O PSICÓLOGO DIANTE DA IDEAÇÃO OU TENTATIVA DE SUICÍDIO: O QUE FAZER?

THE PSYCHOLOGIST IN THE FACE OF SUICIDAL IDEATION OR ATTEMPT: WHAT TO DO?

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411291033


Alexandra Corsino Borges
Alice Barbosa Moreira da Silva
Ana Bárbara Fernandes Rodrigues
Crisleimar Silva Teixeira Filho
Débora Zalasko Arruda
Eva Letticia do Vale Santos
Júlia Costa Cardoso
Leticia Amaral de Paula Araújo
Maria Amélia Alves Viso
Maria Eduarda Machado Moreira
Maria Gabriela dos Santos Lima
Milena Natália Miranda Gonçalves
Thaís Fernandes Pitombeira
Vanessa Mariana Alves
Vitória Borges de Oliveira


1.  OBSERVAÇÃO DA REALIDADE

O presente trabalho tem como tema “O psicólogo diante da ideação ou tentativa de suicídio: o que fazer?“, escolhido por um grupo de alunas do curso de psicologia do Centro Universitário IMEPAC, dentro do conteúdo do Projeto Integrador: Identidade Profissional do Psicólogo”, ministrado pelo professor Mak Alisson. O grupo buscou conhecer quais atitudes, comportamentos e pensamentos levam uma pessoa a ter ideias suicidas, além de compreender de que forma o profissional deve lidar com esses pacientes dentro da clínica, sem que o Código de Ética seja infringido.

Para a obtenção das informações necessárias, optou-se por realizar uma entrevista utilizando as redes sociais. Foi enviado um questionário para duas psicólogas clínicas. Devido à pandemia, elaborou-se um questionário com onze perguntas relacionadas ao tema do trabalho, disponível para as profissionais via WhatsApp. O público-alvo da pesquisa foi composto por pacientes com ideias suicidas. Neste contexto, pesquisaram-se as principais abordagens teóricas sobre a relação entre psicólogo e paciente, além dos fatores que interferem nessa relação.

As profissionais participantes, ao se comprometerem em responder o questionário, não sofreram nenhum risco, pois as perguntas foram dissertativas e apresentadas de forma clara. A análise dos relatos da pesquisa nos permitiu levantar hipóteses sobre soluções voltadas para o tema em estudo.

O objetivo principal deste trabalho foi refletir sobre a relação entre paciente e profissional, com foco na ideação suicida, buscando identificar os aspectos envolvidos e como evitar que essa relação se torne antiética, prejudicando o vínculo terapêutico e o tratamento psicológico.

Os objetivos específicos deste estudo foram:

  • Identificar como o suicídio mobiliza o psicólogo, tanto sob o ponto de vista pessoal quanto profissional.
  • Examinar como lidar com a quebra de sigilo à luz do Código de Ética e a preocupação com o vínculo terapêutico.

Diante dos resultados obtidos, levantaram-se os seguintes dados: Questionário realizado com a Psicóloga Grace Pereira – Abordagem Clínica.

  1. Essa mobilização do paciente diante do suicídio pode causar questionamentos pessoais no psicólogo?

Resposta: Essa mobilização leva o profissional a entrar em contato com seus questionamentos, suas remoções, angústias e dúvidas, sendo assim o profissional tem que estar amparado e bem preparado para lidar com essa mobilização. Pois não é somente a mobilização e sim toda uma rede de profissionais e familiares que estão envolvidos.

2. Após o paciente se suicidar, ocorre o momento em que a família procura o Psicólogo? Geralmente, quais são os questionamentos dessa família? Podemos quebrar o sigilo com a família?

Resposta: A família sempre procura o profissional antes do paciente cometer o suicídio. Neste caso, ele já está em risco e já foi abordado. O mais importante é não deixar o paciente com um potencial de suicídio sozinho. Inicialmente, pode-se avisá- lo da importância de contar sobre sua intenção, ao menos para um familiar. Assim, amplia-se ou cria-se uma rede de apoio. Lembrando que é essencial essa rede de apoio. Se o paciente negar que alguma pessoa tenha conhecimento, o profissional, ao perceber o risco de não criar essa rede de apoio, está autorizado a contar para um familiar, se essa decisão colaborar para preservar o seu paciente. No entanto, é importante ressaltar que a quebra de sigilo, nesse caso, é um direito, mas não um dever. Particularmente, já quebrei várias vezes esse sigilo com paciente em momento de risco iminente, e conseguimos conter o ato.

