A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE CLÍNICA PARA A PREVENÇÃO DE INTERCORRÊNCIAS NO PROCEDIMENTO ESTÉTICO INJETÁVEL DE MICROVARIZES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411262224


Elenalda Feliciano da Silva1
Orientador: Prof. Me. Werick Mendes Amorim2


Resumo: 

O mercado de estética médica tem crescido significativamente, com foco em procedimentos  minimamente invasivos, como a cirurgia cosmética de injeção de microvarizes (PEIM). Este  método utiliza um agente esclerosante para tratar varizes, mas, como qualquer procedimento  estético, apresenta seus riscos. Este trabalho discute a importância da análise clínica  detalhada no PEIM, utilizando a história clínica como importante ferramenta na prevenção de  complicações, além da anamnese, principalmente em pacientes com condições como  diabetes. Com base na revisão da literatura e nos avanços na prática da PEIM, são  apresentadas as principais complicações que podem surgir, como trombose venosa profunda  e reações alérgicas, além de estratégias para minimizar essas complicações, incluindo a  utilização de exames clínicos e laboratoriais complementares. O objetivo é garantir a  segurança do paciente e do profissional e a eficácia dos resultados cosméticos. 

Palavras-chave: Procedimento Estético Injetável de Microvarizes (PEIM), Escleroterapia,  Intercorrências, Anamnese, Estética. 

Abstract: 

The medical aesthetics market has grown significantly, with a focus on minimally invasive  procedures, such as microvaricose vein injection cosmetic surgery (PEIM). This method uses  a sclerosing agent to treat varicose veins, but, like any aesthetic procedure, it has its risks.  This paper discusses the importance of detailed clinical analysis in PEIM, using the clinical  history as an important tool in the prevention of complications, in addition to the anamnesis,  especially in patients with conditions such as diabetes. Based on the literature review and  advances in the practice of PEIM, the main complications that may arise, such as deep vein  thrombosis and allergic reactions, are presented, in addition to strategies to minimize these  complications, including the use of complementary clinical and laboratory tests. The objective  is to ensure the safety of the patient and the professional and the effectiveness of the cosmetic  results. 

Keywords: Injectable Aesthetic Procedure for Microvaricose Veins, Sclerotherapy,  Complications, Anamnesis, Aesthetics.

Introdução 

O mercado global de estética está em plena expansão, com destaque para  tratamentos minimamente invasivos, como injeções de preenchimento e toxina  botulínica (JUNIOR et al., 2024). Entre os procedimentos mais populares nesse  segmento, destaca-se o Procedimento Estético Injetável em Microvasos (PEIM),  amplamente utilizado para eliminar veias varicosas por meio da injeção de agentes  esclerosantes (GOLDMAN, 2016). 

Apesar de sua eficácia comprovada e de ser considerado relativamente  seguro, o PEIM não está isento de riscos. O aumento da demanda por procedimentos  estéticos, impulsionado pela popularidade crescente desses tratamentos, eleva a  probabilidade de complicações clínicas, especialmente quando realizados por  profissionais com formação inadequada (BUCHELE & FRAPORTI, 2024). 

Embora a técnica seja relativamente simples na execução (BRANDÃO, 2018),  complicações como reações alérgicas podem surgir. Em situações extremas, essas  reações podem evoluir para quadros graves, como choque anafilático, demonstrando  a importância de um acompanhamento adequado e a necessidade de preparação  para lidar com tais eventos (REBELO & GREIN, 2022). 

O uso de glicose como agente esclerosante, em concentrações de 50% ou  75% (NECA et al., 2022), demanda uma análise clínica cuidadosa, especialmente em  pacientes com diabetes ou pré-diabetes. Dados recentes reforçam a relevância dessa  abordagem: no Brasil, cerca de 7,4% dos adultos convivem com diabetes, segundo o  Ministério da Saúde, enquanto a prevalência global estimada pela Organização  Mundial da Saúde (OMS) alcança 9%, com índices mais elevados em países em  desenvolvimento (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020; OMS, 2021). 

