REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/os102411271620
Ane Caroline Alves da SILVA
Cláudia de Arruda SARTURI
Hélio de Deus da NATIVIDADE
Paula Xavier SCREMIN
RESUMO:
Diante do contexto da pandemia de Covid-19, o ensino remoto emergencial no Brasil trouxe à tona preocupações, especialmente no âmbito da Educação de Surdos, no sentido de compreender as dificuldades e desafios enfrentados pelos docentes nesse cenário. Este artigo tem como objetivo principal investigar os desafios do ensino remoto no Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria, buscando entender como os professores percebem sua formação para o ensino, pesquisa e orientação de alunos que estudaram de forma remota. A pesquisa adota uma perspectiva teóricometodológica da análise discursiva pós-estruturalista, integrada aos campos dos Estudos Culturais e dos Estudos Surdos. Este estudo parte do dispositivo metodológico de uma abordagem qualitativa, com a seleção e organização de categorias da seguinte forma: 1) identificação das problemáticas e proposta de pesquisa; 2) seleção dos participantes da pesquisa e elaboração do questionário; 3) aplicação dos questionários, coleta e análise dos dados. Após a produção de dados, foi possível examinar e compreender as perspectivas das docentes envolvidas no estudo, por meio da abordagem de questões e discussões relacionadas às percepções sobre os impactos da pandemia na saúde dos professores, bem como seu efeito no processo de ensino, aprendizagem e avaliação nessa instituição. Este trabalho foi concebido com a finalidade de abordar e compreender as concepções de estratégias e práticas pedagógicas.
Palavras-chave: aprendizagem; docentes; estudos surdos.
1. INTRODUÇÃO
No contexto da pandemia global de Covid-19, o ensino remoto emergencial no
Brasil enfrentou desafios e obstáculos significativos, especialmente no que diz respeito à Educação de Surdos e à docência em geral. Nesse cenário, surgiram diversas dificuldades devido à suspensão abrupta das atividades presenciais e à necessidade de recorrer ao isolamento social.
No contexto deste estudo, é feita uma reflexão sobre os desafios enfrentados pela docência da educação de surdos durante o ensino remoto. Foram discutidas estratégias e práticas pedagógicas voltadas para alunos de graduação, assim como a contribuição de diferentes autores e estudos em questão. A pesquisa desempenha um papel fundamental nesse processo, envolvendo a exploração, investigação e busca por novos conhecimentos. Contudo, é importante destacar que pesquisar não é uma tarefa fácil. De acordo com Costa (2007, p.19) “[…] Sempre que se produz um novo conhecimento também se inventa um novo e peculiar caminho. Quando olhamos para trás é que nos damos conta disso”.
Este trabalho tem como objetivo geral investigar e descrever os desafios do ensino remoto, no Centro de Educação (CE) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no período do cenário da pandemia de Covid-19, compreendendo como o docente percebe sua atuação e formação diante do ensino, pesquisa e orientação com estudante do ensino superior na situação do ensino remoto. Entre os objetivos específicos, a pesquisa buscou: a) problematizar como as subjetividades docentes são produzidas no Centro de Educação da UFSM no cenário da pandemia; b) visualizar quais as estratégias tecnológicas desenvolvidas pelas professoras envolvidas no ensino remoto; c) analisar os desafios encontrados por docentes da educação de surdos de forma remota perante as dificuldades encontradas no Centro de Educação da UFSM.
As consequências da pandemia tiveram um impacto profundo nos docentes, levando-os a um estado de exaustão emocional, devido às condições sanitárias e econômicas desafiadoras. Além disso, eles precisaram enfrentar a tarefa de desenvolver novas estratégias para lidar com o ensino remoto. Entre esses desafios estão a necessidade de adaptações, a insegurança em relação às novas práticas, a ansiedade decorrente das incertezas, a transição para o trabalho em regime de home office e a utilização das tecnologias digitais como ferramentas de ensino.
A adaptação tecnológica foi utilizada diante dos desafios que surgiram. Professores e alunos tiveram que encontrar recursos para enfrentar o isolamento, tornando o ensino remoto a única alternativa viável. Esse novo formato de ensino é realizado por meio de aulas síncronas e assíncronas. Lidar com o tempo e se adaptar a essa novidade tornaram-se fatores fundamentais para aqueles que passaram a estudar, participar das atividades acadêmicas e ensinar remotamente.
