O TREINAMENTO MUSCULAR DO ASSOALHO PÉLVICO (TMAP) COMO MEIO DE FORTALECER O ASSOALHO PÉLVICO DE MULHERES DIAGNOSTICADAS COM INCONTINÊNCIA URINÁRIA DE ESFORÇO: REVISÃO DE LITERATURA

PELVIC FLOOR MUSCLE TRAINING (PFMT) AS A MEANS TO STRENGTHEN THE PELVIC FLOOR IN WOMEN DIAGNOSED WITH STRESS URINARY INCONTINENCE: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411231413


Adrielle Paiva Brandão
Mirian Pereira dos Santos
Coorientadora: Maria Eduarda Pacheco Sobral
Orientador (a): Dra. Thaiana Bezerra Duarte


Resumo

Introdução: A incontinência urinária de esforço (IUE) é uma disfunção do assoalho pélvico (DAP) em que ocorre uma perda involuntária de urina resultante do aumento da pressão intra-abdominal, causada por qualquer atividade que exija esforço. Essa condição afeta principalmente o sexo feminino devido às questões anatômicas, como processo fisiológico e senescência, causando impacto significativo no aspecto da qualidade de vida (QV) dessas mulheres devido ao enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico (MAP). Objetivo: Realizar uma revisão de literatura para entender como o treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) pode influenciar no fortalecimento do MAP de mulheres com IUE. Materiais e método: Revisão de literatura. A pesquisa foi realizada nas bases de dados: PubMed, Scielo, Lilacs e foram selecionados artigos publicados nos últimos 10 anos em inglês e português. Resultados: Foram incluídos 6 estudos que demonstraram acerca dos benefícios do TMAP na IUE em mulheres, onde foi possível obter informações das condições do assoalho pélvico quanto ao fortalecimento, resistência e melhoria da QV dessas mulheres incontinentes. Conclusão: O TMAP é altamente eficaz no fortalecimento e na melhora da resistência dos MAPs, e influencia diretamente na melhora QV das mulheres incontinentes.

Palavras-chave: Incontinência urinária de esforço.Qualidade de vida.Mulher incontinente.Assoalho pélvico.Fortalecimento.

Abstract

Background: Stress urinary incontinence (SUI) is a pelvic floor dysfunction (PFD) characterized by the involuntary loss of urine due to increased intra-abdominal pressure from any activity involving exertion. This condition primarily affects women, owing to anatomical, physiological, and age-related factors, significantly impacting their quality of life (QoL) through the weakening of pelvic floor muscles (PFM). Pourpose: To conduct a literature review to understand how pelvic floor muscle training (PFMT) influences PFM strengthening in women with SUI. Methods: This literature review involved searches in the PubMed, Scielo, and Lilacs databases, including articles published in the last 10 years in English and Portuguese.Results: Six studies were included, highlighting the benefits of PFMT for women with SUI. The review provided insights into the condition of the pelvic floor, focusing on improvements in muscle strength, endurance, and QoL for these women. Conclusion: PFMT is highly effective in enhancing PFM strength and endurance and directly contributes to improved QoL in women with incontinence.

Keywords: Stress urinary incontinence.Quality of life.Incontinent women.Pelvic floor. Strengthening.

1 INTRODUÇÃO

A incontinência urinaria (IU) é descrita como a perda de urina de forma involuntária. Sua causa é multifatorial que incluem em sua maioria aspectos relacionados às alterações anatômicas e fatores hormonais que ocorrem no sexo feminino, tornando uma condição mais comum em mulheres e que afeta diretamente a qualidade de vida (QV). É classificada de acordo com seus sintomas, basicamente em: Incontinência urinaria de esforço (IUE), incontinência urinaria de urgência (IUU), incontinência urinaria mista (IUM) (Aoki et al., 2017).

Dos subtipos de IU classificados, o mais comum é a IUE, que tem como características a perda de urina mediante esforços que gerem pressão abdominal, tendo como principais fatores: a idade, multiparidade, sobrepeso, status menopausal, histerectomia, além das alterações hormonais e no assoalho pélvico feminino contribuindo para que a IUE seja um dos sintomas mais comuns do trato urinário inferior em mulheres (Shin et al., 2015).

