizados na instituição (NEVES et al, 2022).
Considerando que a resistência bacteriana é um problema de saúde pública mundial e que atrelada aos casos de IRAS pode aumentar a mortalidade e os prejuízos econômicos, é primordial uma análise consistente e atual acerca dos programas para controle e mitigação destes problemas. A fim de apresentar subsídios para formulação de intervenções assertivas, com obtenção de conhecimento sobre os benefícios e entraves para sua aplicação (RIBEIRO et al., 2023).
Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica acerca do emprego das culturas de vigilância na prevenção das IRAS.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a construção desse artigo foram utilizados artigos indexados no Google Acadêmico, e nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Nature e Science Direct, além de dissertações/tese e obras literárias especializadas no assunto.
Os descritores utilizados estão de acordo com os Descritores em Ciências de Saúde (DeCs) e National Center for Biotechnology Information (NCBI) para busca: Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (healthcare-associated infections, infecciones relacionadas con la asistencia sanitaria), prevenção (prevention, prevención), Cultura de Vigilância (surveillance culture, cultura de vigilância).
Os critérios de inclusão foram artigos e/ou dissertações em inglês, português ou espanhol, disponibilizados online e dissertações/tese que fossem disponibilizados na íntegra. Os critérios de exclusão para escolha dos artigos utilizados foram aqueles que não tivessem relação com o tema proposto.
REVISÃO DA LITERATURA
Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS)
O termo IRAS surgiu por volta da década de 1990, substituindo o termo infecções hospitalares e sendo definida pelas infecções adquiridas pelo paciente, após 72 horas de internação ou após a alta hospitalar, que não estavam presentes durante a admissão. Essas infecções são responsáveis por aumentar a morbimortalidade, evoluindo com desfecho desfavorável em 30% dos casos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) (CAVALCANTE et al, 2019)
As IRAS apresentam impacto sobre letalidade hospitalar, duração da internação e custos. O aumento das condições que induzem à internação de indivíduos cada vez mais graves e imunocomprometidos, somado ao surgimento da resistência a antimicrobianos, confere às IRAS especial relevância para a saúde pública. Embora as evidências relacionadas ao ônus econômico das IRAS ainda sejam limitadas estudos revelam que no Brasil o custo diário do paciente com IRAS foi 55% superior ao de um paciente sem IRAS (LEONCIO et al, 2019)
As IRAS correspondem a, em média, 20% de todas as infecções diagnosticadas nos pacientes hospitalizados. Contudo, segundo o European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC), aproximadamente 20% a 30% das IRAS poderiam ser evitadas através de medidas preventivas de controle de infecção (PCI) pelos serviços de saúde. Dessa forma, medidas para prevenção de IRAS baseadas em evidências devem ser adotadas em todos os serviços de saúde, tanto no âmbito hospitalar, como na atenção primária à saúde ou ambulatorial, nos estabelecimentos que prestam assistência a pacientes crônicos ou na assistência domiciliar, ou seja, onde houver prestação de assistência a pacientes. (MELO et al, 2022)
A maioria das IRAS ocorrem em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), que são unidades destinadas ao atendimento de pacientes clinicamente graves, que necessitam de monitorização e suporte contínuos de suas funções vitais. É considerada uma área crítica, tanto pela instabilidade hemodinâmica dos pacientes internados nessa unidade, quanto pelo risco elevado de desenvolver Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (IRAS). No Brasil, estima-se que aproximadamente 5 a 15% dos pacientes hospitalizados e 25 a 35% dos pacientes admitidos em Unidades de Terapia Intensiva adquirem algum tipo de infecção relacionada à assistência à saúde sendo ela, em geral, a quarta causa de mortalidade (FERREIRA et al, 2019)
Nas UTIs, as IRAS estão associadas, principalmente, com a transmissão cruzada de microrganismos, por meio das mãos dos profissionais de saúde, equipamentos utilizados para cuidado do paciente e superfícies ambientais do próprio serviço de assistência. Além disso, fatores associados à escassez e qualificação de recursos humanos, aliados à estrutura física inadequada em serviços de saúde e ao desconhecimento de medidas de controle de IRAS, contribuem para esse cenário. (TOMAZINI et al, 2022)
Ademais, as IRAS têm como principais responsáveis pelo seu surgimento a transmissão cruzada e a utilização de dispositivos invasivos, como cateteres venosos centrais, sondas vesicais e tubo orotraqueal, imunossupressores, assim como o período de internação, colonização por microrganismos resistentes, uso indiscriminado de antimicrobianos e o próprio ambiente da unidade, que favorece a seleção natural de microrganismos e, consequentemente, a colonização e/ou infecção por microrganismos, inclusive, multirresistentes (TOMAZINI et al, 2022)
Ainda mais, destaca-se a condição intrínseca do paciente, que sofre influência da idade, estado nutricional, presenças de comorbidades e histórico de infecções prévias, o que pode predispor a uma maior chance de desenvolver IRAS e todas suas consequências, como infecções do trato urinário (ITU), pneumonias associadas à ventilação mecânica e as infecções de corrente sanguínea (TAUFFER et al., 2019).