Além disso, é importante ressaltar que tanto os professores quanto os alunos tiveram que se adaptar e reinventar, uma vez que o uso da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) se tornou uma ferramenta inovadora. No entanto, nem todos os professores e alunos tiveram acesso estável e recursos tecnológicos de qualidade para utilizá-la. Apesar dessas limitações, a utilização das TICs se tornou um recurso essencial para manter as atividades acadêmicas de forma virtual.
2.MÉTODO
Esta pesquisa adotou uma abordagem teórico-metodológica baseada na análise discursiva, complementada por leituras dos Estudos Culturais e Estudos Surdos na vertente pós-estruturalistas. O principal objetivo foi investigar os discursos que circulam em torno do ensino remoto, especialmente em relação à educação de surdos durante a pandemia. O estudo buscou compreender as posições, o funcionamento e os impactos desses discursos. Essa pesquisa representa um esforço significativo no sentido de ampliar o conhecimento nessa área. A metodologia da pesquisa está baseada numa abordagem de cunho qualitativo. Segundo Fischer (p. 43, 2007), o corpusde análise empírica funciona
“[…] como um conjunto de textos associados a inúmeras práticas sociais, a analisá-los igualmente como práticas que são, como constituidores de sujeitos e corpos, de modos de existência não só de pessoas como de instituições e inclusive de formações sociais mais amplas”.
Na contemporaneidade, o estudo baseia-se na análise dos enunciados presentes nos materiais empíricos, considerando-os como práticas discursivas que produzem verdades. Isso implica em direcionar o olhar para uma história da verdade, em que ela se expressa por meio de discursos relacionados a determinados saberes. Os sujeitos são capazes de produzir discursos sobre si mesmos e sobre as subjetividades que produzem. Para investigar e descrever um determinado discurso, enunciado ou conjunto de enunciados em suas singularidades, é necessário observar as condições de existência. Segundo Veiga-Neto (2004), afirma que “[…] o que passa a interessar a Foucault, então, é o poder enquanto elemento capaz de explicar como se produzem os saberes e como nos constituímos na articulação de ambos” (p. 66).
É essencial compreender as políticas de verdades que estão sendo construídas em relação às subjetividades dos professores da educação de surdos envolvidos nas atividades remotas durante a pandemia. Ferreira (2020) destaca a importância da materialidade da pesquisa ao descrever as concepções de discurso. Ela ressalta que não busca fazer comparações ou julgamentos, mas sim explorar perspectivas teóricas para obter um entendimento do discurso. Esse entendimento é resultado de escolhas, seleções e possibilidades.
O estudo foi organizado em etapas distintas para a condução da pesquisa. A sequência foi a seguinte: 1) identificação das problemáticas e formulação da proposta de pesquisa; 2) seleção dos participantes da pesquisa e elaboração do questionário; 3) aplicação dos questionários por meio do encaminhamento do e-mail, coleta de informações e análise dos dados coletados.
As perguntas foram direcionadas aos professores participantes da pesquisa, sendo que as entrevistas estruturadas foram conduzidas com base em um questionário previamente planejado, alinhado com as análises propostas neste artigo. As questões estão divididas nas seguintes perguntas: 1) Quais as principais dificuldades da universidade para implantação e desenvolvimento de ensino remoto? 2) Quais estratégias foram adotadas para atender os estudantes durante o trabalho remoto? 3) Quais aprendizados você obteve com a experiência do trabalho remoto emergencial? 4) Qual é a sua opinião sobre o atendimento aos alunos surdos no ensino remoto atualmente, dentro da universidade no CE (Centro de Educação)?
Considerando os aspectos metodológicos, as análises apresentadas neste estudo foram baseadas em um questionário aplicado a cinco docentes do Centro de Educação UFSM, incluindo uma docente surda e quatro docentes ouvintes. Durante a escrita da pesquisa, as docentes participantes da produção de dados serão identificadas pela nomenclatura de Docente A, Docente B, Docente C, Docente D e Docente E. Os critérios de análise foram estabelecidos de acordo com os objetivos da pesquisa.
