REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411251419
Aline Costa Pantoja1
Marília Melo Fonseca1
coorientadora: Maria Eduarda Pacheco Sobral2
Orientador (a): Dra. Thaiana Bezerra Duarte3
Resumo
Introdução: A diástase dos músculos retos abdominais (DMRA) é uma condição comum e estigmatizada, com maior prevalência no sexo feminino devido às mudanças fisiológicas decorrentes da gravidez. Ela é ocasionada pelo alargamento excessivo dos músculos retos abdominais e pode ocorrer no puerpério imediato, tardio e remoto, sendo considerado diástase o afastamento maior que 3 cm. A Fisioterapia é importante no tratamento de pacientes que possuem essa condição para fortalecer os músculos abdominais, restabelecer a função e diminuir os sintomas associados. Objetivo: Realizar uma revisão de literatura para avaliar o impacto dos exercícios de fortalecimento do core em pacientes com DMRA no puerpério. Materiais e método: Foi realizada uma revisão de literatura para observar, extrair e analisar os impactos do tratamento fisioterapêutico na DMRA no puerpério. Os artigos foram pesquisados em bases de dados como PEDro e LILACS, sendo considerados artigos publicados nos últimos 12 anos em inglês e português. Resultados: Foram incluídos 6 estudos que demonstraram os benefícios de programas de exercícios de fortalecimento do core, isolados ou associados a outras intervenções, como kinesiotaping, exercícios respiratórios e treinamento do assoalho pélvico. Esses programas apresentam resultados promissores na redução da DMRA, melhoria na qualidade de vida e redução da dor associada em mulheres no puerpério. Conclusão: Os exercícios de fortalecimento do core são eficazes no tratamento da DMRA leve e moderada. No entanto, há uma escassez de ensaios clínicos sobre protocolos fisioterapêuticos para o tratamento de casos graves. Estudos futuros podem incluir amostras mais variadas, com mulheres que apresentam graus diferentes de diástase, inclusive casos graves, para consolidar esses achados e expandir as aplicações terapêuticas.
PALAVRAS–CHAVE: Fisioterapia. Diástase. Puerpério. Exercícios. Core
Abstract
Background: The diastasis of the rectus abdominis muscles (DRAM) is a common and stigmatized condition, with higher prevalence among women due to physiological changes during pregnancy. It is caused by the excessive widening of the rectus abdominis muscles, occurring in immediate, late, and remote postpartum, and is defined by a separation greater than 3 cm. Physical therapy plays a crucial role in treating patients with DRAM by strengthening the abdominal muscles, restoring function, and alleviating associated symptoms. Pourpose: To conduct a literature review assessing the impact of core strengthening exercises on postpartum DMRA patients. Methods: A literature review was conducted to observe, extract, and analyze the impacts of physical therapy treatment on DRAM in postpartum. Articles were sourced from databases such as PEDro and LILACS, considering publications from the last 12 years in English and Portuguese. Results: Six studies were included, demonstrating the benefits of core strengthening exercise programs, both isolated and in combination with other interventions like kinesiotaping, breathing exercises, and pelvic floor training. These programs show promising results in reducing DRAM, improving quality of life, and alleviating associated pain in postpartum women. Conclusion: Core strengthening exercises are effective in treating mild and moderate DRAM. However, there is a shortage of clinical trials addressing physical therapy protocols for severe cases. Future studies should include more diverse samples, encompassing women with varying degrees of diastasis, including severe cases, to consolidate these findings and expand therapeutic applications.
Keywords: Physical Therapy. Diastasis. Postpartum. Exercises. Core
1 INTRODUÇÃO
A diástase dos músculos reto abdominais (DMRA) ocorre quando há um alargamento excessivo da linha média dos músculos do abdômen, superior a 3 cm. Essa condição pode ocorrer em três fases: no puerpério imediato, que vai do parto até o 10º dia pós-parto, no puerpério tardio, que abrange o período do 11º ao 45º dia após o parto, e no puerpério remoto começa a partir do 45º e tem duração incerta. A gravidade da diástase pode variar, desde uma condição leve e assintomática até uma separação mais pronunciada (Demartini et al., 2016).
