A FALTA DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL PELA SUBSTITUIÇÃO DE BENZODIAZEPÍNICOS POR FITOTERÁPICOS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411211651


Ane Carolina Cesariano,
Natiane Zague de Souza,
Lívia Vitória de Souza Feliz,
Orientadora: Prof.ª: Priscila Fachin Nogarini,
Coorientadora: Prof.ª: Bruna Marçal Guidoti Eleutério,
Coorientadora: Prof.ª: Vanessa Maira Rizzato Silveira


RESUMO

O uso prolongado e indiscriminado de benzodiazepínicos é um problema de saúde pública devido aos riscos associados, como dependência, sedação excessiva, problemas cognitivos e quedas, especialmente em idosos. A automedicação e o uso inadequado desses medicamentos aumentam a probabilidade de efeitos adversos, agravados pela falta de alternativas terapêuticas adequadas, como a fitoterapial. O farmacêutico desempenha um papel crucial ao orientar os pacientes sobre o uso racional desses medicamentos, identificando sinais de abuso e promovendo tratamentos mais seguros. A colaboração entre médicos, psicólogos e farmacêuticos pode ajudar a reduzir a dependência e a melhorar a eficácia terapêutica. Políticas públicas de conscientização e a integração dos serviços de saúde são essenciais para combater o uso excessivo e promover o tratamento adequado dos transtornos mentais. Alternativas fitoterápicas, como a Passiflora incarnata, têm se mostrado promissoras no manejo da ansiedade e insônia, oferecendo opções mais seguras. No entanto, é importante que seu uso também seja supervisionado, pois, embora naturais, essas substâncias podem causar efeitos adversos quando mal administradas. A combinação de tratamentos convencionais e alternativas naturais, com a devida orientação profissional, pode contribuir para uma abordagem terapêutica mais equilibrada e eficaz.

Palavras-chave: Benzodiazepínicos. Capacitação. Farmacêuticos. Fitoterapia.

ABSTRACT

The prolonged and indiscriminate use of benzodiazepines is a public health problem due to the associated risks, such as dependence, excessive sedation, cognitive issues, and falls, particularly among the elderly. Self-medication and the improper use of these drugs increase the likelihood of adverse effects, which are worsened by the lack of appropriate therapeutic alternatives, such as phytotherapy. Pharmacists play a crucial role in guiding patients on the rational use of these medications, identifying signs of abuse, and promoting safer treatments. Collaboration between doctors, psychologists, and pharmacists can help reduce dependence and improve therapeutic efficacy. Public awareness policies and the integration of healthcare services are essential to combat excessive use and promote proper treatment of mental disorders. Phytotherapeutic alternatives, such as Passiflora incarnata, have shown promise in managing anxiety and insomnia, providing safer options. However, it is important that their use is also supervised, as, despite being natural, these substances can cause adverse effects if misused. The combination of conventional treatments and natural alternatives, with proper professional guidance, can contribute to a more balanced and effective therapeutic approach.

Keywords: Benzodiazepines. Training. Pharmacists. Phytotherapy.

1 INTRODUÇÃO

Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos amplamente prescritos, utilizados principalmente para tratar transtornos de ansiedade, insônia e outras condições relacionadas ao estresse. Embora esses fármacos possam ser eficazes, seu uso prolongado e indiscriminado levanta sérias preocupações sobre dependência, efeitos adversos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada quatro pessoas desenvolverá algum transtorno mental ao longo da vida, com a ansiedade e a depressão sendo as condições mais prevalentes (SENICATO, AZEVEDO e BARROS, 2018). No Brasil, a situação é alarmante, com 9,3% da população sofrendo de ansiedade, tornando o país o mais ansioso do mundo (MAZON, AMORIM e BRZOZOWSKI, 2023). A falta de conscientização sobre os riscos associados a esses medicamentos e a crença de que eles são a solução única para problemas de saúde mental são fatores que perpetuam esse ciclo.