Grande parte das mulheres incontinentes se apresentam mais deprimidas e acabam se isolando socialmente, pois a junção de sintomas dessa disfunção corrobora para a diminuição na qualidade de vida no aspecto social, sexual, psicológico, atividades da vida diária e financeiro; por isso a importância da busca pelo tratamento pós diagnóstico (Saboia et al., 2017).

A fisioterapia é indicada no tratamento conservador, que possui entre seus métodos e técnicas o treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP), considerado padrão ouro, promovendo força, potência e resistência aos músculos do assoalho pélvico (MAP), mostrando o quanto possui influência positiva no fortalecimento do assoalho pélvico e na qualidade de vida (Bottini et al., 2024).

O TMAP é a principal abordagem conservadora no tratamento das IU, dentre elas, IUE é a forma mais comum encontrada, sendo um problema de saúde pública que acarreta malefícios à essas mulheres acometidas pela IUE. Por isso, a importância dessa revisão para reafirmar e elucidar o TMAP como métodos que produz resultados favoráveis e eficazes, trazendo melhor qualidade de vida e fortalecendo a musculatura do assoalho pélvico (Ptak et al., 2017).

Sendo assim, este estudo, através de revisão de literatura tem como objetivo mostrar a eficácia do TMAP sobre a perspectiva do fortalecimento no assoalho pélvico de mulheres diagnosticadas com IUE.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Essa pesquisa trata-se de uma revisão de literatura, cuja função foi observar, extrair e analisar dados. Quanto aos meios, foram realizados através de referências bibliográficas, publicados nos idiomas espanhol, inglês e português que foram consultados por meio das bases de dados PubMed, SciELO e LILACS, que buscou temas relacionados ao treinamento muscular do Assoalho Pélvico (TMAP) e sua influência na incontinência urinária de esforço em mulheres. Os descritores utilizados foram os seguintes: incontinência urinaria de esforço, treinamento muscular do assoalho pélvico, fortalecimento muscular, que foram pesquisadas nos idiomas espanhol, inglês e português. O período da pesquisa nas bases de dados foi julho de 2024.

Tiveram como critério de inclusão artigos publicados dos últimos 10 anos, do tipo ensaio clinico randomizado, estudo de caso, nos idiomas espanhol, inglês e português, que incluíram mulheres com incontinência urinaria de esforço e que foram submetidas a técnica do treinamento muscular do assoalho pélvico.

Os critérios de exclusão foram artigos que não estavam disponíveis na íntegra, e estudos duplicados.

Os resultados dessa revisão foram expressados por meio de texto e fluxograma.

3 RESULTADOS

Foram encontrados no total 186 artigos nas bases de dados. Leu-se 186 títulos e resumos, e desses foram excluídos 78 artigos por não estarem incluídos nos últimos 10 anos, e 64 foram excluídos por se tratarem de estudo de revisão, 34 foram excluídos por não abordarem o tema e 4 foram excluídos por não estarem disponíveis na integra. Foram lidos 10 artigos na íntegra, dos quais 6 foram incluídos na revisão, conforme figura 1.

Figura 1. Fluxograma da pesquisa

Os resumos dos artigos selecionados para revisão encontram-se no quadro 1.

Quadro 1. Síntese dos estudos incluídos nessa revisão.

