REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411262303
MONTEIRO, Maria Letícia de Almeida1
RODRIGUES, Rayane dos Santos2
Orientado por: FAGUNDES, Bruno3
RESUMO
O presente estudo explora como o envelhecimento materno influencia os processos reprodutivos e o desenvolvimento inicial do embrião. A idade avançada da mãe, especialmente a partir dos 35 anos, está associada a uma diminuição na qualidade dos óvulos, aumento das anomalias cromossômicas e maior risco de complicações durante a gravidez, como abortos espontâneos e malformações congênitas. O envelhecimento dos oócitos resulta em alterações celulares, incluindo a redução na função mitocondrial e maior incidência de erros durante a divisão celular, o que pode comprometer a viabilidade embrionária. Além disso, o ambiente uterino de mulheres mais velhas pode apresentar alterações que afetam a implantação do embrião e o desenvolvimento inicial, influenciado por mudanças hormonais e na receptividade endometrial. O objetivo deste estudo é analisar, com base em evidências científicas, o impacto da idade materna avançada na gestação e no parto.
Palavras-chave: Idade materna. Desenvolvimento embrionário. Biologia reprodutiva.
ABSTRACT
This study explores how maternal aging influences reproductive processes and the early development of the embryo. The advanced age of the mother, especially after 35 years of age, is associated with a decrease in egg quality, an increase in chromosomal abnormalities and a greater risk of complications during pregnancy, such as miscarriages and congenital malformations. The aging of oocytes results in cellular changes, including a reduction in mitochondrial function and a greater incidence of errors during cell division, which can compromise embryonic viability. Furthermore, the uterine environment of older women may present changes that affect embryo implantation and early development, influenced by hormonal changes and endometrial receptivity. The objective of this study is to analyze, based on scientific evidence, the impact of advanced maternal age on pregnancy and childbirth.
Keywords: Maternal age. Embryonic development. Reproductive biology.
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, ocorreram mudanças demográficas, sociais e culturais significativas e aceleradas, impactando a organização das estruturas familiares. Apesar de os casais com filhos ainda representarem a principal configuração dos lares portugueses, o fenômeno da escolha livre pela maternidade tem levado a um aumento no número de gestantes com mais de 35 anos em diversos países (OLIVEIRA, 2019).
A decisão de adiar a gravidez, característica dos tempos atuais, está relacionada ao desejo das mulheres de fortalecer suas relações em novas uniões conjugais, alcançar estabilidade financeira e atingir um nível maior de maturidade no relacionamento, além de priorizar a consolidação de suas carreiras profissionais antes de investir no projeto de vida familiar. Com o adiamento da maternidade em busca de segurança financeira, desenvolvimento de carreira e avanços nas técnicas de reprodução assistida, torna-se fundamental entender como o envelhecimento materno afeta a gravidez e o parto. (OLIVEIRA, 2019).
Com o aumento da idade materna, a qualidade dos óvulos tende a diminuir devido a um fenômeno conhecido como envelhecimento oocitário, esse processo leva a um aumento na ocorrência de anormalidades cromossômicas, como aneuploidias, que são alterações no número de cromossomos e podem resultar em condições como a síndrome de Down. Tais anomalias cromossômicas são mais prevalentes em mulheres com idade superior a 35 anos, sendo um fator de risco importante para abortos espontâneos e malformações congênitas (VEIGA, 2019).
Além disso, a idade avançada também está associada a alterações no ambiente uterino. Mudanças na vascularização e no endométrio podem comprometer a capacidade do embrião de se implantar adequadamente, diminuindo a taxa de sucesso de gestações. Outro aspecto relevante é o aumento do risco de complicações na gravidez, como hipertensão e diabetes gestacional, que são mais frequentes em mulheres mais velhas e podem afetar negativamente o desenvolvimento embrionário (VEIGA, 2019).