Profissionais de saúde, muitas vezes, prescrevem esses medicamentos sem considerar alternativas terapêuticas, como a terapia cognitivo-comportamental, que tem se mostrado eficaz no tratamento de transtornos de ansiedade (PEREIRA et al., 2020). Além disso, a automedicação leva muitos indivíduos a utilizá-los sem supervisão médica.

Os efeitos adversos dos benzodiazepínicos são variados e podem incluir sedação excessiva, comprometimento cognitivo, problemas de memória e coordenação, além de um aumento no risco de quedas, especialmente entre os idosos (CARDOSO et al., 2021). A dependência física e psicológica é uma das consequências mais preocupantes do uso prolongado, levando a um ciclo vicioso em que os indivíduos se tornam cada vez mais dependentes do medicamento para atuar no dia a dia. A tolerância, que se desenvolve com o uso contínuo, faz com que os pacientes necessitem de doses cada vez maiores para alcançar o mesmo efeito, exacerbando ainda mais o problema.

Além dos riscos individuais, o uso indiscriminado de benzodiazepínicos também tem implicações sociais e econômicas. A fragmentação do cuidado, onde os pacientes não recebem um tratamento holístico que aborde tanto os aspectos físicos quanto psicológicos de sua saúde, é uma preocupação crescente. A falta de integração entre os serviços de saúde mental e as unidades básicas de saúde dificulta o acesso a cuidados adequados e a conscientização sobre os riscos do uso de benzodiazepínicos.

A questão de gênero também desempenha um papel significativo no uso de benzodiazepínicos. Estudos mostram que as mulheres são mais propensas a desenvolver transtornos mentais e, consequentemente, a utilizar esses medicamentos (TEIXEIRA e PAIVA, 2021). A opressão social e as expectativas de gênero podem contribuir para a maior vulnerabilidade das mulheres a problemas de saúde mental, levando a um aumento no uso de benzodiazepínicos como uma forma de lidar com a ansiedade e o estresse.

Para enfrentar o problema do uso contínuo e indiscriminado de benzodiazepínicos, é essencial promover programas educacionais e de conscientização entre profissionais de saúde e a população em geral. A implementação de programas de capacitação e o trabalho interdisciplinar entre médicos, psicólogos e farmacêuticos pode ajudar a melhorar a compreensão sobre os riscos associados a esses medicamentos e a importância de considerar alternativas terapêuticas. Além disso, a sociedade precisa ser informada sobre os perigos da automedicação e a necessidade de buscar ajuda profissional para problemas de saúde mental, assim como também orientada de como fazer isso.

A estruturação e integração do cuidado nas unidades básicas de saúde também são cruciais. A presença de psicólogos e psiquiatras nas equipes de saúde pode facilitar o acesso a tratamentos adequados e reduzir a dependência de medicamentos.

O uso contínuo e indiscriminado de benzodiazepínicos é um problema complexo que requer uma abordagem multifacetada. A conscientização sobre os riscos associados a esses medicamentos, a promoção de tratamentos alternativos e a melhoria da estrutura de cuidados em saúde mental são passos essenciais para abordar essa questão. Somente através de uma abordagem integrada e informada será possível reduzir o uso inadequado de benzodiazepínicos e promover uma saúde mental mais robusta e sustentável na população.

2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Utilização de benzodiazepínicos e suas problemáticas

Os benzodiazepínicos são uma classe de medicamentos que atuam principalmente como ansiolíticos e sedativos, sendo utilizados para tratar uma variedade de condições, incluindo transtornos de ansiedade, insônia, e distúrbios convulsivos. Eles exercem sua ação ao se ligarem aos receptores GABA-A no cérebro, o que aumenta a eficácia do neurotransmissor GABA (ácido gama-aminobutírico). Essa interação resulta em um aumento da entrada de íons cloro nas células neuronais, levando a uma hiperpolarização da membrana celular e, consequentemente, a uma diminuição da excitabilidade neuronal. Essa ação inibitória é o que proporciona os efeitos calmantes e relaxantes dos benzodiazepínicos, tornando-os uma escolha comum para o manejo de crises de ansiedade e episódios de insônia (FEGADOLLI et al., 2019).

