TRICOMONÍASE COMO UM FATOR DE RISCO PARA INFECÇÃO PELO HIV EM MULHERES: REVISÃO DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411300112


Sandra Rafaela Menezes Couto;
Graziela Batista Do Nascimento;
Manuela Oliveira Taion;
Orientadora: Msc: Lilian Ferrari


RESUMO 

O presente trabalho aborda a tricomoníase como fator de risco para infecção pelo HIV em mulheres, destacando a relevância desse tema na saúde pública. O objetivo principal é investigar a associação entre a infecção por Trichomonas vaginalis e o aumento do risco de infecção pelo HIV, contribuindo para a compreensão das dinâmicas que envolvem essas infecções. Para alcançar esse objetivo, utilizamos uma metodologia de pesquisa qualitativa, que consistiu em uma revisão da literatura em bases de dados como PubMed, SciELO e Google Acadêmico, analisando artigos publicados entre 1999 e 2024. Os resultados obtidos indicam uma prevalência significativa de coinfecção por Trichomonas vaginalis e HIV entre mulheres, revelando diferenças geográficas e taxas preocupantes, especialmente em populações vulneráveis, como aquelas com múltiplos parceiros sexuais ou sem acesso a serviços de saúde adequados. As evidências sugerem que a tricomoníase não apenas facilita a transmissão do HIV, mas também pode complicar o tratamento da infecção pelo vírus, já que a inflamação e as lesões causadas pela tricomoníase aumentam a susceptibilidade à infecção pelo HIV. Concluímos que a tricomoníase agrava a saúde pública, ressaltando a necessidade de estratégias de prevenção e tratamento integradas. É essencial que as políticas de saúde abordem a coinfecção de forma abrangente, promovendo conscientização, diagnóstico precoce e tratamento eficaz, além de garantir acesso a serviços de saúde, especialmente para as populações vulneráveis. O trabalho enfatiza a importância de uma abordagem multidisciplinar para enfrentar esses desafios e melhorar os resultados para as mulheres afetadas. 

Palavras-chave: “Trichomonas vaginalis”, “tricomoníase”, “infecções sexualmente transmissíveis” e “HIV”

ABSTRACT 

This paper addresses trichomoniasis as a risk factor for HIV infection in women, highlighting the relevance of this topic in public health. The main objective is to investigate the association between Trichomonas vaginalis infection and the increased risk of HIV infection, contributing to the understanding of the dynamics involving these infections. To achieve this objective, we utilized a qualitative research methodology, consisting of a literature review in databases such as PubMed, SciELO, and Google Scholar, analyzing articles published between 1999 and 2024. The results indicate a significant prevalence of co-infection by Trichomonas vaginalis and HIV among women, revealing geographical differences and worrying rates, especially in vulnerable populations, such as those with multiple sexual partners or without access to adequate health services. The evidence suggests that trichomoniasis not only facilitates the transmission of HIV but can also complicate the treatment of the virus infection, as inflammation and lesions caused by trichomoniasis increase susceptibility to HIV infection. We conclude that trichomoniasis worsens public health issues, emphasizing the need for integrated prevention and treatment strategies. It is essential for health policies to address co-infection comprehensively, promoting awareness, early diagnosis, and effective treatment, as well as ensuring access to health services, especially for vulnerable populations. The paper highlights the importance of a multidisciplinary approach to tackle these challenges and improve outcomes for affected women. 

Keywords: “Trichomonas vaginalis”, “trichomoniasis”, “sexually transmitted infections”, and “HIV”.

1. INTRODUÇÃO 

A Tricomoníase é uma infecção sexualmente transmissível (IST), provocada pelo protozoário Trichomonas vaginalis. É uma doença mundialmente conhecida e foi descrita pela primeira vez por Alfred Donné em 1836, o qual isolou esse microrganismo em uma mulher com vaginite (NEVES, 2016). O T. vaginalis é um microrganismo flagelado, anaeróbio facultativo e que cresce em temperatura de 20 °C a 40 °C. Sua forma infectante é o trofozoíto, com formato oval ou piriforme, medindo aproximadamente 12 µm de comprimento e 8 µm de largura, contendo 4 flagelos anteriores e um quinto flagelo ondulante. Não possui forma cística e sua reprodução ocorre por divisão binária. Alimenta-se por fagocitose ou pinocitose de bactérias, leucócitos e células descamadas (NEVES, 2016). 

