FISIOTERAPIA NO PÓS CIRÚRGICO DE MASTECTOMIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411250228


Erci Frederico França,
Sheila Carla de Oliveira,
Tereza De Fátima da Silva,
Orientador: Prof.. Fabrício Vieira Cavalcante,
Orientador: Prof. Laura de Moura Rodrigues


RESUMO

Introdução: O câncer é uma preocupação global crescente, afetando quase 40% das pessoas na América do Norte e mais de um milhão na Austrália. O câncer de mama é o segundo mais comum no mundo, com taxas expressivas também no Brasil, especialmente nas Regiões Sudeste e Sul. O diagnóstico precoce é crucial, influenciado por fatores como histórico ginecológico e hereditariedade. Após o tratamento, pacientes enfrentam efeitos colaterais significativos, incluindo dor e perda de capacidade funcional. A fisioterapia oncológica desempenha um papel vital na reabilitação, com técnicas como fisioterapia descompressiva complexa e exercícios precoces mostrando-se benéficas. Novas abordagens, como a combinação de toxina botulínica A com fisioterapia, oferecem esperança na gestão pós- tratamento. Justificativa: O aumento da prevalência do câncer destaca a necessidade de integrar a reabilitação ao cuidado oncológico para minimizar o sofrimento dos pacientes. A abordagem abrangente é essencial para o câncer de mama, com a reabilitação pós-tratamento sendo crucial para lidar com complicações e melhorar a qualidade de vida. A fisioterapia desempenha um papel essencial, com técnicas como fisioterapia descompressiva complexa e combinações de terapias emergindo como promissoras. Essas abordagens multidisciplinares e personalizadas visam melhorar o bem-estar físico e emocional das pacientes. Objetivos: Investigar o papel das intervenções fisioterapêuticas na reabilitação do câncer de mama, identificando estudos, analisando procedimentos, resumindo achados, avaliando qualidade e formulando recomendações para pesquisas futuras. Método: Esta revisão abrangente explora o papel da fisioterapia no tratamento do câncer de mama, analisando 16 estudos clínicos selecionados após a aplicação rigorosa de critérios de exclusão. O objetivo é compreender a eficácia das intervenções fisioterapêuticas na melhoria da qualidade de vida das pacientes. A pesquisa se concentra em artigos obtidos de fontes acadêmicas e utiliza palavras-chave relevantes para otimizar a seleção dos estudos. Resultados e Discussão: Estudos recentes sobre intervenções fisioterapêuticas no tratamento do câncer de mama destacam uma gama de abordagens e resultados. Enquanto algumas intervenções, como infiltração de toxina botulínica A, não mostraram eficácia, outras, como cinesioterapia, demonstraram melhorias na qualidade de vida. A pesquisa destaca a importância da atualização das práticas fisioterapêuticas para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida das pacientes.

Palavras-chave: Câncer de mama, Fisioterapia, Técnicas Fisioterápicas, Reabilitação

ABSTRACT

Introduction: Cancer is a growing global concern, affecting nearly 40% of people in North America and more than one million in Australia. Breast cancer is the second most common cancer in the world, with significant rates also in Brazil, especially in the Southeast and South regions. Early diagnosis is crucial, influenced by factors such as gynecological history and heredity. After treatment, patients face significant side effects, including pain and loss of functional capacity. Oncology physiotherapy plays a vital role in rehabilitation, with techniques such as complex decompression physiotherapy and early exercise proving beneficial. New approaches, such as combining botulinum toxin A with physical therapy, offer hope in post- treatment management. Background: The increasing prevalence of cancer highlights the need to integrate rehabilitation with cancer care to minimize patient suffering. The comprehensive approach is essential for breast cancer, with post-treatment rehabilitation being crucial for managing complications and improving quality of life. Physiotherapy plays an essential role, with techniques such as complex decompression physiotherapy and combinations of therapies emerging as promising. These multidisciplinary and personalized approaches aim to improve patients’ physical and emotional well-being. Objectives: To investigate the role of physical therapy interventions in breast cancer rehabilitation, identifying studies, analyzing procedures, summarizing findings, assessing quality, and formulating recommendations for future research. Method: This comprehensive review explores the role of physical therapy in the treatment of breast cancer by analyzing 16 clinical trials selected after strict application of exclusion criteria. The objective is to understand the effectiveness of physical therapy interventions in improving the quality of life of patients. The search focuses on articles obtained from academic sources and uses relevant keywords to optimize the selection of studies. Results and Discussion: Recent studies on physical therapy interventions in the treatment of breast cancer highlight a range of approaches and outcomes. While some interventions, such as botulinum toxin A infiltration, have not shown efficacy, others, such as kinesiotherapy, have demonstrated improvements in quality of life. The research highlights the importance of updating physical therapy practices to improve clinical outcomes and quality of life for patients.