Além de suas propriedades ansiolíticas e sedativas, os benzodiazepínicos também são utilizados em contextos clínicos específicos, como no tratamento de distúrbios convulsivos e na indução de anestesia. Por exemplo, medicamentos como o Diazepam e o Lorazepam são frequentemente empregados em situações de emergência para controlar convulsões agudas. A versatilidade desses medicamentos, aliada à sua rápida ação, contribui para sua ampla utilização na prática clínica. No entanto, é crucial que os profissionais de saúde estejam cientes dos riscos associados ao uso prolongado, incluindo a possibilidade de dependência e a ocorrência de efeitos colaterais adversos, como sedação excessiva e comprometimento cognitivo (FEGADOLLI et al., 2019).

Os benzodiazepínicos são amplamente utilizados no tratamento de transtornos de ansiedade, mas seu uso não é isento de riscos. Diversos estudos destacam os efeitos adversos associados a esses medicamentos, que podem impactar significativamente a saúde dos pacientes. Em sua maioria têm terminações “pam” em sua nomenclatura, o uso desse sufixo facilita sua identificação, os mais conhecidos são: bromazepam (Lexotan®), clonazepam (Rivotril®), diazepam (Valium®), flunitrazepam (Rohypnol®), flurazepam (Dalmadorm®) lorazepam (Lorax®), nitrazepam (Sonebon®), entre outros. O alprazolam (Frontal®), o clordizepóxido (Psicosedin®) e o midazolam (Dormonid®), são algumas das exceções (MOREIRA; BORJA, 2018).

A classificação dos benzodiazepínicos se dá de acordo com sua meia vida plasmática que vai de curta a longa. Os de curta ação: midazolam e triazolam (2-4 horas), estes são mais utilizados como indutores de sono; de ação intermediária: alprazolam (6-12 horas), bromazepam (8-19 horas); e os de longa ação: diazepam (20-40 horas), flurazepam (40-120 horas) muito utilizados em dose menores que as dos hipnóticos para o tratamento da ansiedade já que ficam mais tempo no organismo (OLIVEIRA; LOPES; CASTRO, 2015). O tempo que esses fármacos levam para serem metabolizados determinam o tempo de meia vida deles, ou seja, determina quanto tempo é necessário até que a concentração plasmática máxima desse fármaco reduza pela metade (LEONARDI; AZEVEDO; OLIVEIRA, 2017).

A procura pelos medicamentos é grande devido ao seu efeito sedativo que induz o sono em casos de desconforto por insônia. O uso abusivo deste tipo de medicamento pode fazer com que o usuário desenvolva dependência, levando à abstinência. A tendência ao desenvolvimento de dependência a psicofármacos é explicada através do efeito que este medicamento apresenta pela melhora dos sintomas de queixa de incômodo por parte do paciente, devido a alterações em seu comportamento (MACHADO et al., 2014).

Dependência a psicofármacos tem sua origem devido ao crescente diagnóstico de transtornos psiquiátricos da sociedade, o que facilita o crescente consumo pela disponibilidade de psicofármacos no mercado, em que os mais utilizados são os antidepressivos e os ansiolíticos. Essa dependência se dá pela grande procura de medicamentos que atuem mais prontamente nas condições de incômodo do paciente, como insônia e tensão muscular, proporcionando sensação de relaxamento, tanto físico quanto mental (NAPOLEÃO et al., 2016).

O uso excessivo se dá, entre outros fatores, pelas prescrições que podem nem sempre ser adequadas a real condição apresentada pelo paciente (FEGADOLLI et al., 2019). A frequência do uso desses medicamentos por um período superior a três meses, tende a levar ao uso crônico (DIEL, 2020), o que pode desencadear, além da dependência, em abstinência e reações adversas significativas, levando o paciente a desenvolver desde déficit de memória a dificuldade nas funções psicomotoras (FERNANDES et al., 2020). O aumento das prescrições deste tipo de medicamento por parte dos médicos acaba por contribuir para o potencial de abuso de psicofármacos, devido a um aumento da dose necessária (DIEL, 2020).