Em casos singulares, após análise criteriosa e tendo em vista os princípios fundamentais da conduta ética profissional, é considerada a quebra de sigilo por parte do psicólogo, buscando o menor prejuízo para o paciente.

3. Como observar um grau de intencionalidade? As ameaças são levadas em consideração?

Resposta: Assim chamamos de sinais de alerta que o paciente traz como resposta a um sentimento suicida. Pois não vejo o suicídio como uma ameaça ociosa, não é algo que as pessoas falam ou fazem para chamar a atenção, por isso é crucial levar a sério qualquer sinal de alerta que esse paciente traga. A ameaça é um grande sinal de alerta. Conversar com esse paciente sobre ideação suicida não leva ao suicídio.

4. Podemos pensar no suicídio como uma tentativa de vida nova? Um grito de socorro? Se sim, existe um conformismo da parte do psicólogo diante do suicídio ao interpretar ser um desejo do paciente?

Resposta: Na maioria das vezes, não é uma busca de vida nova, e sim uma tentativa de amenizar algo que não está normal para aquela pessoa, e junto a isso podem existir patologias que levam a esse comportamento. Por isso, um psicólogo nunca pode estar sozinho nessa caminhada. Sim, muitas vezes é um grito de socorro. Cada profissional fala de uma maneira, toda vida é valiosa, o paciente não quer acabar com sua vida sentindo a dor, ele quer que a dor termine. Não existe um desejo, e sim uma luta entre sentimentos e realidades.

5. Como o Psicólogo deve lidar com seus próprios sentimentos para que os mesmos não interfiram de forma negativa em seus pacientes?

Resposta: Todo psicólogo tem que estar em tratamento psicológico e saber lidar com suas emoções. O profissional, em toda situação de atendimento, tem que estar preparado para qualquer abordagem ou queixa que o paciente traga para a clínica. Suas emoções não devem intervir nos atendimentos. Por isso, a grande importância de todos os profissionais dessa área buscarem suporte de atendimento individual para si mesmos. Muitos fazem isso e acham desnecessário, mas não aprendemos a lidar com nossas emoções na faculdade. O psicólogo também precisa ser cuidado.

6. Qual o maior desafio em lidar com casos em que os pacientes possuem comportamentos suicidas?

Resposta: Saber lidar com a insegurança daquele paciente.

7. A perda de um paciente pode reproduzir sentimentos negativos no profissional? Tais como sentir que fracassou? Se esses sentimentos forem despertados, como o Psicólogo deve lidar com a situação?

Resposta: Se o psicólogo estiver acompanhado por tratamento psicológico, isso não terá interferência pessoal.

8. O índice de suicídios e ideias suicidas é maior em qual grupo (homem ou mulher) e em qual faixa etária?

Resposta: Não existe, a meu ver, um grupo específico para precisar esse índice, mas hoje em dia, as inseguranças emocionais que afetam o comportamento do indivíduo muitas vezes levam a essa situação. Não se divide muito entre gêneros. Observo, em minha caminhada, que a partir dos 14 anos é quando começam os problemas pessoais e a busca por modificações no comportamento, gerando conflitos internos. Observamos que o suicídio é uma das principais causas de morte no Brasil em jovens entre 15 e 29 anos, e, na maioria das vezes, está ligado a algum transtorno mental. Aí nos perguntamos: só pensa em suicídio quando o paciente tem transtorno mental? É muito complexo falar assim, pois nem sempre ele tem um transtorno. Pode ser algo recente que o paciente não consegue lidar naquele momento e o fez como fuga.