No decorrer da gestação o corpo da mulher passa por significativas modificações hormonais e fisiológicas em resposta à gravidez, o que pode afetar a gravidade da diástase. Além disso a DMRA causa um impacto negativo na saúde da mulher durante a gravidez e no puerpério. As paredes abdominais formam uma parte essencial da cavidade abdominal, desempenhando um papel crucial na estabilidade e postura do corpo e da pelve. O enfraquecimento dessa musculatura compromete a eficiência da parede abdominal, resultando em alterações na força muscular e na resistência do tronco. Por isso, o exercício abdominal é frequentemente recomendado como uma intervenção fisioterapêutica importante para mulheres que sofrem com a DMRA (Gluppe et al., 2023).
Os exercícios de fortalecimento do core são amplamente recomendados como uma estratégia de reabilitação fisioterapêutica para mulheres com a DMRA. A incorporação dessa técnica, após o parto, tem mostrado benefícios significativos, com uma melhora média de aproximadamente 35% na condição da DMRA. Esses exercícios ajudam a fortalecer os músculos abdominais e a restaurar a integridade da parede abdominal, promovendo uma maior estabilidade e suporte para o tronco. Além disso, a prática regular de exercícios de fortalecimento pode contribuir para a correção da postura, redução da dor lombar e a melhoria geral da funcionalidade do core, o que é fundamental para a recuperação no puerpério e a prevenção e problemas futuros (Kim; Yi, 2022).
A DRMA é uma condição comum entre mulheres, particularmente no terceiro trimestre da gestação, e se estende ao puerpério. Embora frequentemente haja regressão espontânea em até oito semanas após o parto, a condição pode persistir por um período mais prolongado em alguns casos. Podendo provocar desconfortos como flacidez abdominal, dor nas costas, alterações posturais e problemas no assoalho pélvico. Por isso, é crucial investigar e entender a efetividade da fisioterapia no tratamento dessa patologia e dessa forma espera-se oferecer informações importantes para aprimorar as práticas clínicas, e preventivas direcionadas a essa população específica (Mota et al. 2015).
Dessa forma, através de uma revisão de literatura, com base em evidências científicas, o objetivo deste estudo foi verificar a eficácia dos exercícios de fortalecimento do core no tratamento da diástase do reto abdominal no puerpério, bem como o período de resposta ao tratamento.
2 MATERIAIS E MÉTODO
Este estudo consiste em uma revisão de literatura, cuja função foi observar, extrair e analisar dados. Quanto aos meios, foram realizados através de referências bibliográficas, publicados nos idiomas inglês e português que foram consultados por meio das bases de dados, PEDro e LILACS, que buscou temas relacionados a eficácia dos exercícios de fortalecimento do core no tratamento da diástase abdominal no puerpério. Os descritores utilizados foram os seguintes: fisioterapia, diástase, puerpério, exercícios, core, foram pesquisadas nos idiomas inglês e português. O período de pesquisa nas bases de dados foi julho de 2024.
Tiveram como critério de inclusão artigos publicados nos últimos 12 anos, do tipo ensaio clínico randomizado, estudo de caso, estudos transversais, nos idiomas inglês e português, que incluíram mulheres com diástase abdominal no puerpério e que incluíram intervenções fisioterapêuticas como exercícios de fortalecimento do core.
Os critérios de exclusão foram artigos que não estavam disponíveis na integra, e estudos duplicados.
Os resultados dessa revisão foram expressos por meio de texto e fluxograma.
3 RESULTADOS
Foram encontrados no total 31 artigos nas bases de dados, dos quais 5 foram excluídos por estarem duplicados. Leu-se 26 resumos, e desses foram excluídos 3 artigos por não estarem inclusos nos últimos 12 anos, onde mais 3 foram excluídos por se tratar de revisão e mais 14 por não abordarem o tema. Foram feitas a leitura de 6 artigos na integra. Foram incluídos na revisão 6 artigos.
Figura 1. Fluxograma da pesquisa
Fonte: elaborado pelas autoras
Os resumos dos artigos selecionados para revisão encontram-se no quadro 1.
Quadro 1. Síntese dos estudos incluídos nessa revisão.