O objetivo principal deste estudo é analisar, com base em evidências científicas, o impacto da idade materna avançada na gestação e no parto. Como objetivos específicos, busca-se identificar as principais complicações gestacionais associadas à idade materna elevada, como hipertensão gestacional, diabetes mellitus gestacional e pré-eclâmpsia; além de examinar a relação entre a idade da mãe e a ocorrência de intercorrências durante a gravidez. Explorando como o envelhecimento materno influencia os processos reprodutivos e o desenvolvimento inicial do embrião.
A justificativa para este estudo se baseia no aumento do número de mulheres que optam por adiar a maternidade, assim como nos desafios específicos que elas enfrentam durante a gestação. Com o avanço da idade materna, há uma maior chance de complicações que podem afetar a saúde tanto da mãe quanto do bebê, levando a desfechos adversos que requerem cuidados especializados. Compreender esses riscos e identificar as melhores práticas para o manejo de gestações em mulheres mais velhas é essencial para garantir que essas gestações sejam tão seguras e bem-sucedidas quanto possível.
2. METODOLOGIA
Para a elaboração deste artigo de revisão, foi feito um estudo de caráter observacional e descritivo, com análise de dados obtidos por meio de revisão de literatura científica em bases acadêmicas, como PubMed, SCIELO e Google Scholar, e bases de dados de saúde, utilizando palavras-chave como: idade materna, desenvolvimento embrionário e biologia reprodutiva.
Para este estudo como critérios de inclusão, foram utilizados artigos que abordassem sobre os efeitos da idade materna no desenvolvimento embrionário, publicados nos últimos 10 anos para assegurar a relevância e atualidade das informações que foram publicados em português. E como critério de exclusão, descartamos aqueles artigos onde o tema abordado não estivesse de acordo com o tema proposto, que não abordassem especificamente sobre os efeitos da idade materna no desenvolvimento embrionário, publicações em idiomas não listado no critério de inclusão e com data de publicação superior a 10 anos, a menos que fossem revisões clássicas que ainda possuíam relevância.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A idade materna avançada, geralmente considerada a partir dos 35 anos, tem se tornado um fenômeno mais comum devido a fatores como a busca por estabilidade financeira, desenvolvimento de carreira e avanços nas tecnologias de reprodução assistida. Embora as mulheres estejam cada vez mais adiando a maternidade, essa decisão traz implicações significativas para a saúde materna e fetal. O impacto da idade materna avançada na gestação e no parto se manifesta em um aumento do risco de complicações gestacionais, que exigem atenção e cuidados especializados (SOUZA, 2024).
Entre as principais complicações associadas à idade materna avançada estão a hipertensão gestacional, o diabetes mellitus gestacional e a pré-eclâmpsia. A hipertensão gestacional, caracterizada por elevação da pressão arterial durante a gravidez, é mais comum em mulheres mais velhas devido a mudanças nos vasos sanguíneos que ocorrem com o envelhecimento. Esse quadro pode evoluir para a pré-eclâmpsia, uma condição grave que envolve hipertensão e presença de proteína na urina, podendo comprometer a saúde da mãe e do feto, além de aumentar o risco de parto prematuro e complicações neonatais (MENDES, 2017).
O diabetes mellitus gestacional também é mais frequente em gestantes de idade avançada. Essa condição ocorre quando o corpo não consegue regular adequadamente os níveis de glicose durante a gravidez, o que pode resultar em macrossomia fetal (bebês com peso elevado ao nascer), aumento da necessidade de cesariana e complicações no momento do parto. Os bebês de mães com diabetes gestacional apresentam também um risco maior de desenvolver problemas metabólicos e obesidade na infância (MENDES, 2017).
Além dessas condições, o aumento da idade materna está relacionado a uma maior probabilidade de anomalias cromossômicas, como a síndrome de Down, devido à maior incidência de erros durante a divisão celular dos óvulos. O envelhecimento dos oócitos também pode contribuir para dificuldades na implantação do embrião e aumento da taxa de abortos espontâneos (RODRIGUES, 2020).