9. Como o psicólogo pode ajudar um paciente com tendência ao suicídio?

Resposta: A questão dos cuidados psicológicos é fundamental quando se trata do suicídio. As tentativas de suicídio não devem ser supervalorizadas nem desvalorizadas, sendo necessário entendê-las e acolhê-las verdadeiramente. No que tange ao terceiro grau de autodestrutividade, como há grande probabilidade do suicídio se concretizar, é recomendável o trabalho de uma equipe multiprofissional (médico, psicólogo, terapeuta de família) e do grupo familiar.

O atendimento psicológico a pacientes com ideação ou tentativa de suicídio levanta questionamentos em relação a aspectos éticos, notadamente no que se refere à questão do sigilo. O exercício profissional do psicólogo deve se pautar na ética para garantir relação adequada entre profissional, paciente e sociedade, de acordo com valores relevantes. Pode ser difícil para o psicólogo deliberar e decidir, pois ações humanas ocorrem numa confluência complexa de circunstâncias. Experimentos podem ferir a dignidade humana, e o psicólogo clínico pode interferir muito na vida do paciente.

10. Quais os sinais que indicam que um paciente tem ideação suicida ou está prestes a cometê-lo?

Resposta: Pensamentos remoídos obsessivamente, sem esperança e concentração são um dos primeiros indícios, assim como enxergar a vida como algo sem sentido ou propósito. Pensamentos negativos e de inferioridade estão presentes. Geralmente, o próprio paciente traz os indícios de tentativas contra a vida, sendo importante fazê-lo se manifestar através da fala, para que ele se expresse em sentimentos.

11. É possível ampliar as estratégias de prevenção? Se sim, quais as práticas e intervenções necessárias?

Resposta: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 90% dos casos de suicídio podem ser evitados, e um dos principais meios de prevenção é o diálogo e acolhimento. Devido ao medo, preconceito e até desconhecimento sobre o assunto, o suicídio é um mal silencioso, em que, na maioria das vezes, a pessoa não deixa transparecer comportamentos com tendência suicida. Sendo assim, o ideal é buscar um profissional para o tratamento da pessoa que apresenta esses problemas, mas, como a resistência pela procura de auxílio é comum, a ajuda de quem convive com elas pode fazer a diferença. Saber identificar os sinais, como humor, pensamento, melhora rápida, desapego, desânimo, mudanças na rotina e comportamentos agressivos, pode ser crucial.

2.  PONTOS CHAVE

Diante do resultado apresentado no questionário proposto, identificamos os seguintes pontos-chave:

Rede de apoio: De acordo com o Código de Ética, é permitido que o profissional comunique à família uma possível ideação suicida, visto que nosso compromisso é com a vida, em mantê-la e oferecer qualidade para este paciente.

Importância da relação do Psicólogo com a família do paciente durante o processo terapêutico.

Sinais de alerta: O paciente apresenta sinais junto ao sentimento de suicídio.

Necessidade do profissional estar em acompanhamento terapêutico: O psicólogo deve estar em acompanhamento terapêutico para que não seja afetado pelas demandas do paciente com potencial suicida.

Acolhimento: Este paciente em questão precisa ser acolhido, tanto pelo profissional, através da empatia, quanto pelos familiares.

3.  TEORIZAÇÃO

A palavra suicídio tem origem grega, significando “assassino de si mesmo”. Duas definições de suicídio são usualmente empregadas: uma considera o suicídio como um ato voluntário, pelo qual uma pessoa tem a intenção e provoca a sua própria morte; a outra caracteriza-o como um ato patológico de auto eliminação. O suicídio pode ser realizado por atos ou por omissão. O que é comum a ambas as formas de suicídio é a introdução de uma causa de morte não existente anteriormente.

