REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411231153
Fabio Bispo Palmeira
Orientador(a): Me. Lucas Teixeira Costa.
RESUMO
Este trabalho tem como finalidade descrever a construção identitária da masculinidade hegemônica e o seu efeito na saúde mental de homens gays, como também as inferências da condição homoafetiva ao adequar-se as normas da masculinidade. O ser humano está habituado em uma sociedade rígida, onde se espera um padrão comportamental confiado a homens e mulheres. Desde a infância as pessoas são condicionadas a pensar e agir sobre o prisma da heteronormatividade, ideologia que enquadra normas sobre os papéis de gênero e performances sexuais relacionadas ao gênero masculino e feminino. O processo de construção da masculinidade sustenta-se no machismo e no patriarcado, que por sua vez oferecem diferentes modelos de identidade, como o homem hétero e o homem gay. Assim, “ser masculino” geralmente está relacionado à condição varonil, e ser gay a condição de ser frágil, dominado e, acima de tudo, ser afeminado. Portanto, busca-se entender e perceber como os gays, os heterossexuais e as mulheres são construídos socialmente, aproximando estas pessoas ao discurso da igualdade de gênero e como a Psicologia Clínica acolhe e trabalha com esse público e as questões da sexualidade e diversidade sexual, construindo uma psicologia anti-LGBTfobica.
Palavras-chave: Masculinidade. Identidade. Gays. Saúde Mental.
ABSTRACT
This research aims to describe the identity construction of hegemonic masculinity and its effect on the mental health of gay men, as well as the inferences of the homo-affective condition when conforming to the norms of masculinity. Human beings are used to a rigid society where a behavioral standard is expected from men and women. Since childhood people are conditioned to think and act under the prism of heteronormativity, an ideology that frames norms about gender roles and sexual performances related to male and female genders. The process of constructing masculinity is supported by male chauvinism and patriarchy, which in turn offer different models of identity, such as the straight man and the gay man. Thus, “being masculine” is usually related to the masculine condition, and being gay to the condition of being fragile, dominated, and, above all, being effeminate. Therefore, it seeks to understand and perceive how gays, heterosexuals and women are socially constructed, bringing these people closer to the gender equality discourse and how Clinical Psychology welcomes and works with this public and the issues of sexuality and sexual diversity, building an anti-LGBTphobic psychology.
Keywords: Masculinity. Identity. Gays. Mental Health.
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como finalidade descrever a construção identitária da masculinidade hegemônica e o seu efeitos na saúde mental de homens gays, como também, as inferências da condição homoafetiva, ao adequar-se as normas da masculinidade. Esse processo envolve a formulação e a construção do indivíduo, as relações intrapessoais, ligada a capacidade de conhecer a si mesmo, os seus sentimentos, habilidades e as emoções referentes as características estereotipadas e generalizadas, normalmente atribuídas aos “homens”, como: “homem não chora, precisa ser forte, o homem que manda”, etc. E as relações interpessoais ligadas a capacidade de se relacionar com o ambiente (meio); frisando a bagagem cultural (crenças e valores morais) e o processo sócio-histórico, que condiciona alguns comportamentos, influenciando a maneira de pensar, agir e se impor perante a sociedade.
O ser humano está habituado em uma sociedade rígida, esperando-se um padrão comportamental confiado a homens e mulheres. A contar da infância, as pessoas são condicionadas a pensar e agir sobre o prisma da heteronormatividade, ideologia que enquadra normas sociais quanto aos papéis de gênero e performances sexuais relacionadas ao sexo masculino e feminino. Porém, é difícil perceber situações em que estes moldes de comportamento estereotipado se manifestam, chamados de masculinidade tóxica, pois, existem comportamentos tão enraizados culturalmente, que se tornam de difícil percepção; restituindo assim, uma sociedade anestesiada, com tais comportamentos enquadrados como o modelo esperado e/ou aceito (PIMENTA, 2019).
Apesar de ser um processo particular, a masculinidade apresenta ser especificamente a qualidade de uma pessoa que demonstra um comportamento másculo, ou seja, que apresenta uma virilidade, tida como o ideal, o protótipo de comportamento moral esperado pela sociedade; contrário da homossexualidade, considerada como diferente e desviante pela modelo patriarcal (GUERRA, et al, 2015, grifo nosso).
O processo de construção da masculinidade aborda concepções enquadradas no machismo (sistema ideológico) e na sexualidade, que oferecem diferentes modelos de identidade, como o homem hétero e o homem gay. Assim, ser masculino é apresentar e portar uma condição varonil[1], e ser gay é ser frágil, dominado e acima de tudo ser efeminado. Ao analisar o processo sócio-histórico-cultural, é notável que houve uma crise da masculinidade, frente a uma ordem normativa, logicamente binaria, em busca de afirmações e/ou a construção de papéis de gênero, definindo quais características e qualidades formariam o homem (MATTIA, 2020).
Sendo assim, estes esquemas de comportamentos, além de ser prejudiciais ao desenvolvimento da inteligência emocional[2], causam danos a processos cognitivos, movimentando os homens gays a grandes implicações ao afirmar sua condição homoafetiva; principalmente, construída sobre os reflexos hétero-cis-normativo (MATTIA, 2020; CARVALHO,2020).
Deste modo, esse parâmetro de comportamento, esperado e imposto pela sociedade, provocou preconceitos e discriminações a subjetividade masculina e homoafetiva, reprimidos e subjugados ao tornar transparente todo o seu ser, os seus sentimentos e seu emocional. Assim, essas privações, causam danos aos processos cognitivos, como a autoconfiança e a autoestima, gerando um sofrimento psíquico, ao tentar se conectar as suas emoções, na construção do seu eu, causando um sofrimento mental principalmente nos homens gays (CASADEI e KUDEKEN, 2020, grifo nosso).
Compreender a masculinidade é descontruir o machismo. Desconstruir a preconcepção de gênero, buscando assim, entender e perceber como os gays, os heterossexuais e mulheres são construídos socialmente. Logo, uma forma de aproximar estas pessoas ao discurso da igualdade de gênero, é ajudar estes a refletirem sobre o processo de construção de sua identidade, auxiliando na tomada de consciência do seu eu (PEREIRA, et al., 2019).
Este trabalho busca compreender como a construção da masculinidade hegemônica provoca diferentes impactos na construção da identidade dos homens gays, analisando os efeitos na saúde mental. Além disso, também descreve o processo de construção do ser hétero e gay, em um olhar sócio-histórico e cultural e/ou contemporâneo.
Portanto, servira como pesquisa para os operadores de Psicologia e Serviço Social, e contribuirá para mostrar a construção estereotipada da masculinidade, em relação ao padrão heteronormativo; gerando assim uma nova perspectiva a cerca do que é ser cis hetero e sua supremacia sobre o homem gay, a partir das estruturações e/ou reconfigurações no processo da hombridade[3] e identidade de gênero. Como também, contribuir para a reflexão das complexidades de uma construção de identidade hegemônica e o impacto deste processo, na subjetivação e saúde mental dos homens gays.
1.1 OBJETIVOS
Geral: Compreender o processo de construção da identidade masculina hegemônica e seus impactos na saúde mental de homens gays.
Específico:
- Descrever o processo de construção da identidade masculina hegemônica.
- Descrever as implicações da adequação hegemônica da masculinidade sobre a condição homoafetiva.
- Analisar os sinais e sintomas psicopatológicos desenvolvidos nos homens gays em decorrência do ideal de masculinidade.
- Demonstrar como a psicologia clínica contribui para o acolhimento do sofrimento mental vivenciado por homens gays em decorrência dos ideais de masculinidades.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE MASCULINA HEGEMÔNICA
Considerada como um processo analisado por diferentes áreas, tais como, a Antropologia, Filosofia, Sociologia, Psicologia, Cientistas Sociais, dentre outros. Ao abordar a identidade, a primeira interrogação que surge é: quem é você? Uma pergunta básica e que permite uma gama de resposta sobre o indivíduo. Assim, é definida como um processo do desenvolvimento humano, individual e coletivo, junto a construção da subjetividade, da ética e dos valores morais da pessoa, sobre influência da representatividade do contexto que se insere (SPEZANI e OLIVEIRA, 2013, p.105).
A identidade é como uma maneira de cada indivíduo se tornar algo em uma composição de grupo, “etnia, raça, gênero, família, ou profissão, em que o igual e diferente convivem simultaneamente” (SANTINELLO, 2011). Para o autor, frente as relações interpessoais e intrapessoais, assim como o convívio social e relações com o meio, é estabelecido um processo psicossocial, considerado identidade; ambiente que o indivíduo constrói o método de identificação.
Santinello (2011) ressalta que este processo está associado ao primeiro grupo social, a família, responsável por estabelecer papéis e crenças do indivíduo, ou seja, inicia na família o processo de representatividade, juntamente com a comunicação e a linguagem. Neste contexto, um grande exemplo de identidade é o nome, principal categoria identificatória das pessoas.