A incidência da tricomoníase depende de vários fatores, como idade, quantidade de parceiros sexuais, atividade sexual, condições socioeconômicas, outras infecções e ciclo menstrual (NEVES, 2016). A transmissão ocorre, principalmente, por via sexual, embora outros estudos apresentem a possibilidade de transmissão por outras vias não sexuais, como espéculos ginecológicos contaminados, assentos de vasos ou duchas, sendo esses casos raros (MACIEL; TASCA; DE CARLI, 2004). 

Na maioria, dos casos a tricomoníase é assintomática, porém quando sintomática, nas mulheres, pode manifestar-se por meio de corrimento amarelado ou esverdeado, mau cheiro, às vezes acompanhado de prurido ou sangramento após a relação, e dor ao urinar. Este protozoário pode propiciar a transmissão de outras infecções e ainda facilitar a instalação de doenças inflamatórias pélvicas, podendo ser confundida com vaginose bacteriana devido aos sintomas muitos semelhantes (CARVALHO et al., 2021). Nos homens, geralmente é assintomática, com ocorrências de sintomas, como dor testicular, secreção peniana, frequência urinária ou urina turva (SCHUMANN; PLASNER, 2023). 

O período de incubação pode variar de 5 a 28 dias (BRASIL, 2023) e nos homens, o T. vaginalis pode sobreviver até uma semana no prepúcio e, por não apresentar sintomas, torna-se o principal veiculador da infecção (BRAVO et al., 2010). 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2016 estima-se de 156 milhões de casos em todo o mundo. Em 2008, houve um relato maior de casos, atingindo 276,4 milhões, com variação entre homens e mulheres, com idade entre 18 a 59 anos, sendo a prevalência mais baixa entre os homens e mais alta entre as mulheres (VAN GERWEN; MUZNY, 2019). Uma pesquisa realizada no estado do Amazonas sobre IST mostrou que entre os anos de 2004 e 2008 foram diagnosticados um total de 573 casos de tricomoníase, sendo 8,4% em homens e 91,6% em mulheres. (PENNA; PEDROSA; DOS SANTOS PEREIRA, 2012). 

O diagnóstico laboratorial da tricomoníase vaginal é realizado através do exame microscópico direto de uma amostra de secreção vaginal coletada há menos de 20 minutos. Essa amostra é adicionada a uma gota de solução salina e analisada sob microscopia. Além disso, amostras de sedimento urinário também podem ser analisadas por microscopia, especialmente se houver dificuldade para urinar. Outra forma é a identificação de trofozoítos de T. vaginalis em amostras coradas pela técnica de Papanicolau, utilizada para o exame citológico (CAVASINI; FERREIRA, 2012). 

Para o tratamento é utilizado fármacos da classe dos 5-nitroimidazóis, com destaque o metronidazol, secnidazol e tinidazol o tratamento é em dose única desses medicamentos, podendo ser usado por 7 dias seguidos no caso do metronidazol de 500g (VIERA; TASCA; SECOR, 2017). 

A demora no tratamento ou até mesmo o tratamento inadequado da tricomoníase pode levar a consequências secundárias graves e preocupantes. De acordo com a literatura, essa IST pode atuar como porta de entrada para alguns microrganismos oportunistas como o HIV, afetar grávidas podendo ocasionar partos prematuros e casos de infertilidade em mulheres também já foram descritos (CARVALHO et al., 2021). 