As análises obtidas por meio do questionário aplicado às docentes participantes da pesquisa foram discutidas e apresentadas, considerando as categorias estabelecidas nos tópicos abordados. Em seguida apresenta um olhar geral da sequência de análises realizadas com base no questionário. Foi construído um roteiro textual com alguns tópicos dos assuntos analisados sendo eles apontados como: Principais dificuldades da universidade para implantação e desenvolvimento de ensino remoto. Estratégias utilizadas com maior frequência pela instituição; Aprendizagens que o docente superou com a experiência do trabalho remoto emergencial; Opinião dos docentes do Centro de Educação/UFSM sobre o atendimento de alunos surdos no cenário do ensino remoto. Isto posto, passamos a apresentar os resultados da pesquisa empreendida por cada categoria selecionada nos assuntos em análise.
3.ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3.1 CONTEXTUALIZANDO O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL NO CENÁRIO DE PANDEMIA DE COVID-19: DESAFIOS E POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS
A partir do ano de 2020, a pandemia de Covid-19 trouxe um impacto global inesperado, causando mudanças nos hábitos para lidar com a crise. As rotinas foram transformadas, preocupações e incertezas em relação ao contágio, porém, essa situação também envolveu uma série de novas experiências que afetaram a vida da população de forma abrangente. Segundo Santos (2020)
A pandemia e a quarentena estão a revelar que são possíveis alternativas, que as sociedades se adaptam a novos modos de viver quando tal é necessário e sentido como correspondente ao bem comum. Esta situação torna-se propícia a que se pense em alternativas ao modo de viver, de produzir, de consumir e de conviver nestes primeiros anos do século XXI (p.29).
No cenário da pandemia mundial, o ensino remoto emergencial foi adotado por grande parte das instituições de ensino superior. Entre as principais medidas de segurança para se evitar a disseminação do vírus estão o distanciamento social e a quarentena, que impactaram diretamente na educação, causando o afastamento entre docentes e discentes. Mesmo com desafios, os docentes se sentiram mobilizados, não param e continuam em atividades online. Desse modo, Larrosa (2002) afirma sobre a experiência de vida de cada sujeito […] E por isso, porque sempre estamos querendo o que não é, porque estamos sempre em atividade, porque estamos sempre mobilizados, não podemos parar. E, por não podermos parar, nada nos acontece (p.24).
Neste sentido, a pandemia fez com que a população se afastasse, se isolasse em seus ambientes familiares, desenvolvendo adaptações para realizar suas atividades (de lazer, trabalho, educativas). Uma das formas de comunicação e informação com o mundo externo foi por meio do uso de tecnologias digitais e da conexão com a Internet, a qual recebeu investimento. Ainda que reconhecidamente insuficiente e incapaz de mitigar as desigualdades de acesso tecnológico e inclusão digital que se evidenciaram durante o contexto pandêmico.
Devido ao isolamento social, o Ministério da Educação (MEC) decretou ações de flexibilização no ensino a partir da portaria nº 343/2020, que orientou a substituição das aulas presenciais, por aulas remotas mediadas por tecnologias digitais (BRASIL, 2020a). Já a Medida Provisória n° 934 prevê, dentre outras questões, a flexibilização da obrigatoriedade de 200 dias letivos de trabalho no ambiente educacional (BRASIL, 2020b), desde que atendida a carga horária mínima anual.
A situação emergencial fez com que as instituições de ensino superior optassem por uma nova realidade de ensino, o remoto, em função da suspensão das atividades presenciais. A utilização do termo “ensino remoto” é relativamente recente, sendo mais amplamente utilizado no contexto da pandemia de Covid-19, segundo Appenzeller et al. (2020):
Ensino remoto emergencial é caracterizado pela mudança temporária do ensino presencial para o ensino remoto. O ensino passa, em um momento de crise, como no caso da pandemia da Sars-CoV-2, para totalmente remoto, e todas as orientações e todo o conteúdo educacional são ministrados em plataformas a distância (p. 4-5).
