EFFECTS OF PHYSIOTHERAPEUTIC INTERVENTION ON THE NEUROPSYCHOMOTOR DEVELOPMENT OF CHILDREN AND ADOLESCENTS DIAGNOSED WITH AUTISTIC SPECTRUM DISORDER: LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411252118
Josielma da Silva Oliveira1; Stefanny da Silva Arraes1; Esp. Ivanncy Santos de Queiroz 2; Dra. Thaiana Bezerra Duarte3
Resumo
Introdução: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por alterações no movimento, na comunicação, interação social e comportamento. Essas alterações podem resultar em limitações motoras e funcionais que prejudicam o desenvolvimento físico e mental das crianças acometidas. Objetivo: Investigar os efeitos da intervenção fisioterapêutica no desenvolvimento motor, cognitivo e comportamental, analisar as intervenções fisioterapêuticas e descrever a eficácia da fisioterapia neste contexto. Materiais e métodos: Trata-se de uma revisão de literatura de caráter descritivo com abordagem qualitativa, com busca nas bases de dados PubMed, SciELO, Google Acadêmico, Periódicos Capes entre 2015 e 2024. Foram incluídos estudos do tipo intervenção em crianças e adolescentes diagnosticados com TEA do nível 1 ao 3, de ambos os sexos, que receberam tratamento fisioterapêutico, disponíveis na íntegra para consulta nas bases de dados científicas. Resultados: Foram identificados 67 artigos nas bases de dados, dos quais oito foram selecionados para análise detalhada. Esses estudos, que envolveram 91 crianças e adolescentes com TEA, a média de idade de 8 anos, mostrou que abordagens como atividades rítmicas, fisioterapia multimodal e integração sensorial melhoram coordenação, socialização e habilidades motoras. As intervenções promovem avanços em fala, atenção e equilíbrio, destacando o potencial dessas práticas no desenvolvimento motor e social de crianças com TEA. Conclusão: A fisioterapia, ao utilizar técnicas específicas para estimular aspectos motores, cognitivos, proprioceptivos e socioafetivos, mostrou resultados positivos no tratamento de crianças e adolescentes com TEA, melhorando a proficiência motora, a interação social e a prática de atividades físicas.
Palavras-chave: “Fisioterapia”; “Autismo”; “Transtorno do desenvolvimento”; “Intervenção Fisioterapêutica”.
Abstract
Background: Autism Spectrum Disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder characterized by changes in movement, communication, social interaction and behavior. These changes can result in motor and functional limitations that harm the physical and mental development of affected children. Pourpose: To investigate the effects of physiotherapeutic intervention on motor, cognitive and behavioral development, analyze physiotherapeutic interventions and describe the effectiveness of physiotherapy in this context. Materials and methods: This is a descriptive literature review with a qualitative approach, with a search in the databases PubMed, SciELO, Google Scholar, Periódicos Capes between 2015 and 2024. Intervention studies in children and adolescents diagnosed with ASD at the level 1 to 3, of both sexes, who received physiotherapeutic treatment, available in full for consultation in scientific databases. Results: 67 articles were identified in the databases, of which eight were selected for detailed analysis. These studies, which involved 91 children and adolescents with ASD, the average age of 8 years, showed that approaches such as rhythmic activities, multimodal physiotherapy and sensory integration improve coordination, socialization and motor skills. The interventions promote advances in speech, attention and balance, highlighting the potential of these practices in the motor and social development of children with ASD. Conclusion: Physiotherapy, when using specific techniques to stimulate motor, cognitive, proprioceptive and socio-affective aspects, showed positive results in the treatment of children and adolescents with ASD, improving motor proficiency, social interaction and the practice of physical activities.
Keywords: “Physiotherapy”; “Autism”; “Developmental disorder”; “Physiotherapy Intervention”.
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta significativamente o desenvolvimento motor, cognitivo, social, afetivo e emocional, além de provocar déficits sensoriais e comportamentos repetitivos. Essas alterações podem causar ansiedade, hiperatividade e problemas gastrointestinais (Ferreira et al., 2016; Fonseca et al., 2021).
Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) o TEA é classificado em três níveis de dependência: baixo, moderado e elevado, cada um com suas limitações específicas. Estima-se que 1 em cada 36 crianças nascidas seja diagnosticada com TEA, afetando todos os grupos raciais, étnicos e socioeconômicos, sendo quatro vezes mais comum em meninos, conforme a Rede de Monitoramento de Autismo e Deficiências do CDC (Maenner et al., 2020).