Além disso, a Sociedade Brasileira de Diabetes alerta que aproximadamente  25% da população adulta brasileira está em condição de pré-diabetes, o que  corresponde a cerca de 50 milhões de pessoas. Essa situação aumenta  significativamente o risco de complicações em procedimentos que utilizam glicose  como agente esclerosante, evidenciando a importância de estratégias clínicas  personalizadas (SBD, 2022). 

Complicações associadas ao PEIM incluem trombose venosa profunda,  necrose cutânea e reações alérgicas (BUCHELE & FRAPORTI, 2024; LIMA et al.,  2021). A realização do procedimento sem uma avaliação clínica adequada, incluindo histórico médico detalhado e anamnese criteriosa, pode levar a resultados  insatisfatórios e até a complicações graves. 

O histórico médico é, portanto, uma ferramenta essencial para prevenir riscos  e garantir a segurança do paciente. Ele permite identificar fatores que podem  contraindicar o procedimento ou exigir ajustes na abordagem, sendo considerado a  primeira linha de defesa na redução de complicações relacionadas ao PEIM  (BUCHELE & FRAPORTI, 2024). 

Este artigo tem como objetivo explorar a importância da análise clínica no  contexto do PEIM, abordando sua evolução histórica e destacando o papel do  histórico médico como um recurso indispensável para a segurança do paciente e a  prevenção de complicações. 

Metodologia 

A pesquisa adotou uma revisão bibliográfica sistemática para investigar o  Procedimento Estético Injetável de Microvarizes (PEIM), com foco nos riscos  associados ao procedimento e na importância da avaliação clínica prévia como  ferramenta de prevenção de complicações. Foram analisadas fontes acadêmicas  relevantes, fundamentadas em estudos científicos e publicações especializadas. 

A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, LILACS, Scientific  Electronic Library Online (SciELO) e Google Scholar, utilizando as palavras-chave  “escleroterapia”, “microvarizes”, “riscos”, “microvasos”, “intercorrências” “esclerosantes”, combinadas por meio dos operadores booleanos AND e OR para  maximizar a relevância dos resultados. Adicionalmente, foram incluídos livros  referenciados nos artigos analisados e relatórios institucionais que contribuíram para  uma abordagem abrangente do tema. 

Os critérios de inclusão abrangeram publicações disponíveis na íntegra em  língua portuguesa ou inglesa, publicadas nos últimos 10 anos, excetuando-se os  estudos relacionados à história do PEIM, uma vez que não apresentam evolução  científica recente. Apenas artigos alinhados aos objetivos da pesquisa foram  considerados. Foram excluídas publicações fora do período estipulado, que não  apresentassem congruência temática ou que não estivessem acessíveis na íntegra. 

A análise dos dados seguiu uma abordagem crítica e reflexiva, sintetizando  informações essenciais sobre os riscos do PEIM, medidas de prevenção e a importância da avaliação clínica. Essa metodologia assegurou o rigor necessário para  embasar as discussões e conclusões apresentadas. 

Desenvolvimento 

História do Procedimento Estético Injetável de Microvarizes (PEIM) Seguindo tais avanços, A escleroterapia, técnica para o tratamento de varizes, foi  descrita pela primeira vez em 1853 pelo cirurgião francês Charles Gabriel Pravaz, que injetou  uma solução esclerosante diretamente em veias varicosas. No entanto, as substâncias  utilizadas na época causaram complicações graves, como inflamações severas e gangrena,  devido à sua elevada toxicidade. No início do século XX, agentes menos agressivos, como o  perclorato de sódio, começaram a ser utilizados, tornando o procedimento mais seguro. A  introdução do tetradecil sulfato de sódio na década de 1940 foi um marco, consolidando a  escleroterapia como um método eficaz e com menor risco de complicações (PORTER &  MONETA, 1995). 