Desta forma, a construção da consciência de si, por meio desses fatores e das experiências sociais, envolve processos da vida afetiva e cognitiva do indivíduo; e a partir deste processo, a identidade passa a exercer funções, condutas e mudanças, ao decorrer do processo de desenvolvimento, consideradas regulações da identidade, que contribuiu junto ao modelo patriarcal de família, e a questão da identidade de gênero, em relação aos fatores culturais, sociais e biológicos (WIECZORKIEVICZ e BAADE, 2020, p. 01).
Como diz Guerra et al. (2014), apesar da identidade de gênero ser a forma a qual a pessoa se identifica e/ou se expressa, o padrão heteronormativo visa a normatização de comportamentos e sexualidade, como uma tentativa de regular o gênero a duas e únicas perspectivas biológica, o macho e fêmea. É sobre esta reflexão de enquadramento que a sociedade gera grandes interrogações sobre a sexualidade, gêneros e o processo de construção da masculinidade.
[…] O conceito de gênero permite a problematização do que vem a ser o masculino e o feminino em nossa sociedade, uma vez que é por meio das experiências de gênero que homens e mulheres dão forma e significado as suas representações e práticas (GUERRA; et al., 2014, p. 156).
Sendo assim, o que significa ser homem? Será que sua resposta está dentro do molde estabelecido pela bagagem cultural? Esta reflexão parte da influência de cada cultura, modificando-se a partir da percepção de cada pessoa, frente às ideias e valores que foram passados e adquiridos. Em nossa cultura, é predominante a visão de que ser homem é ser dominante, másculo, capaz de proporcionar segurança e proteção, além de outras características que são aprendidas a partir da infância, ou seja, foi criado dentro de um processo sócio-histórico e cultural um enquadramento o qual diz que ser homem é ser varonil (GAMA, et al., 2014, p.2837, grifo nosso).
Por conseguinte, ser másculo então é exalar um potencial masculino, que seria considerada como o polo do comportamento masculino; esta energia garante o poder de autoritarismo, orgulho de ser homem e se comportar como tal, honrando os testículos que tem entre as pernas, como se o falo representasse uma condição de poder e soberania, principalmente em relação a mulher (BAÉRE e ZANELLO, 2020, p.03).
A respeito disso, é comum entre os homens, principalmente em rodas de amigos, contar vantagens sobre suas experiências sexuais, muitas vezes desvalorizando as mulheres; assim como propõe Beleli (2017) ao revelar o sistema pelo qual os homens se referem às mulheres como um objeto de prazer sexual, onde o sexo torna-se uma disputa de dominação, um jogo ou esporte de prazer.
No ato sexual, o homem que demonstra sentimento é tido como o frágil, logo, afirmam que é preciso transar em excesso, ‘com força e quanto mais a mulher gritar ou gemer, maior a prova de satisfação da virilidade do homem que penetra excessivamente agressivo, o termo usado entre os másculos, “fuder loucamente’’ (VOKS, 2021, p.11, grifo nosso).
Assim, existe uma necessidade de afirmar ser um homem com H maiúsculo. Não lhe importam se a mulher sente dor, se esta sangra, ou se ela está sentindo tesão e até mesmo se a mulher chegou ao orgasmo, pois, enquanto o homem estiver penetrando loucamente, enquanto seu falo estiver erétil até o gozo, este demonstrou e honrou sua posição de “homem de verdade”. Preocupando-se com a concentração de energia e desempenho, em ter ereções e não “brochar”, como é popularmente dito; deste modo, muitos homens não estabelecem uma intimidade emocional, uma vez que o sexo acaba sendo uma busca e/ou experiência limitada e ansiosa (VOKS, 2021, p.13).
Neste contexto, como explica JJ Bola (2020), “ser masculino é ser o sexo ativo, é considerado aquele que come, estoca, soca, mete, passa a vara, que passa a madeira”, dentre outras expressões da linguagem coloquial[4], utilizada para descrever o sexo. Homem que é homem penetra mulher e outros homens, ditos feminilizados. Estes aprendem que deve ter uma posição ativa em relações sexuais com o mesmo sexo, suficientemente capaz de ficar alterado e sentir um prazer que ele “deve” reprimir e nunca dizer que sentiu (tesão), mas sim, que acabou com o dito, “viado”, uma vez que a penetração se torna a principal atividade masculina de afirmação (RIBEIRO, et al., 2013, p.462; GUERRA, et al., 2014, p. 156, grifo nosso).
Dessa forma, qualquer comportamento que não seja aceito e/ou enquadrado neste perfil, põe este homem sobre a observação e julgamento da sociedade, especificamente em uma posição de constrangimento e ainda associado ao preconceito e discriminação, recebendo apelidos homofôbicos, como o termo “viadagem”, ou seja, tem que seguir a norma, todo o comportamento que não é viril é considerado “viadagem” (GUERRA; et al., 2014, p. 157).
Com isso, os homens precisam desenvolver uma “maturidade máscula[5]”, na qual a sua honra e seus valores levem-no a ser visto como um homem de respeito, o portador da verdade e do conhecimento. Assim, ser homem não seria apenas ter mãos largas, voz grossa e ter um físico forte, mas, seria ter um instinto masculino e/ou selvagem. Um retrato dessa realidade aparece nos filmes ou novelas, como por exemplos em cenas onde adolescentes são levados para o bordel pelo pai ao completar dezoito anos (BAÉRE e ZANELLO, 2020, p.2).
Neste sentido, este homem mais velho ensina ao jovem que este é o momento no qual definitivamente precisa afirmar sua masculinidade, ingerir muita bebida alcoólica e “escolher” qualquer moça do lugar de prostituição, pois ele já é digno de escolher qual mulher quer dominar. De tal modo, este adolescente deve ir ao quarto e perder sua virgindade, não ter medo e não ter afeto pela moça. Ela está apenas para satisfazer o seu desejo sexual, iniciando a sua vida sexual ativa, considerado o processo de iniciação masculina (VASCONCELOS, et al., 2016, p. 192).
Assim, essa figura do homem mais velho que busca ensinar o homem mais jovem continua sendo internalizada na sociedade. Nas civilizações antigas, os homens mais velhos eram responsáveis por exercer práticas pedagógicas aos seus pupilos. Como caracteriza Foucault (1998), na obra intitulada História da sexualidade II: o uso dos prazeres, a liberdade sexual, era tida como um mecanismo educacional, existindo o aprendiz e o sábio.
Outra forma imposta pelo enquadro normativo é o modelo de sexualidade masculina através da pornografia, onde atribuem uma visão de que as mulheres devem ser consumidas. O jovem rapaz que inicia o aprendizado sexual por pornografia, sendo um homem de verdade, deve transformar o seu olhar másculo em um modelo de “masculinidade predatória” a ser seguida (RIBEIRO, et al., 2013, p. 468).
É comum observar meninos e meninas em seu processo de desenvolvimento e interação com a sociedade, qual a sensação e percepção que os homens obtêm? Uma menina que cresce aprendendo a ser sensível, a abraçar, dar carinho, a menina aprende o que é ter afeto e sabe reconhecer todos os papeis de fragilidade e inferioridade em relação aos meninos (BRASCO e ANTONI, 2020, p.10, grifo nosso).
Por sua vez, estes são ensinados a ser o dominante, os mandões, a oferecer um aperto de mão e um leve tapinha no ombro do amigo como sinal de afeto ao invés de abraços, pois, quem abraça é sentimental e homem não deve expressar o que sente, tem que se manter forte, brigar pelo brinquedo, conquistar o seu lugar de fala, a começar pela infância (RIBEIRO, et al, 2013, p.466).
Como afirma Guerra et al. (2014):
Tais paradigmas demostram as diversas tentativas existentes na literatura psicológica de se compreender a masculinidade. Utilizado pela psicologia desde o início do século, o conceito de masculinidade pode ser entendido como um conjunto de características e habilidades que, significadas culturalmente, traduzem um estereótipo de homem (GUERRA; et al., 2014, p. 156).
Ao abordar as questões de gênero dentro desse universo, estão associadas ainda o processo de normatização da heterossexualidade e a categorização dos grupos, ou a distribuição de papéis atrelados ao gênero. De acordo com JJ. Bola (2020), frente às tradições culturais e normativas, as mulheres são consideradas puramente emocionais, já os homens são vistos como o gênero (o ser), porque pensam através das suas ações e análises, julgando cada situação com base no melhor resultado possível, enquanto as mulheres, de acordo com o estereótipo, julgam com base nos próprios sentimentos (PEREIRA, et al., 2019).
A heteronormatividade estabelece um enquadro do comportamento humano, ajustando e influenciando as relações interpessoais, implicando assim, as interações e relações sociais, ou seja, as regras comportamentais, que orientam esse processo na sociedade. As relações interpessoais estão atreladas a bagagem cultural, adjuntas as regras e valores morais, apresentando uma cultura patriarcal, qual, esta forma de valorização de poder dos homens sobre as mulheres, contribui para uma sociedade desigual (PEREIRA, et al., 2019, p.134).