Keywords: Breast cancer, Physical therapy, Physical Therapy Techniques, Rehabilitation

1 INTRODUÇÃO

O câncer abrange um grupo de doenças incapacitantes e sua prevalência está crescendo rapidamente em todo o mundo. A prevalência ao longo da vida ao câncer na América do Norte, de qualquer tecido, é de aproximadamente 39,8% e estima-se que 1,1 milhão de pessoas vivam com histórico pessoal de câncer na Austrália (Chowdhury et al., 2020). O diagnóstico de câncer é uma das doenças mais comuns, incapacitantes e dispendiosas que afetam as pessoas ao redor do mundo, sendo que a falta de integração com serviços de reabilitação ao cuidado oncológico resulta sofrimento físico e psicológico desnecessário para muitos pacientes (Silver, 2017).

O câncer de mama é o segundo mais mundo, representando 25% de todos os novos casos diagnosticados em 2012 (Ergin et al., 2019), e representando 31% de todos os novos casos de câncer em mulheres no Reino Unido desde 1997 (Pidlyskyj et al., 2014). No Brasil, as taxas também são significativas, onde ocorrem cerca de 66.280 novos casos anualmente (Domingos et al., 2021), especialmente nas Regiões Sudeste e Sul (Lucena et al., 2023), e é o tipo mais comum entre as mulheres, com uma idade média ao diagnóstico de 64 anos e uma taxa de sobrevida relativa de 10 anos de 82% (Schimidt et al., 2018). O diagnóstico precoce é essencial, e fatores como história ginecológica, amamentação, atividade física (Leal; Oliveira; Carrara, 2016) e hereditariedade (Unukovych et al., 2014) podem influenciar no desenvolvimento.

A reabilitação após o tratamento do câncer de mama pode durar até dois anos e meio, devido a possíveis complicações no braço. Dor, limitações funcionais e diminuição da amplitude de movimento são comuns. Fatores de risco incluem tipo e extensão da cirurgia, tratamentos oncológicos e características pessoais, como idade e obesidade. A reabilitação busca melhorar essas complicações e promover o retorno à funcionalidade plena (Klein et al., 2021; De Groef et al., 2017). Após o tratamento, muitos pacientes enfrentam efeitos colaterais significativos, afetando negativamente sua qualidade de vida, incluindo fadiga, ganho de peso, alopecia, linfedema, dor, perda de capacidade funcional e ansiedade (Leclerc et al., 2017).

Os tratamentos principais incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia e terapia hormonal. No entanto, um efeito colateral significativo é o linfedema relativo ao câncer de mama, que pode surgir meses ou anos após o tratamento e causar diversos impactos físicos e emocionais nos pacientes (Ergin et al., 2019). O tratamento cirúrgico e adjuvante pode causar diversos impactos físicos e psicológicos, afetando a qualidade de vida das pacientes, com complicações e redução da amplitude de movimento. Exercícios precoces após a crucial são benéficos para a recuperação da amplitude articular (Lucena et al., 2023), uma vez que mulheres com câncer de mama muitas vezes apresentam baixa aptidão física, força e qualidade de vida (Toohey et al., 2020).

A demanda crescente por serviços de fisioterapia oncológica está criando oportunidades para os fisioterapeutas desenvolverem habilidades em cuidados com câncer. Vários países, como Austrália, Estados Unidos, Chile, Dinamarca e Holanda, estão estabelecendo grupos profissionais dedicados à oncologia e criando trajetórias de carreira para fisioterapeutas interessados em especializar-se nessa área. A fisioterapia desempenha um papel essencial na reabilitação pós-cirurgia de câncer de mama, auxiliando na recuperação funcional e melhorando a qualidade de vida das pacientes, o que facilita sua reintegração às atividades cotidianas e à sociedade (Rett et al., 2017; Dennett et al., 2021)

Unukovych et al. (2014) analisam a eficácia da fisioterapia pós-mastectomia profilática em pacientes submetidas à reconstrução mamária, comparando resultados entre grupos de intervenção e controle ao longo de dois anos pós-operatórios. Com uma taxa de adesão de 34%, destaca-se a importância de compreender os fatores que influenciam a participação das pacientes em programas de reabilitação pós-operatória, especialmente diante dos relatos significativos de problemas de imagem corporal e dor.