Uma das consequências mais alarmantes é o aumento da susceptibilidade à infecção pelo HIV. Já foi relatado que a tricomoníase é responsável pelo aumento do risco da infecção por esse retrovírus, através dos mecanismos imunopatogênicos, o que favorece essa coinfecção (MASHA, 2019). O vírus da imunodeficiência humana (HIV) é classificado como retrovírus, da família retroviridae e ao gênero Lentivirus, que se distingue pela presença da enzima transcriptase reversa. Essa enzima permite a conversão do RNA viral em DNA, que se integra ao genoma da célula hospedeira. A infecção pelo HIV causa um declínio gradual nas funções do sistema imunológico afetando em particular os linfócitos T auxiliares CD4, que são cruciais para a ativação da resposta imune. (SAVI et al., 1999). 

O mecanismo fisiopatológico da infecção por T. vaginalis favorece a ampliação da transmissão do HIV em indivíduos, pois atua como um cofator na propagação do vírus. Essa infecção provoca uma resposta imune celular local, resultando em inflamação do epitélio genital tanto em homens quanto em mulheres. Essa inflamação leva a uma grande infiltração de leucócitos e das células-alvo do HIV, os linfócitos TCD4 +, que são suscetíveis à infecção pelo vírus. Além disso, a tricomoníase causa pontos hemorrágicos na mucosa, facilitando o acesso direto do HIV à corrente sanguínea. Como resultado, aumenta a probabilidade de contaminação em indivíduos HIV-negativos. A carga viral nos fluídos corporais também se eleva, elevando em até oito vezes o risco de exposição e transmissão do HIV para parceiros sexuais não infectados. (FERREIRA et al., 2016). 

Considerando a prevalência global da tricomoníase e seu potencial impacto na saúde pública, esta pesquisa tem como objetivo relatar a infecção por Trichomonas vaginalis não apenas como facilitador da transmissão do HIV, mas também como agente responsável para a progressão da infecção pelo vírus. A compreensão dessa relação é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento dessa possível reinfecção. 

2. JUSTIFICATIVA 

A escolha de investigar a relação entre a tricomoníase e a infecção por HIV é justificada pela crescente preocupação com as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e seu papel na epidemia do HIV. A tricomoníase, embora frequentemente subdiagnosticada e subtratada, é uma das ISTs mais prevalentes globalmente, e sua concorrência com o HIV levanta questões importantes sobre a saúde pública. Estudos anteriores indicam que a presença de tricomoníase pode aumentar a carga viral do HIV e a probabilidade de transmissão, afetando não apenas a saúde dos indivíduos, mas também a dinâmica epidemiológica do HIV em populações vulneráveis. Ao abordar essa questão, buscamos não apenas ampliar o entendimento sobre a interação entre essas infecções, mas também fornecer subsídios para políticas de prevenção e intervenções direcionadas, visando reduzir a incidência do HIV e melhorar a saúde sexual da população. 

3. OBJETIVOS 

3.1. Objetivo geral: 

Investigar a associação entre tricomoníase e o aumento do risco de infecção pelo HIV em mulheres. 

3.2. Objetivos específicos: 

● Apresentar dados de prevalência de infecção por trichomonas em mulheres com HIV no Brasil. 

● Descrever os fatores de risco identificados para coinfecção de trichomonas e HIV. 

4. METODOLOGIA 

A metodologia do presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa que consistiu em uma revisão da literatura nas bases de dados nas plataformas PubMed, SciELO e Google Acadêmico, utilizando para a busca os descritores em inglês “Trichomonas vaginalis”, “trichomoniasis”, “sexually transmitted infections” e “HIV”, e em português “Trichomonas vaginalis”, “tricomoníase”, “infecções sexualmente transmissíveis” e “HIV”. Além disso, foram consultados livros de referência sobre Parasitologia Humana e Infectologia, bem como manuais disponibilizados pelo Ministério da Saúde Os critérios de inclusão foram: artigos disponíveis gratuitamente, publicados entre os anos de 1999 e 2024 e artigos sobre o tema do estudo. Os critérios de exclusão foram: artigos duplicados, estudos não disponíveis na íntegra gratuitamente e artigos fora do tema. A partir dos 550 artigos encontrados, foram utilizados 24 para a produção do presente trabalho após a leitura dos artigos. 