O Portal de Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) apresenta dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Sistema Único de Saúde (SUS) de 2001-2008. Ocorreram 73.261 mortes por suicídio nesse período, o que corresponde a 22 suicídios por dia. No Brasil, são computados 4,5 por 100 mil habitantes. É importante ressaltar que nesses números estão incluídas as notificações de suicídio, e não os acidentes. Camargo (2007), ao apresentar dados da Organização Mundial da Saúde, informa que, em 2020, poderá haver 1,53 milhão de suicídios, índice de mortalidade maior do que guerras e acidentes de trânsito. Entretanto, cabe destacar que estatísticas nem sempre traduzem a realidade da situação, pois acidentes e mortes resultantes de comportamentos autodestrutivos não são computados como suicídio, uma forma de proteção à memória do falecido e à vergonha ou culpa da família, como apontam Benincasa e Rezende (2006). Botega (2007) afirma que o suicídio é um problema de saúde pública. No Brasil, houve aumento de 60% de casos, apontando para a necessidade de criação de políticas nacionais para prevenção e cuidados a pessoas com ideação ou tentativa de suicídio.

Observa-se um grau de intencionalidade crescente à medida que se passa da ideação suicida para desejos, ameaças, tentativas, até o ato consumado. Para procurar compreender se a pessoa deseja viver ou morrer, deve-se levar em conta a intencionalidade e letalidade do ato (Kovács, op. cit.). No entanto, estudos apontam que é falsa a ideia de que pessoas que falam em suicídio não chegam ao ato final. Ao contrário, a maioria das pessoas que cometeram suicídio apresentou ameaças verbais ou comportamentos autodestrutivos em algum momento (SANTOS, op. cit.).

Dados epidemiológicos citados por Botega (2007) apontam a migração das taxas de suicídio para fases mais jovens. Embora o Brasil não esteja entre os países com maiores índices de suicídio, o problema tem aumentado nas grandes cidades brasileiras, entre jovens do sexo masculino em situação de risco e em adolescentes do sexo feminino, gestantes e moradoras de rua. Segundo o autor, há forte associação entre transtorno mental, questões existenciais, solidão, desamparo e impotência. Cassorla (2004) aponta que jovens podem cometer suicídio como forma de buscar uma nova vida, excitação, pedido de ajuda ou para comunicar que algo não vai bem. É fundamental discutir o assunto com os jovens, a fim de buscar possíveis explicações para o aumento dos índices de suicídio observado entre eles e verificar que intervenções e cuidados são importantes.

Nesse sentido, Gutierrez (2014) sinaliza que um acolhimento de qualidade no serviço de saúde pode determinar que o paciente aceite e dê continuidade ao seu tratamento. O acolhimento deve oferecer resolução das demandas e articulação necessária, caso seja necessária a continuidade do tratamento (Ministério da Saúde, 2013). O atendimento de qualidade é determinante para a recuperação e prevenção de que novas tentativas sejam cometidas.

Reitera-se também a importância do trabalho interdisciplinar para a oferta de cuidado integral. Um atendimento mais qualificado e menos atravessado por preconceitos e/ou julgamentos morais. A empatia e vínculo são fundamentais no atendimento à saúde, e perceber o sofrimento psíquico possibilita oferecer cuidados mais acolhedores e menos punitivos.

Na vida de profissionais de saúde mental se envolve uma intensa mobilização psíquica, pois o paciente os confronta com ansiedade e conflitos (PEREIRA, 2001). No caso de atendimento a pacientes com ideação ou tentativa de suicídio, essa

mobilização leva o profissional a entrar em contato com seus questionamentos, angústias e dúvidas (SANTOS, 2007). Por isso, é necessário o acompanhamento psicológico para esses profissionais. O psicoterapeuta precisa desenvolver empatia no que se refere ao sofrimento humano. Isso significa que o profissional pode se disponibilizar para se aproximar do lugar onde o paciente está e, por meio de sua disponibilidade interpessoal, a esperança de que o cliente possa reconhecer suas potencialidades a fim de ampliar sua maneira de enfrentamento de seus sofrimentos. Perls, Hefferline e Goodman (1997) salientam que a psicoterapia é um método “não de correção, mas de crescimento”. Desse modo, o crescimento, para a Gestalt Terapia, significa ampliar as maneiras de se trabalhar as situações do cotidiano, de forma espontânea, realizando ajustamentos criativos em e na vida. Seria possível identificar que quem procura psicoterapia oferecerá potencialidade para o ato suicida? Como pode o psicólogo ser preparado para lidar com clientes que percebem o suicídio como uma solução?