Além disso, a automedicação e o uso indiscriminado de ansiolíticos podem resultar em efeitos colaterais significativos, incluindo sedação excessiva, comprometimento cognitivo e alterações no humor (MOREIRA; BORJA, 2018). Esses efeitos adversos não apenas afetam a qualidade de vida dos pacientes, mas também podem levar a complicações mais sérias, como quedas e acidentes, especialmente em populações vulneráveis, como os idosos.

Em suma, embora os benzodiazepínicos sejam eficazes no tratamento da ansiedade, é fundamental que tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes estejam cientes dos efeitos adversos associados a esses medicamentos, promovendo assim um uso mais seguro e racional.

2.2 O uso indiscriminado de benzodiazepínicos

De acordo com Lima et al. (2020), um dos problemas mais significativos é a prescrição inadequada desses medicamentos, frequentemente realizada por médicos que não têm formação específica em saúde mental. Estudos mostram que a maioria das prescrições de benzodiazepínicos é feita por médicos clínicos gerais, que podem não ter o conhecimento necessário para tratar adequadamente os transtornos mentais. Por exemplo, uma pesquisa revelou que 61,2% das prescrições foram feitas por clínicos gerais, enquanto apenas 9,4% foram feitas por psiquiatras.

Muitos médicos admitem que prescrevem benzodiazepínicos, mas reconhecem que têm conhecimento limitado sobre como tratar os sinais e sintomas de transtornos de saúde mental. Isso aumenta o risco de reações adversas e interações medicamentosas que podem não ser identificadas (NASCIMENTO et al., 2022).

De acordo com Matoso e Moura (2018), o uso crônico de benzodiazepínicos pode levar à dependência química, um problema que é frequentemente subestimado tanto por profissionais de saúde quanto pela população em geral. A falta de orientação adequada durante a dispensação contribui para o uso abusivo, pois muitos pacientes não são informados sobre os riscos de dependência e os efeitos adversos associados ao uso prolongado.

Existe uma tendência na sociedade de superestimar a eficácia dos medicamentos e subestimar a importância do tratamento psicológico. Isso resulta em um uso excessivo de benzodiazepínicos, com muitos pacientes acreditando que a medicação é a única solução para seus problemas de saúde mental, em detrimento de abordagens terapêuticas que poderiam ser mais eficazes (FERNANDES, SANTOS e MENDONÇA, 2023).

Seguindo o que foi escrito por Cunha e Quintillio (2023), a ausência de profissionais farmacêuticos e de saúde mental nas Unidades Básicas de Saúde compromete a qualidade do atendimento e a orientação aos pacientes. A falta de uma equipe multidisciplinar pode levar a uma fragmentação do cuidado, dificultando o acesso a tratamentos adequados e à educação sobre o uso seguro de medicamentos.

Lopes et al. (2013) discutem as características, indicações, vantagens e desvantagens dos benzodiazepínicos, enfatizando que “os benzodiazepínicos são frequentemente utilizados no tratamento da ansiedade, mas seu uso deve ser monitorado devido ao risco de dependência”.

Esses problemas evidenciam a necessidade de uma abordagem mais integrada e informada no manejo do uso de benzodiazepínicos, visando a promoção da saúde mental e a prevenção de complicações associadas ao seu uso inadequado.

2.3 O papel do farmacêutico

A importância dos farmacêuticos no sistema de saúde é indiscutível, especialmente no contexto do uso de medicamentos, incluindo fitoterápicos. Os farmacêuticos desempenham um papel crucial na promoção do uso seguro e eficaz de medicamentos, atuando como educadores, conselheiros e supervisores na terapia medicamentosa. Sua formação especializada permite que eles identifiquem e gerenciem potenciais interações medicamentosas, efeitos adversos e problemas relacionados ao uso de medicamentos, contribuindo assim para a saúde e segurança dos pacientes.