Reconhecendo o fenômeno das IRAS como problema de saúde pública, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que a autoridade de saúde designe uma agência para o gerenciamento de um plano em âmbito nacional, o qual deverá estar alinhado com os demais objetivos em saúde. No Brasil, desde 1999, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é o órgão responsável pelas ações nacionais de prevenção e controle de IRAS, exercendo a atribuição de coordenar e apoiar tecnicamente as Coordenações Distrital/Estaduais e Municipais de Controle de IRAS (CECIRAS/CDCIRAS/CMCIRAS). Nesse sentido, a Agência publicou em 2013 a primeira versão do Programa Nacional de Prevenção e Controle de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde (PNPCIRAS) com vigência para o período de 2013-2015. (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2019).
Como consequência da alta prevalência e importância das IRAS, também foi criado, pelo Ministério da Saúde (MS) ,em 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), que tinha como objetivo garantir uma maior segurança entre os pacientes, profissionais de saúde e o ambiente onde está sendo prestado o serviço, visando assim ter uma melhoria na qualidade de saúde. Para que isso possa ocorrer, o PNSP criou o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), o qual ficou responsável pelo desenvolvimento das ações e estratégias a serem adotadas pelas unidades de atendimento. Tanto o PNSP e o NSP são regidos pela Portaria 2616 de 1998, do Ministério da Saúde (MS), e Norma Regulamentadora no 32, do Ministério do Trabalho (CAVALCANTE et al , 2019).
Um dos pilares principais da NSP é sua abordagem multiprofissional, constituída pelas áreas da enfermagem, medicina, microbiologia, farmácia e administração hospitalar, guiadas pelas atividades desenvolvidas pela Comissão de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH). Entretanto, essa atuação tem um grande desafio devido à necessidade de vários recursos para que isso ocorra, como atuação de profissionais capacitados e uma boa infraestrutura, fornecendo substratos e subsídios necessários para a abordagem prevista pela NSP.(CAVALCANTE et al, 2019)
Outro aspecto importante para prevenção é determinar a distribuição etiológica das IRAS, sendo visto, através de estudos, que o principal agente é o Staphylococcus (30%), seguido pela Candida (23,3%), Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa (13,3%), Acinetobacter Serratia marcescens (6,7%), Enterobacter e Enterococcus (3,3%), excluindo as causas virais. Dentre os causadores de septicemia destacam-se: Staphylococcus (50%), Candida (30%) e Acinetobacter baumannii (20%). Quanto à prevalência de agentes multirresistentes, percebe-se que são mais comuns na unidade neonatal (67,7%), na pediátrica (66,6%) e na UTI adulto (60.8%) (DEUSDARÁ et al, 2023)
Através dos estudos, mostrou-se que essas infecções têm vários agentes etiológicos, dentre eles fungos, bactérias e vírus, que podem ou não ser micro-organismos multirresistentes, ou seja, aqueles patógenos que são resistentes a diferentes classes de antimicrobianos comprovado por exame microbiológico. Desse modo, é importante sinalizar que a maior relevância clínica se concentra nos patógenos multirresistentes, sendo estes a principal causa de mortalidade em pacientes com IRAS . Os principais patógenos multirresistentes são os Enterococcus spp resistente aos glicopeptídeos, Staphylococcus spp resistente ou com sensibilidade intermediária à vancomicina, Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, e Enterobacteriaceae resistentes a carbapenêmicos (CAMACHO et al, 2023)
No tocante à emergência da resistência bacteriana, tem-se o uso indiscriminado dos antimicrobianos como fator determinante para a multirresistência , e duas vertentes podem ser relacionadas: a primeira se refere à aquisição indevida do antimicrobiano, seja por indicação de amigos, seja por familiares, muitas vezes caracterizando uma escolha, dosagem e duração do tratamento inadequado. E, em segundo plano, porém não menos importante, a relação com a prescrição médica inadequada com aspectos semelhantes ao uso na comunidade, escolha, dosagem e duração do tratamento na maioria das vezes inadequados.(CAMACHO et al, 2023)
Cultura de vigilância
A Cultura de Vigilância Ativa (CVA) é uma das abordagens da NSP e esta consiste em técnicas feitas no serviço de assistência à saúde, com o intuito de identificar e isolar os microrganismo multirresistentes (MDR) e minimizar a transmissão a partir de pacientes que possam estar colonizados ou infectados para pacientes saudáveis (CAVALCANTE et al., 2019). No entanto, o tempo gasto com a execução dos testes microbiológicos, assim como seu alto custo, dificultam a implementação desse método na maior parte das instituições hospitalares. Apesar dos benefícios que a CVA pode trazer para diminuição da taxa de transmissão de MRD, e, consequentemente, evitando gastos desnecessários com os cuidados das IRAS, visto que este é superior aos gastos para adoção das medidas preventivas (MAGALHÃES, 2018).