É possível reconhecer sinais de TEA já nos primeiros dois anos de vida, sendo fundamental a investigação imediata para um diagnóstico precoce, o qual é dado por meio de exames clínicos realizados pelo médico psiquiatra ou neurologista. A atuação da equipe multidisciplinar é indispensável, sendo composta por fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos e médicos (Azevedo; Gusmão, 2016).
Segundo Batista et al. (2024), a fisioterapia é fundamental no tratamento de déficits motores em crianças, ajudando no desenvolvimento de atividades funcionais e superação de limitações, tanto adquiridas quanto congênitas, promovendo independência e melhorando a qualidade de vida de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Diante disso, este estudo busca aprofundar o conhecimento sobre as intervenções fisioterapêuticas no contexto do TEA, oferecendo subsídios para futuras investigações e servindo de orientação para profissionais de saúde atuantes na área.
Sendo assim, este estudo visa investigar os efeitos da intervenção fisioterapêutica no desenvolvimento motor, cognitivo e comportamental, além de analisar as intervenções fisioterapêuticas realizadas em crianças e adolescentes diagnosticados com TEA e descrever a eficácia da fisioterapia neste contexto, a fim de evidenciar a criação de estratégias terapêuticas mais eficientes, visando melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento funcional de crianças com TEA.
MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma revisão de literatura de caráter descritivo com abordagem qualitativa. Este estudo foi desenvolvido a partir de pesquisas em artigos científicos nas bases de dados, como:PubMed, Scientific Electronic Library Online – SciELO, Google Acadêmico, Periódicos Capes. As buscas nas bases de dados foram realizadas em setembro de 2024, utilizando os descritores: Fisioterapia, Autismo, Transtorno do desenvolvimento e Intervenção Fisioterapêutica, nos idiomas inglês, português e espanhol.
Foram incluídos estudos do tipo intervenção em crianças e adolescentes diagnosticados com TEA do nível 1 ao 3, de ambos os sexos, que receberam tratamento fisioterapêutico. Como critérios de exclusão artigos duplicados, publicados em idiomas diferentes de inglês, português e espanhol, e não disponíveis na íntegra.
Para organização dos resultados e a discussão dos dados obtidos nos estudos, as informações foram organizadas e apresentadas em forma de quadro, contendo objetivos, resultados e conclusões, a fim de compará-los com outros autores e, assim, determinar os efeitos da intervenção fisioterapêutica no desenvolvimento neuropsicomotor de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista.
3 RESULTADOS
Foram encontrados 67 (sessenta e sete) artigos nas bases de dados científicos. Desses, excluíram-se 3 (três) artigos por duplicidade, 18 (dezoito) por revisão de literatura, e 8 (oito) foram selecionados para fins de comparação metodológica e análise dos resultados obtidos, como mostra a Figura 1.
Figura 1 – Fluxograma do estudo.
Para análise na íntegra, 8 (oito) estudos foram incluídos nesta revisão e suas sínteses estão disponíveis no quadro 1.
Quadro 1 – Estudos incluídos para análise metodológica.
Esta revisão apresenta dados sobre 91 (noventa e um) crianças e adolescentes, com uma média de idade de 8 (oito) anos.
Os resultados indicam que diferentes abordagens, como atividades rítmicas, fisioterapia multimodal, exercícios com trampolins, hipnoterapia e atividades motoras sensoriais, têm um impacto positivo no desenvolvimento motor, na socialização e na coordenação dessas crianças. Kruger et al. (2019) investigaram o efeito de um programa de atividades rítmicas de 14 semanas, observando melhorias na coordenação motora e interação social. No estudo de Kolhe et al. (2023) foi avaliada uma intervenção de fisioterapia multimodal, que trouxe benefícios em fala, atenção e funções gerais.
Draudviliene et al. (2024) focaram em exercícios de ginástica e jogos em quadros interativos, demonstrando uma melhoria significativa no equilíbrio e motivação para atividades físicas. Dehghani et al. (2023) mostraram que o programa SPARK trouxe melhorias na pressão plantar e estabilidade do tornozelo em meninos com TEA. Lourenço et al. (2015) constataram que o uso de trampolins promoveu avanços na proficiência motora, equilíbrio e coordenação. Ferreira et al. (2016) indicaram que a fisioterapia ajudou a melhorar o desenvolvimento motor e a integração social, reduzindo a dependência de cuidadores.