De acordo com Cunha e Quintillio (2023), os farmacêuticos devem fornecer informações claras sobre o uso adequado dos benzodiazepínicos, incluindo dosagem, duração do tratamento e potenciais efeitos adversos. Essa educação é fundamental para que os pacientes compreendam os riscos associados ao uso inadequado e à automedicação, uma vez que a falta de conhecimento pode levar ao uso abusivo e crônico desses fármacos.

A presença de farmacêuticos nas Unidades Básicas de Saúde é essencial para garantir que a dispensação de medicamentos seja feita de forma responsável. Eles devem verificar se a prescrição é adequada e se o paciente está ciente das instruções de uso, evitando a entrega de medicamentos sem a devida orientação. A falta de orientação durante a dispensação pode resultar em um uso inadequado dos benzodiazepínicos (LOPES e BEZERRA, 2019).

Os farmacêuticos podem monitorar o uso de benzodiazepínicos e identificar sinais de abuso ou dependência. Isso pode incluir a observação de padrões de uso que não correspondem às indicações médicas ou a solicitação frequente de refis sem justificativa adequada, o que é uma preocupação crescente na prática clínica.

Trabalhar em conjunto com médicos e outros profissionais de saúde para desenvolver protocolos de tratamento que priorizem abordagens não farmacológicas para o manejo da ansiedade e insônia. Isso pode incluir terapia cognitivo-comportamental e outras intervenções que não dependem de medicamentos, potencializando a efetividade do tratamento (FREITAS et al., 2022).

Os farmacêuticos podem participar da formulação e implementação de políticas de saúde que visem a redução do uso inadequado de benzodiazepínicos, como campanhas de conscientização sobre os riscos do uso excessivo e a importância de alternativas terapêuticas. A conscientização e educação da população são essenciais para mudar a percepção sobre o uso de medicamentos e promover tratamentos mais adequados (FERNANDES, SANTOS e MENDONÇA, 2023).

2.4 Fitoterápicos

Os fitoterápicos são medicamentos derivados de plantas que têm sido utilizados ao longo da história para tratar diversas condições de saúde, incluindo transtornos de ansiedade. De acordo com Ferreira (2023), “os fitoterápicos são preparados que utilizam partes de plantas, como folhas, raízes e flores, e são indicados para o tratamento de sintomas relacionados à ansiedade, insônia e estresse”. Eles são frequentemente utilizados como alternativas ou complementos aos tratamentos farmacológicos convencionais, oferecendo uma abordagem mais natural e, em muitos casos, com menos efeitos colaterais.

Os fitoterápicos são utilizados no tratamento de transtornos de ansiedade devido às suas propriedades terapêuticas, que podem atuar em diferentes mecanismos biológicos. Segundo Passos (2023), “os fitoterápicos possuem compostos bioativos que podem modular a atividade de neurotransmissores, como o GABA, promovendo um efeito ansiolítico”. Esses medicamentos naturais são frequentemente preferidos por pacientes que buscam alternativas com menos efeitos colaterais em comparação aos tratamentos convencionais, como os benzodiazepínicos.

Bortoluzzi et al. (2020) mencionam que “plantas medicinais, como a Passiflora incarnata, podem ser indicadas como alternativas fitoterápicas para o tratamento da ansiedade, embora também apresentem potenciais reações adversas”.

A necessidade de desmame gradual é outro ponto crucial abordado por Fávero, Sato e Santiago (2017), que afirmam que “a interrupção abrupta do uso de benzodiazepínicos pode resultar em sintomas de abstinência, como ansiedade exacerbada, insônia e convulsões”. Portanto, a supervisão médica é essencial para garantir uma transição segura para alternativas terapêuticas, como fitoterápicos, que também devem ser utilizados com cautela devido ao potencial de reações adversas.