Antes de iniciar a CVA, é necessário avaliar a disponibilidade de profissionais para coletar e analisar as amostras de culturas e qual será a conduta frente a uma cultura positiva. Após isso, é importante definir a população alvo para pesquisa, para não gastar recursos em pacientes que não possuem indicação. No geral, é recomendado fazer em paciente ou unidades de alto risco para contaminação com microrganismos multirresistentes (MDR), como pacientes em UTI, história de exposição a antibióticos, internação prolongada, contato com outros pacientes colonizados e pacientes oriundos de outros setores de alta taxa de MDR (BRASIL, 2021).
O momento ideal para coleta é na admissão ou na transferência entre setores do hospital. Enquanto não sai o resultado da cultura ou o paciente aguarda a coleta, se possível, realizam-se medidas de isolamento, visto que aquele paciente possui potencial de ter MDR e, com isso, há a possibilidade de transmitir para outros pacientes suscetíveis a esse agente, porém isso leva a um grande impasse, pois exige de muitos recursos para que essa mobilização seja feita, tornando o sistema de saúde ainda mais oneroso (BRASIL, 2021).
O rastreio do MDR pode ser feito através da coleta de swab retal, nasal, orofaríngeo, fezes ou de secreções, como a de secreções traqueais. Esse material será semeado e avaliado após determinado tempo, que deverá ser individualizado para cada microrganismo que está sendo pesquisado. (ANVISA, 2007). Entre os microrganismos resistentes mais prevalentes em infecções relacionadas à saúde (IRAS), estão Staphylococcus aureus resistentes à oxacilina/meticilina (ORSA/MRSA), Klebsiella pneumoniae (KPC) resistentes aos carbapenêmicos, Enterococcus spp. resistentes à vancomicina (VRE), Enterobacter spp. produtoras de betalactamase de espectro estendido (ESBL), Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa multirresistentes (MR) (RODRIGUES, 2021).
Para analisar o material é feita, após a coleta, a semeadura de acordo com o agente a ser pesquisado, já que será utilizado o meio de cultura específico para ele, permitindo não só o seu crescimento, como também a inibição do crescimento de outras bactérias que possam estar presentes e que não estão sendo avaliadas. Por exemplo, para pesquisa do VRE, é considerado microrganismo resistente, de forma adquirida ou intrínseca, quando obtém-se concentração inibitória mínima de vancomicina > 4 mg/l. Para sua pesquisa, utiliza-se Ágar CNA com 6 mg/l de vancomicina, ágar e caldo enterococcosel de vancomicina ou ágar cromogênico seletivo para VRE, sendo os cromogênicos os mais utilizados, devido sua maior sensibilidade e especificidade e menor tempo para detectar as bactérias (CHAGAS; OPLUSTIL, 2021).
Após isso, é feito o processamento do material, que pode ser em meio sólido ou em caldo, e, a depender do método escolhido, há um tempo determinado para esperar o tempo de incubação. Considera-se uma amostra positiva, aquela que apresentar crescimento de microrganismos, tendo então, nesse caso, cultura positiva para E. faecalis/faecium resistente à vancomicina (CHAGAS; OPLUSTIL, 2021). Mas, é importante frisar que a cultura de vigilância possui utilidade para fins epidemiológicos e controle de surtos de microrganismos multirresistentes, não devendo ser utilizada para fins diagnósticos de infecções e nem orientar tratamento para pacientes apenas colonizados, a fim de evitar o uso desnecessário de antibióticos (ANVISA, 2013; ANVISA, 2007).