O padrão heteronormativo, impõe incluísse, as ações do comportamento masculino e feminino, quanto a suas funções de reflexos inatos, por exemplo, urinar; pergunte a algum homem se ele alguma vez já urinou sentado, ou se ele já fez o teste, será uma experiência curiosa, muitos podem até dizer que, quem faz isso são as mulheres, mas, no famoso número dois, os homens levantam quando urinam? não percebem? ou será inconsciente? Um simples ato inato e de sobrevivência humana, pode levantar tantos questionamentos, mais um estereótipo do processo tóxico de hombridade (MATTIA, 2020, p.03, grifo nosso).
Destarte, a construção da masculinidade, sucede sobre o processo identitário do indivíduo. As necessidades de afirmar o ser homem, depende da representatividade e dos valores sociais, sobre a subjetivação de um contexto sociopolítico e da realidade atual, ou seja, este processo de construção não parou em princípios do patriarcado, mas, continua em perspectivas de processo de identidade, sobre contrastes da hegemonia e ideologia da estigmatização.
2.1.1 PERFORMANCES DA MASCULINIDADE: HONRA, SEGURANÇA, INTIMIDADE E VIOLÊNCIA
Os estudos sobre a masculinidade surgem de um processo sócio-histórico, político e cultural, a partir de definições da identidade de gênero e da sexualidade. Assim, a masculinidade estaria fundamentada em um modelo de ser e/ou comportar-se com uma postura de ameaçador, predatório e possessivo, aquele que não falha, pois a falha dessexualiza o homem, tornando-o incompleto e vulnerável (TAKAKURA, 2017, p.99-107).
As concepções da masculinidade relacionam-se conforme as pessoas percebem o meio e as condutas nele estabelecidos. Ao longo das mudanças sociais, históricas e culturais, as normas sociais contribuíram para o desenvolvimento de uma masculinidade hegemônica, apresentando a superioridade dos homens sob as mulheres, garantido a estes, o status de poder e soberania, delimitando o sexo forte e o sexo frágil (CONNELL e MESSERSCHMIDT, 2013, p.243).
Sobre uma análise histórica, o gênero surge com o movimento feminismo e a busca da igualdade de gênero. Muitos julgam este movimento como anti-homens, porém, o feminismo busca “uma rejeição ao determinismo biológico implícito no uso de termos como “sexo” ou “diferença sexual”. O gênero sublinhava também o aspecto relacional das definições normativas das feminilidades”. Dessa forma, o feminismo é importante para o construto da masculinidade (SCOTT, 1989, p.72).
Apesar dos homens continuarem tendo privilégios e vantagens, quanto os “direitos sociais, econômicos e políticos que são disponibilizados a estes por consequência do seu sexo” (BOLA, 2020). Este movimento não quer menosprezar e estabelecer situações brutais contra o masculino, mas sim, impedir os processos de violência, criar uma sociedade onde as mulheres não tenham que sofrer ou morrer, uma sociedade mais igualitária, afinal, as mulheres lutam pelos direitos dos homens.
O feminismo é, na verdade positivo para os homens, porque busca curar os indivíduos e remover as pressões que a sociedade patriarcal impõe a todos nós, em especial os falsos dogmas e as imposições da masculinidade, além de atuar contra a generalizada destruição política e social que o patriarcado provoca […] (BOLA, 2020, p.97-100).
Por conseguinte, a sexualidade surge como estudos aos comportamentos sociais, os desejos dos seres humanos e as estruturas biológicas de reprodução, sobre um conjunto de regras e costumes, que dita seus deveres, prazeres e os reflexos de sua vida afetiva. Ao longo da história, a sexualidade foi tida como regulamentação do sexo, e os homens usavam, ou usam a sexualidade feminina para não enfrentar a construção de uma sexualidade masculina (CECCARELLI, 2013, p.84).
Destacado como um dos pioneiros dos estudos sobre sexualidade, Michel Foucault (1999) aborda a Scientia Sexualis, como um mecanismo de vigilância da sexualidade, mecanismo da Confissão da Igreja Católica, estabelecendo controle sobre as consideradas verdades do sexo; contribuindo para que a masculinidade não construísse a sua sexualidade, controlando suas ações através do medo.
Estas concepções afeta as necessidades sociais destes indivíduos, levando-o as privações da sua identidade, ou seja, da sua individualidade. Desta forma, esta particularidade subjetiva do homem, sofre a privação do seu verdadeiro eu e a internalização dos estereótipos masculinos tradicionais, tendendo a apresentar características nocivas, atreladas aos comportamentos (PIMENTA, 2019).
Dentre estas, está a Honra, um princípio de conduta de uma pessoa, na qual as qualidades são consideradas virtuosas, corajosa e honesta, (GUERRA, et al., 2015) ou seja, a honra dependeria de julgamento externo e seria adquirida por meio da virtude, definindo também, as relações de gênero. A sociedade e a bagagem cultural impõem valores de honra, ensinando que o homem deve ser respeitado por seus pares, isto é, ter uma mulher e/ou esposa de respeito. Neste caso, a honra volta-se as relações conjugais, onde para o homem, a mulher deveria ser tida como pura, recatada e controlada (BRASCO e ANTONI, 2020, p.12).
As narradoras parecem imaginar os pertencimentos de classe a partir de um estilo de vida- marcado por coisas que lhes parecem próprias do seu mundo, mas também um tipo de masculinidade que constitui entre o bruto- no geral visto como machista- e o mauricinho, que não tem força (e aqui os termos são êmicos) suficiente para estabelecer uma parceira […] A infidelidade por longo tempo era diretamente associada aos homens, mulheres infiéis recorrentemente eram representadas nas novelas e em outros produtos culturais como más, cujo destino final era a punição, morte, solidão, amargura (BELELI, 2017, p.341).
Ainda hoje, são vistos casos televisivos de homens que matam as mulheres por honra e justiça, pois acreditam que se foi traído, enganado, ou desrespeitado, matando-a, ele atende o seu instinto legítimo e verdadeiro em defesa da sua honra. Assim, os homens aceitam os “códigos de virilidade e poder” sobre as mulheres, que seriam as responsáveis pela honra do homem e da família (BELELI, 2017, p.341).
A honra é vista pela sociedade como uma espécie de máscara dos homens, uma fachada do patriarcado, que exige desses indivíduos, a busca e a ocupação de posições privilegiadas, como também, a hierarquia do gênero, colocando os homens sempre em vantagens (BOLA, 2020, p.20).
Como caracteriza Guerra et al, (2015), a honra pode ser compreendida também em quatro dimensões:
A honra da família associa a ideia da reputação pessoal com a familiar. Assim, comportamentos inadequados por parte de membros do grupo familiar poderão ferir o nome e a reputação da família. Já a honra social ou integridade expressa uma interdependência entre o indivíduo e o grupo social e envolve a reputação do indivíduo em qualquer relação interpessoal […] sendo assim, tem-se a castidade sexual e a contenção social como características centrais para a honra feminina. Essa está fortemente associada coma honra familiar e expressa a ideia de que o comportamento da mulher pode ameaçar a honra familiar e a honra masculina, que, por sua vez, diz da reputação do homem no que se refere à sua virilidade, a sua responsabilidade de manter autoridade perante a família e defendê-la, quando necessário (GUERRA, et al., 2015, p. 75).
De tal modo, a honra é refletida como um código e aspecto de reputação do ser masculino, seja em seus relacionamentos, família, ou qualquer grupo que esteja inserido, contribuindo para que os homens estejam sujeitos a uma vulnerabilidade de rigidez e limitação sobre quem são, transformando os homens em indivíduos manipuladores e violentos (GUERRA, et al., 2015, p.74; BURILLE, et al., 2018, p.436; BOLA, 2020, p.21).
Outro comportamento internalizado, é a Segurança, resumidamente conceituada a situação de estar seguro, da privação, tentativa de afastar-se do perigo; como também, a completa demonstração de convicção e certeza. Em relação a masculinidade, os homens possuem uma série de concepções e teorias, baseados em um comportamento de firmeza, confiança, autoconfiança e uma fala com segurança, certos de que nada os podem temer (BURILLE, et al., 2018, p.436).
JJ Bola (2020) ressalta que:
Os garotos logo aprendem que expressar sentimentos, ainda mais com demonstrações de vulnerabilidade, como choro, são fraquezas. E eles internalizam essa censura, de modo que, quando fazem transição da infância para a adolescência e, depois, para a vida adulta, eles reprimem inteiramente as emoções e nunca se dão conta do tamanho da violência.” Assim, a repressão da censura, aparece como uma figura, que assegura os privilégios masculinos, dissimulando um estereotipo de plena segurança, “comum” entre os homens (BOLA, 2020, p. 27, grifo nosso).
Sendo assim, o homem desenvolve-se enquadrado a um padrão que impõe como estes devem ser e se portar na sociedade, na família, na escola, em todos os grupos que compõe. Uma vez homem, é preciso que tudo o que realize, ou que toda tomada de decisões seja definitivamente segura e confiante, ainda que não seja a melhor escolha, o indivíduo deve estar ciente de que a sua voz é potente, tem grande relevância e é a que deve ser levada em consideração, pois o homem sabe o que faz e o que é o melhor (VASCONCELOS, et al., 2016, p.187).