A utilização de fitoterápicos na prática clínica ainda enfrenta resistência, especialmente em contextos em que a medicina convencional predomina. Segundo Fintelmann e Weiss (2010), a prescrição de fitoterápicos pode ser inadequada em certas situações, como no tratamento primário do câncer, onde medicamentos sintéticos são mais eficazes. Essa resistência pode ser atribuída à falta de conhecimento e à percepção de que os fitoterápicos não são tão eficazes quanto os tratamentos convencionais, levando muitos profissionais a optarem por benzodiazepínicos e outras classes de medicamentos que, embora eficazes, podem apresentar riscos significativos de dependência e efeitos colaterais.

A capacitação dos profissionais de saúde é um fator crucial para a integração de fitoterápicos na prática clínica. De acordo com Matos (2002), a colaboração entre médicos, farmacêuticos e agrônomos é essencial para garantir o uso seguro e eficaz das plantas medicinais. No entanto, a formação inadequada e a falta de cursos de atualização sobre fitoterapia resultam em um conhecimento limitado entre os profissionais, que muitas vezes se sentem mais confortáveis em prescrever benzodiazepínicos, mesmo sabendo dos riscos associados ao seu uso prolongado. Essa situação evidencia a necessidade de uma educação continuada que aborde tanto os benefícios quanto as limitações dos fitoterápicos.

Segundo Schulz, Hänsel e Tyler (2002), a falta de formação específica em fitoterapia nos currículos de graduação e a ausência de programas de educação continuada resultam em um conhecimento superficial sobre as propriedades e indicações das plantas medicinais. Essa lacuna educacional não apenas dificulta a confiança dos profissionais em recomendar fitoterápicos, mas também gera insegurança em relação à dosagem, interações medicamentosas e possíveis efeitos adversos. Como resultado, muitos profissionais optam por tratamentos convencionais, como os benzodiazepínicos, que, embora amplamente utilizados, podem levar a complicações sérias, como a dependência. Portanto, a capacitação adequada é fundamental para que os profissionais se sintam seguros e informados ao integrar fitoterápicos em suas práticas, promovendo uma abordagem mais holística e diversificada no cuidado à saúde.

A crescente busca por tratamentos alternativos e complementares, especialmente no contexto de transtornos de ansiedade, tem levado a um aumento significativo no uso de fitoterápicos. Esses produtos, que são derivados de plantas e possuem propriedades farmacológicas, são frequentemente vistos como opções mais seguras e acessíveis em comparação com medicamentos sintéticos, como os benzodiazepínicos. No entanto, a utilização de fitoterápicos não é isenta de riscos, e a atenção farmacêutica se torna um elemento crucial para garantir que esses tratamentos sejam utilizados de maneira segura e eficaz.

Um dos fitoterápicos mais utilizados para o tratamento da ansiedade é a Passiflora incarnata, que tem demonstrado eficácia e segurança terapêutica. No entanto, mesmo produtos naturais podem ter efeitos colaterais e interações com outros medicamentos. Moreira e Borja (2018) enfatizam que “os farmacêuticos têm a responsabilidade de educar os pacientes sobre os benefícios e riscos dos fitoterápicos, além de monitorar possíveis interações com outros medicamentos que o paciente esteja utilizando”.

2.4.1 Passiflora

A Passiflora incarnata, comumente conhecida como flor-de-maracujá, é uma planta trepadeira nativa da América do Norte e Central. Esta planta tem sido utilizada na fitoterapia por séculos devido às suas propriedades medicinais. A Passiflora é especialmente reconhecida por suas qualidades calmantes e sedativas, sendo frequentemente empregada no tratamento de condições como ansiedade, insônia e estresse (PEREIRA, 2014).

Passiflora incarnata é amplamente utilizada na prática clínica para tratar transtornos de ansiedade e distúrbios do sono. Estudos indicam que a planta pode ser eficaz na redução dos sintomas de ansiedade, proporcionando alívio sem os efeitos colaterais frequentemente associados a medicamentos convencionais (ASSIS et al., 2022).