AUTOR/ANO | TIPO DE ESTUDO | OBJETIVO | METODOLOGIA | RESULTADOS |
Gluppe et al. (2023) | Ensaio Clínico Randomizado | Investigar se exercícios de flexão abdominal poderiam melhorar a força dos músculos abdominais em mulheres que tiveram diástase dos músculos retos abdominais (DMRA) após o parto, sem piorar a separação dos músculos retos abdominais. | O grupo experimental foi submetido a um programa de exercícios padronizado de 12 semanas, incluindo levantamentos de cabeça, flexões abdominais e flexões abdominais torcidas, 5 dias por semana. O grupo controle não recebeu nenhuma intervenção. | O programa de exercícios fisioterapêuticos foi eficaz para aumentar a força muscular abdominal e a espessura do reto abdominal em mulheres com diástase dos músculos retos abdominais (DMRA) leve a moderada no puerpério. Esses exercícios não pioraram a diástase. No entanto, o estudo destaca a necessidade de mais ensaios randomizados de alta qualidade que incluam mulheres com DMRA grave para confirmar esses achados. |
Kim; Yi. (2022) | Ensaio Clínico | Comparar os efeitos de exercícios de fortalecimento do core conduzidos por métodos presenciais, bem como exercícios de fortalecimento do core conduzidos usando programas de videoconferência em tempo real (por exemplo, ZOOM) em mulheres entre seis meses e um ano pós-parto. | O programa de fortalecimento do core, baseado em estudos anteriores e diretrizes do ACOG. As sessões incluíram postura do “gato-camelo” e a técnica de hollowing para garantir contrações corretas dos músculos do core. Durante seis semanas, ambos os grupos participaram de sessões de 40 minutos, duas vezes por semana: o grupo offline (presencial) e o experimental via ZOOM. O foco foi ajustar a intensidade conforme a capacidade individual e promover a execução frequente dos exercícios. | Melhorias significativas foram observadas na distância inter-retal, espessura do músculo abdominal, resistência estática do tronco e qualidade de vida materna em ambos os grupos, com resultados mais expressivos no grupo offline. Não houve diferenças significativas entre os grupos, exceto na espessura do reto abdominal esquerdo e nas subescalas Psicológico/Bebê e Relacional/Cônjuge-Parceiro do índice de qualidade de vida materna. |
Safaee et al. (2022) | Ensaio Clínico | Comparar o efeito de oito semanas de treinamento de estabilidade do Core e treinamento do assoalho pélvico na diástase do reto abdominal em mulheres multíparas. | O estudo semi-experimental que foi conduzido em 45 mulheres que deram à luz há seis semanas, histórico de duas cesáreas, e distância de 3-5 cm entre a parte interna do reto abdominal. Os indivíduos foram divididos em três grupos de treinamento selecionados, estabilidade do core, treinamento do assoalho pélvico e grupo controle que não recebeu intervenção fisioterapêutica. Os grupos de intervenção (exercícios de estabilidade do core e exercícios de treinamento do assoalho pélvico) realizaram exercícios por oito semanas, três vezes por semana e a duração de cada sessão de treinamento foi de 40 a 60 minutos. | Os resultados deste estudo mostraram o efeito de ambos os programas de treinamento na redução da distância entre os músculos reto abdominais. Nenhuma diferença significativa foi relatada entre os dois grupos de treinamento a esse respeito. Além disso, houve uma diferença significativa em termos de dor entre os dois grupos de treinamento e o grupo controle. |
Pampolim et al. (2021) | Ensaio Clínico | Verificar se uma intervenção fisioterapêutica no puerpério imediato contribui para a redução da diástase. | A amostra foi dividida aleatoriamente em dois grupos de 25 puérperas cada, de acordo com a ordem de chegada no ambulatório de obstetrícia: grupo controle e grupo de tratamento. No grupo de controle, foram realizadas duas avaliações: seis horas e outra dezoito horas após o parto. O grupo de tratamento recebeu sessões fisioterapêuticas também nas seis e dezoito horas após o parto. No protocolo de tratamento, no primeiro atendimento a puérpera fez 10 repetições de cada exercício, e no segundo, 20 repetições. Os exercícios incluíram: adução de quadril com contração isométrica do piso pélvico em decúbito dorsal; contração isométrica do transverso abdominal com feedback manual; e contração isotônica dos músculos oblíquos abdominais com flexão anterior e rotação do tronco, apoiando as mãos na região occipital. | Os resultados deste estudo mostram que o atendimento fisioterápico no puerpério imediato é capaz de influenciar positivamente na redução da diástase abdominal, proporcionando às puérperas uma recuperação mais rápida. |
Thabet; Alsheh. (2019) | Ensaio Clínico | Descobrir a eficácia do programa de exercícios de estabilidade do core profundo no fechamento da diástase dos retos abdominais e na melhoria geral da qualidade de vida de mulheres no puerpério. | O grupo de estudo consistiu em quarenta mulheres com DMRA, com idades entre 23 e 33 anos, que foram divididas aleatoriamente em dois grupos. As 20 mulheres do primeiro grupo foram submetidas a um programa de exercícios de estabilidade do core profundo, 3 vezes por semana, por uma duração total de 8 semanas. As outras 20 mulheres, formando o segundo grupo, foram submetidas apenas ao programa de exercícios abdominais tradicionais, 3 vezes por semana, por 8 semanas. | Como resultado do uso do programa de exercícios de estabilidade do core profundo, a separação inter-retos teve uma alta diminuição estatisticamente relevante, mostrando uma melhora relevante no que diz respeito à qualidade de vida. |
Bobowik et al. (2018) | Ensaio Clínico | Determinar a eficácia de um novo programa fisioterapêutico em um grupo de mulheres com DMRA. | O grupo de estudo consistiu em quarenta mulheres com diástase dos retos, com idades entre 20 e 45 anos, que foram divididas aleatoriamente em dois grupos. Grupo de pesquisa e grupo de controle. Os participantes do grupo de pesquisa seguiram um programa fisioterapêutico de 6 semanas para tratar DMRA, dividido em três partes: posição postural, exercícios de fortalecimento do core associado com exercícios respiratórios, e aplicação semanal de kinesiotaping. O grupo controle não fez exercícios nem recebeu kinesiotaping, apenas observações acerca da redução espontânea da diástase. | Após 6 semanas de uso de um novo programa fisioterapêutico, a DMRA foi reduzida em 95% das mulheres do grupo de pesquisa enquanto no grupo controle reduzida espontaneamente em 15%. Os resultados desse estudo demonstram que os exercícios são eficazes na redução da DMRA no período puerpério imediato. Ao mesmo tempo, isso leva à conclusão de que o DMRA pode ser tratado com sucesso de forma não cirúrgica. |
A descrição dos estudos da revisão que incluiu 257 mulheres, com média de idade de 29,77 anos e suas intervenções fisioterapêuticas no tratamento da diástase abdominal em mulheres no puerpério
Quadro 2. Descrição do número de mulheres incluídas no estudo, média de idade e intervenção fisioterapêutica.
Número total de mulheres | Média de idade | Intervenção fisioterapêutica |
257 Mulheres: Foram inclusas nessa revisão. | A média de idade de mulheres incluídas nessa revisão de 29,77 anos. | Dos seis estudos inclusos, dois (Gluppe et al. 2023; Pampolim et al. 2021) utilizaram apenas os exercícios de fortalecimento do core como intervenção e quatro (Kim; Yi, 2022; Safaee et al. 2022; Thabet; Alshehri. 2019; Bobowik et al. 2018) utilizaram os exercícios de fortalecimento do core associados a outras técnicas sendo elas: exercícios respiratórios, exercícios de abdominais tradicionais, kinesiotaping e treinamento do assoalho pélvico. Dos dois (Gluppe et al. 2023; Pampolim et al. 2021) estudos que utilizaram apenas o programa de exercícios de fortalecimento do core mostraram-se eficazes na melhora da força muscular abdominal e na redução da espessura da diástase dos músculos retos abdominais leve a moderado em mulheres no puerpério, sem piorar a condição. Nos quatro estudos (Kim; Yi, 2022; Safaee et al. 2022; Thabet; Alshehri. 2019; Bobowik et al. 2018) que associaram outras técnicas mostraram-se se eficazes na redução da espessura dos músculos retos abdominais e houve uma diferença significativa na dor. |
4 DISCUSSÃO
Observou-se que o protocolo fisioterapêutico proposto sugere que os programas de exercícios para o fortalecimento do core têm um impacto positivo na redução da diástase dos músculos retos abdominais (DMRA) e na recuperação funcional das mulheres no puerpério.
O estudo de Gluppe et al. (2023) utilizou o programa de exercícios fisioterapêuticos do core e foi observado que houve efeito na melhoria da força abdominal e espessamento do reto abdominal em casos leves e moderados da DMRA, mas reconhece a necessidade de mais ensaios clínicos randomizados com mulheres que apresentam DMRA grave. Já o estudo de Kim et al. (2022) utilizou também o programa de exercícios de fortalecimento do core e observou a diminuição da distância inter-retal, espessura do músculo abdominal, resistência estática do tronco e qualidade de vida. No entanto o estudo de Kim et al. (2022) associou a utilização de exercícios respiratórios e exercícios para mobilidade, da mesma forma o estudo de Bobowik et al. (2018) acrescentou a esses três recursos fisioterapêuticos a aplicação de kinesiotaping demonstram uma redução ainda maior da DMRA no período do puerpério.
