ANALYSIS OF THE IMPACT OF ELECTRIC VEHICLES ON THE URBAN ELECTRICAL GRID
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411241232
José Rodrigo Santos Ferreira
Kessiane de Sousa Silva
Orientador: Prof. Edvan Carneiro Almeida
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto dos veículos elétricos (VEs) na rede elétrica urbana, com ênfase nas implicações para a infraestrutura, gestão da demanda e sustentabilidade. O aumento da adoção de VEs tem gerado preocupações sobre os efeitos na demanda de energia e na capacidade de suporte das redes elétricas urbanas existentes. A pesquisa foi conduzida por meio de uma abordagem qualitativa, com base em uma revisão da literatura atual sobre os impactos técnicos e econômicos dos VEs na infraestrutura elétrica, destacando o aumento da carga durante os picos de consumo e as oportunidades de integração com sistemas de recarga inteligente. Além disso, o estudo abordou estratégias de mitigação, como a utilização de recarga programada e a implementação de fontes de energia renováveis, visando reduzir a pressão sobre as redes elétricas. A análise de dados secundários, provenientes de fontes técnicas e científicas, indicou que, apesar dos desafios impostos pelo aumento da demanda por eletricidade, os VEs oferecem uma oportunidade significativa para a modernização das redes urbanas, especialmente quando associados a tecnologias emergentes e práticas sustentáveis. As conclusões ressaltam a necessidade de um planejamento adequado para a adaptação das infraestruturas elétricas, com o objetivo de garantir uma operação eficiente, resiliente e sustentável das redes urbanas no contexto do crescimento da mobilidade elétrica. O trabalho enfatiza que, com o uso de soluções inovadoras, como o carregamento inteligente e a integração com energias renováveis, é possível viabilizar a expansão da frota de VEs de maneira harmônica e sustentável para as cidades do futuro.
Palavras-chave: veículos elétricos, rede elétrica urbana, gestão da demanda, recarga inteligente, sustentabilidade, energias renováveis.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os veículos elétricos (VEs) têm ganhado destaque como uma solução promissora para a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a transição para um modelo de transporte mais sustentável. Com o aumento das vendas de carros elétricos e a crescente adoção de tecnologias de mobilidade elétrica, uma das questões emergentes que se coloca é o impacto desse novo padrão de consumo sobre as redes elétricas urbanas. As cidades, que já enfrentam desafios relacionados à crescente demanda por energia, agora se deparam com a necessidade de adaptar suas infra-estruturas para acomodar a carga adicional imposta pelo carregamento de milhares de veículos elétricos. (LIMA, 2021)
Este fenômeno coloca as redes elétricas urbanas sob pressão, principalmente no que diz respeito à sua capacidade de distribuição e à gestão do fornecimento de energia, que pode resultar em sobrecarga de transformadores, falhas no fornecimento e até mesmo na necessidade de novos investimentos em infraestrutura. Nesse contexto, surge uma série de desafios: o aumento na demanda de energia durante picos de carregamento, a distribuição desigual da carga entre diferentes áreas urbanas e o risco de interrupções no fornecimento, especialmente em cidades com redes já sobrecarregadas ou com infraestrutura envelhecida. (SILVA, 2021)
O principal argumento que fundamenta este artigo é que, para que os veículos elétricos possam desempenhar seu papel no processo de descarbonização do transporte, é imperativo que se desenvolvam soluções eficazes para mitigar o impacto na rede elétrica. Caso contrário, o potencial transformador dos carros elétricos pode ser prejudicado, ou mesmo comprometido, pela falta de preparo das infraestruturas urbanas para suportar a nova realidade de consumo energético.
Este estudo visa, portanto, realizar uma análise abrangente sobre o impacto dos veículos elétricos na rede elétrica urbana, por meio de uma revisão de literatura focada em estudos recentes, casos de sucesso e discussões de especialistas sobre o tema. Serão avaliadas as principais limitações enfrentadas pelas redes elétricas, bem como as abordagens adotadas por diferentes regiões para enfrentar esse desafio. Além disso, este trabalho buscará propor soluções viáveis para o carregamento seguro e eficiente dos veículos elétricos, minimizando o risco de sobrecarga e falhas no sistema elétrico.
O objetivo principal deste artigo é fornecer uma compreensão detalhada dos desafios envolvidos na integração dos veículos elétricos à rede elétrica urbana, identificar as áreas críticas que exigem atenção e propor direções que possam garantir o carregamento seguro desses veículos sem comprometer a estabilidade e a eficiência das redes elétricas urbanas.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA OU REVISÃO DA LITERATURA
2.1. O Crescimento dos Veículos Elétricos
O crescimento dos veículos elétricos (VEs) tem sido impulsionado por uma série de fatores interconectados, refletindo uma transformação profunda no setor de transporte e sua relação com a rede elétrica urbana. Inicialmente impulsionado pela crescente preocupação com as mudanças climáticas e a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, o mercado de veículos elétricos tem se expandido rapidamente, beneficiado pela evolução tecnológica das baterias, que tornou os carros elétricos mais acessíveis e eficientes. (DA SILVA, 2013)
A melhoria na infraestrutura de recarga, tanto pública quanto doméstica, também tem desempenhado um papel crucial, facilitando a adoção em massa desses veículos. Além disso, políticas públicas globais e incentivos governamentais têm sido determinantes para acelerar a transição para a mobilidade elétrica, como subsídios, isenções fiscais e metas de redução de emissões. No entanto, o crescimento exponencial dos VEs impõe novos desafios às redes elétricas urbanas, exigindo uma adaptação rápida da infraestrutura elétrica para suportar o aumento da demanda por energia, especialmente em horários de pico. (RAMOS, 2021)
A integração de soluções inteligentes, como carregamento inteligente (smart charging), e o potencial uso de carros elétricos como fontes de armazenamento de energia (V2G – Vehicle to Grid) podem ser essenciais para otimizar a gestão da carga na rede. Dessa forma, o desenvolvimento simultâneo da mobilidade elétrica e da infraestrutura de energia não apenas facilita a transição energética, mas também promove a criação de uma rede elétrica mais resiliente e sustentável, capaz de lidar com a crescente demanda sem comprometer a estabilidade do sistema. (VALENTE, 2017)
2.2. Impactos da Demanda de Energia
O impacto da crescente demanda de energia devido à adoção massiva de veículos elétricos (VEs) é um tema central no debate sobre a modernização das redes elétricas urbanas, uma vez que a integração desses veículos ao sistema energético exige uma análise detalhada sobre o uso e a distribuição da energia. Com o aumento do número de carros elétricos, especialmente nas áreas urbanas, a carga nas infraestruturas de distribuição de energia pode ser significativamente elevada, gerando desafios tanto em termos de capacidade de fornecimento quanto na necessidade de atualização das redes para garantir eficiência e estabilidade. (RODRIGUES, 2023)
Esse crescimento pode resultar em picos de demanda durante os horários de recarga, principalmente se o comportamento dos usuários não for adequadamente gerenciado, o que pode sobrecarregar os sistemas elétricos já existentes e levar a problemas de congestionamento nas linhas de transmissão e distribuição. Em contrapartida, o desenvolvimento de soluções como o carregamento inteligente (smart charging), que ajusta os horários e a intensidade da recarga com base na disponibilidade de energia, bem como a capacidade de os veículos elétricos atuarem como fontes de armazenamento de energia (através do conceito V2G – Vehicle to Grid), pode contribuir para equilibrar a carga na rede, otimizando a distribuição e reduzindo a necessidade de investimentos substanciais em novas infraestruturas. (LIU, 2013)
Além disso, a demanda crescente por eletricidade também coloca em evidência a necessidade de diversificar as fontes de geração de energia, priorizando fontes renováveis, como solar e eólica, para garantir que a eletrificação do transporte não resulte em um aumento das emissões de carbono, comprometendo os objetivos climáticos globais. Portanto, os impactos da demanda de energia associada à mobilidade elétrica exigem uma abordagem integrada que envolva não apenas a modernização das redes elétricas, mas também o desenvolvimento de políticas públicas, tecnologias inovadoras e práticas de gestão que assegurem a sustentabilidade do sistema energético como um todo. (ELIAS, 2023)
2.3. Modelos de Recarga Inteligente
Os modelos de recarga inteligente (smart charging) têm se consolidado como uma solução essencial para a integração eficiente dos veículos elétricos (VEs) à rede elétrica urbana, permitindo otimizar a distribuição de carga, minimizar picos de demanda e garantir a estabilidade do sistema elétrico. A recarga inteligente envolve a utilização de tecnologias avançadas de comunicação e controle para gerenciar os horários e a intensidade da recarga dos veículos de maneira dinâmica e adaptativa, considerando variáveis como a disponibilidade de energia renovável, a capacidade da rede e os padrões de consumo local. (DA SILVA, 2023)
Por exemplo, durante períodos de baixa demanda ou quando há uma maior oferta de energia renovável, o sistema pode incentivar o carregamento dos veículos, enquanto, em horários de pico, a recarga pode ser retardada ou ajustada para evitar sobrecargas nas linhas de transmissão. Além disso, os modelos de recarga inteligente são complementados pela utilização de sistemas de armazenamento em baterias, tanto no veículo quanto nas estações de recarga, permitindo uma gestão mais eficaz da energia disponível e facilitando a flexibilidade do sistema elétrico. (LEAL, 2020)
O conceito de recarga bidirecional (Vehicle-to-Grid, V2G), que permite que os veículos não apenas carreguem suas baterias, mas também devolvam energia para a rede quando necessário, é uma inovação fundamental nesse contexto, pois contribui para equilibrar a carga da rede, especialmente durante períodos de alta demanda ou de instabilidade na geração de energia. A implementação desses modelos exige a adoção de plataformas de gestão inteligentes que integrem dados em tempo real, algoritmos de previsão e controle automatizado, criando um sistema que se adapta constantemente às condições de oferta e demanda. (LEAL, 2020)
Nesse sentido, os modelos de recarga inteligente não apenas facilitam a integração dos VEs na rede elétrica, mas também representam um passo importante para a construção de um sistema energético mais resiliente, sustentável e eficiente, alinhado com os objetivos globais de descarbonização e de uso otimizado dos recursos renováveis.
2.4. Sustentabilidade e Energias Renováveis
A sustentabilidade e o uso de energias renováveis são pilares fundamentais na transição para a mobilidade elétrica e na modernização das redes elétricas urbanas, sendo aspectos cruciais para garantir que o crescimento dos veículos elétricos (VEs) não contribua para o aumento das emissões de gases de efeito estufa. A eletrificação do transporte, quando combinada com fontes de energia renováveis, como solar, eólica e hidrelétrica, oferece uma solução estratégica para reduzir a pegada de carbono do setor de transportes, historicamente dependente de combustíveis fósseis. (PIMENTEL, 2024)
Ao contrário dos veículos convencionais, que emitem CO₂ diretamente durante a combustão, os veículos elétricos podem ser alimentados por uma matriz elétrica mais limpa e sustentável, desde que a geração de eletricidade seja descentralizada e focada em fontes renováveis. Contudo, a expansão da mobilidade elétrica exige que a infraestrutura de recarga também seja planejada com uma visão sustentável, priorizando a instalação de pontos de carregamento em locais onde a energia renovável seja abundante e acessível, como parques solares ou eólicos. (CARDOSO, 2018)
Além disso, o conceito de “energia verde” se torna ainda mais relevante com a possibilidade de utilizar as baterias dos veículos como sistemas de armazenamento de energia (V2G), permitindo que os carros elétricos não apenas recebam energia da rede, mas também devolvam excedentes durante momentos de alta demanda, contribuindo para a estabilização da rede elétrica e maximizando o uso de fontes renováveis intermitentes. (DI SERIO, 2010)
A interdependência entre a sustentabilidade da mobilidade elétrica e a ampliação das energias renováveis exige, portanto, um esforço coordenado entre políticas públicas, inovação tecnológica e a criação de novas infraestruturas que integrem ambos os sistemas de maneira eficiente e resiliente. Essa sinergia não só favorece uma redução substancial das emissões de gases de efeito estufa, mas também potencializa a criação de um ciclo virtuoso de produção, armazenamento e consumo de energia limpa, essencial para alcançar as metas climáticas globais e promover uma economia de baixo carbono. (CARDOSO, 2024)
3. METODOLOGIA
A metodologia deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), intitulado “Análise do Impacto de Veículos Elétricos na Rede Elétrica Urbana”, será conduzida por meio de uma abordagem qualitativa, exploratória e descritiva. A natureza qualitativa da pesquisa visa explorar em profundidade os impactos e desafios da integração dos veículos elétricos (VEs) nas redes elétricas urbanas, sem a necessidade de quantificação direta dos dados, mas com uma análise focada na interpretação e compreensão dos fenômenos. A abordagem exploratória permitirá identificar novos aspectos e tendências relacionadas ao tema, enquanto a parte descritiva fornecerá um mapeamento detalhado do impacto dos VEs nas infraestruturas elétricas existentes. A pesquisa será dividida em duas etapas principais: a primeira, voltada para a revisão da literatura, e a segunda, focada na análise de dados sobre os impactos reais e as soluções aplicadas nas redes elétricas urbanas.
Na primeira etapa, será realizada uma revisão abrangente da literatura existente sobre a mobilidade elétrica, focando em artigos científicos, livros especializados, relatórios técnicos e publicações de organizações dedicadas ao estudo de energias renováveis, mobilidade urbana e sistemas de energia elétrica. Essa revisão permitirá estabelecer um referencial teórico sólido sobre o estado atual da mobilidade elétrica e seu impacto nas redes elétricas, abordando tanto os aspectos técnicos quanto os desafios ambientais e econômicos envolvidos. O levantamento bibliográfico também incluirá as principais soluções tecnológicas relacionadas à gestão da carga de veículos elétricos, como recarga inteligente e carregamento bidirecional (V2G), além de políticas públicas e incentivos que possam estimular a adoção de VEs em áreas urbanas.
A segunda etapa da pesquisa se concentrará na análise de dados secundários sobre o impacto real da adoção de veículos elétricos nas redes elétricas urbanas. A partir de dados extraídos de relatórios técnicos de empresas de energia e estudos de caso de cidades que já implementaram políticas de mobilidade elétrica em larga escala, serão investigados os efeitos do aumento da demanda por energia, as modificações no perfil de consumo e as estratégias adotadas para gerenciar a carga elétrica, como o uso de recarga inteligente e a implementação de infraestruturas de carregamento. Cidades como Oslo, Londres e São Paulo, que possuem políticas avançadas de mobilidade elétrica, servirão como base para estudos de caso, permitindo entender as práticas adotadas para integrar os VEs à rede elétrica de maneira eficiente e sustentável.
Os principais instrumentos de coleta de dados serão a pesquisa bibliográfica e a análise de relatórios técnicos. A pesquisa bibliográfica será a base para a construção do referencial teórico, enquanto a análise de relatórios técnicos de empresas de energia, órgãos reguladores e instituições de pesquisa proporcionará dados empíricos relevantes sobre o impacto dos VEs nas redes elétricas e as soluções tecnológicas aplicadas para mitigar os possíveis efeitos negativos, como sobrecarga da rede e falhas na distribuição de energia. Esses relatórios incluirão informações sobre o aumento da demanda por eletricidade, análise do comportamento dos consumidores de VEs e os investimentos necessários para adequação das infraestruturas de distribuição de energia.
Assim, a metodologia proposta permitirá uma compreensão ampla e detalhada dos impactos dos veículos elétricos nas redes elétricas urbanas, fornecendo uma visão crítica sobre as soluções tecnológicas e práticas de gestão necessárias para garantir uma integração eficiente e sustentável da mobilidade elétrica nas cidades. A combinação de análise teórica com dados empíricos e estudos de caso proporcionará uma visão integrada sobre os desafios e as oportunidades decorrentes desse processo de transformação energética.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Impacto na Demanda de Energia
A introdução de veículos elétricos nas redes elétricas urbanas tem o potencial de causar um aumento significativo na demanda de energia, especialmente se os padrões de consumo não forem adequadamente gerenciados. A análise dos estudos de caso de cidades como Oslo, Londres e São Paulo revela que a adição de grandes quantidades de VEs pode gerar picos de demanda durante os horários de recarga, que geralmente coincidem com os horários de pico do consumo residencial de energia. Em muitas dessas cidades, os sistemas de distribuição elétrica já enfrentam desafios relacionados à sobrecarga em momentos de alta demanda, e a inclusão dos VEs só intensifica esse problema, pois os veículos, especialmente quando carregados em grande escala, podem aumentar substancialmente o consumo. De acordo com um estudo realizado na cidade de Londres, estima-se que a adoção de 1 milhão de VEs poderia aumentar a demanda de energia em até 10% durante os horários de pico, exigindo investimentos significativos na modernização da infraestrutura de distribuição elétrica. No entanto, essa situação pode ser atenuada com o uso de tecnologias de gerenciamento de carga e políticas de incentivo ao carregamento fora dos horários de pico.
Além disso, as redes elétricas em cidades com alta taxa de penetração de VEs precisam de ajustes para garantir a estabilidade do sistema, o que inclui a ampliação das capacidades de transmissão e a implementação de sistemas de monitoramento mais eficientes para detectar sobrecargas antes que elas ocorram. O aumento da demanda por eletricidade também coloca em evidência a importância de integrar fontes de energia renováveis ao sistema, de forma a garantir que o crescimento da mobilidade elétrica não resulte em um aumento das emissões de gases de efeito estufa, contradizendo os objetivos de descarbonização do setor de transportes.
4.2. Potencial da Recarga Inteligente
A utilização de tecnologias de recarga inteligente tem se mostrado uma solução viável para mitigar os impactos da demanda elevada de energia nas redes urbanas. A análise dos dados aponta que o carregamento programado dos VEs, baseado em algoritmos que priorizam o uso de energia em períodos de menor demanda ou maior disponibilidade de fontes renováveis, pode reduzir significativamente a pressão sobre a infraestrutura elétrica. O carregamento inteligente permite, por exemplo, que os veículos carreguem suas baterias durante a noite ou quando há um excesso de oferta de energia renovável, evitando sobrecargas durante os horários de pico. Além disso, soluções como o carregamento bidirecional (V2G), em que os VEs podem devolver energia para a rede elétrica, ajudam a balancear a carga e a melhorar a flexibilidade do sistema, especialmente durante períodos de maior demanda.
Em cidades como Oslo, que possui uma infraestrutura de recarga inteligente integrada com a rede elétrica, a utilização de tecnologias avançadas de gestão de carga tem permitido uma melhor distribuição da demanda ao longo do dia, reduzindo os custos de infraestrutura e aumentando a eficiência do sistema. No estudo de caso de Londres, foi observado que a instalação de sistemas de carregamento inteligente em áreas residenciais, onde a adoção de VEs é crescente, tem contribuído para diminuir os impactos negativos nas redes locais, ao mesmo tempo que incentiva os proprietários a recarregarem seus veículos de forma mais estratégica e sustentável.
O potencial da recarga inteligente vai além da simples gestão de horários de carregamento. Em cenários mais avançados, a rede elétrica pode ser interligada aos veículos através de plataformas de inteligência artificial, que ajustam em tempo real a demanda de energia com base no comportamento do consumidor e nas condições da rede. Isso permite um aproveitamento mais eficiente dos recursos energéticos, principalmente de fontes renováveis como solar e eólica, que são intermitentes. Ao otimizar a utilização dessas fontes, o carregamento inteligente contribui não só para a eficiência do sistema elétrico, mas também para a redução das emissões de carbono associadas ao processo de recarga dos VEs.
4.3. Oportunidades com Tecnologias Sustentáveis
Além das soluções de recarga inteligente, a análise dos dados sugere que o crescimento da mobilidade elétrica oferece uma série de oportunidades para a integração de tecnologias sustentáveis nas redes urbanas. A adoção de VEs pode servir como um catalisador para a ampliação do uso de fontes renováveis de energia, como solar e eólica, na geração de eletricidade. Em cidades com forte presença de instalações solares residenciais, como em algumas áreas da Califórnia e de São Paulo, a carga dos VEs pode ser alimentada diretamente por energia solar, promovendo uma integração mais estreita entre a produção e o consumo local de energia. Este modelo descentralizado de geração e consumo, onde os VEs funcionam como “bancos móveis de energia”, abre espaço para uma nova era de redes elétricas inteligentes, que são mais resilientes e menos dependentes de grandes usinas de energia centralizadas.
Além disso, as soluções de mobilidade elétrica podem ser integradas com sistemas de armazenamento de energia em larga escala. A capacidade dos VEs de atuar como unidades móveis de armazenamento (V2G) pode ser aproveitada para equilibrar a oferta e a demanda de energia, especialmente em momentos de baixa produção de energia renovável. Este conceito, conhecido como “energia distribuída”, permite que as redes urbanas sejam mais flexíveis e autossuficientes, ao mesmo tempo em que contribui para o aprimoramento da eficiência energética nas cidades. A utilização de tecnologias como essas representa uma oportunidade não apenas para otimizar a utilização da infraestrutura existente, mas também para fomentar uma economia de baixo carbono, promovendo a transição para um modelo energético mais sustentável e resiliente.
Em suma, os resultados da pesquisa indicam que, embora a adoção de veículos elétricos possa gerar desafios substanciais para as redes elétricas urbanas, as soluções tecnológicas, como o carregamento inteligente e o uso de fontes de energia renováveis, oferecem um grande potencial para mitigar esses impactos e transformar a infraestrutura elétrica urbana em um sistema mais eficiente, sustentável e resiliente. O sucesso dessa transição dependerá, em grande parte, da implementação de políticas públicas eficazes, da inovação tecnológica e da colaboração entre os setores de energia, transporte e planejamento urbano.
5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise realizada ao longo deste trabalho permitiu concluir que, apesar dos desafios representados pelo aumento da adoção de veículos elétricos (VEs) nas redes elétricas urbanas, existem soluções tecnológicas e estratégias de gestão que podem mitigar esses impactos e contribuir para a sustentabilidade e eficiência dos sistemas elétricos urbanos. A integração dos VEs à infraestrutura elétrica das cidades exige uma abordagem cuidadosa e multidimensional, que envolva a modernização das redes de distribuição, o uso de tecnologias avançadas de recarga inteligente e a otimização do aproveitamento de fontes de energia renováveis.
Os resultados demonstraram que, em muitos casos, a simples expansão da infraestrutura de recarga pode não ser suficiente para acomodar o aumento do número de VEs sem que isso sobrecarregue a rede elétrica. A adoção de sistemas de recarga inteligente se mostra como uma solução crucial, permitindo o balanceamento da demanda por energia e a redução de picos de carga, especialmente em horários de maior consumo. Além disso, a implementação do carregamento bidirecional (V2G), que permite aos veículos devolverem energia à rede, pode desempenhar um papel importante na estabilização da rede elétrica, especialmente em momentos de alta demanda ou de instabilidade na geração de energia.
Outro ponto fundamental abordado neste trabalho é a importância do incentivo ao uso de energias renováveis para alimentar os veículos elétricos. A utilização de fontes de energia como solar e eólica, que possuem uma grande sinergia com a natureza intermitente da carga dos VEs, oferece uma oportunidade única de reduzir a pegada de carbono das cidades e garantir que o crescimento da mobilidade elétrica não gere um aumento significativo nas emissões de gases de efeito estufa. A combinação de veículos elétricos e energias renováveis não só melhora a sustentabilidade do sistema, mas também cria um ciclo virtuoso que pode favorecer a transição para uma economia de baixo carbono.