AUTOR/ANOTIPO DE ESTUDOOBJETIVOMETODOLOGIARESULTADOS
Bertotto et al. (2017)Ensaio Controlado RandomizadoComparar a eficácia dos exercícios dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) com e sem biofeedback (BF) eletromiográfico no aumento da força muscular, na melhora da atividade mioelétrica e na melhora da pré-contração e da qualidade de vida em mulheres na pós-menopausa com incontinência urinária de esforço.O protocolo de tratamento consistiu em oito sessões de treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) individuais de 20 minutos, duas vezes por semana. No grupo TMAP foram realizadas: 1. exercícios de contrações sustentadas com duração de 6 a 10 s, com o mesmo tempo de descanso, 6 a 10 repetições, 1 a 2 séries. 2.Contrações fásicas com duração de 2 s, com o dobro do tempo de repouso, 10 repetições, 1-3 séries. 3. Contrações fásicas sustentadas por 3 a 5 s, com o dobro do tempo de repouso, 8 a 10 repetições, 1 a 2 séries. O grupo 2 TMAP + biofeedback (BF) seguiram o mesmo protocolo, mas combinado com BF, em que o participante olhava para a tela BF- Eletromiografia (EMG) durante os exercícios.O treinamento dos músculos do assoalho pélvico, com e sem biofeedback, está associado ao aumento da força muscular, atividade mioelétrica, pré-contração dos músculos do assoalho pélvico e melhora da qualidade de vida em mulheres na pós-menopausa com incontinência urinária de esforço. TMAP + BF foi associado a melhora significativamente superior da força muscular, pré-contração ao tossir, contração voluntária máxima e duração da contração de resistência em comparação ao TMAP sozinho.
Furst et al. (2014)Ensaio clínico randomizadoDeterminar a eficácia da adição do treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) à estimulação elétrica vaginal (EEV) para o tratamento da incontinência urinaria de esforço em mulheres e relatar o acompanhamento de longo prazo (8 anos).O protocolo de tratamento consistiu em uma proposta de 3 meses que incluiu 48 mulheres divididas em 2 grupos, onde 24 foram submetidas à estimulação elétrica vaginal (EEV) e 24 ao EEV mais treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP). Grupo 1- A EEV foi realizada com sonda vaginal e dispositivo de estimulação. As pacientes realizaram 2 sessões semanais de 30 min de estimulação com frequência de 4Hz (15 min, pulso de 1ms) e 50Hz (15 min, pulso de 700us) intensidade fixa (20mA) e 4 segundos de estimulação por 8 segundos de repouso. Grupo 2- O TMAP consistiu em um programa individualizado incluindo exercícios de repetições de contração/relaxamento durante 30 min, 2 vezes por semana no período de 3 meses em dias alternados com a EEV.A reabilitação do assoalho pélvico por estimulação elétrica vaginal, com ou sem exercícios, mostrou eficácia semelhante à literatura sobre o tratamento da incontinência urinaria de esforço. A adição de exercícios pélvico não trouxe melhores resultados em comparação a estimulação elétrica vaginal (EEV) isoladamente no segmento de longo prazo.
Bottini et al. (2024)Ensaio Clinico RandomizadoVerificar a superioridade de tratamento experimental em relação ao tratamento padrão-ouro para incontinência urinaria de esforço (IUE) na menopausa.Foi conduzido um ensaio com 31 mulheres alocadas em 2 grupos, em que: 16 foram submetidas ao treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) e 15 à Ginástica Abdominal Hipopressiva (GAH). Ambos receberam 26 sessões, duas vezes por semana em atendimento individual. Grupo1- O TMAP consistiu em 3 a 4 séries de 8 a 12 contrações voluntárias máximas sustentadas por 5 a 10 segundos, seguido de 5 contrações rápidas, com intervalo de 6 segundo entre cada série nas posições: supino, sentado e ortostado. Supervisionada duas vezes por semana durante 13 semanas. Grupo2- GAH as participantes foram treinadas para realizar 3 inspirações diafragmática lentas sucessivas, seguidas de expiração total e apneia. Cada apneia durou de 10 a 25 segundos respeitando o ritmo de cada um.Os resultados reforçam os benefícios do tratamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) na incontinência urinaria de esforço (IUE) em mulheres climatéricas. Portanto, a ginástica abdominal hipopressiva (GAH) não deve ser indicada a pacientes para tratamento de incontinência urinaria de esforço feminina.