O grupo masculino atente-se muito a cobrança da autoconfiança, por exemplo, observar outros homens e idealizar algo que ele possui por ser considerado importante para um homem possuir e conquistar. Logo, se o indivíduo desejar determinada coisa que o outro possui, ou socialmente apresenta, ele deve assegurar que é capaz de conseguir, pois se este não for seguro da sua capacidade, não vai chegar a nenhum lugar, sendo submisso aos outros amigos, ou a figura masculina idealizada, ou seja, o homem seguro é aquele que também é competidor, uma vez que indiretamente deseja intimidar outros com a sua conquista em alcançar o homem tido como “ideal” (MATTIA, 2020, p.08).
O processo de segurança masculina se propaga em todas as interações, relações e comportamentos dos homens, influenciando a construção de um ser venéfico para si e para os demais; como ser um “cara” legal e/ou bonzinho, essas expressões geram uma imagem positiva dos homens, passa a ideia de que ele é seguro e que merece receber atenção, ou melhor, tem “direito” a atenção, por parte das mulheres (BOLA, 2020, p. 26).
É comum ouvir as seguintes afirmações: é heterossexual, fisicamente apto, forte, ativo, sexualmente experiente e impositivo, sabe se defender, não demostra emoções, fala firme, é trabalhador e provedor, nunca desiste, não erra, é competitivo, bem-sucedido, aguenta o tranco e sabe pôr a mulher no lugar (O SILÊNCIO DOS HOMENS, 2019).
É a partir dessas frases nocivas, que se estabelece a prisão cultural dos homens, que ensina agir, falar e ser (ou buscar ser), gerando limitações a expressão masculina, nas diferentes realidades da masculinidade. A segurança estabelecida neste grupo é enrijecida, tóxica e privativa, um processo que deveria ser saudável, torna-se um construto de medo e insegurança (PIMENTA, 2019).
Desta forma, como é construída e estabelecida a intimidade? Definida como algo profundo, pessoal, ligado a qualidade do íntimo, relações e vida intima, além da qualidade de proporcionar bem-estar e privacidade, a intimidade está atrelada ao processo de interioridade. Além disso, é tida como a ideia distorcida de que as relações, é apenas a troca de afeto entre duas pessoas. Quando se trata de relações amorosas, a intimidade inevitavelmente, deixa os homens perdidos. É estabelecer relacionamentos duradouros, que pode ser um desejo, mas, que também é uma forma de reconhecimento, afinal, não ter um par, remete a serem incompletos (BELELI, 2017, p.338).
Frente a ideologia machista e patriarcal, a intimidade é citada como fraqueza, ainda como na Roma antiga, se a mulher conhecer bem a intimidade do rapaz, este é considerado frágil, pois não foi capaz de impedir a moça de conhecer o seu profundo, ou seja, os homens acreditam que a intimidade estabelecida deve ser apenas sexual. É o caso da performance do sexo perfeito (VOKS, 2021, p.11).
De acordo com JJ Bola (2020), a sociedade patriarcal ensina que:
O sexo é transacional- ou seja, o sexo pode (como se fosse um direito básico do sujeito) ser adquirido por meio do dinheiro. É aquele cenário no qual um homem acha que pagar a conta do jantar deveria garantir a ele uma noite de sexo […] O sexo é negociável- ou seja, ele pode ser negociado. O ‘não’ não quer dizer ‘não’. Pelo contrário, quer dizer que o homem precisa se esforçar mais para fazer a mulher dizer sim. É um pensamento que aparece com bastante força em programas de televisão, em comédias românticas e em outras mídias de massa, vendendo a ideia de que o homem persistente vai eventualmente conquistar a mulher […] (BOLA, 2020, p.73).
Na visão de Ribeiro et al., (2013) apud, Jeffrey Weeks (1999), a sexualidade é considerada o conjunto de certezas e comportamentos que se relacionam com “o corpo e seus prazeres”; como a insegurança do tamanho do falo, de gozar rapidamente, da mulher comentar com as amigas e gerar comentários internos negativos sobre sua disposição sexual, dentre outros pensamentos desaptativos[6], gerados pela masculinidade tóxica, quanto o papel do homem (grifo nosso).
Como Iara Beleli (2017) apresenta:
A internalização de normas, regras e valores não se separa dos indivíduos, portanto, seus espaços privados e íntimos são também pautados pela uniformidade da conduta, ou como sugere Hanna Arendt: ‘nossa subjetividade individual é somente um resultado temporário e contingente, um momento na trama contínua da intersubjetividade’ (BELELI, 2017, p. 338).
Os homens têm a tomada de consciência de seus desejos, vontades e prazeres, mas, ao mesmo tempo que reconhecem sua zona de conforto, são automaticamente reprimidos pelas normas e a conduta imposta pela sociedade. Em muitos casos, em que acontece o casamento, o íntimo se articula entre as duas particularidades, aonde espera-se conhecer o espaço interior do outro e através da experiência a dois, estabelecer um nível de intimidade, cumplicidade, ou seja, uma “interioridade parcial” (BAÉRE e ZANELLO, 2020, p.03).
Ter companhia física, ainda que seja a esposa(o), não quer dizer que o indivíduo tem estabelecido intimidade. A intimidade é quando ambos comunicam coisas mais profundas, como as fragilidades, medos, receios, dilemas, estabelecendo uma relação intima completa e não parcial, apesar de ser um processo complexo, uma vez que cada subjetividade apresenta sua autonomia. Assim, o discurso sobre o ato sexual tem sido uma quebra de tabu. O que será que os homens desejam, sentem? Quais os seus fetiches e curiosidades, que os estereótipos heteronormativos impedem de ser realizados? (BELELI, 2017, p. 338, grifo nosso).
Outra questão sobre a intimidade, é o processo de amizade entre os rapazes, um grupo de personalidades masculinas, bombardeada de preceitos e ideologia machista que devem ser aceitos como parte do “ser homem”. A amizade, chamado nestes grupos de “broderagem”, é um processo tóxico da masculinidade. Espera-se que uma amizade seja estabelecida de confiança, apoio, lealdade e afeição, porém, entre os meninos, a amizade tem suas restrições e limites, logo, essa broderagem, proporciona-lhes uma segurança externa e não interna, ou seja, os homens não se sentem confortáveis e seguros o bastante para desabafar e contar seus segredos íntimos ou qualquer tipo de problema, pois, se abrir efetivamente para o amigo, seria motivo tornar-se piada (O SILÊNCIO DOS HOMENS; 2019).
Em meio a cultura machista e a homofobia, quando os homens dividem algum tipo de intimidade, expressando vínculos ou sentimentos de uma maneira que vai além das expectativas “hipermasculinas”, é considerado como Gays (BOLA, 2020). Assim, estariam indo contra a afirmação da sua virilidade, assumindo uma postura considerada e atribuída especificamente aos homens Gays. Deste modo, o processo de intoxicação na intimidade, ainda gera uma imaturidade das emoções e masculinidades (BAÉRE e ZANELLO, 2020, p.11).
Neste processo de comportamentos nocivos, é bastante predominante a Violência, etimologicamente definida como um ato violento, sobre uso da força física, acesso de fúria, ou da intimidação moral, a violência tem sua origem a partir da cultura que está inserida. Com frequência, a violência masculina é descrita como sendo uma característica natural, ou até mesmo uma segunda natureza dos homens, uma concepção que, por certo, se deve a uma falta de discussão sobre as causas mais profundas da violência masculina. Assim, a partir da cultura de estigmas, os homens acabam por demostrar o que sente, através da violência, da agressão, como mostrar-se grosso e aumentar o tom de voz (BOLLA, 2020, p.39; SCHRAIBER, et al., 2012, p.791).
Este processo de privação, pode ser feito a partir da analogia do armário, que em relação a comunidade LGBTQIAPN+, é utilizada para dizer que o indivíduo assumiu, não esconde sua sexualidade. Neste caso, a analogia seria ao “armário dos homens”, só que ao invés de sair, aprendem a se trancar cada vez mais, sair quando necessário, porém, deixando o seu verdadeiro eu guardado (BOLA, 2020, p. 10).
Imagine um armário com uma fechadura, com roupas penduradas em cabides, o homem está lá dentro, olhando pelo buraco da fechadura o que acontece ao seu redor, observando todo o meio, para que quando ele resolva abrir uma porta, este possa tirar do cabide uma peça, ou melhor, um estereotipo e integrar no seu comportamento, o que o meio espera dele, seria como, qual roupa e/ou etiqueta vou vestir hoje? Como preciso me comportar nesta situação, sendo um homem? (BOLA, 2020, p. 10, grifo nosso).
Como afirma Schraiber et al. (2012):
São explicados pelos estudos de gênero, para quais a violência é parte da socialização dos meninos, resultando em práticas futuras em seus exercícios de masculinidade na vida cotidiana. Introjetando a violência em seus processos de afirmação identitária de homens, essa referência de gênero os predispõe a perpetrá-la contra pessoas por eles consideradas inferiores na escala social, tais como mulheres, idosos, homossexuais, ou certos segmentos de classe ou raciais de seus pares (SCHRAIBER, et al, 2012, p. 801).