Além disso, o planejamento adequado é crucial para garantir que a mobilidade elétrica seja integrada de forma eficiente nas cidades do futuro. Este planejamento deve considerar não apenas os aspectos técnicos da rede elétrica, mas também as políticas públicas que incentivam a adoção de VEs, a criação de incentivos fiscais, a instalação de infraestruturas de recarga acessíveis e a educação sobre o uso eficiente de energia. A colaboração entre governos, empresas de energia, fabricantes de veículos e cidadãos será fundamental para o sucesso da integração dos VEs nas redes urbanas.
Em síntese, a transição para a mobilidade elétrica nas cidades representa uma oportunidade única para a modernização dos sistemas de transporte e energia, mas também exige um esforço coordenado e estratégico para superar os desafios que surgem. A implementação de soluções tecnológicas inovadoras, aliadas a políticas públicas bem estruturadas, pode não apenas mitigar os impactos negativos sobre a rede elétrica, mas também transformar as cidades em ambientes mais sustentáveis, resilientes e eficientes. O futuro das redes elétricas urbanas depende, portanto, da capacidade de integrar de forma inteligente a mobilidade elétrica, tornando-a um pilar essencial da cidade sustentável do futuro.
REFERÊNCIAS
– Cardoso, Andrieli de Oliveira. “Gestão de energia e mudanças climáticas: um estudo das universidades participantes do Ranking UI Greenmetric.” (2024).
– Cardoso, João Paulo Ribeiro. “Avaliação do impacto socioambiental da adoção do carro elétrico no Brasil.” TCC (graduação)-Universidade Federal de Santa Catarina. Centro de Ensino (2018).
– da Silva, Isabela Assis. Mercado brasileiro de energia: definições, desafios e oportunidades para avançar no vehicle-to-grid. Diss. [sn], 2023.
– DA SILVA ORNELLAS, Regina. Impactos do consumo colaborativo de veículos elétricos na cidade de São Paulo. Future Studies Research Journal: Trends and Strategies, v. 5, n. 1, p. 33-62, 2013.
– DI SERIO, Luiz Carlos. Carro verde e o sonho de mobilidade. GV-EXECUTIVO, v. 9, n. 1, p. 48-51, 2010.
– ELIAS, Juliana Bertrand. Transição da matriz energética para fontes renováveis como meio de redução da pobreza energética no Brasil: um estudo sob a perspectiva do direito constitucional. 2023.
– Leal, Wagner Coelho. Análise e controle de um grupo de conversores CC-CC interleaved bidirecionais em cascata para aplicações grid-to-vehicle e vehicle-to-grid. Diss. Universidade de São Paulo, 2020.
– LIMA, Hebert Ferraz Souza. Avaliação dos impactos da conexão de veículos elétricos no sistema de distribuição. 2021.
– LIU, Chunhua et al. Opportunities and challenges of vehicle-to-home, vehicle-to-vehicle, and vehicle-to-grid technologies. Proceedings of the IEEE, v. 101, n. 11, p. 2409-2427, 2013.
– PIMENTEL, Paula Emília Oliveira. Cenários para a transição energética no Brasil 2040. 2024.
– RAMOS, CAROLINE CHANTRE. A DIFUSÃO DA TECNOLOGIA DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO CONTEXTO DA TRANSIÇÃO ENERGÉTICA: UMA ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA MULTINÍVEL. 2021.
– Rodrigues, Glauco Oliveira. Dinâmica de sistemas para análise do impacto da inserção de veículos elétricos. Diss. Universidade Federal de Santa Maria, 2023.
– SILVA, Fander de Oliveira et al. Cidades inteligentes: planejamento e gestão para a mobilidade urbana. 2021.
1 José Rodrigo Santos Ferreira de engenharia elétrica do centro universitário santo agostinho e-mail: rodrigofjs96@gmail.com
2 Kessiane de Sousa Silva de engenharia elétrica do centro universitário santo agostinho e-mail: kessianesousa133@gmail.com
3 Edvan Carneiro Almeida – Graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Ceará. Especialista em Gestão de Energia pelo Centro Universitário Dr. Leão Sampaio (2007). Mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal do Piauí. Docente do Centro Universitário Santo Agostinho, Teresina – Piauí. e-mail: edvancarneiro@unifsa.com.br