Dumoulin et al. (2020)Ensaio Controlado RandomizadoAvaliar a eficácia do Treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) em grupo em relação ao TMAP individual para incontinência urinária (IU) em mulheres idosas.Receberam uma sessão individual para aprender como contrair os músculos do assoalho pélvico (MAP), as participantes completaram 12 semanas de treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) como parte de um grupo de 8 mulheres (n = 178) ou em sessões individuais (n = 184). Em ambas as intervenções, cada sessão semanal durou 1 hora e incluiu um período educacional de 15 minutos e um componente de exercício de 45 minutos. O exercício teve como alvo a força, potência, resistência, coordenação e integração dos MAP. O protocolo compreendeu três fases de 4 semanas com a adição gradual de exercícios cada vez mais difíceis em termos de duração, número de repetições e posição. Além disso, as participantes do TMAP individual usaram biofeedback eletromiográfico intravaginal durante cada sessão de tratamento por 10 a 15 minutos. O Treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) baseado em grupo demonstrou ser não inferior ao TMAP individual padrão em 1 ano após a randomização para o tratamento de incontinência urinária de esforço e mista em mulheres mais velhas. O uso generalizado dessa intervenção eficaz pode afetar positivamente a acessibilidade e a disponibilidade do tratamento para cuidados de continência.
Wang et al. (2020)Ensaio Clínico RandomizadoDeterminar a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) com orientação de áudio baseado em aplicativo no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE) em primíparas.O grupo de intervenção recebeu treinamento de orientação por áudio, através de um App foram guiados pelo áudio para contrair e relaxar os músculos do assoalho pélvico (MAP) regularmente e corretamente com música em sincronização durante todo o treinamento. O grupo controle recebeu treinamento convencional em casa. Ambos os grupos receberam uma educação de reabilitação do assoalho pélvico de 45 minutos e orientação individual de prática de treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP) no início e antes da alta por pesquisadores treinados. A orientação da prática do TMAP foi a seguinte: contrair os músculos da uretra, vagina e ânus, relaxando os músculos do abdômen e das nádegas ao inspirar e expirar, em seguida, foram orientadas a realizar uma contração repetitiva de 15 minutos dos MAP da seguinte forma: continue contraindo os músculos para dentro por pelo menos 3 s seguidos por um relaxamento de 2–6 s; prática em diferentes posturas, incluindo sentada, em pé e deitada. As participantes foram orientadas a aprender a auto-observação da contração perineal com um espelho. Treinar pelo menos duas vezes por dia e 15 min por vez, ou 150 contrações por dia; manter o treinamento por pelo menos 3 meses.O treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) com orientação de áudio baseado em aplicativo foi mais eficaz e muito mais fácil de seguir no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE) em primíparas do que o treinamento convencional dos músculos do assoalho pélvico (MAP) em casa. Os participantes do grupo de áudio indicaram menor descida do colo vesical em 6 semanas pós-parto, melhor força muscular do assoalho pélvico e função sexual, em 6 meses pós-parto.
Belushi et al. (2020)Ensaio clínico randomizado controlado simples-cegoDeterminar a eficácia do treinamento dos músculos do assoalho pélvico (MAP).No grupo de intervenção foi realizado o Treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP), que envolvia treinamento de resistência e velocidade. O treinamento de resistência (contrações tônicas) dos músculos do assoalho pélvico (MAP) consiste em contrações lentas próximas ao máximo por 3 a 10 segundos (de acordo com a avaliação inicial do assoalho pélvico), seguidas de relaxamento pela mesma duração. O treinamento de velocidade (contrações fásicas) envolveu contrações rápidas de força moderada por 2 segundos, seguidas de relaxamento por 2 segundos. O objetivo era ter cinco sessões em casa de contrações lentas e rápidas por dia nas posições supina, sentada e em pé. Cada sessão consistia em 10 contrações lentas e 10 rápidas. Os sujeitos deste grupo foram contatados semanalmente por telefone para monitorar a adesão e motivá-los a continuar com a intervenção Os participantes do grupo controle receberam uma palestra de 15 minutos usando recursos audiovisuais sobre a anatomia dos MAPs, mecanismos de continência e a importância de fazer TMAP para aliviar, não foram treinados nem receberam lembretes semanais por telefone.Houve melhora significativa nos sintomas de incontinência urinaria de esforço (IUE) nas mulheres que foram randomizadas no grupo de intervenção em termos de frequência e quantidade urinária em comparação à mulheres do grupo de controle. Este estudo revelou que o treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) domiciliar é uma intervenção eficaz e segura na redução da gravidade dos sintomas e na melhoria da qualidade de vida em mulheres omanenses com IUE.