Estes estereótipos, que exprime uma grande expressão de força, são na verdade, traços de medo e temor, é o processo de masculinidade tóxica, onde os homens estão vulneráveis a tais condutas e passam pelo que se pode considerar, o roubo da subjetividade, ou seja, os homens acabam por adotar uma visão distorcida e/ou, não apresentam a sua opinião subjetiva, tendo sua vida interior diminuída e controlada (PIMENTA, 2019).
Sabendo que a aprendizagem se dá também a partir das experiências, quais as referências saudáveis que os meninos obtêm no seu processo de desenvolvimento, para compreender e expressar sua masculinidade? Na infância são ensinados a não demostrar afeto, a bater no colega da escola, se este lhe causou algum mal, a ser superior que as meninas e fazer com que sua voz seja ouvida, mesmo que para isso, seja preciso partir para a agressão verbal ou física (VOKS, 2021, p.04).
Nesse sentido, sob a ótica do brincar na infância, os brinquedos podem refletir em modos e/ou comportamentos agressivos, ou representar a exigência de um resultado árduo, digno de um homem manusear, executar, como, revolveres, caminhões, ferramentas, superman, bola, dentre outros. Os brinquedos que as crianças recebem, músicas, filmes, desenhos animados, possuem um grande impacto na maneira como elas se expressam e como se compreendem, e o comportamento agressivo, ainda que seja de mentira (brincadeira), como também, punições físicas impostas pelos adultos responsáveis, acaba por estimular e desenvolver uma percepção agressiva das crianças, ocasionado no futuro, o desenvolvimento de padrões agressivos e violentos, que foram submetidos, ou aprendidos (BOLA, 2020, p. 44-45).
Na adolescência, aprendem que, para se defender, é preciso ser violento, seja com brincadeiras ofensivas, maldosas, agressões físicas ou verbais. Já na fase adulta, os meninos, agora “homens”, precisam brigar pelo seu lugar de macho alfa na sociedade, conquistar seu lugar de fala e impor poder. Há um “processo de negligenciação afetiva e cultural”, na construção da identidade masculina (SCHRAIBER, et al, 2012, p.801).
JJ. Bola (2020) reforça que:
Os meninos são iniciados na agressividade desde muito cedo, no início por meio da socialização primaria, ou seja, dentro da família e da vida doméstica, que é o momento no qual os garotos constroem suas identidades e o autoconhecimento, aprendendo o que é e o que não é aceitável, no ambiente familiar e, em consequência na sociedade em geral. As crianças são ensinadas a formar laços, relacionamentos, aprendem como brincar e se comunicar e, mais importante, aprendem como agir, ou melhor, como reagir. E todo este processo é amplamente influenciado pelo que nós oferecemos a elas (BOLA, 2020, p.44).
Desta forma, percebe-se o quanto a violência está inserida no processo de proteção, procriação e provisão masculina. Assim, são privados de conhecerem outras possibilidades de ser homem e não se identificar ou pertencer a um mundo masculino machista, qual a violência é representada como a principal forma de educar e/ou aculturar o indivíduo (BRASCO e ANTONI, 2020, p.10).
Neste processo, os homens se matam e matam uns aos outros. A violência torna-se uma performance, o melhor meio de resolução dos problemas, excluindo o diálogo, a expressar e dizer o que sentem, sempre foram preparados para estarem prontos, em qualquer situação. Assim, (BOLA, 2020) pode-se entender a agressividade masculina como uma forma de hierarquia, uma maneira de testar quem é o mais forte do grupo, sem precisar entrar numa briga de verdade.
Destarte, a violência está presente no exercício de poder nas relações afetivos-conjugais, sejam elas físicas, psicológicas, sexuais ou moral, como também em homicídios e suicídios, pois como dito anteriormente, este processo tóxico, mata e os matam (BAÉRE e ZANELLO, 2020, p.04-08).
Por conseguinte, estes comportamentos citados acima, a virtude da honra, a segurança, a intimidade e a violência, resulta em uma privação da masculinidade, pelos estereótipos da masculinidade tóxica e do modelo patriarcal, sobre a internalização do processo de hegemonia (GUERRA, et al., 2015, p.75).
Assim, muitos desses comportamentos, quando não alcançados, acabam por causar um efeito de perigo aos homens, ou seja, a subjetividade masculina é sempre negada, valorizando as condutas do modelo normativo de masculinidades. Porém, o não alcance desse modelo ideal, pode contribuir para o desencadeamento do sofrimento dos homens, uma vez que se sentem inferiores e não pertencentes daquele universo que são cobrados e exigidos, refletindo nas questões de saúde mental, emocional e também social (BURILLE, et al., p.437).
JJ Bola (2020) aponta que:
Quando falamos sobre sociedades patriarcais, precisamos focas nossas observações primarias nas maneiras pelas quais as mulheres são oprimidas como consequência do sistema. No entanto, a noção de que homens se beneficiam dele, em todos os aspectos das suas vidas, é traiçoeira. Pois existem claras evidências de que os homens estão sofrendo, e estamos quase chegando a uma epidemia: a masculinidade tóxica prospera em um círculo vicioso no qual os homens contribuem para a repressão ao mesmo tempo em que sofrem com ela. E, se não podemos desmantelar as estruturas opressivas de uma hora para outra, é preciso que as comunidades locais criem estratégias e intervenções para ajudar os homens- assim como as mulheres- a lidar melhor com as questões de saúde mental (BOLA, 2020, p.52).
Desta forma, todo esse enquadro sobre masculinidade, desencadeia uma irritabilidade excessiva, frustração, angústia, pois, tais concepções tóxicas, limitam a sua identidade, ou seja, priva as suas escolhas, impede que o homem expresse a sua verdadeira vontade, sentimentos e desejos. Por isso, os homens buscam a todo momento, está correspondendo os padrões, sufocando a sua particularidade subjetiva, para satisfazer e alcançar o idealismo da masculinidade estereotipada na sociedade (PIMENTA, 2019).
2.2 SER UM HOMEM FEMININO, UM GAY MASCULINO OU UM HETERO REPRIMIDO?
Por muito tempo, as civilizações antigas, como a Grécia e Roma, tinha a condição homoafetiva como parte do processo do ser homem, colocando as práticas e relações da homossexualidade como uma fase de maturidade, através dos ensinamentos do homem mais velho e o jovem imaturo. Desta forma, tal prática era considerada comum até o momento que foi reputado como um comportamento desviante, estabelecendo a relação afetivo-carnal entre o homem e a mulher, como o padrão ideal, pois o sexo deveria ser e ter o principal objetivo de reprodução (ALVES, 2019, p.51).
Sendo assim, neste processo hegemônico construído sobre uma dimensão sócio-histórica, percebe-se que o homem deixa de ser livre para ser enquadrado, assim como o homem gay deixa de ser “comum”, para ser a conduta imoral. De modo impositivo, sentir tesão, prazer, alcançar seu ponto G, não seria adequado para os homens, afinal, homem que é homem, não deve demonstrar gemidos suaves e sim emitir um som de força, quem deve gemer são os homens gays, julgados a desejar e ser o objeto do viril comedor (BILESKI, 2018, p.21, grifo nosso).
Dessa forma, as representações sociais acabam gerando impactos em todos os grupos, principalmente do homem heteronormativo e do homem gay. O homem hetero, está sempre buscando adequar-se ao modelo hegemônico da masculinidade, enquanto o homem gay depara-se com o desafio de ser considerado como um homem afeminado, bicha louca, poc-poc, dentre outros termos, sobre o processo de associação e assimilação dos estereótipos sociais. Assim, muitos gays apresentam-se como discretos, um gay masculino, comportado, ou gay padrão (KELLER, et al., 2015, p. 155).
Rafael Morello Fernandes (2013) reforça que:
O desejo de ser assimilado pelas instancias heteronormativas da sociedade faz com que o gay, ao invés de questionar a estrutura que lhe nega direitos e lhe confere, na prática, um status de “cidadão de segunda categoria”, queira se tornar igual em tudo o que for possível ao heterossexual, entendendo sua orientação sexual como uma esfera eminentemente privada e pouco delineadora de suas opções políticas e do seu engajamento social (FERNANDES, 2013, p.07).
Neste contexto, os termos pejorativos, “como mocinhas, menina, viadinho, que reforçariam aqueles traços considerados femininos nos homossexuais” (MOURA, 2017), são percebidos como punição e como estratégias sociais, para que seja firmado na sociedade o processo de diferenciação. Dessa maneira, o estereótipo do homossexual é reforçado, deliberando a ideia de que ser um gay exagerado, é um dos motivos pela existência do preconceito e LBGTfobia (RABELO, 2013, p.135; GUIMARÃES, 2019, p.05).
Assim, frente aos parâmetros hegemônicos da masculinidade e da feminilidade, como a construção do padrão cis heterormativo, ser gay não seria o único problema, mas ser um gay feminino é a grande falha. O que envolve uma questão de gênero e correspondência aos estereótipos de uma masculinidade tóxica, qual, apresenta grande resistência ao gay feminino, ou seja, a masculinidade tóxica é uma fobia aos traços femininos do homem e uma “Afeminofobia” aos gays, preconceito contra o feminino no corpo masculino (MOURA, et al, 2017, p.1517).