Outro desafio associado à idade materna avançada é a maior taxa de partos por cesariana. As gestantes mais velhas têm maior probabilidade de precisar de intervenções cirúrgicas devido a complicações durante o trabalho de parto, como falha na progressão do parto e sofrimento fetal. Partos cesarianos aumentam os riscos de infecções, hemorragias e recuperação mais lenta, além de possíveis complicações em gestações futuras. (SOUZA, 2024).
Diante dessas complicações, é crucial que as gestantes com idade materna avançada recebam um acompanhamento pré-natal mais rigoroso, com avaliações frequentes para monitorar a pressão arterial, os níveis de glicose e o desenvolvimento fetal. Estratégias de prevenção e manejo adequado podem incluir mudanças no estilo de vida, como dieta equilibrada e atividade física moderada, além do uso de medicamentos específicos para controlar a hipertensão e o diabetes (SOUZA, 2024).
Estudos mostram que a idade materna avançada está associada a um aumento na incidência de fertilização in vitro e outras tecnologias de reprodução assistida. Embora essas técnicas possam aumentar as chances de gravidez, elas não eliminam os riscos associados ao envelhecimento dos óvulos e do ambiente uterino. Mesmo com a utilização de técnicas avançadas, como o diagnóstico genético pré-implantacional, para selecionar embriões sem anomalias cromossômicas, a idade avançada ainda representa um desafio significativo para o sucesso reprodutivo.
A redução na reserva ovariana com o avanço da idade é outro fator crítico. A quantidade e a qualidade dos óvulos disponíveis para a fertilização diminuem com o tempo, o que pode reduzir as chances de concepção natural. Essa redução na reserva ovariana é acompanhada de uma diminuição na produção de hormônios essenciais para o suporte do ciclo reprodutivo, como o estradiol e a progesterona, impactando o processo de ovulação e a receptividade do endométrio. A qualidade mitocondrial nos óvulos também é afetada pela idade. Mitocôndrias desempenham um papel crucial na produção de energia necessária para a divisão celular e desenvolvimento inicial do embrião. Com o envelhecimento, a função mitocondrial pode ser comprometida, o que afeta a capacidade de desenvolvimento do embrião. Esse fator pode contribuir para uma maior taxa de falhas na implantação e abortos espontâneos em mulheres mais velhas (SOARES, 2018).
Há evidências de que o envelhecimento materno pode influenciar a expressão genética do embrião. Alterações epigenéticas, que são modificações químicas no DNA que regulam a atividade gênica, podem ser mais comuns em embriões originados de óvulos de mulheres mais velhas. Essas modificações podem afetar o desenvolvimento embrionário e aumentar o risco de doenças na vida adulta do bebê. Em termos de intervenção, algumas estratégias visam mitigar os efeitos da idade materna avançada. Entre elas, o congelamento de óvulos em idade mais jovem é uma prática crescente, pois preserva a qualidade dos oócitos para uso futuro. Outra abordagem é o uso de óvulos doadores de mulheres mais jovens, que pode ser uma opção para casais que enfrentam dificuldades com óvulos de baixa qualidade devido à idade materna.
A idade materna é um fator determinante no desenvolvimento embrionário, com implicações significativas para a saúde reprodutiva e os desfechos gestacionais. As mudanças biológicas associadas ao envelhecimento afetam a qualidade dos óvulos, o ambiente uterino e os processos hormonais, resultando em desafios para a concepção e manutenção de uma gravidez saudável. Estratégias de intervenção, como a utilização de TRA e o congelamento de óvulos, são opções para casais que buscam aumentar suas chances de sucesso, embora as limitações biológicas não possam ser completamente superadas (WALL, 2021).