Primeiramente, aponta-se que não é possível prevenir o suicídio de maneira solitária e, por esse motivo, o trabalho deve ser realizado em parceria com a família e outros profissionais. No contrato terapêutico, incentiva-se a inclusão, no item sigilo: “Manterei o sigilo desde que não haja risco de vida”. Além disso, pede-se ao cliente que escolha duas pessoas, deixando seus telefones. Os escolhidos pelo cliente poderão ser considerados como rede de apoio no trabalho do psicoterapeuta e, em crise suicida, tanto o cliente quanto o psicoterapeuta poderão tentar acesso aos indicados.

Disponibilizar-se para a dor do outro produz efeitos igualmente dolorosos no profissional, ou seja, acompanhar o cliente na luta com seu sofrimento significa também se autoacompanhar, no sentido de saber que o profissional só poderá oferecer aquilo que é possível oferecer. Isso posto, cabe salientar a frase de Merighi (2002) quando apresenta que: “Cuidar é inseparável da compreensão e como compreensão deve ser simétrica: ouvindo o outro, ouvindo a nós mesmos, cuidando do outro, cuidando de nós mesmos”.

Reflete-se ainda que o manejo com aqueles que pensam no suicídio requer respeito, disponibilidade, trabalho constante com dores, tolerância às frustrações e trabalho interdisciplinar. Considera-se, sobretudo, que ao lidar com o suicídio, o profissional, além dos aspectos supramencionados, necessita aprender a tolerar a falta de sentido do outro, um dos aspectos mais desafiantes propostos no presente estudo. Ou seja, o terapeuta deve aprender a dosar sua potência e entender que seus serviços devem ser direcionados para ser o guardião do foco existencial de cada cliente e não salvar vidas.

Cabe enfatizar que “Servir não quer dizer fazer pelo cliente”.

O problema do suicídio é complexo. Durkheim, em sua conhecida obra, O Suicídio, já tratava da dificuldade de conceituar o suicídio, uma vez que “se se aceita a acepção vulgar, corre-se o risco de distinguir o que deve ser confundido ou de confundir o que deve ser distinguido” (DURKHEIM, 2005, p. 11). É preciso cuidado com tentativas de categorização (DUTRA, 2000), pois agrupar pessoas que buscam o suicídio em categorias esbarra no fato de que “as razões do suicídio serão tão variadas como o próprio número de pessoas que buscam essa alternativa” (ANGERAMI-CAMON, 1999, p. 57).

No que se diz respeito à ética, pode-se estabelecer associação entre suicídio e eutanásia no que concerne ao desejo de morrer, uma tentativa de planejar a morte para aliviar o sofrimento. A eutanásia é passível de punição legal para quem realiza o ato, e o suicídio não é considerado crime, mas ainda é visto como transgressão religiosa e social. Do ponto de vista da medicina, o suicídio é associado a doença psíquica, pois a mesma pessoa que deseja morrer provoca a própria morte. Na eutanásia, o pedido é feito por uma pessoa para que outra execute o ato de matar. A recusa de tratamentos com pouco benefício à custa de grande sofrimento não deve ser associada ao suicídio, mas pode-se estabelecer a proximidade com um dos componentes do suicídio pelo desejo de morrer, como mencionado por Menninger (1965). Interferir no processo de morte como decorrência de doença e de seu agravamento não seria uma forma de assassinato da boa morte? Costa (2005) aponta o direito de as pessoas decidirem sobre o final da própria vida. Trata-se de uma forma de lutar contra a distanásia, como questão ética, atualmente um grande desafio para profissionais de saúde. Não se deveria permitir que a morte fosse acompanhada de flagelo ou violação da dignidade. Uma forma de suicídio assistido ocorre na clínica Dignitas, na Suíça, onde pessoas pedem para que se apresse a morte.

Trata-se da fronteira entre eutanásia e suicídio assistido, este último com intervenção da pessoa ao final do ato. Houve diminuição de pedidos de eutanásia e suicídio assistido de pacientes gravemente enfermos em programas de cuidados paliativos. Nesses programas, procede-se ao alívio de sintomas incapacitantes, preservação da dignidade e autonomia dos pacientes e cuidados nas esferas clínica, social, psicológica e espiritual.