A descrição dos estudos da revisão que incluiu 671 mulheres, com média de idade de 48,69 anos e suas intervenções fisioterapêuticas no tratamento da incontinência urinária de esforço (IUE), se encontram no quadro 2.

Quadro 2. Descrição do número de mulheres incluídas no estudo, média de idade e intervenção fisioterapêutica.

Número total de mulheresMédia de idadeIntervenção fisioterapêutica
671 Mulheres Foram incluídas nessa revisão.A média de idade de mulheres incluídas nessa revisão foi de 48,69 anos.
Dos seis estudos incluídos, três (Dumoulin et al, 2020; Wang et al, 2020; Belushi et al, 2020) utilizaram apenas o treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) como intervenção e três (Berttoto et al, 2017; Furst et al, 2014; Bottini et al, 2024) utilizaram TMAP associado a outras técnicas, sendo elas: Biofeedbak (BF) eletromiográfico (EMG), ginástica abdominal Hipopressiva e estimulação elétrica vaginal.

Dos estudos que usaram apenas o treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP), um deles (Wang et al. 2020) a intervenção foi realizada através de orientação por aplicativo. Dois dos estudos (Dumoulin et al, 2020; Belushi et al, 2020), avaliaram, além da força, a qualidade de vida (QV). Todos incluíram exercícios de contração dos músculos do assoalho pélvico (MAP) e relaxamento. Os três estudos tiveram como resultado a melhora na incontinência urinária de esforço (IUE) e na força dos MAP. Dois estudos avaliaram que o TMAP teve resultado positivo na QV.

Os três estudos que utilizaram o TMAP associado a outras técnicas, dois (Berttoto et al, 2017; Bottini et al, 2024), consistiram entre 8 e 26 sessões duas vezes por semana em atendimento individual. Ambos estudos apresentaram resultados significativos no controle da incontinência urinária (IU), fortalecimento e QV. Já o estudo de Furst et al. (2014) consistiu em uma proposta de 3 meses que incluiu 48 mulheres divididas, onde 24 foram submetidas à estimulação elétrica vaginal (EEV) e 24 ao EEV+ TMAP, mostrou que a adição do TMAP à EEV no tratamento da IUE não obteve resultados significativos a longo prazo, apresentando resultados semelhantes.

4 DISCUSSÃO

. No presente estudo, a partir da revisão dos estudos selecionados, observou-se que o protocolo fisioterapêutico proposto, usando a técnica do treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP), obteve resultado positivo no fortalecimento da musculatura do assoalho pélvico (MAP) das mulheres diagnosticadas com incontinência urinária de esforço (IUE), e foi possível observar o impacto positivo direto na qualidade de vida (QV) dessas mulheres. No estudo de Dumoulin et al. (2020), eles avaliaram a eficácia do TMAP individual comparando ao TMAP em grupo em mulheres idosas com incontinência urinária de esforço IUE , usando exercícios que tiveram como alvo a força, potência e resistência dos músculos do assoalho pélvico MAP, e tiveram como resultado a não superioridade do TMAP em grupo em relação ao individual, enquanto que no estudo de Wang et al. (2020), foi utilizado o TMAP através de orientação de áudio, aplicado em primíparas, com exercícios que também focaram na força dos MAP, tendo resultado mais eficaz e melhor na IUE do que o TMAP convencional em casa. Já no estudo de Belushi et al. (2020), o estudo visou determinar a eficácia do TMAP em casa na redução da gravidade dos sintomas e na qualidade de vida QV em mulheres com IUE, que assim como os dois estudos citados, avaliou a força, tendo melhora nos sintomas e na QV dessas mulheres através do TMAP.