Atualmente, o agente esclerosante mais utilizado na escleroterapia química  convencional é a glicose hipertônica a 75%, devido à sua eficácia, boa tolerância e  baixo custo (NECA et al., 2022). Os avanços tecnológicos, como o uso do ultrassom  para guiar as injeções, também contribuíram para a popularização do procedimento,  que é amplamente empregado no tratamento de microvarizes em membros inferiores  e segue evoluindo com o desenvolvimento de novas técnicas e agentes esclerosantes  (GOLDMAN, 2016; FONSECA, 2021). 

A Importância da Anamnese na Prevenção de Complicações 

A anamnese é fundamental no processo de prevenção de complicações,  proporcionando ao profissional uma visão abrangente da saúde do paciente  (MODESKI et al., 2024; LIMA et al., 2021). Por meio de uma história clínica detalhada,  é possível identificar fatores de risco que podem contraindicar o PEIM, como doenças  vasculares, uso de anticoagulantes, distúrbios de coagulação e alergias a substâncias  químicas (ALMEIDA et al., 2022). Pacientes com histórico de trombose venosa  profunda (TVP) ou que utilizam anticoncepcionais hormonais apresentam maior risco  de complicações tromboembólicas (MAGALHÃES et al., 2022), e a anamnese permite  detectar esses fatores, orientando o profissional na solicitação de exames  complementares ou até na contraindicação do procedimento (LIMA et al., 2021).

Além disso, uma avaliação inicial de qualidade é crucial para a prevenção de  intercorrências em procedimentos estéticos. A anamnese detalhada também identifica  alergias a agentes esclerosantes, como polidocanol e glicerol, frequentemente usados  na escleroterapia. Pacientes com histórico de reações adversas devem ser  submetidos a testes de sensibilidade antes do procedimento (MODESKI et al., 2024). 

Avaliação Clínica Complementar 

A análise clínica para o PEIM vai além da anamnese, incluindo o exame físico  e, quando necessário, exames laboratoriais e de imagem, que complementam a  avaliação. O exame físico das áreas a serem tratadas é essencial para identificar  sinais de insuficiência venosa ou alterações cutâneas que possam contraindicar o  procedimento. A ultrassonografia Doppler, por sua vez, tornou-se uma ferramenta  indispensável para o mapeamento das veias e a identificação de varizes ocultas,  aumentando a precisão na escolha dos vasos a serem esclerosados e reduzindo o  risco de complicações graves, como trombose venosa, ao evitar a injeção em vasos  profundos (MODESKY et al., 2024). 

Exames laboratoriais, como hemograma completo, coagulograma e perfil  lipídico, são recomendados, especialmente para pacientes com histórico de doenças  crônicas ou fatores de risco para trombose. A realização desses exames é  fundamental para garantir que o paciente esteja em condições adequadas para o  procedimento, aumentando as chances de sucesso e minimizando complicações  (MORAES, 2022). 

Principais Intercorrências e Estratégias de Prevenção 

A escleroterapia química convencional, realizada com solução de glicose  hipertônica a 75% (NECA et al., 2022), tem demonstrado uma elevação significativa  nos níveis de glicemia. Considerando que a aplicação média dessa solução é de  aproximadamente 10 ml por sessão (NECA et al., 2022; TREVISAN; BRANDÃO &  NOGAROLLI, 2022), o procedimento pode representar um risco substancial para  pacientes diabéticos ou pré-diabéticos, impactando de forma significativa o controle  glicêmico. 

Além disso, diversas intercorrências são comumente associadas ao PEIM,  incluindo trombose venosa profunda (TVP), necrose cutânea, hiperpigmentação e  reações alérgicas, as quais são detalhadas a seguir.