Uma vez que alguns indivíduos chegam a consumar o suicídio, as consequências desse ato envolvem um tratamento complexo para a família. Grande empenho tem sido dedicado para identificar fatores de risco de tal comportamento, visando a desenvolver ações de prevenção mais efetivas (BORGES; WERLANG, 2006). Os fatores de risco mais comuns de TS apresentados nos estudos incluem frágil estrutura familiar, antecedentes psiquiátricos, individuais ou familiares, falta de apoio social, restrição de lazer, falta de apoio espiritual, consumo de drogas recreativas, conflitos conjugais, baixa escolaridade e eventos estressantes, sempre associados ao sexo e à intensidade da ideação suicida. Uma pesquisa que abordou dez histórias clínicas de casos de TS em pacientes adolescentes revelou que a maioria deles era proveniente de lares desestruturados, predominantemente por separação dos pais, e que a tentativa ocorreu com maior frequência após discussão com pessoas importantes no núcleo sociofamiliar (FICHER; VANSAN, 2008).

Quanto aos eventos estressantes, estes podem estar relacionados à ausência de apoio social. Estudos têm demonstrado os efeitos deletérios da ausência de suporte social em situações estressantes, como a morte de pessoas íntimas, separação conjugal, desemprego ou qualquer mudança nociva no ambiente (FONSECA et al., 2010).

Para Schramm (2002), deve-se discutir o direito da pessoa de dispor e dar sentido à vida, buscando dignidade, como forma de preencher o vazio existencial. É a possibilidade de exercer a liberdade e autonomia da forma mais radical. O desejo de morrer realizado como forma de debelar o sofrimento. Mas como considerar o desejo de se matar? Haveria diferença de julgamento nas duas situações ou atenuantes para o suicídio, de acordo com o momento vivido pela pessoa? Exemplificando: idosos com doença em estágio terminal ou em sofrimento intenso teriam legitimação e aceitação para encerrar sua vida? E se esse desejo for manifesto por um jovem sem doença física, mas com sofrimento psíquico? Que dor é mais intolerável: a que é provocada por doença com sintomas incapacitantes ou a solidão, o desamparo e vazio existencial? Como avaliar a intensidade do sofrimento? Desrespeitar o pedido de um idoso para finalização de sua vida não seria também uma forma de matar sua autonomia e desejo de finalizar a existência de forma digna? Considerando o reverso, oferecer morte sem sofrimento não é profundo respeito à dignidade humana? A pessoa é o supremo juiz de sua vida. É seu olhar e não dos outros que define o que é dignidade. Será que uma pessoa pode ser obrigada a viver? É possível julgar o processo de morte escolhido pela pessoa? O suicídio não é mais penalizado, mas ainda se responde a ele como se fosse crime dispor da própria vida. A morte não é ato médico, mesmo que caiba a esse profissional constatar sua ocorrência. A escolha da morte é um ato da pessoa, e solidariedade, bem como compaixão, fazem parte do processo. Será que elas valem também quando o processo é o suicídio? Ramón Sampedro (2005), no Cartas do Inferno, discute o direito de escolher a morte quando a vida fica indigna. Esse livro foi base para o filme Mar Adentro, de Alejandro Amenábar. No prólogo do livro, Sampedro (2005, p. 5) relata o mergulho que resultou na sua tetraplegia: “Desde esse dia, sou uma cabeça viva em um corpo morto. Se fosse um animal teria sido sacrificado como um sentimento humano nobre”. Declara que o tetraplégico é um ser morto crônico e que reside no inferno, daí o título do livro. O que importa para ele é a liberdade do ser humano perante a vida e a morte. A família e os amigos não conseguiam compreender seu drama e, por amor, queriam impedir a sua morte, mantendo-o no seu inferno pessoal. Pelas limitações motoras decorrentes da tetraplegia, não conseguia efetuar o ato suicida. A solução encontrada foi pedir eutanásia como direito pessoal a uma boa morte.