A fisioterapia descompressiva complexa, uma abordagem terapêutica abrangente que inclui técnicas como drenagem linfática manual, aplicação de bandagens e prescrição de exercícios específicos, tem sido amplamente reconhecida como o tratamento padrão para pacientes que enfrentam linfedema relacionado ao câncer de mama. Esta estratégia multifacetada visa não apenas reduzir o inchaço, mas também melhorar a função e a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, estudos recentes destacam os benefícios do uso de fita adesiva em áreas anastomóticas específicas, oferecendo uma abordagem complementar que pode auxiliar na redução do volume linfático, conforme observado por Ergin et al. (2019) e Torres-Lacomba et al. (2020). Paralelamente, a cinesioterapia emergiu como uma intervenção eficaz no processo de recuperação pós-operatória, demonstrando impactos positivos significativos na qualidade de vida das mulheres submetidas ao tratamento do câncer de mama, como evidenciado por Domingos et al. (2021). Essas descobertas sublinham a importância de uma abordagem multidisciplinar e integrada no manejo do linfedema e na promoção da reabilitação completa e holística para os pacientes afetados.

Ademais, os estudos ressaltam diversas abordagens promissoras para o tratamento das limitações no membro superior pós-câncer de mama. A combinação de toxina botulínica A (BTX-A) com fisioterapia padrão mostra-se como uma estratégia benéfica, conforme evidenciado por De Groef et al. (2019). Além disso, a bandagem multilayer simplificada emerge como uma opção mais eficaz e confortável em comparação com outras técnicas, como a bandagem coesiva e o kinesio-tape, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos sobreviventes de câncer de mama, conforme destacado por Torres-Lacomba et al. (2020). Por fim, Otero et al. (2021) sugerem que a combinação de Kinesio taping com terapia física complexa e compressão pneumática intermitente oferece uma abordagem relevante para tratar o linfedema relacionado ao câncer de mama, resultando em maior satisfação do paciente, alívio dos sintomas e melhoria da funcionalidade do membro superior. Estas descobertas oferecem perspectivas encorajadoras para a gestão abrangente e eficaz das complicações físicas após o tratamento do câncer de mama.

2 JUSTIFICATIVA

A crescente prevalência do câncer, um grupo de doenças incapacitantes, destaca a importância de integrar serviços de reabilitação ao cuidado oncológico para minimizar o sofrimento físico e psicológico desnecessário dos pacientes (Chowdhury et al., 2020; Silver, 2017). O câncer de mama, o segundo mais comum em todo o mundo, impacta significativamente a qualidade de vida das mulheres e exige uma abordagem abrangente e especializada (Ergin et al., 2019; Pidlyskyj et al., 2014). No Brasil, onde a incidência é significativa, o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, exigindo uma atenção especializada (Domingos et al., 2021; Lucena et al., 2023; Schimidt et al., 2018).

A reabilitação após o tratamento do câncer de mama é crucial para lidar com complicações como dor, limitações funcionais e linfedema, promovendo o retorno à funcionalidade plena e melhorando a qualidade de vida dos pacientes (Klein et al., 2021; De Groef et al., 2017; Leclerc et al., 2017). No entanto, há uma lacuna na compreensão dos fatores que influenciam a participação das pacientes em programas de reabilitação pós-operatória, especialmente considerando os relatos significativos de problemas de imagem corporal e dor (Unukovych et al., 2014).

A fisioterapia desempenha um papel essencial na reabilitação pós-cirurgia de câncer de mama, contribuindo para a recuperação funcional e a reintegração das pacientes às atividades cotidianas (Rett et al., 2017; Dennett et al., 2021). Abordagens terapêuticas como a fisioterapia descompressiva complexa e a cinesioterapia têm demonstrado eficácia na melhoria da qualidade de vida das mulheres após o tratamento do câncer de mama (Ergin et al., 2019; Domingos et al., 2021).

Estudos recentes sugerem que a toxina botulínica A (BTX-A) combinada com fisioterapia padrão e a bandagem multilayer simplificada são promissoras no tratamento de limitações no membro superior pós-câncer de mama, proporcionando maior conforto e eficácia (De Groef et al., 2019; Torres-Lacomba et al., 2020). Além disso, o Kinesio taping combinado com terapia física complexa e compressão pneumática intermitente mostra-se relevante para o tratamento do linfedema relacionado ao câncer de mama, melhorando a satisfação do paciente e a funcionalidade do membro superior (Otero et al., 2021).

Esses estudos enfatizam a importância de abordagens multidisciplinares e personalizadas na reabilitação pós-tratamento do câncer de mama, visando melhorar a qualidade de vida e promover o bem-estar físico e emocional das pacientes.