Os compostos químicos presentes na Passiflora, como alcaloides, flavonoides e ácido gama-aminobutírico (GABA), são responsáveis por suas propriedades terapêuticas. O GABA, um neurotransmissor inibitório, atua no sistema nervoso central, promovendo um efeito calmante e relaxante. Além disso, a apigenina, um flavonoide encontrado na planta, tem sido associada à atividade agonista nos receptores benzodiazepínicos, que são os mesmos ativados por medicamentos ansiolíticos, como o Diazepam (LOPES et. al., 2017).

Embora a Passiflora incarnata apresente um potencial significativo no tratamento da ansiedade e outros distúrbios, seu uso deve ser sempre orientado por um profissional de saúde. Isso é crucial para evitar interações com outros medicamentos e garantir a segurança do paciente. A pesquisa continua a explorar os benefícios e mecanismos de ação da Passiflora, solidificando sua posição como uma opção viável na fitoterapia moderna.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O relacionamento entre farmacêuticos e pacientes é fundamental para garantir a segurança e a eficácia no uso de medicamentos, incluindo fitoterápicos. A atuação proativa dos farmacêuticos, através da educação, monitoramento e promoção do uso racional de medicamentos, é essencial para minimizar riscos e maximizar benefícios. A colaboração interprofissional e a conscientização sobre os perigos da automedicação são igualmente importantes. Em um cenário onde a ansiedade e outros transtornos relacionados estão em ascensão, a presença de farmacêuticos bem informados e engajados pode fazer uma diferença significativa na saúde e bem-estar dos pacientes, promovendo um tratamento mais seguro e eficaz.

A análise do uso contínuo e indiscriminado de benzodiazepínicos revela uma problemática complexa que envolve múltiplos fatores, desde a prescrição inadequada até a falta de conscientização sobre os riscos associados a esses medicamentos. Nesse contexto, a atuação dos farmacêuticos se torna essencial para mitigar os efeitos adversos e promover um uso mais racional e seguro desses fármacos.

Os farmacêuticos, como profissionais de saúde com expertise em medicamentos, desempenham um papel crucial na educação e orientação dos pacientes sobre o uso adequado de benzodiazepínicos. Eles são responsáveis por fornecer informações claras sobre dosagens, duração do tratamento e potenciais efeitos colaterais, ajudando a prevenir a automedicação e o uso abusivo. Além disso, sua presença nas Unidades Básicas de Saúde é fundamental para garantir que a dispensação de medicamentos seja feita de forma responsável, com a devida supervisão e orientação.

Outro aspecto importante da atuação dos farmacêuticos é a colaboração interdisciplinar com médicos e outros profissionais de saúde. Essa colaboração é vital para desenvolver protocolos de tratamento que priorizem abordagens não farmacológicas, como terapias psicológicas, que podem ser mais eficazes no manejo de condições como ansiedade e insônia. A integração do cuidado e a presença de uma equipe multidisciplinar nas unidades de saúde são essenciais para oferecer um atendimento mais completo e eficaz aos pacientes.

Por fim, os farmacêuticos também têm um papel ativo na promoção de políticas de saúde que visem a redução do uso inadequado de benzodiazepínicos. Isso inclui a participação em campanhas de conscientização que abordem os riscos do uso excessivo e a importância de alternativas terapêuticas. A educação da população e a conscientização sobre a saúde mental são fundamentais para mudar a percepção sobre o uso de medicamentos e promover tratamentos mais adequados.

Em suma, a atuação dos farmacêuticos é indispensável na luta contra o uso indiscriminado de benzodiazepínicos, contribuindo para a promoção da saúde mental e o bem-estar da população. Através de uma abordagem informada e colaborativa, é possível enfrentar os desafios associados a esse tema e garantir um cuidado mais seguro e eficaz para os pacientes.

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