Na obra, “A guerra declarada contra o menino afeminado”, de Giancarlo Cornejo (2011), é apresentada uma grande reflexão sobre a patologização do corpo, as performances de gênero e o estigma aos meninos afeminados. “O menino afeminado vira a funcionar como o segredo das vozes desautorizadas de muitos homens gays adultos politizados”.
Esta reflexão resulta na discussão sobre o ensinamento de comportamentos aos meninos e meninas na infância, delimitando os comportamentos de cada gênero, “entre os quais estão o modo de se vestir, como o que brincar, como andar, como falar” (OLIVEIRA, 2017). Permitindo refletir sobre a obra de Cornejo, ao questionar sobre o que adianta ser um menino se este cresce internalizando processos morais e valores do ser homem, em seu processo de transição e aprendizagem do modelo ideal, predizendo e delimitando o futuro desse menino (CORNEJO, 2011).
Dessa forma, ao discorrer sobre o preconceito contra o gay afeminado, é importante frisar que a sociedade cria um pré-conceito a criança afeminada, o qual Cornejo (2011) conceitua como um “protogay”. Assim, a discriminação e preconceito inicia-se na infância, permanecendo e se estendendo na fase adulta, como formas de rejeitar o feminino e privilegiar o homem heterossexual (MOURA, et al, 2017, p.1516).
Ao discorrer sobre a pluralidade das masculinidades, Vasconcelos, et al., (2016) aponta que:
A construção das masculinidades está diretamente relacionada à percepção da feminilidade, uma vez que os sujeitos compreenderam-se como homens a partir da contraposição com a figura da mulher… da interação com as mulheres e com o universo feminino e da representação e constituição dos modelos de paternidade (VASCONCELOS, et al., 2016, p. 195).
O maior medo dos homens é ser mulher e/ou ser comparado a elas; e o maior medo dos gays, já comparados aos homens, é ceder à pressão do papel ideal. É a partir de questionamentos e inquietações masculinas, tais como, porque o feminino incomoda o homem, que este grupo decide perceber o significado do cuidado e do afeto. Comentários homofôbicos e preconceituosos ainda são comuns sobre esta realidade, afirmando que estar muito presente com mulheres é como aprender e tornar-se mulher, feminino, assim como estar com gays, é ser taxado como o viadinho ou o hétero que performiza uma amizade, pois os gays podem aproximá-lo das mulheres (O SILÊNCIO DOS HOMENS, 2019, grifo nosso).
Em diferentes contextos, os gays afeminados são tidos como más companhias, como aqueles que anulam a imagem de macho. Deste modo, a feminilidade aparece como um processo de julgamento e inferioridade, relacionado aos gays versus o homem hétero. Dessa forma, o feminino, no que se refere as relações de poder e a sexualidade, é incluído como submisso ao masculino (NETO, et al, 2015). Então, os gays são comparados as mulheres e a ideologia de gênero, do ser frágil e sensível, enquanto o heterossexual é visto como forte, viril e adequado socialmente, negando quaisquer traços e/ou comportamentos femininos (SOUZA e PEREIRA, 2013, p. 94-96; MOURA, et al. 2017. p.1514).
Rabelo e Nascimento (2013) ressaltam que, ao comparar o homem hétero e o homem homoafetivo, um dos processos pertinentes é a prática sexual. O gay afeminado é visto como aquele passivamente sexual, logo, para a sociedade, o homem que se deixa ser passivo vai contra a sua natureza, pois este homem gay estaria deixando ser como uma mulher, ser dominado e penetrado. É sobre este pensamento da heteronormatividade, que a sociedade considera a passividade como própria da natureza da mulher; assim, em relação as posturas do gay efeminado, este não corresponde a exigência imposta pelo sistema patriarcal (FERNANDES, 2013, p.03).
Neste sentido, alguns homossexuais acabam por tentar ser um pouco mais masculino, caracterizando o gay másculo, tentando esconder os traços femininos e/ou ser o mais macho possível para a sociedade. Estes criam diferentes estratégias para camuflar sua identidade homoafetiva, mudando o seu modo de comportar-se, as suas roupas e o seu modo de falar, para aproximar-se o melhor possível do considerado masculino ideal (SOUZA, et al., p.35).
[…] a apresentação de gênero máscula por parte dos gays possa ser interpretada como um desejo de apagar o espectro de desvio, de doença, que caracterizou sempre a homossexualidade em suas representações sociais contemporâneas. Neste sentido, é preciso construir uma nova imagem de gay que seja o oposto da representação social da “bicha”, em quem se conflitavam sexo biológico, identidade de gênero e comportamento sexual. […] O gay másculo representaria assim uma tentativa de propor uma homossexualidade não marcada de antemão pelo estigma, através da projeção deste no efeminado, a quem ele é classicamente atribuído. O gay másculo se propõe como fundamentalmente distinto do homossexual “descreditado”, a quem, muitas vezes, aponta como sendo o responsável pela própria discriminação sofrida, reproduzindo assim, contra o gay efeminado o preconceito de que, em última instância, também é alvo (FERNANDES, 2013, p.07).
Como Albuquerque, et al, (2016) afirma, este fato acontece como uma fuga dos papéis da masculinidade, da vida sexual e principalmente dos papéis culturais e sociais, que hierarquiza e inferioriza os homossexuais como também as mulheres. Desta forma, tentam romper a ideia de que os homens são inferiores, fortes e viris, enquanto os gays são taxados como sendo o grupo marginalizado, a minoria. Porém, muitos acabam por buscar romper com o padrão heteronormativo, partindo das primícias que tal estigma dita como não ideal, no entanto aceito; que é o caso do gay másculo, não sendo o homem ideal, considerado melhor que ser afeminado, ainda que a homossexualidade não seja aceita pelo modelo patriarcal (ALBUQUERQUE, et al., 2016, p.107).
Leonardo S. Bonfim (2018) ressalta que:
Cabe lembrar ainda, que a assimilação não deve ser vista como uma escolha livre, consciente e deliberada do homossexual em nossa cultura heteronormativa. Muitas vezes, os homens gays acabam se assimilando sem ter consciência dessa assimilação, devido em grande parte aos discursos hegemônicos sobre masculinidade, que domestica os corpos gays, através do assujeitamento, ou seja, através das constituições de subjetividades que internalizam e reiteram as normas de gênero. Cabe citar também, os homossexuais que, por medo da violência homofóbica ou por pressões sociais, acabam por investir esforços em tentativas de se assimilar ao sistema (BONFIM, 2018, p. 43-44).
Para ser aceito e sentir-se pertencente a sociedade, alguns gays utilizam de máscaras sociais, como se o ideal da masculinidade para os gays fosse incluir-se na norma, mesmo não sendo aceitos totalmente, sentem-se mais confortáveis de estar e poder estar presente em determinados lugares. A exemplo, tem-se a questão da musculação, um fator essencialmente importante para os heterossexuais, pois um corpo musculoso incita a imagem de ser um rapaz forte, varonil, sem medo, seguro de si. Além disso, para o mercado amoroso e erótico, tanto gay como heterossexual, a busca do corpo perfeito é bastante frequente, tornando-se desejável e/ou rejeitados, afinal, a norma dita que é preciso ter status, mas na realidade, possa ser que o indivíduo faz uso de máscaras para encarar e entrar no sistema que o reprime, por não estar correspondendo o ideal da masculinidade hegemônica, ou do gay másculo (CARVALHO, 2020, p.358; FERNANDES, 2013, p.08, grifo nosso).
Por conseguinte, ao abordar o ideal da masculinidade, é importante frisar uma questão ainda pouco discutida que é a pornografia gay. Dall’Ago (2019) observa que a pornografia cinematográfica a homens gays é um claro exemplo da representação da heteronormatividade, mostrando através de uma linguagem visual e sonora, o que é ser homem e a forma que o homem gay deve se comportar. Além de enquadrar a homossexualidade como o dominado, o gay passivo, demostrando o tipo de afeto que se deve obter no ato sexual, neste caso, o homem macho cumpre o poder sobre outro (DALL’AGO e ROCHA, 2019, p.02-06).
Oliveira et al. (2017), ressalta a performance linguística, como sendo, um processo de significados simbólicos e sociais de intolerância:
[…] ser reconhecido como homem hetero vs. Homem gay perpassa pelas expressões linguísticas empregadas por cada um dos gêneros. Todavia, essas diferenças não são respeitadas, mas a fala dos primeiros se impõem á dos segundos, que contam com muita discriminação de grande parte da sociedade, quando esta impor-lhes, por exemplo, o que “falem como homem”, a ponto de alguns gays esforçarem para serem reconhecidos como homens heteros e se orgulharem disso (OLIVEIRA, et al., p.56).
Como ressalta JJ Bola (2020), essas expressões linguísticas são vistas como uma estratégia de “silenciamento emocional”, principalmente na infância. Este paralelo encontra-se em uma era de idealizações modernas, por meio das redes sociais, que desperta inquietações subjetivas sobre o modelo e referência a ser seguido e aceito pelos likes do “novo mundo ou sociedade real”; gerando projeções de uma realidade que não lhe pertence, levando-o a frustação. É o caso das performances e exigências masculinas de homens gays em sites e aplicativos de relacionamentos, que buscam outros homens para cunho sexual ou afetivo (KELLER, 2015, p. 156, grifo nosso).