Ficou perplexo com o grau de intolerância dos representantes da religião, do Estado e da lei.

4.  HIPÓTESE DE SOLUÇÃO

Ao examinar os dados da pesquisa, verificamos algumas soluções que podem auxiliar e trazer estratégias para os indivíduos que estão passando por situações que podem levar ao suicídio, além de esclarecer e conscientizar a respeito das atitudes que são prejudiciais ao indivíduo.

  • A criação de jogos interativos e atividades com o intuito de levar o conhecimento de uma forma lúdica.
  • A realização de palestras explicativas de forma online, com a participação de psicólogos convidados, para conscientizar as pessoas sobre a importância de cuidar da saúde mental.
  • Conscientizar as famílias por meio de cartilhas que estimulam o conhecimento sobre os perigos do não olhar para as mudanças que a criança, o adolescente ou o jovem vivenciam.
5.  APLICAÇÃO À REALIDADE

Esse projeto foi elaborado com o intuito de mostrar a importância de observar os indivíduos que apresentam ideação suicida, ressaltando a prevenção e a forma correta de lidar com esse tipo de comportamento, podendo assim oferecer o acolhimento necessário. Para compreender melhor como identificar os fatores e como lidar com o paciente que apresenta ideação suicida, obtivemos, por meio dos resultados do questionário online com a psicóloga, um entendimento claro acerca do assunto debatido. Isso levou o grupo a refletir sobre possíveis soluções para auxiliar o indivíduo em seu comportamento, bem como as pessoas envolvidas no tratamento do mesmo.

Com o objetivo de contribuir para a conscientização sobre o tema, elaboramos um jogo denominado “QUEM SOU EU?” utilizando os personagens Tristeza, Alegria, Medo, Nojo e Raiva, do filme Divertidamente, de maneira criativa e descontraída, para trabalhar os sentimentos, com o intuito de reconhecê-los, nomeá-los e significá-los.

Além disso, o jogo tem como objetivo conscientizar sobre a necessidade de explorar mais os sentimentos ditos como “ruins”, quebrando qualquer tipo de tabu em relação ao tema.

Esquema do Jogo:

Em uma roda de participantes, será colocado na testa de cada integrante uma imagem de um personagem do filme Divertidamente. O objetivo do jogo é adivinhar com qual

personagem você está associado, por meio das dicas dadas pelo próprio grupo. Quando o personagem/sentimento for descoberto, o psicólogo poderá agir intencionalmente, convidando a pessoa a falar um pouco sobre o personagem com o qual ficou, obtendo assim, por meio de observações e escuta, materiais para análise e estudo de cada indivíduo envolvido no jogo. Todos os participantes terão a oportunidade de se expressar sobre cada sentimento.

Por meio desse jogo, será possível trabalhar de maneira preventiva patologias como a depressão.

REFERÊNCIAS

FÉLIX, T. A.; OLIVEIRA, E. N.; LOPES, M. V. de O.; PARENTE, J. R. F.; DIAS, M. S. de A.; MOREIRA, R. M. M. FATORES DE RISCO PARA TENTATIVA DE SUICÍDIO:PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO NO BRASIL. Revista Contexto & amp; Saúde, [S. l.], v. 16, n. 31, p. 173–185, 2016. DOI: 10.21527/2176-7114.2016.31.173-185.Disponível       em:https://revistas.unijui.edu.br/index.php/contextoesaude/article/view/6079. Acesso em: 19 out. 2021.

OKAJIMA, KARINA. O psicoterapeuta diante do comportamento suicida. Scielo, 2021.Disponível        em:https://www.scielo.br/j/pusp/a/dn4bjQ5DWvmVx5RkWH6HS7w/?lang=pt. Acesso em: 20 de out. 2021.

PLATAFORMA ESPAÇO DIGITAL. COMPORTAMENTO SUICIDA: O PAPEL DO PSICÓLOGO                           NA       PREVENÇÃO  AO                           SUICÍDIO.                       Disponível                  em:<https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/40899>. Acesso em: 10 nov. 2021.