3 OBJETIVOS
3.1. Objetivo Geral

Investigar e sintetizar, por meio de uma revisão de literatura, o papel das intervenções fisioterapêuticas na reabilitação de pacientes com câncer de mama, visando contribuir para o avanço do conhecimento nessa área e para o aprimoramento das práticas clínicas.

3.2. Objetivos Específicos
  1. Identificar os principais estudos que abordaram a eficácia de intervenções de fisioterapia no manejo terapêutico de mulheres diagnosticadas com câncer de mama.
  2. Examinar os procedimentos metodológicos adotados nos estudos selecionados para avaliar a eficácia das intervenções de fisioterapia no tratamento do câncer de mama.
  3. Resumir os achados dos estudos revisados, enfatizando padrões e conclusões recorrentes sobre a eficácia das intervenções de fisioterapia no tratamento do câncer de mama.
  4. Realizar uma avaliação crítica da qualidade metodológica dos estudos analisados e identificar eventuais limitações.
  5. Elaborar recomendações para pesquisas futuras, considerando lacunas identificadas na literatura existente.
4 MÉTODO

Este estudo constitui uma revisão literária abrangente, cujo objetivo é investigar as intervenções fisioterapêuticas como parte integrante da abordagem multidisciplinar no combate ao câncer de mama. Para alcançar tal propósito, foi realizada uma análise minuciosa de artigos científicos obtidos em fontes acadêmicas renomadas, incluindo Pubmed, Medline e Science Direct. Essa pesquisa visa fornecer uma compreensão aprofundada do papel da fisioterapia na melhoria da qualidade de vida, no controle dos sintomas e na recuperação física das pacientes diagnosticadas com câncer de mama.

Para ampliar a pesquisa, foram selecionadas palavras-chave pertinentes, tais como “câncer de mama”, “fisioterapia”, “técnicas fisioterápicas” e “reabilitação”, conexas ao operador booleano AND, tanto em português quanto em inglês. Essa abordagem foi adotada para otimizar o processo de seleção de artigos, em conformidade com os critérios de inclusão e exclusão estabelecidos pelos pesquisadores. A pergunta-problema para esta pesquisa é: “Qual é a eficácia das intervenções fisioterapêuticas no tratamento do câncer de mama, especialmente no que diz respeito à melhoria da qualidade de vida pelas pacientes?”

Foram utilizados diversos critérios de exclusão. Inicialmente, dos 517.053 artigos pré- selecionados, foram excluídos 515.945 estudos através da aplicação das palavras-chave. Em seguida, com a aplicação do filtro “ensaio clínico”, mais 656 artigos foram excluídos. Ao final, 16 artigos foram selecionados para este estudo.

Optou-se por incluir apenas os estudos clínicos, uma vez que eles fornecem evidências mais robustas sobre a eficácia das intervenções fisioterapêuticas no tratamento do câncer de mama, garantindo maior confiabilidade nos resultados obtidos. A análise desses estudos clínicos permite uma compreensão mais aprofundada dos benefícios das intervenções fisioterapêuticas, auxiliando na tomada de decisões clínicas e no desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes para as pacientes afetadas pela doença.

Ademais, decidiu-se por excluir estudos que tratavam de intervenções fisioterapêuticas em outras condições patológicas, bem como aqueles publicados em idiomas diferentes dos incluídos, capítulos de livros, resumos científicos, teses, dissertações, editoriais, cartas ao editor e anais de congressos. Essa seleção visa garantir a relevância e a consistência dos resultados obtidos na revisão de literatura específica sobre o câncer de mama e as intervenções fisioterapêuticas associadas.

Como um meio de estruturar e organizar as ideias desta pesquisa, optamos por resumir estas informações através de uma Tabela PICO (Problema, Intervenção, Comparação e Resultado) para proporcionar uma visão clara e concisa da pergunta de pesquisa.

Figura 1 – Diagrama de Revisão: Critérios de Pesquisa, Número de Artigos Selecionados, Excluídos em Cada Etapa e Incluídos

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao comparar os estudos sobre a intervenção fisioterapêutica no contexto do tratamento do câncer de mama, observa-se uma variedade de abordagens e resultados. De Groef et al. (2017) exploram os fatores de risco associados às disfunções do membro superior em sobreviventes de câncer de mama, destacando a influência a longo prazo da dor e dos mecanismos de sensibilização central. No entanto, em 2019, os mesmos autores examinam a eficácia da infiltração de toxina botulínica A, concluindo que essa intervenção, combinada com fisioterapia padrão, não é recomendada para tratar essas disfunções.