Cabe assim destacar que é preciso compreender que o ensino remoto emergencial se diferencia da modalidade de Educação a distância (EaD). O EaD é uma modalidade específica, que se caracteriza pela legislação, princípios e projetos pedagógicos distintos de vários cursos. Desde o início da pandemia global de Covid-19, as universidades adotaram o ensino remoto como modalidade de ensino para atividades assíncronas e síncronas, o qual se trata de uma adaptação excepcional de cursos presenciais. Quanto ao regime especial, as instituições de ensino superior estão em funcionamento com diferentes planos de ensino e metodologias adaptadas às particularidades locais e regionais de cada comunidade acadêmica.
Por isso, consideramos importante essa discussão no cenário contemporâneo em meio a pandemia, porém como afirmam Shimazaki et al. (2020, p. 02), “a educação de surdos e o ensino remoto apresentam-se como debates precisos e contínuos, principalmente quando ambos se entrecruzam”.
Vale ressaltar, ainda, que as docentes do Centro de Educação (UFSM) buscaram formas de se aperfeiçoar e capacitar para tentar compreender as transformações do mundo e produzir os saberes necessários para potencializar o processo de ensino e aprendizagem aos alunos nessa virtualidade contemporânea. Manara (2021) mostra reflexões acerca do processo de formação sobre o ensino remoto no contexto pandêmico atual, o qual “apontou um novo viés à educação, mostrando as possibilidades e soluções através de recursos digitais para dar continuidade à aprendizagem dos alunos” (p.4).
Dessa forma, a Coordenadoria de Tecnologia Educacional da UFSM oferece cursos de capacitação que visam garantir uma melhor segurança por parte do seu corpo docente e de TAEs, e com alguns materiais fornecidos por meio de tecnologia para atender melhor aos acadêmicos.
A seguir, os tópicos das discussões dos dados analisados foram organizados, levando em consideração os critérios de análise relacionados aos objetivos de pesquisa. Essa proposição permite avaliar os sujeitos de forma a contextualizar os impactos da pandemia no ensino remoto emergencial adotado pela universidade com o uso do REDE.
3.2 Principais dificuldades da universidade para implantação e desenvolvimento de ensino remoto.
A docente A aponta fatores que dificultam o andamento das aulas remotas. A tecnologia tornou-se uma aliada em meio a esse caos proporcionado pela pandemia, entretanto, a adaptação tem sido difícil. As dificuldades encontradas que os estudantes têm enfrentado na pandemia são os inúmeros casos de falta de conexão à Internet e a impossibilidade de acompanhar as aulas remotas, ambos são apenas a ponta do iceberg. A docente relata que enfrentou o problema dentro da plataforma Moodle que possui uma ferramenta BBB (BigBlueButton), cujo espaço não tinha suporte para turmas. Percebe-se um apontamento referente a um limite ou falha nas condições oferecidas pela instituição, no olhar da entrevistada, à luz da sua experiência no ambiente virtual.
Ambiente de trabalho favorável com internet de maior capacidade; equipamentos menos obsoletos para ministrar as aulas no campus; falta de acesso dos alunos a uma boa internet, o que prejudica a participação de muitos. Quanto ao uso do ambiente virtual de aprendizagem (Moodle) destaco a dificuldade do uso do recurso BBB para as aulas. Não teve suporte para as turmas, o que exigiu do professor a migração para outras salas virtuais, como o Meet (Docente A).
Com as atividades remotas, a docente que é surda conta suas experiências negativas sobre a falta de intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) para reuniões ou eventos virtuais, devido à demanda de Tradutor e intérprete de Libras (TILS) ter sido muito grande. No contexto pandêmico, a situação da UFSM impacta enormemente na vida de docentes e estudantes surdos.
Deste modo, temos que pensar em como enfrentar as barreiras que vêm ocorrendo com a suspensão das atividades presenciais, o que traz maior dificuldade ainda para aqueles que necessitam de um olhar no uso da Libras para sua comunicação social e contextual. Apontamos o tal questionamento no contexto atual: O que acontece com a falta de intérpretes de Libras no ensino remoto? Quem solicita o serviço de intérprete de Libras? A gestão dos departamentos e os espaços acadêmicos são responsáveis pela organização dos eventos e devem lembrar da acessibilidade dos discentes e docentes surdos, para que pudessem participar dos eventos e reuniões virtuais.