Trombose Venosa Profunda (TVP) 

A TVP é uma das complicações mais temidas durante a realização do PEIM  (BUCHELE & FRAPORTI, 2024). Pacientes com histórico de trombose ou  predisposição a distúrbios de coagulação devem ser avaliados com rigor antes do  procedimento, e ajustes na dosagem do esclerosante ou a escolha de métodos  alternativos podem ser necessários para minimizar riscos. 

Necrose Cutânea 

A necrose cutânea ocorre quando o agente esclerosante é acidentalmente injetado  em tecidos adjacentes ou em artérias (GOLDMAN, 2016) ou devido à aplicação  inadequada, como a compressão externa excessiva (REBELO & GREIN, 2022). A  utilização de agentes esclerosantes em concentrações adequadas e a aplicação  precisa, com o auxílio de ultrassom, são estratégias essenciais para prevenir essa  complicação. Um estudo de caso relata uma paciente de 49 anos, assintomática,  com queixa de varizes nos membros inferiores, que após a aplicação de glicose 75%,  apresentou necrose cutânea, necessitando de curativos diários com ácidos graxos,  seguidos de uma formulação tópica de glicose a 60% e vaselina a 40% (BRANDÃO &  MUSTAFÁ & COSTA, 2018). 

Hiperpigmentação 

A hiperpigmentação pós-inflamatória é uma complicação relativamente comum e,  embora geralmente temporária, pode ser minimizada pela escolha adequada da  concentração do esclerosante e pela recomendação de cuidados pós-procedimento,  como o uso de filtros solares e a evitação da exposição solar (BUCHELE &  FRAPORTI, 2024). No caso clínico citado, após a segunda aplicação de glicose a  75%, 49 dias depois, a paciente ainda apresentava úlceras, e foi evitada a aplicação  na região necrosada. Após 88 dias, restou hiperpigmentação, tratada com  hidroquinona, ácido retinóico e hidrocortisona (BRANDÃO & MUSTAFÁ & COSTA,  2018). 

Reações Alérgicas 

Embora raras, reações alérgicas graves, incluindo o risco de choque anafilático,  podem ocorrer durante o procedimento (BUCHELE & FRAPORTI, 2024). A anamnese  detalhada é essencial para identificar pacientes com histórico de alergias, e a realização de testes alérgicos pré-procedimento pode ser uma medida preventiva  eficaz para minimizar o risco de reações adversas. 

Considerações Finais 

Com base em uma avaliação clínica abrangente, o Procedimento Estético  Injetável de Microvarizes (PEIM) pode ser realizado de forma segura e eficaz,  garantindo resultados estéticos satisfatórios e minimizando o risco de complicações  graves. A análise clínica detalhada é crucial para a prevenção de intercorrências,  sendo imprescindível a realização de exames laboratoriais, como o perfil lipídico,  glicemia de jejum, hemograma e coagulograma. Esses exames são fundamentais  para avaliar a saúde vascular (colesterol e triglicerídeos), o controle glicêmico  (glicemia de jejum), possíveis alterações na coagulação (hemograma e  coagulograma), e o risco de sangramentos durante e após o procedimento. 

A anamnese, como etapa inicial do processo, desempenha papel essencial na  identificação de fatores de risco que possam contraindicar o procedimento ou exigir  ajustes no tratamento. É crucial que a anamnese seja conduzida pelo profissional  responsável pela realização do procedimento, visto que ele será legalmente  responsável por eventuais intercorrências. 

Qualquer prática que contribua para a segurança dos procedimentos estéticos  deve ser considerada válida e necessária. Mesmo um exame simples, como a  medição de glicemia com glicosímetro, pode garantir a segurança tanto do paciente  quanto do profissional biomédico, reforçando a importância de uma avaliação rigorosa  e cuidadosa em todas as etapas do processo.

Referências 

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1Centro Universitário Uniprojeção Departamento de Saúde. elen.consultoradf@gmail.com
2Centro Universitário Uniprojeção Departamento de Saúde. werick.amorim@projecao.br