Um estudo retrospectivo, descritivo e analítico de Ujala et al. (2024), realizado no período de 2024 em Fauji Foundation Hospital e Foundation University, Islamabad no Paquistão, teve como as intervenções exercícios de fortalecimento do core + kinesiotaping, exercícios de fortalecimento do core assistidos por biofeedback SEMG + kinesiotaping, apenas exercícios de fortalecimento do core. O estudo revelou que todos os grupos apresentaram melhorias em termos de dor corporal, saúde geral e funcionamento físico. No entanto, os grupos que utilizaram biofeedback SEMG e kinesiotaping tiveram resultados superiores em comparação ao grupo que fez apenas exercícios de fortalecimento do core. O grupo que utilizou biofeedback SEMG com kinesiotaping apresentou uma redução maior na diástase abdominal do que os outros grupos. O que implica que o fortalecimento do core assistido por SEMG com kinesiotaping pode ser uma melhor escolha de tratamento em pacientes que apresentam DMRA acima e no nível umbilical, enquanto os pacientes que apresentam DMRA abaixo do nível umbilical, o protocolo de fortalecimento do core sozinho seria suficiente para obter resultados semelhantes. O resultado se assemelha ao estudo de Gluppe et al. (2023), que observou benefícios em força e espessamento abdominal apenas com exercícios de core em casos leves e moderados. De forma semelhante, Kim et al. (2022) e Bobowik et al. (2018) integraram exercícios respiratórios, de mobilidade e kinesiotaping, alcançando resultados mais significativos na redução da DMRA. Esses achados reforçam que a combinação de técnicas potência os efeitos do tratamento.
Esse estudo demonstra que a combinação dessas técnicas aponta mais eficácia pois cada abordagem contribui de forma específica para a recuperação do DMRA, potencializando os resultados. O fortalecimento do core aumenta a força e o suporte estrutural dos músculos abdominais, criando uma base de estabilidade. Os exercícios de mobilidade aprimoram o controle motor e a estabilização do tronco, essenciais para evitar sobrecarga, enquanto o kinesiotaping auxilia na ativação e sustentação dos músculos sem restringir os movimentos, o que é especialmente importante no puerpério; adicionalmente, ao associar os exercícios respiratórios, verifica-se uma coativação natural dos músculos do core, pois o diafragma é ativado junto com os músculos abdominais e o assoalho pélvico, criando uma pressão intra-abdominal estável e eficiente. Além disso, o biofeedback SEMG melhora a consciência corporal e permite que o paciente acompanhe sua própria ativação muscular, ajustando o esforço e melhorando o controle motor. Essa abordagem integrada otimiza o recrutamento e a função dos músculos abdominais, promovendo uma redução mais eficaz da diástase e melhorando a função física e a condição de vida do paciente.
O estudo de Thabet et al. (2019) utilizou o programa de exercícios de fortalecimento do core profundo e exercícios abdominais tradicionais e observou-se uma diminuição da separação do reto abdominal e melhora da qualidade de vida. Já o estudo de Safaee et al. (2022) utilizou também os exercícios de fortalecimento do core e comparou com o treinamento do assoalho pélvico em mulheres multíparas e observou a diminuição de dor entre os dois grupos de treinamento, enquanto o estudo de Pampolim et al. (2021) utilizou intervenção fisioterapêutica de fortalecimento do core, porém de forma imediata ao parto.
No estudo intervencionista, ou experimental de Michelowski et al. (2014) foi realizada no setor Materno Infantil em um Hospital Público do Município de Feira de Santana, Bahia. Participaram da pesquisa vinte mulheres com idade entre dezoito e quarenta anos, no período do puerpério imediato, que apresentaram DMRA com diâmetro superior a três centímetros de largura, que tiveram no máximo três partos normais. As participantes foram divididas em dois grupos. Grupo controle, foram avaliadas mediante um questionário de Saúde da Mulher e não receberam intervenção fisioterapêutica constando apenas em duas avaliações, uma avaliação seis horas pós-parto e uma reavaliação dezoito horas pós-parto; Grupo intervenção, foram avaliados através do mesmo questionário e receberam o atendimento fisioterapêutico também as seis e dezoito horas pós-parto. O grupo utilizou de manobras de reeducação funcional respiratória; alongamento diafragmático e desbloqueio torácico até a percepção visual da respiração fosse predominantemente abdominal; exercício de ponte, também associado à contração do assoalho pélvico mediante estímulo verbal, seguido de contração isométrica dos músculos abdominais; contração isotônica dos músculos retos abdominais (MRA) por meio do movimento de flexão anterior do tronco, de modo que a borda inferior da escápula se retirasse do leito. No primeiro atendimento, as puérperas foram orientadas a fazer uma série com dez repetições de cada exercício; no segundo momento, foram orientadas a fazer uma série com vinte repetições de cada exercício.