Apesar de ser a abordagem com maior nível de sensibilidade para detectar microrganismos resistentes, a CVA é feita por poucas instituições, por ser um pouco onerosa e necessitar de demanda com a execução dos testes, dificultando a implementação desse método na maior parte das instituições hospitalares (CRUZRF, 2019). O custo com a internação de um paciente que desenvolve IRAS é muito superior aos gastos que a instituição teria com a implementação da cultura de vigilância com tudo que inclui esta prática (tempo do profissional, paramentações, kits para swab, meio de cultura, entre outros) (LACHHAB et al.,2017).
Associado à CVA, pode-se adotar uma maior efetividade na assistência prestada pelos profissionais de saúde, como estimulação da higienização das mãos a cada início e término de atendimento, já que a principal forma de causar IRAS é a transmissão cruzada de microrganismos entre os pacientes e prestadores de serviço de saúde. Visto isso, pode-se tentar a disponibilização de mais medidas que aumentem a higiene, como maior oferta de soluções alcoólicas e locais para lavar as mãos, especialmente nos principais pontos de assistência e tratamento ao paciente (OLIVEIRA et al., 2009).
A utilização sem critérios de soluções germicidas e antissépticos pode prejudicar a técnica de higienização das mãos e levar a falhas nos processos de limpeza e desinfecção de materiais, equipamentos e superfícies. Segundo a Anvisa (2010), o aparecimento de infecção hospitalar pode estar relacionado a falhas nos processos de limpeza e desinfecção de superfícies, que podem ter como consequência a disseminação e transferência de microrganismos nos ambientes dos serviços de saúde, colocando em risco a segurança dos pacientes e dos profissionais que atuam nesses serviços. (ANVISA, 2010; NEVES et al, 2022)
Assim como os cuidados relacionados às técnicas e assistência realizadas em procedimentos invasivos realizados no paciente, como a ventilação mecânica, a qual pode ser intensificada a higiene oral com clorexidina, avaliação diária para extubação e aspiração de secreção, a fim de evitar a ocorrência de pneumonia decorrente da intubação orotraqueal. Como também o cuidado com o cateter venoso central e a sonda vesical de demora, através de uma paramentação adequada e técnica antisséptica e asséptica para realização do procedimento, antes da administração de drogas e manuseio dos dispositivos, evitando assim o surgimento de infecção de corrente sanguínea e ITU (FERREIRA et al., 2018).
Com isso, vê-se a importância da cultura de vigilância na detecção precoce de pacientes contaminados, evitando assim a transmissão de MDR para os outros pacientes e, consequentemente, evitando o surgimento de IRAS. Isso se dá através do estudo de cada unidade de serviço de saúde, que terá seu perfil epidemiológico e etiológico, implantando o seu protocolo a partir desses dados (BRASIL, 2021).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As IRAS são um agravo com elevada incidência em pacientes hospitalizados e representam um grande problema de saúde visto que elevam os custos da assistência à saúde e os índices de morbimortalidade.
A utilização rotineira e indiscriminada de antimicrobianos observada no setor terciário de saúde com o intuito de combater as IRAS vêm contribuindo negativamente para os índices de microrganismos multirresistentes, o que dificulta em demasia a efetividade do tratamento.
Nesse ínterim, a cultura de vigilância surge como uma importante ferramenta na identificação precoce dos fenótipos críticos de resistência, evitando situações de surto no ambiente hospitalar e, consequentemente, a elevação dos índices de IRAS.
REFERÊNCIAS
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1Graduanda do curso de Medicina
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE vitoria.petri@souunit.com.br
2Graduanda do curso de Medicina
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE
mariana.moura02@souunit.com.br
3Graduanda do curso de Medicina
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE
giselle.neder@souunit.com.br
4Graduando do curso de Medicina
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE
rafael.garteni@souunit.com.br
5Graduanda do curso de Medicina
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE
emilli.kaynne@souunit.com.br
6Graduanda do curso de Medicina
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE
rafaela.moliveira@souunit.com.br
7Doutor em Biotecnologia- UFS
Universidade Tiradentes-UNIT
Aracaju-SE
malonespinheiro@gmail.com