Figura 1 – Fluxograma PRISMA de seleção dos artigos. Fonte: Autores (2024)

5. RESULTADOS ESPERADOS 

Tabela 1 – Síntese dos artigos de resultados. Fonte: autores (2024).

Autores Título Ano Tipos de Objetivos pesquisa Resultados
PASCOAL et al Trichomonas vaginalis como Co-fator na propagação do HIV em mulheres2021 Revisão de Avaliar os literatura fatores de propagação para o HIV através da tricomoníaseCoinfecção com trichomonas, mulheres infectadas tem 1,5 vezes mais de chance de adquirir HIV, Aumento da resposta Imune Local, Formação de pontos hemorrágicos T. varginalis pode causar danos na mucosa criando portas de entradas para o HIV, produção de citocinas que estão associadas a uma maior suscetibilidade ao HIV e a assintomatologia.
CARVALHO et al Protocolo Brasileiro para infecções sexualmente transmissíveis 2020: infecções que causam corrimento vaginal2021 Revisão de Investigar os literatura fatores que podem contribuir na infecção da tricomoníaseA tricomoníase acarreta mudança no microbioma vaginal, aumento da resposta inflamatória local e redução importante no número de Lactobacillus sp. A infecção por T. vaginalis causa uma resposta inflamatória que pode aumentar a permeabilidade da mucosa vaginal, tornando mais fácil a entrada do HIV no organismo.
EUZÉBIO A infecção pelo trichomonas vaginalis e suas possíveis relações com a aquisição e transmissão do vírus HIV2020 Revisão de Realizar uma literatura pesquisa que retrate fatores que pode proporcionar a infecção por trichomonas/HI VOs fatores que favorecem as infecções são: relações sexuais desprotegidas, alterações no pH vaginal, onde níveis acima de 4,5 são frequentemente observados em mulheres infectadas, e a presença de inflamação vaginal, que pode facilitar a entrada do HIV
BRUNI et al Trichomonas vaginalis and hiv infection: relation and prevalence among women in southern Brazil2019 Estudo Descrever a transversal incidência de tricomoníase em mulheres soropositivas em Pelotas, uma cidade localizada no estado de Rio Grande do Sul, Brasil.Um estudo transversal entre 267 mulheres (103 HIV-positivas) foi conduzido em 2015. A prevalência geral da infecção por Trichomonas vaginalis (TV) foi de 6,4%. Entre as mulheres HIV-positivas foi de 3,9%.
GATTI et al The prevalence of trichomoniasis and associated factors among women treated at a university hospital in southern Brazil2017 Estudo Determinar a transversal prevalência entre mulheres infectadas por tricomoníase e HIV-positivas em Rio Grande, no estado de Rio Grande do Sul, Brasil.Das 345 mulheres pesquisadas, a prevalência geral de Trichomonas vaginalis (T. vaginalis) foi de 4,1% (14/345). As taxas de prevalência foram de 5,9% entre mulheres grávidas, 8,5% entre mulheres HIV-positivas e 10,1% entre mulheres grávidas HIV-positivas.
SILVA et al Trichomonas vaginalis and associated factors among women living with HIV/AIDS in Amazonas, Brazil2013 Estudo Apresentar transversal prevalência de trichomonas em pessoas infectadas por HIV/AIDS no estado de Amazonas, Brasil.A prevalência entre 341 mulheres infectadas por Trichomonas vaginalis e HIV ao mesmo tempo no estudo foi de 4,1%.
LEMOS et al Ocorrência da infecção por Trichomonas vaginalis em mulheres HIV positivas e negativas atendidas em hospitais de referência em Goiânia, Goiás, Brasil.2008 Estudo Determinar a transversal ocorrência da infecção por Trichomonas em mulheres com HIV na cidade de Goiás em Goiânia.O estudo encontrou uma prevalência de Trichomonas vaginalis de 13,9% entre as mulheres, com 18,4% nos grupos HIV-positivos e 8,9% nos grupos HIV-negativos. Isso destaca a associação significativa entre tricomoníase e coinfecção por HIV em Goiânia, Goiás, Brasil.