O estudo Michelowski et al. se assemelha ao estudo de Pampolim et al. (2021) ao apontar que, no puerpério imediato, a cinesioterapia pode ser mais eficaz na redução DMRA, especialmente em puérperas que apresentam um espaçamento acima de 3 centímetros entre os músculos abdominais. Entre as puérperas avaliadas, predominou a diástase nas regiões supraumbilical (SU) e umbilical (U), com uma frequência de 59% dos casos. O fortalecimento da musculatura abdominal demonstrou uma leve redução da diástase quando comparada com avaliação feita antes e depois do tratamento no grupo de intervenção. Pois as técnicas de cinesioterapia aplicadas no puerpério imediato utilizam o momento de alta plasticidade dos tecidos e de reorganização corporal para promover o fortalecimento muscular, estabilizar o tronco e melhorar a função dos músculos abdominais e pélvicos. Este resultado está de acordo com o resultado do estudo de Thabet et al. (2019), que observou uma redução na separação do reto abdominal e melhora na qualidade de vida com exercícios de fortalecimento do core. O estudo de Safaee et al. (2022) também demonstra essa evidência, destacando a eficácia do fortalecimento do core na redução da dor em comparação ao treinamento do assoalho pélvico em mulheres multíparas.
No entanto, ao comparar o grupo controle com o grupo intervenção, não houve uma diferença estatisticamente significativa, possivelmente devido ao tamanho pequeno da amostra e ao número limitado de sessões. Observa-se também que mulheres multíparas apresentam maior predisposição ao afastamento das fibras musculares do reto abdominal, pois a multiparidade pode contribuir para o aumento da DMRA. Embora as puérperas avaliadas tenham sido, em sua maioria, primigestas e secundárias, o estudo confirma a importância da fisioterapia no puerpério imediato para a recuperação funcional e a melhoria do suporte abdominal dessas mulheres.
Esta revisão contribui para o corpo de conhecimento ao consolidar evidências sobre a eficácia dos programas de fortalecimento do core no tratamento da DMRA em mulheres no puerpério. Os resultados sugerem que tais intervenções, tanto isoladas quanto associadas a outras técnicas, como kinesiotaping, exercícios respiratórios e treinamento do assoalho pélvico, promovem a melhora da força abdominal e a redução da separação inter-retal. Além disso, foi verificado um impacto positivo no controle da dor dessas mulheres. Contudo, ainda há lacunas que precisam ser exploradas. Para um melhor entendimento e aplicação clínica, é necessário novas pesquisas sobre os efeitos dessas intervenções em casos de DMRA grave, que foram pouco abordados nos estudos atuais. Recomenda-se também a realização de ensaios clínicos randomizados com amostras maiores e mais diversificadas, acompanhados por um monitoramento a longo prazo dos resultados, a fim de validar as abordagens terapêuticas e expandir suas aplicações. Dessa forma, será possível consolidar as práticas baseadas em evidências e fornece recomendações mais abrangentes para a fisioterapia no puerpério.
5 CONCLUSÃO
Com base nos estudos analisados, verificou-se que programas de exercícios focados no fortalecimento do core, isolados ou associados a outras intervenções como kinesiotaping, exercícios respiratórios e treinamento do assoalho pélvico, apresentam resultados promissores na redução da diástase dos músculos retos abdominais (DMRA) em mulheres no puerpério. Ensaios clínicos demonstram que esses programas não apenas aumentam a força abdominal e diminuem a separação entre os músculos retos abdominais, mas também promovem melhoria significativa na qualidade de vida das puérperas, aliviando dores associadas a elas.
No entanto há uma escassez de ensaios clínicos sobre protocolos fisioterapêuticos para o tratamento de casos graves de DMRA. Estudos futuros podem incluir amostras mais variadas, com mulheres que apresentam graus variados de diástase, inclusive casos graves, para consolidar esses achados e expandir as aplicações terapêuticas.
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1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
2 Coorientadora, Bacharel em fisioterapia- UNINORTE
3 Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara.
Endereço: Av. Joaquim Nabuco, 1232, Centro | Manaus | AM | CEP: 69020-030 | (92) 3212-5000.