Sendo assim, como ser um homem gay possível em um processo de classificação que se desenvolve sobre um sistema que nega ou não aceita reconhecer as várias possibilidades da homossexualidade, homens e mulheres. É sentir-se inserido em uma sociedade que exige, impõe, apresenta transformações, mas também afirma antecipadamente, que compreendê-las e aceitá-las é sinônimo de fragilidade e descumprimento da idealizada norma (PRECISAMOS FALAR COM OS HOMENS, 2016).
Por conseguinte, o processo sócio-histórico e cultural de adequação do homem hétero e gay na sociedade, é um grande processo de reconfiguração dos homens na modernidade, de encaixá-los em muitas formas de ser masculino dentro de uma mesma sociedade, em que apresentem um conjunto de atributos comportamentais reavaliados. Homens gays, trans, metrossexuais, não deixam de ser homens, não são intitulados socialmente mulheres, isso não se torna um rotulo em sua identidade, não fere a sua dignidade, são homens possíveis, que buscaram reconhecer e aceitar sua subjetividade, ao contrário de homens aculturados pela masculinidade hegemônica, onde a feminilidade fere a sua virilidade; porém, continua sendo regulado pela cultura patriarcal, estabelecendo ideais sociais, favorecendo ao surgimento das desigualdades (VOKS, 2021, p.8; BAÉRE e ZANELLO, 2020, p.12; GUERRA, et al., 2014, p.156, grifo nosso).
Embora esta nova configuração tenha abarcado pontos positivos, ainda existe uma contradição na forma que estas novas masculinidades são apresentadas ou mascaradamente empurrada como modelos ideais, quais, todos os homens héteros e homens gays devem ou deveriam se identificar, que também gera impacto nos grupos sociais que se inserem; tornando-se dinâmicas, estruturas e/ou padrões construídos ao longo da história (RIBEIRO, et al., 2013, p. 467).
Contudo, a construção de uma identidade homoafetiva, atrelado a imagem e a semelhança do homem ideal sobre o processo hegemônico, torna-se um grande perigo. Este impasse “está justamente nessa exclusão que desumaniza seres humanos, apaga-lhes a subjetividade, retira-lhes a existência” (MATTIA, 2020, p.09). Dessa forma, os homens gays criam uma figura equivocada do processo de afirmar sua sexualidade, moldando-se a uma performance legitimadas por condutas de poder, hierarquia e atributos sociais, que não condiz com sua subjetivação (CARVALHO, 2020, p.364).
2.3 SAÚDE MENTAL DE HOMENS GAYS E O CUIDADO CLÍNICO PSICOLÓGICO
O ser humano é um ser biopsicossocial, composto por diferentes fatores e aspectos. Assim, a sexualidade humana é abordada quanto ao sexo biológico, a expressão de gênero e a condição sexual, quais designam os comportamentos adotados e as práticas de interação social, como também a atração afetivo-sexual de uma pessoa (SJDC, 2018, p.10-18).
Wolff e Saldanha (2015) ressalta que, a atração afetivo-sexual é baseada no gênero e não no sexo, quanto as classificações heterossexual, homossexual, bissexual e assexual, que são percebidas pelo processo hegemônico, como identidades sexuais não aceitas; o que contribui para o processo de estigmas sociais, principalmente a desaprovação da condição homoafetiva, que toca na ferida do patriarcado em relação as normas sociais da conduta masculina.
A construção de uma identidade hegemônica impacta na saúde mental de homens gays, começando pela necessidade de afirmar sua condição homoafetiva. Este homem encontra-se em busca de um processo saudável de afirmação, porém, acaba por interiorizar o rótulo do ser diferente, um reconhecimento agregado pela sociedade heterossexista, que integra e dita o seu próprio ser, seja ele interno ou externo. Desta forma, depara-se com o sentimento de culpa, medo, rejeição, ansiedade, isolando-se do mundo, pois, “se estar dentro do armário já lhe traz desconforto, encarar uma sociedade regida por violência e poder, provoca uma grande insegurança” (FIGUEIRA, 2020, p.09).
Assumir uma identidade de gênero, adversa aos padrões da heteronormatividade, é contrariar o modelo vigente. Desta forma, a homofobia ou LGBTfobia tem sido categorizada como uma violência abrangente, atrelada ao machismo e ao processo de enquadramento da hegemonia masculina, provocando assim, um regime cada vez mais alarmante de estigmatização de homens gays, como também, desenvolver um processo de hierarquia e estereótipos de gênero nas relações interpessoais (MOURA, 2019, p. 125).
A aceitação social das pessoas […] ainda é baixa e há opiniões unilaterais e atitudes negativas em relação a essa temática. Em consequência, as pessoas com orientação homoafetiva acabam por experimentar estressores adicionais no cotidiano da vida, em todos os ambientes, como situações de preconceito, homofobia internalizada e expectativas de rejeição causando prejuízo à sua saúde (GUIMARÃES, et al., 2019, p. 02).
Neste sentido, a violência tem sido o principal estressor social, resultando em impactos a saúde mental e a qualidade de vida. Uma violência incitada por padrões heterossexista, sob um olhar que estabelece uma cobrança social a estes indivíduos, para a mudança dos comportamentos de viadinho e mulherzinha, como geralmente é expresso e minimizado (ALBUQUERQUE, et al., 2016, p.101).
No que tange a saúde da população Gay, Lobato, et al (2019), apresenta a ideia de modelo do estresse de minoria; “baseado na teoria do estresse social, afirmando que as condições sociais especificas atuam como estressores por recursos de enfrentamento podendo levar ao adoecimento” (LOBATO, 2019, p.21).
Neste modelo é preciso compreender três fatores, a experiência de preconceito, a discriminação e o preconceito internalizado, em relação ao aculturamento e crenças negativas sobre a identidade sexual e o gênero, que afeta a saúde mental da população LGBTQIAPN+.
Segundo estatísticas e dados registrados no SUS-Sistema Único de Saúde, a cada hora um LGBT é agredido (PUTTI, 2020). São números alarmantes, registrados na Secretaria Nacional de Segurança Pública. Dentre as violências registradas, a violência psicológica é a mais recorrente entre os casos, caracterizadas principalmente por agressões verbais (ALBUQUERQUE, et al., 2016, p.101).
Embora seja muito clarificado na fase adulta, a violência psicológica está presente no processo de descoberta e aceitação de jovens homoafetivos, padrões nocivos hegemônicos em reprimir ou não aceitar a sua condição homoafetiva. Assim, neste processo, estes jovens acabam sentindo os primeiros reflexos da implicação heteronormativa, subjugados a definir o ser masculino ideal, não real e aculturado pela sociedade, crescendo com introjeções de ser o homem da casa, não ser vulnerável e demonstrar força, ser varonil em todas as situações, lutando contra o seu reflexo e seus desejos, com medo de não ser aceito (GUIMARÃES, et al., 2019, p. 03, grifo nosso).
Desta forma, os valores e normas da hegemonia masculina reproduz um processo de anulação do homem gay; sua identidade é considerada como inferior as normas da heteromasculinidade, o que ocasiona ao sofrimento psíquico, perpetradas pelas sensações do estar incompleto e/ou insegurança. Assim, é mais aceitável para a sociedade que o homem gay permaneça no armário, praticando e adotando comportamentos estereotipados de uma identidade hegemônica (MOURA, 2019, p. 1135-136).
Eu fui construído como indivíduo heteroafetivo. […] Eu sempre me senti diferente, nunca conseguia me encontrar frente aos padrões estabelecidos, então surge uma pulga na orelha, porque eu sou diferente? Porque eu não consigo me sentir igual ao sujeito masculino que está ao meu lado? (E15)”
“Eu acho que a mais difícil é a própria aceitação, que mexe muito com a tua saúde mental. […] Você é o cuspido, é o rejeitado, e você internalizar isso, porque eu sou assim, eu internalizo muito as coisas e isso me prejudica (E10) (GUIMARÃES, et al., 2019, p. 03).
De tal modo, a revelação da identidade sexual é um processo de difícil reconhecimento. Enquanto o homem gay precisa vivenciar estes percursos decisivos na dimensão social pelo aculturamento hegemônico, o homem hetero, viril, não vivencia este processo, pois não precisa explorar e questionar-se quanto a sua condição máscula, uma vez que aprendem e absorvem rapidamente os estereótipos do patriarcado (FIGUEIRA, 2020, p.38).
Para o processo hegemônico da masculinidade, ocultar a identidade sexual gay é uma forma de proteger a masculinidade e não ferir a dignidade dos homens héteros (FIGUEIRA, 2020, p.38). Essa ideia de proteção é uma forma de demonstrar e reestabelecer o domínio do poder do patriarcado, que gera problemas na vida pessoal de cada homem gay, em muitos casos, levando ao adoecimento mental por anular sua essência real, pois, revelar-se, é refletir uma decisão psicológica consequente (GUIMARÃES, et al., 2019, p.39-41).
