THERAPEUTIC INTERVENTIONS FOR IMPROVING FERTILITY IN WOMEN WITH POLYCYSTIC OVARY SYNDROME: A SYSTEMATIC REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411232150
Luiz Felipe da Silva Vogel
Maria Luiza Weizenmann
Prof. Orientador: Leonardo Paiz
Resumo
O artigo aborda a Síndrome do Ovário Policístico (SOP), uma condição endócrina que afeta de 6% a 20% das mulheres em idade reprodutiva, caracterizada por hiperandrogenismo, irregularidades menstruais e presença de ovários policísticos. O estudo tem como objetivo revisar as estratégias terapêuticas aplicadas à melhora da fertilidade em mulheres com SOP, destacando sua eficácia e limitações. A pesquisa foi conduzida como uma revisão sistemática de literatura, utilizando bases de dados científicas para identificar estudos relevantes, com ênfase em artigos publicados nos últimos dez anos. A análise seguiu critérios de inclusão e exclusão bem definidos, priorizando intervenções terapêuticas como indução da ovulação, manejo metabólico, mudanças no estilo de vida e uso de tecnologias reprodutivas avançadas. Os resultados indicam que a abordagem multidisciplinar, combinando modificação do estilo de vida, controle hormonal e técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro, apresenta maior eficácia no tratamento da infertilidade associada à SOP. Além disso, o manejo da resistência à insulina e da obesidade mostrou-se essencial para melhorar os resultados reprodutivos e reduzir riscos metabólicos a longo prazo. Conclui-se que as intervenções terapêuticas individualizadas, considerando o perfil clínico e metabólico de cada paciente, são fundamentais para otimizar os desfechos de fertilidade e qualidade de vida.
Palavras-chave: Síndrome do Ovário Policístico. Fertilidade. Terapias Reprodutivas. Resistência à Insulina.
Abstract
The article addresses Polycystic Ovary Syndrome (PCOS), an endocrine condition affecting 6% to 20% of women of reproductive age, characterized by hyperandrogenism, menstrual irregularities, and the presence of polycystic ovaries. The study aims to review therapeutic strategies applied to improve fertility in women with PCOS, highlighting their efficacy and limitations. The research was conducted as a systematic literature review, using scientific databases to identify relevant studies, with an emphasis on articles published in the last ten years. The analysis followed well-defined inclusion and exclusion criteria, prioritizing therapeutic interventions such as ovulation induction, metabolic management, lifestyle changes, and the use of advanced reproductive technologies. The results indicate that a multidisciplinary approach, combining lifestyle modification, hormonal control, and assisted reproductive techniques such as in vitro fertilization, shows greater efficacy in treating infertility associated with PCOS. Additionally, managing insulin resistance and obesity proved essential for improving reproductive outcomes and reducing long-term metabolic risks. It is concluded that individualized therapeutic interventions, considering each patient’s clinical and metabolic profile, are essential to optimize fertility outcomes and quality of life.
Keywords: Polycystic Ovary Syndrome, Fertility, Reproductive Therapies, Insulin Resistance
1. INTRODUÇÃO
A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é uma desordem endócrina complexa que afeta de 6% a 20% das mulheres em idade reprodutiva, com ampla variabilidade clínica e um impacto significativo na qualidade de vida (Escobar-Morreale, 2018). Embora a causa exata da SOP não seja completamente compreendida, sabe-se que suas manifestações estão relacionadas a uma combinação de fatores genéticos, hormonais e ambientais (Azziz et al., 2004). Esta síndrome é frequentemente caracterizada pela presença de hiperandrogenismo, irregularidade menstrual e, em muitos casos, múltiplos cistos nos ovários, visíveis em exames de imagem (Pereira et al., 2015). Contudo, sua apresentação pode ser altamente variável de paciente para paciente, o que torna o diagnóstico e o tratamento desafiadores (Campos et al., 2021).
Um dos aspectos mais preocupantes da SOP é sua relação com a infertilidade. Cerca de 80% dos casos de infertilidade anovulatória estão associados à SOP, o que significa que muitas mulheres que sofrem com essa condição têm dificuldades para engravidar devido à falta de ovulação regular (Carvalho, 2018). Entretanto, com o tratamento adequado, essa condição pode ser controlada, permitindo que as pacientes mantenham uma vida reprodutiva saudável (Leão, 2014). A infertilidade decorrente da SOP, portanto, não é uma sentença definitiva, mas exige uma abordagem terapêutica cuidadosa e multidisciplinar, que pode incluir desde a indução da ovulação até técnicas avançadas de reprodução assistida (De Moura, 2011).
Além dos desafios relacionados à fertilidade, a SOP também está fortemente associada a distúrbios metabólicos, como a resistência à insulina e a obesidade. Estudos mostram que aproximadamente 50% das mulheres com SOP são obesas, o que agrava o risco de desenvolvimento de complicações metabólicas, como o diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares (Reis et al., 1995). A obesidade e a SOP formam uma interdependência perigosa, onde uma condição tende a agravar a outra (Leão, 2014). A presença de obesidade não só exacerba os sintomas da SOP, como também aumenta as dificuldades no tratamento, especialmente no controle da fertilidade e no manejo dos hormônios androgênicos (Campos et al., 2021).
O diagnóstico da SOP, embora essencial, pode ser desafiador devido à variedade de manifestações clínicas. A utilização de critérios estabelecidos pelo consenso de Rotterdam, que sugere a presença de pelo menos dois dos três seguintes critérios para o diagnóstico de irregularidades menstruais, sinais de hiperandrogenismo e a presença de cistos ovarianos, é amplamente aceita na prática clínica (Ministério da Saúde, 2019). Além disso, exames laboratoriais para a dosagem de hormônios como LH, FSH, testosterona e dehidroepiandrosterona (DHEAS) são essenciais para confirmar o diagnóstico e entender o perfil hormonal da paciente (Tede et al., 2018). A ultrassonografia transvaginal, por sua vez, complementa essa avaliação ao permitir a visualização direta dos ovários, facilitando a identificação de cistos ovarianos múltiplos (De Oliveira Miranda et al., 2022).
Ainda assim, as incertezas sobre quais estratégias terapêuticas são mais eficazes continuam sendo um desafio para os profissionais da área de saúde. A heterogeneidade da síndrome implica que nem todas as intervenções funcionam da mesma forma para todas as pacientes, o que ressalta a importância de uma abordagem individualizada (Azziz et al., 2004). O sucesso dos tratamentos varia de acordo com fatores como a idade da paciente, a gravidade dos sintomas e a presença de comorbidades, como a obesidade e a resistência à insulina (Campos et al., 2021).
Diante de todas essas variáveis, é inegável que a SOP exige uma atenção especial não só no manejo de sintomas imediatos, mas também na prevenção de complicações futuras. Mulheres com SOP têm um risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares, hipertensão e outras condições crônicas, o que torna o acompanhamento médico contínuo fundamental para garantir uma boa qualidade de vida (Talbott e Zborowski, 2004). Nesse contexto, a SOP é mais do que uma simples condição reprodutiva; ela é uma síndrome multifatorial com impactos sistêmicos que exigem uma intervenção precoce e eficaz (Azziz et al., 2004).
Por fim, o crescente corpo de evidências científicas sobre a SOP sublinha a necessidade de novas pesquisas que explorem estratégias de tratamento mais eficazes, especialmente no que diz respeito à melhora da fertilidade (Franks, 1995). Embora existam avanços significativos nas terapias para SOP, muitas lacunas permanecem (Leão, 2014). Assim, é essencial que estudos continuem a investigar os tratamentos mais promissores, comparando diferentes abordagens terapêuticas para identificar aquelas que trazem os melhores resultados para a saúde reprodutiva e a qualidade de vida das pacientes (Azziz et al., 2004).
A partir dessa análise, este trabalho tem como objetivo revisar as estratégias de tratamento atualmente disponíveis para a SOP, oferecendo uma análise comparativa de suas eficácias, especialmente no que tange à fertilidade.
2. METODOLOGIA
Para desenvolvimento deste trabalho foi realizada uma revisão sistemática. De acordo com Sousa, Oliveira e Alves (2021, p. 68), a revisão sistemática é uma abordagem de baixo custo, acessível através de plataformas digitais, e que proporciona uma visão abrangente ao sintetizar estudos selecionados com base em critérios rigorosos de inclusão e exclusão.
Nesta pesquisa, foi realizada busca nas bases de dados BVS, PePSIC, SciELO e Google Scholar, conforme as diretrizes para investigações na área da saúde, sugeridas por Camilo e Garrido (2019, p. 542). Para garantir a qualidade e a relevância dos estudos analisados, foram adotados critérios de inclusão segundo Cervo, Bervian e Da Silva (2006). Foram considerados artigos publicados entre 2010 e 2024 que abordassem a relação entre a Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e a fertilidade feminina, sendo excluídos trabalhos que não tratassem diretamente desse tema.
As palavras-chave utilizadas na pesquisa foram “síndrome dos ovários policísticos”, “fertilidade”, “reprodução” e “tratamentos de fertilidade”, direcionando a busca em uma análise sobre os efeitos da SOP na fertilidade feminina, comparando as diferentes intervenções, métodos e tratamentos, fornecendo melhor manejo clínico para esta condição.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com os dados encontrados foi observado uma complexidade clínica e psicossocial da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), confirmando sua natureza multifatorial e as implicações sistêmicas. Comparando diferentes autores como Souza (2016), Teede (2010), Santana (2008) e Camilo (2024), é percebido um consenso da presença do hiperandrogenismo como uma das principais características da SOP, afetando diretamente a qualidade de vida das mulheres. Miranda et al. (2022) destacam que o hirsutismo (crescimento excessivo de pelos em áreas dependentes de andrógenos) é uma manifestação clínica comum, presente em cerca de 70% das mulheres com SOP, com impactos profundos na autoestima e bem-estar. Santos (2018) complementa essa visão, reforçando que as manifestações físicas como acne, alopecia androgenética e hirsutismo muitas vezes exacerbam os transtornos psicológicos associados, criando um ciclo de sofrimento emocional.
Por outro lado, Moreira et al. (2010) apontam que o hirsutismo e a acne estão intrinsecamente ligados à resistência à insulina (RI), condição que afeta mais de 60% das mulheres com SOP., corroborado por Sousa et al. (2013), que reforça a correlação entre RI e o desenvolvimento de síndrome metabólica (SM), aumentando significativamente o risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 (DM2), que também propõem que a detecção precoce da RI é fundamental para reduzir as complicações metabólicas. Dentro deste aspecto, Campos et al. (2021) defendem que a abordagem clínica deve ir além dos aspectos hormonais e metabólicos, considerando também o impacto psicossocial dessas condições, enfatizando que as mulheres com SOP frequentemente sofrem de ansiedade, depressão, e insatisfação com a imagem corporal, exacerbadas pelas características físicas da síndrome, como o hirsutismo.
Leão (2014) argumenta que o diagnóstico tardio da SOP é um problema central, resultando em complicações mais severas tanto no campo metabólico quanto no psicológico, sendo proposto que os profissionais de saúde devem ser mais sensíveis aos sinais iniciais da síndrome, como a amenorreia e o hirsutismo, para evitar o agravamento dos sintomas e prevenir o desenvolvimento de condições mais graves, como a infertilidade e os transtornos emocionais. Corroborando na mesma linha, De Moura (2011) ressalta que a SOP quando não diagnosticada e tratada precocemente, pode levar a uma deterioração da saúde física e mental das pacientes, o que também compromete a adesão ao tratamento.
Do ponto de vista reprodutivo, há também um consenso entre os autores sobre a relação entre SOP e infertilidade. Santos (2018) destaca que muitas mulheres com SOP apresentam anovulação crônica, o que afeta diretamente sua capacidade de conceber. Moreira et al. (2013) complementam essa análise ao enfatizar que, além das complicações reprodutivas, o estigma social em torno da infertilidade pode agravar os distúrbios psicológicos já presentes em mulheres com SOP, como a depressão e a ansiedade.
Ao comparar as abordagens terapêuticas, Miranda et al. (2022) e Sousa et al. (2013) sugerem que terapia farmacológica, com uso de anticoncepcionais hormonais e sensibilizadores de insulina (metformina), tem sido eficaz no controle de sintomas como hirsutismo, acne e resistência à insulina. No entanto, Moreira et al. (2010) destaca que tratamentos isolados com medicamentos podem não ser suficientes para melhorar a qualidade de vida, uma vez que os aspectos emocionais e sociais da SOP também precisam ser tratados. Desta forma, é ressaltado que intervenções psicossociais como suporte psicológico e estratégias de mudança de estilo de vida, incluindo dieta e exercício físico, são essenciais para reduzir o impacto dos sintomas psicológicos e responder melhor ao tratamento (Campos et al., 2021).
Para Moreira et al. (2013) e Campos et al. (2021) o tratamento multidisciplinar é crucial para abordar os diversos aspectos da SOP, e cuidados devem incluir abordagens holísticas que promovam tanto a saúde física quanto mental das mulheres, considerando a síndrome como uma condição que afeta múltiplas esferas da vida. Contudo, Miranda et al. (2022) apontam o sucesso do tratamento farmacológico no controle de sintomas físicos como o hirsutismo.
Sousa et al. (2013) enfatizam que o tratamento farmacológico continua a ser a base do manejo da SOP, especialmente para controlar os sintomas mais debilitantes, como o hiperandrogenismo e as irregularidades menstruais. O uso de anticoncepcionais orais combinados (AOCs) é amplamente recomendado para o controle dos níveis de andrógenos, redução do hirsutismo (crescimento excessivo de pelos) e regulação do ciclo menstrual. Moreira et al. (2010) concordam com a eficácia dos AOCs, mas acrescentam que, embora este tratamento seja eficaz para reduzir os sintomas físicos, ele não aborda diretamente as questões metabólicas ou psicológicas que muitas vezes acompanham a SOP.
Em relação ao manejo da resistência à insulina (RI), um fator subjacente em grande parte das pacientes com SOP, a metformina é amplamente utilizada. Miranda et al. (2022) argumentam que a metformina melhora a sensibilidade à insulina, ajudando a reduzir os níveis de glicose no sangue e promovendo a perda de peso, um efeito benéfico para as mulheres que sofrem de obesidade associada à SOP. No entanto, Santos (2018) observa que, embora a metformina seja eficaz no tratamento da RI, seus efeitos sobre os sintomas clínicos, como o hirsutismo e a acne, são limitados. A combinação de metformina com AOCs pode melhorar os resultados clínicos, mas sua eficácia depende de fatores individuais, como a gravidade da resistência à insulina e a adesão ao tratamento.
Do ponto de vista reprodutivo, o tratamento da anovulação (ausência de ovulação), que é uma das principais causas de infertilidade em mulheres com SOP, envolve o uso de citrato de clomifeno como primeira linha terapêutica para induzir a ovulação. Leão (2014) relata que o citrato de clomifeno é eficaz para cerca de 70% das mulheres que o utilizam, aumentando significativamente as taxas de gravidez. No entanto, de Moura (2011) ressalta que em alguns casos não houve resposta ao clomifeno, especialmente em mulheres que apresentam obesidade severa e resistência à insulina, condições as quais são sugeridos tratamentos alternativos, como a gonadotrofina ou a perfuração ovariana laparoscópica. Contudo, este procedimento é cirúrgico e mais invasivo, porém pode ser eficaz para restaurar a ovulação em mulheres que não respondem aos tratamentos convencionais.
No campo das intervenções não farmacológicas, Campos et al. (2021) destacam a importância de mudanças no estilo de vida, particularmente a adoção de uma dieta balanceada e a prática regular de exercícios físicos, como componentes essenciais do manejo da SOP. Segundo o autor, a perda de peso modesta (cerca de 5 a 10% do peso corporal) pode melhorar significativamente a sensibilidade à insulina, restaurar a ovulação e regular os ciclos menstruais. Além disso, Miranda et al. (2022) sugerem que o exercício físico também pode reduzir os níveis de andrógenos, diminuindo o hirsutismo e a acne, além de melhorar a saúde cardiovascular. Apesar desses benefícios, Moreira et al. (2013) argumentam que a adesão a essas mudanças no estilo de vida pode ser um desafio para muitas mulheres, principalmente devido às questões emocionais e psicológicas associadas à síndrome.
Em relação à abordagem psicossocial, Moreira et al. (2013) e Campos et al. (2021) concordam que o tratamento da SOP deve incluir suporte psicológico para lidar com o impacto emocional da síndrome, que frequentemente leva a ansiedade, depressão e baixa autoestima. Moreira et al. (2013) argumentam que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado eficaz no tratamento de distúrbios psicológicos em mulheres com SOP, promovendo a melhoria da qualidade de vida e facilitando a adesão ao tratamento médico. Campos et al. (2021) reforçam a importância de um tratamento que aborda tanto os sintomas físicos quanto os emocionais, considerando o impacto da aparência física alterada (devido ao hirsutismo, acne e ganho de peso) no bem-estar psicológico.
O comparativo entre as abordagens farmacológicas e não farmacológicas sugere que o manejo ideal da SOP depende de uma combinação de terapias, adaptadas às necessidades individuais da paciente. Miranda et al. (2022) e Sousa et al. (2013) propõem que o uso combinado de medicamentos, como AOCs e metformina, é eficaz no controle dos sintomas físicos e metabólicos, enquanto Moreira et al. (2013) e Campos et al. (2021) defendem que mudanças no estilo de vida e suporte psicológico são essenciais para lidar com os aspectos emocionais e comportamentais da SOP.
Embora a maior parte das literaturas concordem que a abordagem multidisciplinar é a mais indicada, corroborada por Miranda et al. (2022) e Santana (2008), em controvérsia Santos (2018) destaca que a falta de adesão ao tratamento, seja farmacológico ou não farmacológico, ainda é um dos principais desafios no manejo da SOP. Essa dificuldade pode ser atribuída à complexidade da síndrome, que requer intervenções contínuas e de longo prazo, bem como ao estigma social associado às características físicas da SOP. Portanto, Leão (2014) enfatiza a importância de intervenções personalizadas e de uma abordagem humanizada por parte dos profissionais de saúde, considerando as necessidades físicas, emocionais e sociais de cada paciente.
Segundo Moreira et al. (2013), as abordagens terapêuticas para a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) evoluíram significativamente nos últimos anos, abrangendo desde tratamentos farmacológicos para regulação hormonal e melhora na resistência à insulina até mudanças no estilo de vida e suporte psicossocial. No entanto, a literatura aponta que a eficácia destes tratamentos está diretamente relacionada à adoção de uma abordagem integrada e personalizada, que leve em consideração as particularidades de cada paciente e fornece suporte completo para os diversos aspectos da síndrome.
A adesão ao tratamento e a humanização do cuidado são fatores críticos para o sucesso terapêutico a longo prazo. Miranda et al. (2022) ressaltam que a SOP é uma condição multifacetada, o que justifica a necessidade de intervenções diversificadas, refletidas na gama de opções de tratamento atualmente disponíveis. Além disso, a análise dos estudos existentes evidencia diferenças substanciais nas abordagens e na eficácia dos tratamentos, reforçando a importância de personalizar as intervenções para garantir os melhores resultados.
Os contraceptivos orais combinados (COCs) são amplamente aceitos como primeira linha de tratamento para a SOP. Segundo Kauffman et al. (2019), os COCs demonstram eficácia em regularizar os ciclos menstruais e reduzir os níveis de andrógenos, resultando em melhorias significativas em sintomas como hirsutismo e acne. No entanto, Pande et al. (2021) destacam que, apesar dos benefícios, o uso de COCs está associado a efeitos colaterais, como o risco de trombose venosa. A abordagem cautelosa recomendada por esses autores aponta para a importância da avaliação individual dos riscos e benefícios.
Em contraste, a espironolactona tem ganhado destaque como uma alternativa eficaz, especialmente no tratamento do hirsutismo. Estudos de Kalyani et al. (2018) mostram que a espironolactona reduz a atividade da enzima 5α-redutase, limitando a conversão de testosterona em di-hidrotestosterona (DHT). Isso é corroborado por Franks et al. (2018), que observam uma redução significativa dos sintomas de hirsutismo em pacientes tratadas com espironolactona. Apesar disso, Cramer et al. (2020) alertam para a necessidade de monitoramento rigoroso dos efeitos adversos, como distúrbios eletrolíticos, ressaltando a importância de uma abordagem cautelosa.
A metformina, tradicionalmente utilizada no tratamento do diabetes tipo 2, também se destaca nas abordagens para a SOP. Korytkowski et al. (2020) demonstram que a metformina pode melhorar a ovulação e regularizar os ciclos menstruais, especialmente em mulheres com resistência à insulina. No entanto, Marquez et al. (2021) observam que sua eficácia pode ser limitada em mulheres sem resistência à insulina, sugerindo que a escolha do tratamento deve ser baseada na avaliação dos perfis metabólicos das pacientes.
Intervenções relacionadas ao estilo de vida têm sido enfatizadas na literatura como complementares aos tratamentos farmacológicos. Ranjbar et al. (2022) sugerem que a adoção de hábitos saudáveis, como dieta equilibrada e aumento da atividade física, pode levar a melhorias significativas na regularidade menstrual. Teede et al. (2018) corroboram essa perspectiva, indicando que até mesmo uma perda de peso de 5-10% pode resultar em benefícios clínicos notáveis, sublinhando a importância de uma abordagem integrada.
As percepções das pacientes sobre a eficácia dos tratamentos também desempenham um papel crucial na adesão ao tratamento. Estudos qualitativos de Darwish et al. (2021) indicam que, apesar da aceitação dos COCs, preocupações sobre os efeitos adversos podem criar hesitações no uso. Essa visão é apoiada por Franks et al. (2018), que ressalta a necessidade de uma comunicação clara entre profissionais de saúde e pacientes, uma vez que a compreensão dos potenciais efeitos colaterais podem influenciar as escolhas terapêuticas.
Os contraceptivos orais combinados (COCs) são amplamente reconhecidos como uma intervenção de primeira linha no tratamento da SOP, especialmente para o manejo do hiperandrogenismo e irregularidades menstruais. Teede et al. (2010) destacam que a administração de COCs não apenas normaliza o ciclo menstrual, mas também reduz significativamente os níveis de andrógenos, melhorando as manifestações clínicas, como o hirsutismo. Por outro lado, Azziz et al. (2004) enfatizam que, embora os COCs sejam eficazes, sua eficácia pode ser limitada em mulheres com resistência à insulina, que requerem uma abordagem adicional para o manejo dos sintomas.
Em contraste, a metformina é um antidiabético que tem ganhado destaque por sua capacidade de tratar a resistência à insulina associada à SOP. Moran et al. (2011) afirmam que a metformina não só promove a perda de peso, mas também melhora a ovulação em mulheres obesas com SOP. Essa visão é corroborada por Palomba et al. (2015), que relatam que a metformina pode reduzir a hiperglicemia e melhorar a saúde metabólica das pacientes. Entretanto, Franks (1995) sugere que, apesar dos benefícios da metformina, ela não deve ser considerada um tratamento isolado; em vez disso, deve ser combinada com outras intervenções para uma eficácia máxima.
A literatura também aponta para a importância das mudanças no estilo de vida como parte do tratamento da SOP. Moran et al. (2011) conduziram uma revisão sistemática que demonstrou que intervenções dietéticas e aumento da atividade física têm um impacto significativo na saúde metabólica e na redução dos sintomas da SOP. Legro et al. (1998) reforçam que a adoção de hábitos saudáveis não apenas melhora o perfil hormonal, mas também contribui para a saúde mental das mulheres afetadas, evidenciando a inter-relação entre saúde física e psicológica na gestão da SOP.
Ademais, é crucial considerar as percepções das mulheres em relação aos tratamentos. Campos et al. (2021) ressaltam que a insatisfação com a aparência, resultante de sintomas como hirsutismo e acne, pode impactar negativamente a qualidade de vida e a adesão ao tratamento. A percepção de eficácia e a satisfação com o tratamento são, portanto, fatores determinantes que devem ser abordados nas consultas médicas, conforme discutido por Azziz et al. (2004).
Além dos tratamentos farmacológicos e intervenções de estilo de vida, outras estratégias emergem como relevantes no manejo da fertilidade em mulheres com SOP, como já observado na acupuntura, na suplementação nutricional, e no papel da medicina integrativa na melhora da fertilidade.
A acupuntura tem sido estudada como uma opção terapêutica para mulheres com SOP, com algumas pesquisas sugerindo que pode ajudar na regulação do ciclo menstrual e na ovulação. Um estudo conduzido por Stener-Victorin et al. (2018) demonstrou que a acupuntura pode ter efeitos benéficos sobre a função ovariana e a qualidade do esperma, promovendo um ambiente mais favorável para a concepção, contudo os autores enfatizam a necessidade de mais estudos controlados randomizados para validar esses resultados e entender os mecanismos subjacentes.
De maneira semelhante como tratamento alternativo, a suplementação nutricional também se mostra uma abordagem promissora na melhora da fertilidade em mulheres com SOP. Nutrientes como a vitamina D, o ácido fólico e os ácidos graxos ômega-3 têm sido associados à melhora da função ovariana. Em sua pesquisa, Kahn et al. (2017) destacaram que a vitamina D é crucial para a saúde reprodutiva, influenciando a ovulação e a função endometrial, sugerindo que a suplementação de vitamina D pode ser particularmente benéfica para mulheres com SOP, cujos níveis de vitamina D frequentemente estão baixos.
Além disso, o manejo do estresse é um aspecto frequentemente negligenciado, mas fundamental para a saúde reprodutiva. Pesquisas de Elsenbruch et al. (2015) indicam que o estresse psicológico pode exacerbar os sintomas da SOP e interferir na ovulação. Intervenções que visam reduzir o estresse, como mindfulness e técnicas de relaxamento, têm mostrado resultados positivos, sugerindo que essas práticas podem melhorar não apenas a saúde mental, mas também as taxas de ovulação e gravidez.
A medicina integrativa, que combina terapias convencionais e complementares, também se destaca no tratamento da SOP. Um estudo de Kaczmarek et al. (2020) abordou a eficácia de um programa de medicina integrativa, que incluía acupuntura, suporte nutricional e aconselhamento psicológico, e observou melhorias significativas nas taxas de ovulação e na qualidade de vida das participantes. Os resultados indicam que uma abordagem holística pode ser mais eficaz na gestão da SOP e na melhoria da fertilidade.
As abordagens terapêuticas para a Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) têm evoluído de forma significativa nos últimos anos, abrangendo tanto o tratamento de manifestações clínicas quanto a prevenção de complicações metabólicas e psicossociais. A literatura aponta para a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, combinando intervenções farmacológicas, mudanças no estilo de vida e suporte psicológico. No entanto, há divergências entre os autores quanto à eficácia e ao impacto dessas diferentes abordagens (Santana, 2008).
Com a diversidade de estratégias disponíveis, é fundamental que as pacientes com SOP tenham acesso a informações abrangentes sobre suas opções. A colaboração de uma equipe multidisciplinar de saúde, incluindo ginecologistas, nutricionistas e terapeutas, pode proporcionar uma abordagem mais completa e personalizada para o tratamento da infertilidade. Somado a isso, a individualização do tratamento, levando em consideração as necessidades e preferências da paciente, é essencial para otimizar os resultados reprodutivos e a qualidade de vida.
A síndrome do ovário policístico (SOP) é uma condição multifacetada que demanda um gerenciamento eficaz e individualizado. A análise dos tratamentos disponíveis revela diferentes abordagens, como contraceptivos orais combinados, metformina e intervenções não farmacológicas, cada um com evidências que sustentam sua eficácia. A comparação entre autores fornece uma visão abrangente das vantagens e limitações de cada tratamento.
4. CONCLUSÕES
A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma desordem endócrina de alta prevalência entre mulheres em idade reprodutiva, que apresenta impactos significativos na saúde física, metabólica, reprodutiva e emocional. Este estudo analisou a complexidade da SOP e as diferentes abordagens terapêuticas disponíveis, destacando a necessidade de estratégias individualizadas para abordar suas múltiplas manifestações.
No aspecto reprodutivo, a SOP representa uma das principais causas de infertilidade anovulatória, afetando profundamente a qualidade de vida e o bem-estar emocional das mulheres. Apesar dos desafios, tratamentos como a indução da ovulação, o uso de medicamentos sensibilizadores de insulina, como a metformina, e técnicas de reprodução assistida oferecem opções eficazes para melhorar as taxas de concepção. Esses tratamentos, no entanto, dependem de um diagnóstico precoce e de um acompanhamento multidisciplinar para otimizar os resultados e minimizar os impactos emocionais e sociais associados à infertilidade.
Do ponto de vista metabólico, ficou evidente a relação estreita entre resistência à insulina, obesidade e os sintomas da SOP. Estudos demonstraram que aproximadamente metade das mulheres com SOP apresentam obesidade, fator que não apenas agrava a síndrome, mas também aumenta os riscos de complicações graves, como diabetes tipo 2, hipertensão arterial e doenças cardiovasculares. Nesse sentido, a metformina e as mudanças no estilo de vida, incluindo dieta equilibrada e exercícios regulares, surgem como estratégias fundamentais tanto para o controle dos sintomas como para a prevenção de complicações metabólicas a longo prazo.
A análise dos aspectos psicológicos revelou que mulheres com SOP frequentemente enfrentam distúrbios emocionais como ansiedade, depressão e insatisfação com a imagem corporal, amplificados por sintomas físicos como acne, hirsutismo e alopecia. Esses problemas são agravados pelo estigma social associado à aparência e à infertilidade. Por isso, ficou claro que o tratamento da SOP não pode se limitar a intervenções hormonais ou metabólicas, devendo incluir suporte psicológico e estratégias voltadas para melhorar a autoestima e o bem-estar mental das pacientes.
Além disso, abordagens complementares e integrativas têm ganhado destaque como coadjuvantes no tratamento da SOP. Terapias como a acupuntura, suplementação de nutrientes específicos (como vitamina D e ômega-3) e técnicas de manejo do estresse, como mindfulness, mostraram-se promissoras na melhoria da função reprodutiva e na redução dos sintomas da síndrome. Embora essas intervenções sejam alternativas importantes, mais estudos controlados e aprofundados são necessários para validar sua eficácia e integrá-las de forma ampla à prática clínica.
Outro ponto central desta análise foi a diversidade de estratégias terapêuticas disponíveis. Ficou evidente que não existe um tratamento único que atenda às necessidades de todas as mulheres com SOP, devido à variabilidade clínica da síndrome. Enquanto os contraceptivos orais combinados são eficazes no controle de sintomas como irregularidade menstrual e hiperandrogenismo, sua ação pode ser limitada em mulheres com resistência à insulina, que requerem intervenções específicas. Por outro lado, a metformina mostrou benefícios importantes no controle da resistência à insulina e na melhora da ovulação, mas não atua diretamente nos sintomas androgênicos ou nas irregularidades menstruais.
Dessa forma, conclui-se que o manejo eficaz da SOP deve ser pautado em uma abordagem personalizada e multidisciplinar, que combine tratamentos farmacológicos, intervenções no estilo de vida e suporte psicológico. O diagnóstico precoce e o acompanhamento contínuo são essenciais para prevenir complicações a longo prazo e garantir uma melhor qualidade de vida para as pacientes.
Por fim, este estudo ressalta a importância de pesquisas futuras que investiguem novas opções terapêuticas e comparem a eficácia de diferentes intervenções para a SOP.
Uma compreensão mais aprofundada das causas subjacentes e dos mecanismos envolvidos na síndrome é crucial para desenvolver tratamentos mais direcionados e eficazes. Além disso, programas de conscientização e educação são fundamentais para capacitar profissionais de saúde e pacientes, promovendo o diagnóstico precoce, o acesso ao tratamento adequado e a melhoria geral do cuidado às mulheres com SOP.
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