Neste sentido, o formulário de solicitação de intérpretes de Libras deve ser feito com antecedência de 72 horas úteis no site da instituição para atender pessoas surdas. Na UFSM, o olhar do trabalho de intérpretes nunca parou desde o início da pandemia, o fluxo de tarefas aumentou com grande número de lives e eventos virtuais, houve um crescimento da procura pelo serviço de acessibilidade, tanto dentro como fora da universidade. Quanto à questão da acessibilidade dentro da UFSM, pode-se dizer que tem intérpretes de Libras, os quais são profissionais de qualidade e as demandas são grandes para disponibilizar quaisquer eventos e atividades síncronas.
Como sou surda, muitas vezes eu não pude ter acesso às reuniões ou eventos virtuais por falta de intérpretes (Docente B).
3.3 Estratégias utilizadas com maior frequência pela instituição
A UFSM se destaca na oferta de cursos de capacitação na Regime de Exercícios Domiciliares Especiais (REDE), proporcionando atividades remotas para docentes e servidores Técnicos-Administrativos em Educação (TAEs). Essa iniciativa visa promover aprendizagens avançadas, permitindo que tanto a equipe do curso quanto os participantes expressem suas opiniões e dúvidas sobre as ferramentas tecnológicas utilizadas. A docente A, que possui fluência tecnológica, é capaz de avaliar, planejar e otimizar o uso das ferramentas digitais, considerando a flexibilidade e a colaboração na construção do conhecimento.
O curso de capacitação sobre preenchimento dos planos de ensino no REDE, organizado pela Coordenadoria de Tecnologia Educacional (CTE), teve um impacto significativo no aperfeiçoamento das atividades remotas. Contribuiu para adaptar estratégias metodológicas, melhorar as atividades administrativas e promover a integração de tecnologias digitais e educacionais no processo de ensino e aprendizagem. Devido à pandemia, as reuniões virtuais se tornaram essenciais para manter a interação entre docentes, equipe da Prograd e departamentos, garantindo a continuidade das atividades acadêmicas.
Saliento as reuniões nas unidades de ensino; reuniões junto a Prograd; algumas lives em que foi apresentado e discutido o andamento do ensino remoto. Também alguns cursos de formação oferecidos aos servidores para melhor entendimento da dinâmica do REDE, como, por exemplo, curso sobre preenchimento dos planos de ensino no REDE (Docente A).
A UFSM ofereceu alguns cursos de formações para o aperfeiçoamento do uso do ambiente virtual (Moodle). Reuniões pelo Meet e contatos por e-mail e WhatsApp (Docente B).
3.4 Aprendizagens que o docente construiu com a experiência do trabalho remoto emergencial
Durante a pandemia global, foram adotadas novas metodologias e estratégias nas aulas remotas, visando aumentar a interação e participação dos alunos em atividades síncronas e assíncronas. Essas experiências tiveram diversos efeitos na prática docente durante esse período, exigindo “mobilizar uma ampla variedade de saberes reutilizando-os no trabalho para adaptá-los e transformá-los pelo e para o trabalho” (TARDIF, 2002, p. 21). A adoção da tecnologia para o ensino remoto emergencial levou a uma reconfiguração pedagógica, com o surgimento de novos conhecimentos, significados e estratégias para motivar os estudantes. Nesse contexto, é observado que os docentes utilizam os processos de ensino e aprendizagem mediados por meios digitais de forma aprimorada, buscando despertar nos acadêmicos o interesse em construir seus próprios conhecimentos por meio do uso de metodologias adaptadas.
Principalmente, aprendizagens quanto a gravação e edição de vídeos e o uso de novas ferramentas no ambiente Moodle. Quanto a aprendizagem no que tange a aspectos mais subjetivos, destaco que superei formas tradicionais de avaliar o aluno, testando outras possibilidades, apostando que no ensino remoto também podemos fazer um processo de ensino e aprendizagem produtivo e mais humano também. Sobre conteúdos e sobre olhar as diferenças que habitam o REDE (Docente A).
