TUMOR ESTROMAL GASTROINTESTINAL (MÚLTIPLO) – GIST CAUSANDO ABDOME AGUDO OBSTRUTIVO POR INTUSSUSCEPÇÃO DE JEJUNO: RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411260858


Renan Matheus Schapuis Thomaz1
Lucas Ferri Baltazar2
Marcelo Albuquerque de Santi Silva3
Thiago Pivatto da Fonseca4
Matheus Pires Pinto5
Kelvin Mendes Carvalho6
Raul Garre Climent Rocha7


INTRODUÇÃO

O Tumor Estromal Gastrointestinal (GIST) é um dos sarcomas de partes moles e tem origem nas células de Cajal, presentes na parede dos órgãos do trato gastrointestinal. Essas células fazem parte do sistema nervoso autônomo e são responsáveis pela motilidade intestinal, sendo consideradas o marca-passo do sistema. Os GISTs são mais comuns em pessoas entre 50 e 60 anos de idade, sendo raros em pacientes com menos de 20 anos. Podem surgir em qualquer local do trato gastrointestinal, do esôfago ao ânus, com a seguinte distribuição: 50-60% no estômago, 20-30% no intestino delgado, 10% no intestino grosso, 5% no esôfago e 5% em outros locais da cavidade abdominal.

RELATO DE CASO

R.L.S, mulher de 57 anos, apresentou queixas de dor abdominal, distensão abdominal, náuseas, vômitos e ausência de eliminação de fezes e flatos por três dias. Relatava perda ponderal nos últimos meses, mas negava comorbidades.

A investigação diagnóstica revelou, por tomografia computadorizada (TC) de abdome e pelve, espessamento parietal irregular na segunda porção do duodeno (4,5 cm), intussuscepção jejunal no flanco esquerdo (10 cm) e imagem nodular de 2,8 cm. Indicou-se laparotomia exploradora de urgência.

No inventário de cavidade, observou-se espessamento de paredes do antro gástrico, piloro e duodeno, além de subestenose pilórica. Foram identificadas três lesões polipoides jejunais:

Lesão intraluminal de 1 cm a 10 cm do ângulo de Treitz;

Lesão pediculada promovendo obstrução total e intussuscepção a 20 cm do ângulo de Treitz;

Lesão de 1,5 cm a 50 cm do ângulo de Treitz promovendo suboclusão intestinal.

A cirurgia incluiu gastrectomia parcial com reconstrução em Y de Roux, enterectomia segmentar, ressecção em cunha das lesões polipoides e colecistectomia.

A análise patológica confirmou:

Lesão polipoide jejunal (10 cm do ângulo de Treitz): GIST – DOG1 positivo, Ki-67 positivo em 2% das células neoplásicas.

Lesão polipoide jejunal (50 cm do ângulo de Treitz): GIST – CD117 e CD34 positivos, Ki-67 positivo em 3% das células neoplásicas.

Estômago: gastroduodenite crônica.

A paciente evoluiu bem no pós-operatório e foi encaminhada ao serviço de oncologia para seguimento. No retorno, recebeu alta da oncologia clínica sem necessidade de terapia adjuvante.

DISCUSSÃO

Os GISTs, embora raros, são os sarcomas mais comuns do trato gastrointestinal, representando 0,1-3% dos tumores gastrointestinais. Sua origem nas células intersticiais de Cajal explica a localização no trato digestivo e sua associação com a motilidade intestinal.

O comportamento clínico dos GISTs varia de lesões assintomáticas a tumores agressivos. Fatores como tamanho tumoral, índice mitótico e localização determinam o risco de malignidade. Tumores pequenos (<2 cm) e de baixo índice mitótico têm bom prognóstico, enquanto tumores maiores ou de alto índice proliferativo necessitam de cirurgia e, frequentemente, terapia adjuvante.

A terapia-alvo, com inibidores de tirosina-quinase como imatinibe, transformou o manejo dos GISTs. Este tratamento reduz a sinalização do receptor c-KIT ou PDGFRA, controlando a proliferação tumoral. O uso neoadjuvante facilita ressecções cirúrgicas ao diminuir o tamanho do tumor, enquanto o tratamento adjuvante prolonga a sobrevida livre de doença em casos de alto risco【1】【2】.

No caso relatado, o manejo inicial foi cirúrgico devido ao quadro obstrutivo, com ressecção das lesões polipoides jejunais. A baixa proliferação celular (Ki-67 de 2-3%) justificou a decisão de não realizar terapia adjuvante, conforme diretrizes【3】. Apesar disso, o seguimento contínuo é fundamental, dado o risco de recorrência ou metástase, especialmente no fígado e no peritônio.

CONCLUSÃO

O manejo dos GISTs ilustra os avanços no tratamento oncológico, combinando abordagem cirúrgica e terapias-alvo. O caso destaca a importância de intervenções individualizadas baseadas no comportamento biológico do tumor e no quadro clínico. A integração de técnicas diagnósticas modernas e de terapias moleculares específicas continua a melhorar o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes com essa neoplasia.

REFERÊNCIAS

Casali, P. G., & Blay, J. Y. (2022). Gastrointestinal stromal tumors: ESMO clinical practice guidelines. Annals of Oncology, 33(1), 20-25.

Joensuu, H. (2020). Risk stratification of patients diagnosed with gastrointestinal stromal tumor. Human Pathology, 96, 2-10.

NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology (NCCN Guidelines®). Soft Tissue Sarcoma. Version 1.2024.


1Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: dr.renanthomaz@gmail.com
2Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: lferribaltazar@gmail.com
3Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: marceloasanti@gmail.com
4Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: thiago.pivatto@ol.com.br
5Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: matheuspinto96@hotmail.com
6Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: kcarvalhomed@gnail.com
7Residente em Cirurgia Geral Instituição: Hospital Dr. Cármino Caricchio Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil E-mail: garrerau198@gmail.com