6. DISCUSSÃO 

A coinfecção por Trichomonas vaginalis e HIV revela variações significativas na prevalência e na associação entre essas infecções em diferentes contextos geográficos. Segundo Ferreira et al. (2016), Trichomonas vaginalis facilita a infecção pelo HIV ao atuar como cofator na propagação do vírus, devido a inflamações na genitália que alteram a integridade da mucosa vaginal. Além disso, conforme Carvalho et al. (2021), as lesões provocam ulcerações, e segundo Euzébio (2020), a alteração do pH vaginal cria um ambiente mais propício para a entrada do HIV. 

No Brasil, os dados de Bruni et al. (2019) indicam uma prevalência geral de 6,4% para Trichomonas vaginalis em Pelotas, com uma taxa de 3,9% entre as mulheres HIV-positivas. Em outro estudo realizado no Amazonas, Silva et al. (2013) reportaram uma prevalência de 4,1% de coinfecção. Gatti et al. (2017), em pesquisa com mulheres em Rio Grande, observaram que a prevalência foi de 8,5% entre as mulheres HIV-positivas e 10,1% entre as grávidas HIV-positivas, ressaltando a vulnerabilidade de grupos específicos. Além disso, Lemos et al. (2008) relataram uma prevalência de 18,4% entre mulheres HIV-positivas em Goiânia, sugerindo uma associação significativa entre tricomoníase e HIV. 

Comparativamente, a situação em países da África Subsaariana é alarmante. Um estudo realizado em Jalingo, Nigéria, por Imo et al. (2023), mostrou uma taxa de 100% de coinfecção entre as mulheres HIV-positivas da amostra, evidenciando uma correlação extremamente forte entre as duas infecções. Isso compara com os dados brasileiros, que, embora preocupantes, não atingem índices tão elevados. A alta prevalência de coinfecção na Nigéria pode ser explicada por fatores como a limitada disponibilidade de serviços de saúde, o preconceito relacionado ao HIV e a ausência de triagem regular, características comuns em áreas com recursos escassos. A pesquisa realizada em Uganda e Zimbábue por McClelland et al. (2008) destacou a prevalência de Tricomoníase antes da infecção pelo HIV, com taxas de 11,3% entre mulheres que sofreram soroconversão, indicando que a infecção por T. vaginalis pode aumentar o risco de aquisição do HIV, comprovando a hipótese de que a coinfecção é um fator de risco significativo para a transmissão do HIV. Nos Estados Unidos, embora a prevalência de coinfecção seja considerável, o acesso a serviços de saúde é mais amplo. O estudo de Meites et al. (2013) revelou que 29,3% das mulheres HIV-positivas que visitaram clínicas de ISTs foram diagnosticadas com tricomoníase, embora significativo, menor em comparação com as altas taxas observadas na África, refletindo uma rede de saúde mais desenvolvida e maior acesso a exames e tratamentos, cruciais para o controle de ISTs.

Sobre os fatores que podem contribuir para a coinfecção da tricomoníase e HIV, Trichomonas vaginalis é considerado um facilitador de infecção pelo HIV, atuando como cofator na propagação do vírus, tornando-se preocupante no cenário da saúde mundial. Em relação aos fatores de risco, é importante ressaltar a interação entre eles, o que agrava as infecções, necessitando de uma estratégia integrada para prevenção e tratamento. Segundo Carvalho et al. (2021) a tricomoníase provoca alterações na microbiota vaginal, resultando em uma diminuição significativa no número de Lactobacillus sp., que são importantes para a manutenção da saúde vaginal, além de causar uma resposta inflamatória que pode aumentar a permeabilidade da mucosa vaginal, tornando mais fácil a entrada do HIV no organismo. 