Penso que o maior desafio seja da ordem da empatia, da compreensão do quão sensível a situação de grande parte dos alunos se tornou. Lidar com um contexto de tantas excepcionalidades não é fácil (Docente C).
Que é possível superar nosso trabalho com outras formas metodológicas novas em nosso cotidiano profissional (Docente E).
3.5 No Centro de Educação/UFSM o que o docente pensa sobre o atendimento de alunos surdos no cenário do ensino remoto.
Com a pandemia de covid-19, houve um aumento significativo na demanda por intérpretes de Libras devido à realização frequente de atividades remotas. Documentos legais relevantes, como a Lei 10.436/2002 e o decreto 5.626/2005, estão garantidos para a concretização da acessibilidade dos surdos nas universidades federais do país.
A Coordenadoria de Ações Educacionais (CAED) da UFSM, ligada à Pró-Reitoria de Graduação/UFSM, possui um quadro de Tradutores/Intérpretes de Libras no Núcleo de Acessibilidade para atender alunos e professores surdos. Porém, a pandemia ressaltou a necessidade de mais intérpretes, devido à alta demanda, a fim de garantir que a comunidade surda da universidade seja atendida adequadamente. É essencial implementar estratégias para assegurar a disponibilidade de intérpretes em horários e atividades que melhor atendam às necessidades dos surdos.No entanto, a acessibilidade não é apenas um direito, mas também um compromisso.
Posso dizer que, em primeiro lugar, o ensino remoto aumentou o trabalho dos intérpretes de Libras, e com isso a disponibilidade dos mesmos. Assim, para que o TILS possa fazer seu papel de maneira mais efetiva (o que já fazem), sem sobrecarga e dificuldade com horários, é preciso mais profissionais na UFSM. Outra questão diz respeito ao uso do REDE pelos alunos surdos e o uso efetivo da Libras. Com o ensino remoto, não há como negar que a experiência visual ficou de alguma forma prejudicada, pois não há uma relação presencial, um contato pessoal entre professor e aluno, entre o surdo e seus colegas, o que inviabiliza muitas relações com a língua e sua cultura. O aprender passa por tudo isso, e nestes moldes ele encontra barreiras (Docente A).
Muitos dos desafios que já eram conhecidos em relação aos estudantes surdos de cursos à distância, migraram para o Regime de Exercícios Domiciliares Especiais: dificuldades nas leituras e ensino autônomo, escassas ou ausentes oportunidades de participação em atividades “extra- classe” (tanto das disciplinas quanto fora delas). A demanda de TILS se multiplicou expressivamente na universidade, considerando a necessidade de produção de material digital acessível. Com isso me parece que a disponibilidade deste profissional também diminuiu (Docente C).
4.CONSIDERAÇÕES
Nossa conclusão se baseia nos aspectos relacionados aos desafios e adaptações tecnológicas enfrentados no ensino remoto, envolvendo aulas síncronas e assíncronas. Tanto educadores quanto alunos precisavam encontrar recursos necessários para lidar com o isolamento e as novas formas de interação virtual. A pesquisa examinou a produção de dados e os efeitos nas argumentações dos docentes sobre as adaptações nas estratégias e práticas utilizadas nas aulas de Língua Brasileira de Sinais. Foi observada a diversidade de abordagens pedagógicas e a necessidade de um ambiente visualmente adequado para o ensino desta língua mencionada.
Finalizando, estas problematizações produzidas apontam para as estratégias e desafios das práticas pedagógicas no ensino remoto, contribuindo para a compreensão das dificuldades enfrentadas pelos docentes durante a pandemia. Além disso, destacase a importância de considerar a realidade dos docentes, as experiências relacionadas à Educação de Surdos e as diferenças individuais no processo de ensino-aprendizagem. Assim, com as análises aqui construídas, é possível entender que esse trabalho nos provocou a refletir sobre a relevância de abordar e discutir os aspectos das práticas e estratégias pedagógicas, considerando a necessidade de constantes modificações e adaptações no contexto do ensino remoto para docentes e alunos.
5.REFERÊNCIAS
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