Dennett et al. (2021) focalizam as percepções dos fisioterapeutas australianos, revelando que embora se sintam confiantes, relatam falta de preparo para lidar com pacientes com câncer de mama, indicando necessidade de desenvolvimento profissional. Domingos et al. (2021) investigam os efeitos da cinesioterapia na qualidade de vida pós-cirurgia, encontrando melhorias significativas, exceto em relação à diarreia.

Ergin et al. (2019) abordam o uso da Fita de Kinesio em pacientes com linfedema relacionado ao câncer de mama, concluindo que não é eficaz na redução do volume do membro. Klein et al. (2021) identificam fatores de risco para complicações pós-tratamento, destacando a necessidade de encaminhamento precoce para reabilitação.

Leal, Oliveira e Carrara (2016) evidenciam a eficácia da fisioterapia durante a radioterapia, enquanto Leclerc et al. (2017) destacam os benefícios de um programa multidisciplinar de reabilitação. Lucena et al. (2023) revelam a falta de atualização nas práticas fisioterapêuticas pós-operatórias.

Otero et al. (2022) comparam diferentes abordagens para linfedema, enfatizando a eficácia da fisioterapia complexa combinada com compressão pneumática intermitente. Pidlyskyj et al. (2014) exploram a percepção dos pacientes sobre o cuidado fisioterapêutico, evidenciando a importância de serviços especializados.

Por fim, Rett et al. (2017) e Schmidt et al. (2019) focam na melhoria do desempenho funcional e do retorno ao trabalho, respectivamente, após intervenções fisioterapêuticas. Toohey et al. (2020) e Torres-Lacomba et al. (2020) comparam diferentes modalidades de tratamento, enquanto Unukovych et al. (2014) abordam o interesse limitado na fisioterapia pós- mastectomia profilática.

Esses estudos fornecem uma visão abrangente das táticas fisioterapêuticas no contexto do câncer de mama para melhorar os resultados clínicos e a qualidade de vida das pacientes.