Mulheres coinfectadas com Trichomonas vaginalis têm 1,5 vezes mais chances de adquirir o HIV, conforme Pascoal et al. (2021). A infecção por T. vaginalis aumenta a resposta imune local e a formação de pontos hemorrágicos, criando portas de entrada para o HIV. A produção de citocinas associadas à infecção por T. vaginalis está ligada a uma maior suscetibilidade ao HIV e à sintomatologia da coinfecção. Fatores que favorecem as infecções incluem relações sexuais desprotegidas e alterações no pH vaginal acima de 4,5, além da presença de inflamação (Euzébio, 2020). Neves (2016) ressalta que práticas sexuais de risco, sem o uso de preservativo, aumentam a vulnerabilidade à infecção. Esse comportamento é comum em populações com alto índice de contaminação. Segundo Bravo et al. (2010), pacientes imunocomprometidos pelo HIV têm maior dificuldade para combater infecções, incluindo a tricomoníase, aumentando sua vulnerabilidade à coinfecção. A interação entre diversos fatores de risco agrava as infecções, destacando a necessidade de uma estratégia integrada para prevenção e tratamento. 

Mediante esses fatores, é necessário enfatizar a interdependência entre a tricomoníase e a transmissão do HIV, sugerindo melhor entendimento sobre a infecção para a população. A gestão das infecções por T. vaginalis pode ser crucial para o controle da disseminação do HIV, especialmente entre populações vulneráveis, como mulheres grávidas e aquelas com múltiplos parceiros sexuais. 

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Este trabalho possibilitou entender a relação entre a tricomoníase e o aumento do risco de infecção pelo HIV em mulheres, ressaltando a importância desse tema para a saúde pública. O objetivo geral da pesquisa foi investigar essa associação, e ele foi atingido, demonstrando uma correlação significativa entre as infecções. Definiram-se objetivos específicos, como apresentar dados de prevalência e descrever fatores de risco para a coinfecção, ambos alcançados através da análise de dados relevantes. Os procedimentos metodológicos incluíram uma revisão da literatura, resultando em 24 artigos analisados, que evidenciaram a prevalência preocupante entre mulheres HIV-positivas. A hipótese inicial de que a tricomoníase aumenta a propagação do HIV foi confirmada, demonstrando que essa infecção facilita a transmissão do vírus. A pesquisa deixou em aberto a necessidade de estudos adicionais sobre os determinantes sociais que influenciam a coinfecção, sinalizando áreas que devem ser aprimoradas em investigações futuras. 

6. REFERÊNCIAS 

1. BRASIL. Ministério da Saúde. Tricomoníase é a IST curável mais comum no mundo. Brasília, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/fevereiro/tricomoniase-e-a-ist-c uravel-mais-comum-no-mundo. Acesso em: 10 abr. 2024. 

2. BRAVO, Renato S. et al. Tricomoníase: o que se passa?. Brazilian Journal of Sexually Transmitted Diseases, v. 22, n. 2, p. 73-80, 2010. 

3. BRUNI, Mirian Pinheiro et al. Trichomonas vaginalis and HIV infection: relation and prevalence among women in southern Brazil. Revista de Patologia Tropical/Journal of Tropical Pathology, v. 48, n. 1, p. 15-24, 2019. 

4. CARVALHO, Newton Sergio de et al. Protocolo Brasileiro para Infecções Sexualmente Transmissíveis 2020: infecções que causam corrimento vaginal. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 30, n. spe1, p. e2020593, 2021. 

5. CAVASINI, Carlos Eugênio; FERREIRA, Marcelo Urbano. 9 Trichomonas vaginalis e Tricomoníase. Parasitologia contemporânea, 2012. 

6. DE BRUM VIEIRA, Patrícia; TASCA, Tiana; EVAN SECOR, W. Challenges and persistent questions in the treatment of Trichomoniasis. Current topics in medicinal chemistry, v. 17, n. 11, p. 1249-1265, 2017.

7. EUZÉBIO, R. A INFECÇÃO PELO TRICHOMONAS VAGINALIS E SUAS POSSÍVEIS RELAÇÕES COM A AQUISIÇÃO E TRANSMISSÃO DO VÍRUS HIV. Revista Científica Faculdade Unimed, v. 2, n. 1, p. 96-111, 30 jun. 2020. 