O estudo de Dumoulin et al. (2020) está de acordo com o resultado de um ensaio controlado randomizado de Camargo et al. (2009) que objetivou comparar o TMAP em grupo e individual utilizando um esquema de avaliação PERFECT. Mulheres de 30 a 75 anos com IUE foram selecionadas e, ao final, ambos os grupos experimentaram reduções significativas no vazamento urinário, como melhorias tanto na força muscular quanto na QV. No entanto, atestaram que não houve diferença significativa entre os grupos. Ao passo que, o estudo de Wang et al. (2020), apresentou seu resultado análogo a de um estudo semelhante de Asklund et al. (2017) que avaliou o efeito do TMAP na IUE em mulheres, através de aplicativo móvel. Ao final, o aplicativo móvel se mostrou clinicamente relevantes na IUE, podendo aumentar o acesso ao tratamento de primeira linha e a adesão eficaz.

No estudo de Bertotto et al. (2017), foi comparado o TMAP com e sem biofeedback eletromiográfico (BFEMG) para avaliar o impacto do BFEMG na força muscular e na pré-contração do assoalho pélvico. O grupo com BFEMG utilizou uma tela para monitorar os exercícios. Concluiu-se que em ambos o grupo houve melhora na força dos MAP e melhorou a qualidade de vida, no entanto, o grupo TMAP combinado com BFEMG apresentou resultados significativamente superior na melhoria da força muscular, pré-contração ao tossir e na contração voluntária máxima, em comparação ao TMAP isolado. O resultado se assemelha ao estudo de Fitz et al. (2012) que realizou um estudo piloto prospectivo, randomizado e controlado que objetivou verificar o efeito da adição do BFEMG ao TMAP para o tratamento da IUE, e no resultado concluiu que a adição do BFEMG ao TMAP para IUE é capaz de contribuir para a melhora da função dos MAP, na redução dos sintomas urinários e para a melhora da qualidade de vida.

Já no estudo de Furst et al. (2014), a comparação foi entre a estimulação elétrica vaginal (EEV) e o TMAP no tratamento da incontinência urinária de esforço IUE. O estudo concluiu que a adição do TMAP à EEV não trouxe resultados significativos a longo prazo, sendo que a EEV isolada teve eficácia semelhante.

O estudo de Furst et al. (2014) está de acordo com o resultado do estudo de Padilha et al. (2022) o estudo experimental transversal comparou os efeitos imediatos de sessões de TMAP e de EEV no tratamento da incontinência urinaria (IU) em 20 mulheres, randomizadas em dois grupos. A função dos MAP foi avaliada por palpação vaginal e manometria antes e após a intervenção. No grupo TMAP, foram realizadas contrações sustentadas e rápidas em diferentes posições. No grupo EEV, a estimulação elétrica teve parâmetros ajustados à sensibilidade das participantes. Conclui-se que TMAP e EEV têm efeitos semelhantes na IU.

O estudo de Bottini et al. (2024) destacou que o TMAP é mais eficaz que a Ginástica Abdominal Hipopressiva (GAH) no tratamento da IUE, pois o TMAP enfatiza a contração direta dos músculos do assoalho pélvico (MAP), proporcionando uma ativação mais direcionada e eficiente para a redução da incontinência. Já a GAH, embora ative o MAP indiretamente por meio de exercícios abdominais e respiratórios, demonstrou ser menos eficaz devido à menor intensidade dessa ativação em comparação ao TMAP.

O estudo de Bottini et al. (2024) está de acordo com o estudo de Moraes et al. (2021) o ensaio clínico randomizado comparou o impacto da GAH versus TMAP sobre a função sexual de mulheres no período de climatério. As mulheres envolvidas no estudo foram divididas aleatoriamente em dois grupos, ambos os grupos foram submetidos ao protocolo de exercícios por 26 sessões 2 vezes por semana. Concluiu-se que o TMAP proporciona maior benefício do que a GAH sobre a função sexual feminina.