Tabela 1 – Literaturas selecionadas na revisão

AUTOR/ANOOBJETIVOAMOSTRAPRINCIPAIS RESULTADOSCONCLUSÃO
DE GROEF. et al., 2017.Explorar os fatores de risco relacionados ao tratamento, paciente e comprometimento associados às disfunções do membro superior em sobreviventes de câncer de mama.Foi realizado um estudo transversal em 274 mulheres tratadas para câncer de mama.Foram analisados fatores de risco relacionados ao tratamento, paciente e comprometimento, incluindo tipos de cirurgia, tratamentos, idade, índice de massa corporal e aspectos da dor. A variável dependente foi a função do membro superior medida pelo questionário DASH, com uma análise de regressão stepwise sendo realizada.A longo prazo, especialmente a dor e os mecanismos de sensibilização central contribuem para a função do membro superior em sobreviventes de câncer de mama.
DE GROEF et al., 2019.Examinar a eficácia da infiltração única de toxina botulínica A (BTX-A) no músculo peitoral maior, além de um programa padrão de fisioterapia (PT), sobre as deficiências e disfunções do membro superior após o tratamento do câncer de mama.Cinquenta pacientes com câncer de mama e dor persistente três meses após o término do tratamento participaram de um ensaio clínico randomizado duplo- cego.O grupo de intervenção recebeu uma única infiltração de BTX-A. O grupo controle recebeu uma infiltração de placebo (solução salina). Dentro de uma semana após a infiltração, todos os pacientes participaram de um programa individual de PT (12 sessões) nos primeiros 3 meses.A infiltração única de toxina botulínica A (BTX-A) no músculo peitoral maior, além de um programa de PT, não pode ser recomendada para tratar as deficiências e disfunções do membro superior após o tratamento do câncer de mama.
DENNETT. et al., 2021. O estudo teve como objetivo descrever as percepções de fisioterapeutas australianos que trabalham no cuidado de pacientes com câncer.Foram convidados 119 hospitais australianos e 35 programas de reabilitação em julho de 2019 para participar de uma pesquisa transversal nacional. Foram completados 128 questionários            por fisioterapeutas clínicos responsáveis pelo cuidado de pacientes com câncer.Não há uma intervenção específica mencionada neste estudo, uma vez que se trata de uma pesquisa para avaliar as percepções e experiências dos fisioterapeutas em relação ao seu trabalho com pacientes com câncer.Os fisioterapeutas australianos se sentem pouco preparados para trabalhar no cuidado de pacientes com câncer, porém relatam ter boa confiança e conhecimento. Há indicação de oportunidades de desenvolvimento profissional para atender às necessidades de aprendizado em gestão médica, efeitos                        colaterais do tratamento/precauções e manejo da dor e fadiga relacionadas ao câncer.
DOMINGOS et al., 2021.O objetivo do estudo foi comparar a qualidade de vida (QV) antes e após 10 sessões de cinesioterapia em mulheres submetidas à cirurgia para câncer de mama.O estudo envolveu 35 mulheres que passaram por cirurgia para câncer de mama e posteriormente realizaram 10 sessões de fisioterapia.O protocolo de cinesioterapia consistiu em alongamentos, exercícios ativos- livres e exercícios resistidos.A cinesioterapia melhorou diversos aspectos da qualidade de vida pós-cirurgia de câncer de mama, exceto pela diarreia. Mais estudos são sugeridos para investigar melhorias adicionais.
ERGIN et al., 2019.Investigar o efeito do uso da Fita de Kinesio (KT) em regiões                         anastomóticas juntamente com fisioterapia descongestiva complexa (FDC) em pacientes com linfedema relacionado ao câncer de mama (LRM).Pacientes com LRM unilateral foram divididos em dois grupos neste estudo controlado randomizado: Grupo 1 (FDC, n = 14) e Grupo 2 (FDC+ KT, n = 18).A FDC incluiu drenagem linfática manual, bandagens compressivas, exercícios e cuidados com a pele. A KT foi aplicada nas anastomoses linfáticas.Os resultados sugerem que aplicar KT em regiões anastomóticas linfáticas não é eficaz na redução do volume do membro no manejo do LRM.
KLEIN et al, 2021.O objetivo do estudo é identificar os fatores de risco para dor prolongada, redução na função e diminuição da amplitude de movimento (AM) em pacientes com câncer de mama (BC).Foram incluídos no estudo um total de 157 pacientes submetidos à cirurgia de câncer de mama.Foi conduzido um estudo de coorte prospectivo em um hospital privado entre outubro de 2018 e abril de 2019, com um acompanhamento de 6 meses. Os pacientes foram divididos de acordo com as morbidades do braço, e os diferentes fatores de risco foram avaliados usando análise univariada e regressão logística.Morbidades no braço superior após tratamentos para câncer de mama afetam até 70% dos pacientes. Identificar os diferentes fatores de risco e benefícios pode aumentar a conscientização entre os médicos para encaminhar os pacientes para programas de reabilitação precoce e, assim, evitar  morbidade  crônica  e melhorar o curso da recuperação.
LEAL; OLIVEIRA; CARRARA, 2016.O estudo teve como objetivo avaliar o efeito da fisioterapia na amplitude de movimento do ombro e na perimetria do membro superior, aplicada durante o período da radioterapia em mulheres em tratamento para câncer de mama.Foram avaliadas 35 voluntárias, que foram randomizadas em dois grupos: 18 no grupo controle e 17 no grupo de estudo.Ambos os grupos foram submetidos a três avaliações da amplitude de movimento do ombro e perimetria do membro superior. Além disso, o grupo de estudo recebeu fisioterapia supervisionada para os membros superiores.O protocolo fisioterapêutico supervisionado aplicado foi efetivo na recuperação do déficit de abdução pós-radioterapia e de flexão e rotação externa quando avaliados até 2 meses após o término da radioterapia.
LECLERC et al., 2017. Determinar os benefícios de um programa de reabilitação multidisciplinar de três meses entre mulheres após o tratamento do câncer de mama.Duzentas e nove pacientes ambulatoriais tratadas por carcinoma primário de mama.As pacientes foram divididas em um grupo controle (N.=106) e um grupo experimental (N.=103), que se beneficiou de um programa de reabilitação de três meses incluindo treinamento físico e sessões psicoeducacionais.Este estudo identifica os benefícios de um programa de reabilitação               multidisciplinar detalhado,                  incluindo recondicionamento físico e sessões psicoeducacionais, com melhorias importantes na capacidade funcional, composição corporal e na maioria das funções e sintomas entre mulheres após o tratamento do câncer de mama
LUCENA et al., 2023.O objetivo do estudo foi avaliar o conhecimento dos profissionais fisioterapeutas não especialistas nas áreas de oncologia e saúde da mulher quanto à conduta realizada em pacientes no período pós-operatório de câncer de mama. Participaram do estudo 44 profissionais fisioterapeutas não especialistas nas áreas de oncologia e saúde da mulher.Os dados foram coletados por meio de questionário autopreenchido, que abordou a atuação do fisioterapeuta em pacientes no período pós-operatório de câncer de mama.A conduta adotada pela maioria dos profissionais residentes e assistenciais analisados baseia-se em recomendações desatualizadas sobre movimentação de membros, exercícios resistidos e prevenção de linfedema após cirurgia de câncer de mama.