8. FERREIRA, Edna Camila de arruda et al.. TRICOMONÍASE: UMA DOENÇA PARASITÁRIA COMO PORTA DE ENTRADA PARA O VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV). Anais da VII Mostra de Pesquisa em Ciência e Tecnologia DeVry Brasil. Anais… BELÉM, CARUARU, FORTALEZA, JOÃO PESSOA, MANAUS, RECIFE, SALVADOR, SÃO LUÍS, SÃO PAULO, TERESINA: DEVRY BRASIL, 2016. 

9. GATTI, Fabiane Aguiar dos Anjos et al. The prevalence of trichomoniasis and associated factors among women treated at a university hospital in southern Brazil. PLoS One, v. 12, n. 3, p. e0173604, 2017. 

10. LEMOS, Patrícia Abreu Pinheiro de. Ocorrência da infecção por Trichomonas vaginalis em mulheres HIV positivas e negativas atendidas em hospitais de referência em Goiânia, Goiás, Brasil. 2008. 

11. MACIEL, Gisele de Paiva; TASCA, Tiana; DE CARLI, Geraldo Attilio. Aspectos clínicos, patogênese e diagnóstico de Trichomonas vaginalis. Jornal Brasileiro de Patologia e medicina laboratorial, v. 40, p. 152-160, 2004. 

12. MASHA, Simon Chengo et al. Trichomonas vaginalis and HIV infection acquisition: a systematic review and meta-analysis. Sexually transmitted infections, v. 95, n. 1, p. 36-42, 2019. 

13. MEITES, Elissa et al. Trichomonas vaginalis in selected US sexually transmitted disease clinics: testing, screening, and prevalence. Sexually transmitted diseases, v. 40, n. 11, p. 865-869, 2013. 

14. MCCLELLAND, R. et al. Trichomonas vaginalis Infection and Human Immunodeficiency Virus Acquisition in African Women. Commentary. The Journal of infectious diseases, v. 197, n. 4, 2008.

15. NEVES, David Pereira. Parasitologia humana. 13. ed. SãoPaulo: Atheneu, 2016. 

16. IMO, Liman Tertsegha et al. Correlational studies on clinical and laboratory diagnosis of Trichomonas vaginalis coinfection with HIV candidiasis and syphilis among women of reproductive age in Jalingo North-central Nigeria. 2023. 

17. PENNA, Maria Lucia Fernandes; PEDROSA, Valderiza Lourenço; DOS SANTOS PEREIRA, Emília. Leprosy decline in Amazonas state, Brazil. Tropical Medicine & International Health, v. 17, n. 2, p. 244-246, 2012. 

18. PASCOAL IL, Barreto JM, Coelho LRP, Barbosa MHA, Oliveira A luiza faleiro V, Amaral JGN, Santos CAC, Souza JHK de. Trichomonas vaginalis como Co-Fator na propagação do HIV em mulheres: uma revisão de literatura/ Trichomonas vaginalis as a Co-Factor in HIV propagation in women: a review of the literature. Braz. J. Develop. [Internet]. 2021 Jun. 7 [cited 2024 Nov. 3];7(5):52660-73. Available from: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BRJD/article/view/30413 

19. SAVI, Marcelo A.; SOUZA, Tiago RA. Dinâmica da interação entre o sistema imunológico e o vírus HIV. Revista Militar de Ciência e Tecnologia, v. 3, p. 15- 26, 1999. 

20. SILVA, Leila Cristina Ferreira et al. Trichomonas vaginalis and associated factors among women living with HIV/AIDS in Amazonas, Brazil. Brazilian Journal of Infectious Diseases, v. 17, p. 701-703, 2013. 

21. SCHUMANN, Jessica A.; PLASNER, Scott. Trichomoniasis. In: StatPearls [Internet]. StatPearls Publishing, 2023. 

22. VAN GERWEN, Olivia T.; MUZNY, Christina A. Recent advances in the epidemiology, diagnosis, and management of Trichomonas vaginalis infection. F1000Research, v. 8, 2019.