Portanto, é importante que as mulheres estejam cientes dos efeitos da idade materna sobre a fertilidade e o desenvolvimento embrionário, para que possam tomar decisões informadas sobre o momento da maternidade. A educação sobre os riscos e os avanços nas tecnologias de reprodução assistida pode ajudar a mitigar as preocupações associadas à idade avançada e oferecer suporte às mulheres que desejam conceber em uma fase mais tardia da vida
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender o impacto da idade materna avançada na gestação e no parto é essencial para melhorar o cuidado às gestantes e promover desfechos mais seguros. A adoção de práticas clínicas atualizadas e recomendações baseadas em evidências pode ajudar a minimizar os riscos e garantir que a gravidez e o parto sejam bem- sucedidos, mesmo em idades mais avançadas.
Os efeitos da idade materna avançada no desenvolvimento embrionário são complexos e abrangem diversos aspectos da saúde reprodutiva. À medida que a idade materna aumenta, ocorrem alterações biológicas que podem impactar negativamente a qualidade dos óvulos e o ambiente uterino, resultando em maiores taxas de anomalias cromossômicas, complicações gestacionais e desfechos adversos para a mãe e o bebê. Complicações como hipertensão gestacional, diabetes mellitus gestacional e risco aumentado de abortos espontâneos são mais comuns em gestações de mulheres com idade acima de 35 anos.
Além dos desafios biológicos, os avanços nas técnicas de reprodução assistida têm permitido que um número crescente de mulheres opte por ter filhos em idades mais avançadas. No entanto, é essencial que o acompanhamento pré-natal para essas gestantes seja mais rigoroso e especializado, com medidas de prevenção e estratégias de manejo adequadas para reduzir os riscos associados.
O estudo desses efeitos é crucial para que os profissionais de saúde possam adotar práticas baseadas em evidências, atualizando as recomendações clínicas para refletir as realidades atuais das gestações em idades avançadas. Diretrizes claras e políticas de saúde pública eficazes são fundamentais para melhorar os cuidados e garantir que as gestações sejam tão seguras e bem-sucedidas quanto possível, independentemente da idade materna. Por fim, compreender os riscos e as melhores práticas para o manejo das gestações em mulheres mais velhas é essencial para promover a saúde e o bem-estar das famílias.
REFERÊNCIAS
MENDES, Maria. Et, al. Complicações na gestação em mulheres com idade maior ou igual a 35 anos. Rev. Gaúcha Enferm. 38 (04), 2017.
OLIVEIRA, Sara. Et, al. Gravidez tardia no último filho e o seu impacto em trajetórias desenvolvimentais. Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 72 (2): 75- 87, 2019.
RODRIGUES, Cheyenne. Et, al. Anomalias cromossômicas associadas a abortos de repetição. UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC, 2020.
SOARES, Andressa. Et, al. Perfil De Mulheres Com Perda Gestacional. Rev Med Minas Gerais, 2018.
SOUZA, Naiara. Et,al. O Impacto da idade materna avançada na gravidez e no parto. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, vol 6, 2024.
VEIGA, Larissa. Et, al. Resultados perinatais adversos das gestações de adolescentes vs de mulheres em idade avançada na rede brasileira de saúde pública. Rev. Bras. Saude Mater. Infant. 19 (3) • Jul-Sep 2019.
WALL, Marilene. et al. OCORRÊNCIA DE COMPLICAÇÕES NO PERÍODO GESTACIONAL EM MULHERES COM IDADE MATERNA AVANÇADA. Revista Baiana de Enfermagem, v. 35, 2021.
1Acadêmica de Medicina do 1° período da Universidade Iguaçu – UNIG Campus V- Itaperuna/RJ. E-mail: mleticiamonteiro24@gmail.com.
2Acadêmica de Medicina do 1° período da Universidade Iguaçu – UNIG Campus V- Itaperuna/RJ. E-mail: Rayalicer22@gmail.com.
3Professor de Embriologia da Universidade Iguaçu – UNIG Campus V- Itaperuna/RJ. E-mail: 0509048@professor.unig.edu.br.