Castilho et al. (2018) destacaram que a hipnoterapia melhorou o equilíbrio e a motricidade global, apesar de não haver progressos em motricidade fina. Pires e Beltrão (2016) sugeriram que atividades motoras combinadas com integração sensorial diminuíram a repulsa ao toque e aumentaram a interação social, facilitando o acesso a ambientes educacionais. Esses estudos revelam o potencial de diferentes abordagens terapêuticas para promover o desenvolvimento motor e social em crianças com TEA.
DISCUSSÃO
Esta revisão demonstrou que as técnicas de intervenção fisioterapêuticas são promissoras para o desenvolvimento motor e cognitivo de crianças com TEA. O uso de quadros interativos, fisioterapia multimodal, atividades rítmicas e lúdicas mostrou-se eficaz na melhora do equilíbrio, coordenação e habilidades sociais, facilitando a inclusão e a motivação para atividades físicas. Abordagens como hipnoterapia e trampolins também beneficiam o equilíbrio, embora possam exigir combinações para resultados mais amplos no desenvolvimento psicomotor.
Draudviliene et al. (2024) destacam que intervenções com o uso de um quadro interativo para exercícios físicos mostraram-se mais eficazes na melhoria do equilíbrio e coordenação, além de aumentarem a motivação das crianças para atividade física. Esse resultado sugere que o uso de tecnologias interativas pode ser uma abordagem eficaz, especialmente para crianças com TEA, que frequentemente apresentam dificuldades na manutenção do engajamento em atividades físicas convencionais.
Kolhe et al. (2023) e Ferreira et al. (2016) revelaram que a fisioterapia multimodal e as atividades lúdicas com integração sensorial são eficazes na melhoria das habilidades de fala, atenção e independência funcional, destacando-se como estratégias promissoras para o desenvolvimento cognitivo e motor em crianças com TEA. Essa abordagem multimodal também foi reforçada por estudos anteriores, como o de Pires e Beltrão (2016), que indicaram uma diminuição no isolamento social e na aversão ao toque, fatores que impactam positivamente a inclusão dessas crianças em ambientes educacionais.
Por outro lado, Dehghani et al. (2023) investigaram o programa SPARK, que visa desenvolver a estabilidade e força na caminhada, e observaram uma mudança positiva na taxa de carga e na pressão plantar, o que é relevante para a prevenção de lesões e promoção da mobilidade funcional. Kruger et al. (2019) também encontrou resultados positivos ao utilizar atividades rítmicas, indicando melhorias na coordenação motora e intenção social, componentes essências para a inclusão social.
Castilho et al. (2018) e Lourenço et al. (2015) trazem abordagens diferenciadas, como hipnoterapia e exercícios com trampolins, respectivamente, os quais mostraram benefícios na proficiência motora e no equilíbrio. No entanto, a hipnoterapia apresentou limitações no progresso de organização temporal e motricidade fina, o que levanta questões sobre a necessidade de combinações de intervenções mais desenvolvidas para um desenvolvimento psicomotor mais amplo.
CONCLUSÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresenta alterações significativas de caráter neuropsicomotor. A fisioterapia, utilizando técnicas específicas para estimular aspectos motores, proprioceptivos, cognitivos e socioafetivos, demonstrou resultados positivos ao aumentar a proficiência motora, promover a interação social e incentivar a prática de atividades físicas. Dessa forma, considera-se que o tratamento fisioterapêutico obteve impacto positivo e eficaz na melhora do quadro de crianças e adolescentes com TEA.
Embora alguns estudos tenham demonstrado os benefícios da fisioterapia no desenvolvimento neuropsicomotor de crianças com TEA, ainda há uma carência de dados consistentes e de larga escala. A expansão deste campo é essencial, pois novas pesquisas podem oferecer dados valiosos sobre intervenções específicas que favoreçam a autonomia e inclusão social dessas crianças. Incentivar a realização de mais estudos de caso, além de ensaios clínicos controlados, ajudaria a preencher essa lacuna, promovendo a integração de abordagens fisioterapêuticas personalizadas e baseadas em evidências, e contribuindo para a evolução das práticas terapêuticas no tratamento do TEA.
REFERÊNCIAS
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1Discentes do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
2Fisioterapeuta e Educador Físico pós-graduado em Fisiologia do Exercício, Preceptor de Estágio Supervisionado do curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
3Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara