REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411241304
Manoel Silva Borges1
Carla Neves Lasmar1
Sizino Torceira da Costa Filho1
Erison Renato Fleury Pinheiro1
Rodrigo Queiroz de Lima2
RESUMO
A automedicação refere-se ao uso de medicamentos sem a supervisão ou prescrição de um profissional de saúde. Essa prática, comum entre a população em geral, também é observada entre profissionais da saúde, que, apesar de seu conhecimento, frequentemente recorrem a medicamentos sem orientação adequada. O objetivo do estudo é investigar a prática da automedicação entre profissionais de saúde, com foco na identificação dos principais fatores que contribuem para esse comportamento e no papel do farmacêutico na prevenção e promoção de práticas seguras de uso de medicamentos. Para isso foi realizada uma revisão bibliográfica utilizando as bases de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América (MEDLINE), National Center For Biotechnology Information (NCBI – PUBMED), considerando publicações no período de 2014 a 2024. Os sete estudos analisados sobre a automedicação entre profissionais de saúde indicam uma alta prevalência dessa prática, que é comum e aceita entre médicos, enfermeiros e farmacêuticos. Diversos fatores motivam a automedicação, como a busca por alívio rápido de sintomas autodiagnosticados, a pressão do tempo durante o atendimento, a demora em consultas médicas e a influência de familiares e amigos. Entre os principais medicamentos utilizados na automedicação, destacam-se analgésicos, anti-inflamatórios, antitérmicos e medicamentos para o tratamento de doenças gastrointestinais, como antiácidos. Esses fármacos são frequentemente escolhidos por serem de fácil acesso e por sua eficácia percebida em situações de mal-estar. Esses achados revelam a complexidade do tema e a urgência de medidas para mitigar os riscos associados à automedicação entre os profissionais da saúde.
Palavras-chaves: Automedicação. Profissionais de Saúde. Farmacêuticos.
ABSTRACT
Self-medication refers to the use of medications without the supervision or prescription of a healthcare professional. This practice, common among the general population, is also observed among healthcare professionals, who, despite their knowledge, often resort to medications without adequate guidance. The objective of the study is to investigate the practice of self-medication among healthcare professionals, focusing on identifying the main factors that contribute to this behavior and on the role of the pharmacist in preventing and promoting safe medication use practices. For this purpose, a bibliographic review was carried out using the databases of the Scientific Electronic Library Online (SciELO), National Library of Medicine of the United States of America (MEDLINE), National Center for Biotechnology Information (NCBI – PUBMED), considering publications from 2014 to 2024. The seven studies analyzed on self-medication among healthcare professionals indicate a high prevalence of this practice, which is common and accepted among physicians, nurses, and pharmacists. Several factors motivate self-medication, such as the search for rapid relief from self-diagnosed symptoms, time pressure during care, delays in medical appointments, and the influence of family and friends. Among the main medications used in self-medication are analgesics, anti-inflammatories, antipyretics, and medications for the treatment of gastrointestinal diseases, such as antacids. These drugs are often chosen because they are easily accessible and because of their perceived effectiveness in situations of discomfort. These findings reveal the complexity of the issue and the urgency of measures to mitigate the risks associated with self-medication among health professionals.
Keywords: Self-medication. Health professionals. Pharmacists.
1. INTRODUÇÃO
A automedicação é definida como a prática de consumir medicamentos sem a orientação ou prescrição de um profissional de saúde. Essa prática, bastante difundida entre a população em geral, apresenta riscos consideráveis, como reações adversas, interações medicamentosas e o agravamento de doenças. Quando se trata de profissionais de saúde, a situação ganha contornos ainda mais preocupantes devido ao acesso facilitado a medicamentos e ao conhecimento técnico que, paradoxalmente, pode incentivar a automedicação (Castro, 2016).
Pesquisas indicam que a prevalência da automedicação entre os profissionais de saúde é alta. Um estudo realizado no Brasil revelou que cerca de 76% dos médicos e enfermeiros admitiram ter se automedicado nos últimos seis meses (Silva; Lima, 2019). Outro estudo conduzido na Índia mostrou que 87% dos profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e farmacêuticos, praticavam a automedicação (Patel; Sharma, 2020). Na Europa, uma pesquisa realizada na Espanha identificou que 68% dos médicos e enfermeiros se automedicavam regularmente (González; Ramírez, 2018). Esses índices alarmantes refletem uma tendência global e sugerem a necessidade de intervenção.
As motivações para a automedicação entre profissionais de saúde variam. A pressão do trabalho, o acesso fácil a medicamentos, a confiança em seus próprios conhecimentos e a falta de tempo para consultar outros profissionais são fatores frequentemente citados. Além disso, a cultura de autocuidado prevalente no setor de saúde pode incentivar essa prática. Contudo, a automedicação indiscriminada pode levar a consequências graves, como a resistência antimicrobiana, efeitos adversos e erros terapêuticos (Cavalcante, 2023).
O papel do farmacêutico nesse contexto é crucial. Como especialistas em medicamentos, os farmacêuticos possuem o conhecimento necessário para orientar sobre o uso racional de medicamentos e prevenir a automedicação inadequada. A educação continuada, a promoção de campanhas de conscientização e a implementação de protocolos rígidos de dispensação de medicamentos são algumas das estratégias que podem ser adotadas (Brito, 2010).
Portanto, sobre o uso racional de medicamentos e identificação dos principais fatores que contribuem para a automedicação entre profissionais da saúde o objetivo do estudo é investigar a prática da automedicação entre profissionais de saúde além de elencar o papel do farmacêutico na prevenção e promoção de práticas seguras de uso de medicamentos
2. METODOLOGIA
2.1 Delineamento experimental
Este é um estudo de revisão de literatura, com abordagem exploratória e descritiva, fundamentado em bibliotecas virtuais, configurando a base de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América (MEDLINE), National Center For Biotechnology Information (NCBI – PUBMED) sobre o tema “automedicação entre profissionais de saúde e o papel do farmacêutico”, considerando publicações no período de 2014 a 2024.
A pesquisa foi realizada no período de julho a agosto de 2024, utilizando como fonte os seguintes descritores: “automedicação”, “profissionais de saúde”, “farmacêuticos”. Para a pesquisa nas bases de dados Pubmed, Medline e SciELO, foram utilizados descritores na língua inglesa, tais como: “self-medication”, “healthcare professionals”, “pharmacists”.
2.2 Critérios de inclusão e exclusão
Foram incluídos artigos científicos, revisões, e estudos relacionados à automedicação entre profissionais de saúde; fatores que contribuem para esta prática; e o papel do farmacêutico, publicados no período de 2014 a 2024, em português e inglês.
Foram excluídos artigos que não apresentem fatores, impacto da cultura de autocuidado e análise do papel do farmacêutico na promoção de práticas seguras, bem como artigos em outros idiomas que não fossem português ou inglês. Também foram excluídos artigos que não permitiram acesso ao texto completo e artigos duplicados
2.3 Análise de dados
Para a análise dos dados, os artigos selecionados passaram por interpretação textual e coerência acerca do tema proposto, configurando a leitura seletiva. Posteriormente os resultados dos estudos foram sintetizados em uma planilha do Microsoft Excel, contendo autor, ano, tipo de estudo e resultados, buscando compreender sua relevância. Em sequência, foram reunidos e sistematizados os dados dos estudos primários, estabelecendo assim, a análise crítica com a finalidade de gerar novos conhecimentos sobre a automedicação entre profissionais de saúde e o papel do farmacêutico
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a aplicação dos descritores “automedicação”, “profissionais de saúde”, “farmacêuticos”; e “self-medication”, “healthcare professionals”, “pharmacists”, nas referidas bases de dados, os estudos abordam a prevalência, os fatores associados e os principais medicamentos utilizados na automedicação no Brasil. Eles também discutem o papel dos farmacêuticos e profissionais de saúde na orientação e prevenção desse comportamento. O quadro 1 a seguir, oferece uma síntese dos principais estudos que investigaram a prática da automedicação entre profissionais de saúde, destacando metodologias e resultados. Essa prática, embora comum, revela um paradoxo preocupante: profissionais que conhecem os riscos envolvidos ainda recorrem ao uso de medicamentos sem prescrição, frequentemente devido à confiança em seu próprio conhecimento técnico e à facilidade de acesso a esses produtos no ambiente de trabalho.
Quadro 01. Artigos selecionados pela presente Revisão | ||||
Autor | Ano | Tipo de estudo | Principais Resultados | Obs. |
BRITO | 2010 | Revisão de Literatura | A automedicação é comum entre médicos e enfermeiros, com destaque para o uso inadequado de medicamentos. Os dados mostram que profissionais de saúde também podem ser vulneráveis aos impactos negativos da automedicação. | |
BITTAR; GONTIJO | 2015 | Trata-se de uma pesquisa quantitativa, cujo instrumento de coleta de dados adotado foi um questionário estruturado sobre os hábitos de consumo de medicamentos sem prescrição médica | A automedicação apareceu como uma prática comum entre as enfermeiras, justificando-se pela oferta e a disponibilidade dos medicamentos encontrados por esta categoria profissional | https://www.researchgate.net/publication/312083786_AUTOMEDICACAO_ENTRE_AS_TRABALHADORAS_DE_ENFERMAGEM_DE_UM_HOSPITAL_DE_UBERABA |
GALVAN; DAL PAI; ECHEVARRÍA-GUANILO | 2017 | Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, seguindo cinco etapas: identificação do problema, pesquisa bibliográfica, avaliação dos dados, análise dos dados e a apresentação da revisão de literatura | A análise dos artigos permitiu identificar que a automedicação é prática frequente e aceita entre profissionais da saúde, com destaque para a categoria médica, mencionados na maioria das publicações (n=8) e com as maiores prevalências. O consumo de fármacos que não exigem prescrição foi acentuado em farmacêuticos e profissionais de enfermagem. | https://periodicos.ufmg.br/index.php/reme/article/view/50046/41066#toc |
CARDOSO; SILVA; MAGALHAES et. al | 2020 | Estudo descritivo, quantitativo e exploratório, realizado em uma unidade de pronto atendimento e em unidades básicas de saúde do município. | O estudo mostrou que a prática da automedicação é comum entre a maioria dos profissionais de enfermagem. Os principais fatores que favorecem o uso irracional de medicamentos foram a busca para otimizar os sintomas das doenças autodiagnosticadas, a demora do atendimento nos serviços de saúde e indicação de familiares. | https://acervomais.com.br/index.php/saude/article/view/4761 |
DAGNEW DIANE | 2020 | Um delineamento de estudo transversal foi empregado usando uma técnica de amostragem aleatória simples para recrutar os participantes do estudo | O estudo atual mostrou que a prática de SM é comum entre profissionais de saúde. A não seriedade da doença foi o principal motivo para praticar a automedicação. O período desde a última graduação, as horas de trabalho por semana e o conhecimento sobre a classificação de medicamentos sem receita foram fatores significativamente associados à prática de automedicação | https://www.tandfonline.com/doi/full/10.2147/IDR.S257667#d1e1457 |
MOHAMMED; TSEGA | 2021 | Um estudo transversal baseado em instalações foi conduzido usando um questionário estruturado entre profissionais de saúde que trabalham no Debre Markos Compreensível Specialized Hospital de 10 a 25 de outubro de 2020 | Mais de dois terços dos profissionais de saúde praticavam automedicação e relataram a consequência negativa da automedicação. O preditor da automedicação foi a profissão de farmacêutico. | https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7886097/ |
CAVALCANTE; SILVA; QUINTILIO | 2023 | Estudo observacional transversal com entrevistas domiciliares | Profissionais de saúde, de ambos os sexos e abaixo de 50 anos, automedicam-se frequentemente, acreditando que seu conhecimento profissional os qualifica para isso. |
De forma abrangente, esses estudos destacam que a automedicação entre profissionais de saúde é influenciada por múltiplos fatores de cunho social, ocupacional e psicossocial.
3.1 Prevalência e Grupos Afetados
A automedicação entre profissionais de saúde revela uma preocupação crescente, especialmente quando se observam taxas elevadas de prevalência em categorias específicas e fatores que tornam certos grupos mais propensos a essa prática. Diversos estudos destacam essa questão, identificando tanto os grupos mais afetados quanto às motivações que sustentam o uso frequente de medicamentos sem prescrição médica.
Galvan, Dal Pai e Echevarría-Guanilo (2017) conduziram uma revisão integrativa que mostrou que a automedicação é particularmente comum entre médicos, sendo essa categoria a mais destacada em 8 dos artigos analisados. Profissionais de enfermagem e farmacêuticos também foram identificados como grupos com altas taxas de automedicação, especialmente para medicamentos de venda livre. A ampla aceitação da automedicação entre esses grupos sugere uma naturalização do comportamento, especialmente em ambientes onde há acesso facilitado aos medicamentos.
Outro estudo relevante é o de Mohammed & Tsega (2021), que realizou uma pesquisa transversal com profissionais de saúde de um hospital específico. Os resultados indicaram que mais de dois terços desses profissionais praticavam automedicação, sendo os farmacêuticos o grupo mais prevalente. Esse dado é significativo, uma vez que os farmacêuticos, devido ao conhecimento e ao fácil acesso aos medicamentos, têm uma tendência acentuada à automedicação, o que também os expõe a potenciais consequências adversas.
Em um contexto mais específico, Cavalcante, Silva e Quintilio (2023) investigaram o perfil de profissionais de saúde com menos de 50 anos, observando que essa faixa etária, independentemente do sexo, apresenta uma alta incidência de automedicação. Os autores sugerem que esses profissionais, confiantes em seu conhecimento clínico, veem-se qualificados para tratar seus próprios sintomas, um comportamento que reforça a prevalência da automedicação e pode mascarar potenciais riscos de interações medicamentosas ou de uso inadequado.
Esses estudos indicam que médicos, farmacêuticos e profissionais de enfermagem estão entre os grupos com maior prevalência de automedicação, destacando a necessidade de intervenções específicas para mitigar esse comportamento. Além disso, o estudo de fatores como faixa etária e acesso ao conhecimento farmacológico reforça a importância de campanhas de conscientização e políticas institucionais voltadas para o uso responsável de medicamentos entre esses profissionais.
3.2 Tipos de Medicamentos e Riscos
A prática da automedicação entre profissionais de saúde envolve, frequentemente, o uso de medicamentos específicos e apresenta riscos importantes à saúde desses indivíduos. Brito (2010), em sua revisão de literatura, destaca que médicos e enfermeiros recorrem com frequência a analgésicos e anti-inflamatórios, muitas vezes de maneira inadequada. Esse comportamento pode levar a consequências sérias, como reações adversas e o mascaramento de condições clínicas que necessitam de um diagnóstico apropriado.
Galvan, Dal Pai e Echevarría-Guanilo (2017) corroboram esses achados, mostrando que a automedicação entre profissionais da saúde inclui medicamentos de venda livre como analgésicos, anti-inflamatórios e ansiolíticos, especialmente entre farmacêuticos e enfermeiros. Os autores alertam que o uso desses fármacos sem orientação pode resultar em dependência e em efeitos colaterais graves, além de, em alguns casos, agravar as condições autodiagnosticadas.
Cardoso, Silva e Magalhães et al. (2020), em um estudo descritivo com profissionais de enfermagem, observam o uso recorrente de analgésicos e antitérmicos para aliviar sintomas sem prescrição. Eles destacam que os principais riscos incluem o uso irracional de medicamentos, facilitado pelo autodiagnóstico e pela dificuldade de acesso rápido a consultas médicas. Esse comportamento reflete uma busca por alívio imediato de sintomas, o que pode gerar complicações no longo prazo.
Já Mohammed e Tsega (2021) enfatizam que os farmacêuticos, devido ao fácil acesso a medicamentos, também apresentam altos índices de automedicação com analgésicos e anti-inflamatórios. No entanto, os autores alertam para consequências perigosas, como o desenvolvimento de resistência medicamentosa, especialmente diante do uso contínuo e não supervisionado.
Esses estudos apontam que analgésicos, anti-inflamatórios e ansiolíticos estão entre os medicamentos mais utilizados na automedicação por profissionais de saúde. Os riscos associados, como dependência, resistência medicamentosa e o mascaramento de sintomas, reforçam a necessidade de ações educativas e políticas institucionais que promovam o uso seguro e consciente de medicamentos entre esses profissionais.
3.3 O Papel do Farmacêutico na Prevenção e Orientação
Menezes (2021) e Silva (2021) apontam a importância dos farmacêuticos na prevenção e orientação do uso racional de medicamentos. Embora Menezes ressalte que a automedicação não seja diretamente uma responsabilidade do farmacêutico, esse profissional desempenha um papel essencial na educação do paciente, oferecendo informações sobre posologia, interações medicamentosas e possíveis riscos do uso inadequado. O estudo de Menezes (2021) ainda reforça que o conhecimento técnico do farmacêutico é uma ferramenta subutilizada na promoção do uso racional de medicamentos.
Além disso, Silva (2021) destaca que os farmacêuticos podem atuar como mediadores no processo de automedicação, incentivando o uso seguro e eficaz dos medicamentos. A presença ativa desses profissionais em farmácias comunitárias pode ajudar a reduzir a automedicação inadequada ao educar os pacientes sobre os riscos e os benefícios dos medicamentos que estão consumindo sem prescrição.
3.4 Implicações para a Saúde Pública
Os estudos sugerem que a automedicação, embora comum, representa um risco significativo à saúde pública, especialmente em contextos onde o acesso a serviços médicos é limitado. A combinação de dados epidemiológicos de Arrais (2016) com as análises de Menezes (2021) e Silva (2021) evidencia a necessidade de políticas públicas mais eficazes que não apenas aumentem o acesso à saúde, mas também promovam uma maior conscientização sobre os riscos da automedicação.
Além disso, os resultados de Cavalcante (2023) e Brito (2010) alertam para o fato de que até mesmo os profissionais de saúde não estão isentos dessa prática. Isso sugere uma possível lacuna na formação desses profissionais, que pode ser abordada com mais ênfase no uso racional de medicamentos durante sua educação.
A automedicação é uma prática comum no Brasil, afetando tanto a população em geral quanto os profissionais de saúde. Entre os fatores que contribuem para essa conduta estão a dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a percepção de que o conhecimento profissional pode legitimar o uso de medicamentos sem orientação. Contudo, essa prática traz riscos significativos, como reações adversas e interações medicamentosas, que podem prejudicar a saúde dos usuários.
4. DISCUSSÃO
A automedicação é uma prática comum entre profissionais de saúde em todo o mundo, uma tendência preocupante dada a sua formação e conhecimento em farmacologia e práticas médicas. Estudos indicam que os profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e farmacêuticos, frequentemente recorrem à automedicação devido ao fácil acesso a medicamentos, ao conhecimento técnico e à pressão do trabalho.
A análise dos estudos evidencia que a automedicação é uma prática comum entre profissionais de saúde, com destaque para médicos, enfermeiros e farmacêuticos. Brito (2010) já havia destacado essa tendência, revelando a vulnerabilidade de médicos e enfermeiros aos riscos da automedicação, indicando que essa prática não é restrita à população geral, mas prevalente também entre aqueles que possuem conhecimento técnico sobre os medicamentos. Esse comportamento, conforme os achados, parece estar relacionado com a facilidade de acesso aos medicamentos, além da percepção de controle sobre os riscos envolvidos.
Bittar e Gontijo (2015) reforçam essa ideia ao mostrarem, em estudo quantitativo, que a automedicação entre enfermeiras é facilitada pela disponibilidade de medicamentos nos locais de trabalho, revelando uma normalização dessa prática entre profissionais de saúde. A análise de Galvan, Dal Pai e Echevarría-Guanilo (2017) expande a discussão, sugerindo que, além dos enfermeiros, farmacêuticos e médicos, também são predispostos à automedicação, particularmente de medicamentos que não exigem prescrição. Esse estudo traz uma contribuição importante ao indicar que a prática de automedicação é aceita e até normalizada entre profissionais da área, revelando uma cultura de autossuficiência no tratamento de sintomas.
A pesquisa de Cardoso, Silva e Magalhães (2020) aponta fatores que intensificam a prática, como a demora no atendimento nos serviços de saúde e a indicação de familiares. Esse achado destaca uma contradição interessante: embora trabalhem em ambientes com acesso aos recursos de saúde, esses profissionais ainda recorrem à automedicação como meio de contornar dificuldades no atendimento, um comportamento que também pode refletir o próprio estresse ocupacional e o desejo de manter a produtividade.
Estudos internacionais, como os de Dagnew e Diane (2020) e Mohammed e Tsega (2021), oferecem um panorama similar em outros contextos. Dagnew e Diane (2020) relacionaram a prática à falta de gravidade da doença e a outros fatores, como a carga de trabalho e o tempo desde a última graduação, o que sugere que, mesmo em diferentes realidades, a automedicação entre profissionais de saúde ocorre em razão de conveniências pessoais e conhecimento técnico. Mohammed e Tsega (2021), por sua vez, observam que o hábito está fortemente associado aos farmacêuticos, que, pela própria formação, têm acesso a medicamentos e conhecimento sobre suas aplicações, mas que frequentemente negligenciam os riscos de uso não supervisionado.
Por fim, Cavalcante, Silva e Quintilio (2023) reforçam a relevância desse comportamento entre profissionais de saúde com menos de 50 anos, motivados pela confiança em seu conhecimento profissional. No entanto, essa autoconfiança pode obscurecer a avaliação crítica dos riscos e das possíveis consequências da automedicação.
Esses achados indicam que a automedicação entre profissionais de saúde pode ser multifatorial, incluindo aspectos culturais, ocupacionais e psicossociais. A compreensão desses fatores é essencial para o desenvolvimento de estratégias de conscientização e de intervenções que promovam o uso racional de medicamentos, reduzindo a exposição desses profissionais aos riscos potenciais associados à automedicação.
5. CONCLUSÃO
Foi possível investigar a automedicação entre profissionais de saúde no Brasil, analisando os fatores que contribuem para esse comportamento e o papel do farmacêutico na prevenção e promoção de práticas seguras de uso de medicamentos.
A análise dos estudos sobre automedicação entre profissionais de saúde evidencia uma prática alarmante, com alta prevalência e riscos significativos associados ao uso inadequado de medicamentos. Embora esses profissionais tenham formação e conhecimento sobre farmacologia, muitos ainda recorrem à automedicação, impulsionados pela facilidade de acesso a medicamentos, autoconfiança em diagnósticos e a pressão do tempo para o atendimento.
Os estudos analisados revelam que, entre os fármacos mais comumente utilizados, destacam-se analgésicos, anti-inflamatórios, antitérmicos e medicamentos para distúrbios gastrointestinais, como antiácidos. Apesar de a experiência profissional ser um fator que poderia reduzir os riscos associados a essa prática, a realidade mostra que muitos profissionais ainda se automedicam, colocando-se em risco de reações adversas e interações medicamentosas.
Os dados indicam que essa prática não só afeta a saúde individual dos profissionais, mas também pode comprometer a qualidade do cuidado prestado à população. A automedicação é frequentemente justificada pela busca de alívio rápido para sintomas autodiagnosticados, o que reforça a necessidade de conscientização sobre os riscos envolvidos. A desinformação e a normalização dessa prática entre profissionais de saúde revelam um ponto crítico que deve ser abordado.
Nesse contexto, o papel do farmacêutico se torna fundamental na prevenção da automedicação. Os farmacêuticos podem atuar como agentes de mudança, promovendo o uso responsável de medicamentos por meio de orientações e intervenções educativas. A implementação de programas de capacitação e conscientização voltados para profissionais de saúde pode contribuir para uma abordagem mais segura em relação ao uso de fármacos.
Por fim, é essencial que haja um esforço conjunto entre instituições de saúde, universidades e associações profissionais para desenvolver estratégias que reduzam a automedicação entre profissionais de saúde. Ao fomentar uma cultura de responsabilidade e autocuidado, é possível melhorar não apenas a saúde dos profissionais, mas também a qualidade do atendimento oferecido à população, assegurando um sistema de saúde mais seguro e eficaz.
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1Discentes do curso de Farmácia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE/ SER EDUCACIONAL, MANAUS/AM.
2Docente do curso de Farmácia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE/ SER EDUCACIONAL, MANAUS/AM