Os estudos demonstram que a prática de exercícios do TMAP, realizadas com exercícios de contração e relaxamento, sendo contrações lentas e sustentadas a partir de 3 a 10 segundos, aumentando a sustentação gradualmente de acordo com a evolução, contribui para o aumento da força muscular, da resistência e da coordenação dos MAP, prevenindo e tratando disfunções como a IUE. Além disso, a melhoria da força e resistência muscular facilita a capacidade de sustentar contrações por mais tempo. Os estudos de Bertotto et al. (2017), Furst et al. (2014) e Bottini et al. (2024) revelam uma média de intervenção de 12 sessões fisioterapêuticas necessárias.

Os resultados desta revisão afirmam a eficácia do TMAP e sua superioridade, e está de acordo com um estudo retrospectivo de Pierantozzi et al. (2018) descritivo e analítico, realizado no período de 2014 a 2015 em um centro urológico na Argentina e publicado em 2018, que teve como objetivo avaliar a qualidade de vida QV de mulheres com diversos tipos de incontinência urinária IU após a utilização de um programa de TMAP. O estudo revelou a eficácia da terapia no tratamento dos diversas tipos de IU, o que proporcionou impacto favorável na QV, além do que mostrou também uma melhora no controle da bexiga e uma melhora na força dos MAP dessas mulheres acometidas com essa condição.

Deste modo, esta revisão de literatura confirma a eficácia do TMAP como uma intervenção terapêutica fundamental no tratamento da IUE em mulheres, evidenciando que a prática regular do TMAP fortalece a musculatura do assoalho pélvico e melhora a qualidade de vida das pacientes.

Os estudos analisados Bertotto et al. (2017), Bottini et al. (2024), Belushi et al. (2020) e Wang et al. (2020) evidenciam a eficácia do TMAP no tratamento da incontinência urinária de esforço em diversas populações, destacando sua flexibilidade na aplicação, seja em formato individual ou em grupo. A inclusão de tecnologias, como biofeedback e aplicativos de orientação, mostra-se promissora para aumentar a adesão e a eficácia dos tratamentos. Apesar de algumas combinações com outras intervenções não terem apresentado resultados superiores, como no estudo de Furst et al. (2014), onde os resultados dos testes foram similares, o TMAP se mantém como uma abordagem superior. Futuras pesquisas devem explorar combinações do TMAP com outras modalidades terapêuticas e investigar sua eficácia em populações mais diversas, visto que o estudo de Bottini et al. (2017) teve como resultado que o TMAP associado ao BFEMG foi superior do que somente o TMAP, portanto, mais pesquisas que abordam a temática são necessárias pois a continuidade da pesquisa neste campo é fundamental para aprimorar as práticas clínicas, ajudando as mulheres a enfrentar a IU de forma mais eficaz e a levar uma vida mais digna e confortável.

5 CONCLUSÃO

Esta revisão demonstrou que o treinamento muscular do assoalho pélvico (TMAP) é superior a outras técnicas quando se trata de incontinência urinaria de esforço (IUE), contudo, quando associado a outro recurso como o biofeedback eletromiográfico (BF EMG), tem seu efeito potencializado. Revelou ainda, que o TMAP é altamente eficaz no fortalecimento e na melhora da resistência dos músculos do assoalho pélvico (MAP), que desempenham papel crucial no suporte dos órgãos pélvicos, no controle da incontinência urinária (IU), além da função sexual.

O estudo buscou investigar a relevância do TMAP no assoalho pélvico e, a partir disso revelou que o TMAP é uma intervenção fisioterapêutica não invasiva eficaz no tratamento da IUE em mulheres, tendo dentre os resultados o aumento da força dos MAPs e assim, causando um impacto positivo direto na qualidade de vida dessas mulheres com essa condição.

REFERÊNCIAS

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1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE.
2Coorientadora, Bacharel em Fisioterapia-UNINORTE
3Doutorado em Reabilitação e Desempenho Funcional, Docente do Curso de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Centro Universitário do Norte – UNINORTE e do Curso de Medicina da Afya Faculdade de Ciências Médicas Itacoatiara.