OTERO et al., 2022O objetivo deste estudo é comparar a eficácia da fisioterapia                complexa combinada com compressão pneumática intermitente (CPT + IPC) versus aplicação de Kinesio (KT) para o linfedema relacionado ao câncer de mamaUm ensaio clínico cruzado foi conduzido com 43 mulheres com linfedema. Todos os participantes receberam duas intervenções: CPT + IPC e KT, ambas com duração de 3 semanas, seguidas por um período de washout.As intervenções testadas foram a fisioterapia complexa combinada com compressão pneumática intermitente (CPT + IPC) e a aplicação de Kinesio taping (KT).CPT + IPC resultou em uma maior redução da mudança relativa de volume (RVC) e uma melhora significativa na amplitude de movimento do ombro em comparação com KT. KT foi considerado mais satisfatório do que a bandagem multicamada, demonstrando          melhores pontuações no questionário DASH e proporcionando um alívio mais eficaz da dor em comparação com CPT + IPC.
PIDLYSKYJ et al., 2014.O objetivo do estudo foi explorar o valor relatado do cuidado fisioterápico recebido por pacientes que acessaram um Serviço de Fisioterapia Especializada em Cuidados de Mama.Dezenove participantes foram recrutados, três deles foram selecionados para entrevistas em profundidade.           Todos haviam recebido cuidados fisioterápicos de um Serviço Especializado em Cuidados de Mama e foram dispensados nos últimos seis meses.O estudo utilizou entrevistas em profundidade para explorar os aspectos do cuidado fisioterápico valorizados pelos pacientes com câncer de mama. A análise temática em rede foi empregada para interpretar os dados e reunir as diferentes                  experiências              dos participantes, identificando temas comuns.Os participantes tiveram uma experiência positiva com o cuidado fisioterápico. O estudo destaca a importância de os provedores de serviços avaliarem e desenvolverem Serviços Especializados para atender às necessidades dos pacientes com câncer de mama em todas as etapas do tratamento.
RETT et al., 2017.Comparar o alcance de movimento (ADM) e o desempenho funcional do membro                    superior homolateral               após abordagem fisioterapêutica e correlacionar essas variáveis.O estudo incluiu 33 mulheres submetidas a mastectomia ou quadrantectomia associada à linfadenectomia axilar.O protocolo consistiu em 10 sessões de fisioterapia, realizadas três vezes por semana, com duração de 60 minutos cada. Incluiu mobilização passiva das articulações               glenoumeral              e escapulotorácica, mobilização de tecidos moles, alongamento dos músculos do pescoço e do membro superior, exercícios em todos os planos de movimento, além de exercícios com carga usando faixas elásticas e halteres de 0,5 a 1,0 quilogramas.O desempenho funcional e o ADM, após 10 sessões de fisioterapia,                melhoraram significativamente; no entanto, um acompanhamento de longo prazo pode contribuir para uma melhora adicional.
SCHMIDT. et al., 2019.Investigar o impacto dos efeitos colaterais e outros fatores no retorno ao trabalho (RTW) de sobreviventes de câncer de mama.Foram estudadas 135 sobreviventes de câncer de mama, livres da doença, abaixo da idade de aposentadoria, que estavam empregadas antes do diagnóstico.Os participantes registraram seu status de trabalho atual e anterior, assim como os motivos para o impedimento do RTW. Também relataram prospectivamente resultados do paciente ao longo do continuum do câncer.O estudo revelou que a cessação do trabalho após o câncer de mama está associada a uma pior qualidade de vida (QoL). Fadiga, problemas psicológicos e cognitivos, assim como morbidade do braço, parecem dificultar o RTW. Assim, um melhor manejo desses problemas pode ajudar as mulheres a permanecerem    na vida profissional.
TOOHEY et al., 2020.O objetivo foi investigar como a intensidade do exercício afeta a aptidão aeróbica, a regulação cardíaca e os biomarcadores salivares de estresse e imunidade mucosa em sobreviventes de câncer de mama, buscando entender seu impacto no risco de doenças cardiovasculares.Dezessete participantes foram incluídos neste estudo (62 ± 8 anos, HIIT; n = 6, CMIT; n = 5, CON; n = 6).Os participantes foram divididos em três grupos: HIIT, CMIT e CON, e submetidos a 12 semanas de ciclismo estacionário (36 sessões). Suas aptidões cardiorrespiratórias, variabilidade da frequência cardíaca em repouso e biomarcadores salivares foram medidos antes e depois da intervenção.O treinamento intervalado de alta intensidade melhorou a aptidão cardiovascular, a regulação cardíaca e as respostas do sistema nervoso simpático em alguns sobreviventes de câncer de mama. Foi considerado seguro e eficaz, apresentando           resultados promissores na melhoria da saúde física e do estresse, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares.
TORRES-LACOMBA                  et al., 2020.Comparar os efeitos de quatro tipos de bandagens e kinesio-tape e determinar qual é o mais eficaz em mulheres com linfedema relacionado ao câncer de mama unilateral.Um total de 150 mulheres com linfedema relacionado ao câncer de mama.As participantes foram randomizadas em cinco grupos (n = 30). Todas as mulheres receberam uma fase intensiva de fisioterapia descompressiva complexa, incluindo drenagem linfática manual, terapia de compressão pneumática, educação terapêutica, exercício terapêutico ativo e bandagem. A única diferença entre os grupos foi a bandagem ou fita aplicada (multicamada;          multicamada simplificada; coesiva; adesiva; kinesio- tape).Este estudo mostrou diferenças significativas entre os grupos de bandagem no valor absoluto do volume excessivo. As mais eficazes foram as bandagens multicamada simplificadas e as bandagens coesivas. As bandagens/fita com menos diferença foram a kinesio-tape e a bandagem adesiva. Os cinco grupos apresentaram uma diminuição significativa nos sintomas após as intervenções, sem diferenças entre os grupos. Além disso, a kinesio-tape foi percebida como a mais confortável pelas mulheres e a multicamada  como  a  menos confortável.
UNUKOVYCH            et                               al., 2014.O objetivo do estudo foi avaliar o interesse na fisioterapia como meio de melhorar a imagem corporal e a sexualidade em mulheres após a mastectomia profilática.O estudo incluiu pacientes submetidas à mastectomia profilática no Hospital Universitário Karolinska entre 2006 e 2010.O estudo foi um ensaio clínico prospectivo randomizado, onde os pacientes foram randomizados para o grupo de limitação (que recebeu fisioterapia) ou o grupo de controle.O interesse em uma limitação de fisioterapia foi limitado entre as mulheres que haviam passado pela mastectomia profilática, e a limitação não demonstrou efeitos substanciais. Uma grande proporção de pacientes relatou problemas                 específicos relacionados à imagem corporal e à sensação de dor e movimento no pós-operatório.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo cumpre sua proposta de sintetizar e avaliar as contribuições da fisioterapia para a reabilitação de pacientes com câncer de mama, oferecendo um panorama das práticas e metodologias mais eficazes para o manejo dessa condição. O levantamento de literatura foi essencial para identificar intervenções específicas e avaliar sua eficácia, visando contribuir para o avanço do conhecimento na área e apoiar o aprimoramento das práticas clínicas. A revisão destaca a crescente demanda e valorização da fisioterapia no contexto oncológico, evidenciando intervenções como drenagem linfática manual e bandagens especializadas, que demonstram benefícios no alívio de complicações como o linfedema e na melhoria da qualidade de vida das pacientes.

O levantamento dos estudos mais relevantes permitiu identificar abordagens promissoras e analisar criticamente as metodologias aplicadas em cada pesquisa, evidenciando padrões, limitações e lacunas importantes. A síntese dos achados ressalta a importância de uma reabilitação adaptada às necessidades individuais, destacando o papel essencial do acompanhamento fisioterapêutico contínuo para otimizar os resultados funcionais e emocionais.

Foram analisados estudos que examinam a eficácia de abordagens terapêuticas como cinesioterapia, fisioterapia complexa, programas multidisciplinares e intervenções específicas, incluindo o uso de Kinesio Taping e compressão pneumática intermitente. As metodologias variaram quanto aos métodos de avaliação, amostras e tipos de intervenção, o que possibilitou uma análise crítica da qualidade e das limitações dos dados disponíveis. Observou-se que, embora algumas práticas apresentem benefícios claros, outras carecem de evidências robustas, sugerindo a necessidade de pesquisas mais rigorosas e atualização nas condutas profissionais.

Por fim, o estudo reafirma a eficácia das práticas fisioterapêuticas na reabilitação oncológica e sugere caminhos para pesquisas futuras, especialmente na adoção de metodologias rigorosas e avaliação de novas técnicas. Essas recomendações são fundamentais para fortalecer o papel da fisioterapia no tratamento oncológico e expandir o alcance das práticas atuais, promovendo um atendimento mais efetivo e humanizado. Com base nas lacunas identificadas, recomenda-se que futuras investigações explorem novas modalidades terapêuticas e enfoquem a formação e atualização de fisioterapeutas especializados em oncologia, favorecendo uma prática clínica mais qualificada e embasada em evidências.

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