Segundo Borralha e Pascoal (2015) não é a condição homossexual e/ou afirmação de uma identidade gay que eleva a ocorrência de problemas mentais, como a depressão, perturbações ansiógenicas, suicídio, medos, estresse psicológico, desesperança, culpa, dentre outros, que impactam a saúde mental desses indivíduos. Neste caso, é o processo de pertencer a um grupo marginalizado, excluído, um grupo socialmente estigmatizado. Logo, estes desenvolvem uma vulnerabilidade a conflitos externos e existênciais, manifestando queixas psicossomáticas, tais como a diarreia, inquietação, pesadelos, insônia, agitação e dores de cabeça.
Neste sentido, o processo de estigmatização ao homem gay ocorre também na construção dos relacionamentos familiares, com amigos e a sociedade. O apoio ou a falta de apoio da família é um fator que contribui para o processo de adoecimento, pois, este primeiro grupo social de extrema importância, ao excluir este indivíduo, priva-o de receber segurança e conforto daquelas pessoas que mais esperam, ou seja, acontece o rompimento de laços e a opressão da família (GUIMARÃES, 2019, p.04).
Com isso, os homens gays procuram alternativas de amparo para minimizar o sofrimento psíquico, como estratégias de enfrentamento e suporte. Por conseguinte, é importante o apoio familiar, porque a intolerância pode ocasionar impacto negativo ao estado emocional do LGBT. Frisando que muitos gays acabam por reagir as violências psicológica e verbal também com violência, visto que o hétero faz uso da força para dominar e demostrar poder, o gay supõe que reagindo pode demonstrar imposição, ao invés de permanecerem como os vitimizados, manifestando desordens mentais e somáticas (ALBUQUERQUE, 2016, p.108).
Por conseguinte, diferentes situações, como carência afetiva, abuso físico e emocional, estupro, dentre outras formas de violências, são vivenciadas por pessoas LGBTQIAPN+, começando na infância. Estas experiências resultam em impactos na saúde mental desta população, que são identificados em estudos e avaliação, sobre análise dos principais aspectos que são internalizados, podendo afetar a autoestima, a vida afetiva, o processo de afirmação do ser Gay, gerando diferentes transtornos mentais, como a Depressão. Como Soll (2019) expõe, estudos apontam “que homossexuais apresentam índices mais elevados de sofrimento psicológico e relatam maior sentimento de angústia do que heterossexuais” (SOLL, et al., 2019, p.27).
Sendo assim, (SOLL, et al., 2019) “as pessoas homoafetivas apresentam maior prevalência de problemas de saúde mental, incluído ansiedade, depressão, ideação suicida e tentativas de suicídio”. O transtorno de Ansiedade se torna mais comum entre as pessoas LGBT, devido o processo histórico e discriminatório da sociedade, que impõe papéis culturais e sexuais, gerando um processo de cobrança, rejeição, violência e angústia, uma vez que não encontram apoio social, deparam-se com a desesperança da promoção da felicidade e bem-estar.
Outro transtorno bastante comum é o estresse pós-traumático e pânico, em comparação aos casos heterossexuais. Experiências negativas e outras violências contribuem para que homossexuais tenham passado por um evento potencialmente traumático, como o estupro; uma situação ainda invisível na mídia. O que leva a sociedade a normalizar o estupro de homens gays e patologizar e incriminar o estupro as mulheres? Condição de vulnerabilidade ou fragilidade? Ele é gay, mas também é homem, pode se defender, foi estuprado porque ele deixou (SOLL, et al, 2019, p.28, grifo nosso).
Alguns estudos apresentam que a discriminação e a hostilidade social, sobre a ideia de orientação sexual, caracterizam grandes riscos a transtornos mentais e uso de substâncias, como também transtornos alimentares; relacionados a objetificação do corpo ideal, preocupações excessivas atreladas pelo modelo do ser homem, que são cobradas e internalizadas também nos homens gays. Já o uso de substâncias, está atrelado a ideia do desempenho da atividade sexual, a performance do sexo perfeito, fazendo uso de estimulantes, consumo de álcool e outras drogas, uma contradição em relação ao homem hétero, quanto a expressão dos seus sentimentos na vida sexual, pois se envolvem por prazer e os gays são julgados a envolver-se com sentimentos, fazendo uso de tais substâncias para exercer o papel assertivo (SOLL, et al., 2019, p.30; LINHARES, 2021, p. 05).
Destarte, estudos apontam que as violências psicológicas ao público LGBTQIAPN+, especificamente aos homens gays, aparece como um fenômeno multidimensional, como resquícios do preconceito e do enquadro heteronormativo da sexualidade (ALBUQUERQUE, 2016, p.109). Assim, o sofrimento psíquico de homens gays, parecem ser silenciados e/ou imperceptíveis ao olhar da sociedade. Desta forma, a frequente exposição discriminatória e o desrespeito, adicionada a expectativa de rejeição e necessidade de dissimulação de sua identidade, impacta negativamente na saúde mental destes indivíduos (MELO, 2019, p.06).
Contudo, é perceptível ao longo da história que o público LGBTQIAPN+ tem buscado o atendimento psicológico, com manifestações clínicas da homofobia internalizada, resultante da exposição a homofobia social e cultural, em relação aos homens heterossexuais, já que não lidam com os conflitos da sua sexualidade, sendo o macho Varonil; estes lidam com a vivência da norma e os LGBT, com a sobrevivência de sua identidade. Os Psicólogos(as) em sua formação, estuam sobre os Direitos Humanos, ética e/ou Código de ética, o processo histórico e epistemológico da Psicologia, dentre outras questões que podem preparar estes profissionais para buscar aprender e se capacitar em conhecimentos da sexualidade e diversidade sexual. Porém, é perceptível ainda, psicólogos usando termos errôneos, como a opção sexual, além de ignorar outras questões, chegando a considerar uma pessoa Bissexual como uma pessoa confusa, ou até mesmo, profissionais que não considera questões da sexualidade como cunho terapêutico (BORGES, 2009, p.33).
A partir da homofobia, os LGBTQIAPN+ passam a internalizar uma experiência social da objeção, como uma patologia encarnada e um futuro isolado e marginalizado. Muitos chegam à clínica com aspectos negativos da sua história pessoal e tomadas de decisão. Assim, é preciso que a psicoterapia seja um espaço livre e acolhedor, onde o processo terapêutico aprofunde o autoconhecimento, os medos e fantasias, auxiliando a pessoa a seguir em frente, sem rotular, criar sistemas enrijecidos e/ou identidade rígida (TOLEDO, 2012, p.145).
É importante frisar que a Resolução CFP 01/2018 e a CFP 01/1999 contribui para afirmação de estudos e discussões sobre a temática, buscando produzir um diálogo ao debate a sexualidade e orientações sexuais, vedado qualquer prática de reversão sexual (ALVES, et al., 2018, p.11). Assim como no Código de Ética se tem os princípios, deveres, responsabilidades e o que é vedado, que se aplica a promoção de direitos LGBTQIAPN+ e o acolhimento de qualidade na psicoterapia; ou seja, este público busca no atendimento clínico psicológico uma representação positiva, não uma rede de opressão. Estão cansados de lidar sozinhos com conflitos existenciais (BATISTA, et al., 2019, p.383).
É importante que o Psicólogo(a) busque romper seus preconceitos e almeje estar familiarizado com estudos sobre a sexualidade e diversidade sexual, principalmente na Psicologia Clínica, pois é o lugar onde o cliente quer sentir-se em sua totalidade, sem ser estereotipado ou que sua condição homoafetiva seja deixada a margem das questões que estarão sendo trabalhadas na psicoterapia. Acolher também aos familiares que vivem o processo de alterações de suas crenças e construir redes entre estas pessoas, estando atento as questões que se manifestam na prática clínica. Não considerar o atendimento ao LGBT como algo diferente, mas como um acolhimento humanizado, sem pôr o cliente na caixinha, sem enquadrá-lo. Sendo assim, (BATISTA, 2019) “o terapeuta homofóbico é aquele que coloca em pauta a homossexualidade como causa dos problemas […] que o trata como heterossexual, isolando a homossexualidade de outras áreas de vida do paciente”.
A Psicologia tem compromissos éticos e políticos com a pessoa humana e com as relações sociais. Sua práxis deve assegurar a autonomia, a integralidade e o bem estar individual e coletivo […] Além disso, documentos como a Resolução CFP nº 007/2003, que institui o Manual de Elaboração de Documentos Escritos produzidos pela/o psicóloga/o, decorrentes de avaliação psicológica, e a Cartilha de Avaliação Psicológica (2007), ao estarem relacionados ao Código de Ética, trazem consigo a base necessária para pautar modos de atuação antiLGBTfóbicos […] Os esforços coletivos pela defesa radical da pessoa humana, da livre vivência, do reconhecimento das sexualidades e identidades de gênero como constitutivas das subjetividades e do bem estar são fundamentais para produzir uma Psicologia que cumpra sua função frente a toda pessoa que recorre aos seus saberes e técnicas e à sociedade, na efetivação de um espaço livre de desigualdades, exclusões e violências (ALVES, et al, 2018, p.13).
O papel de profissionais de Psicologia é acolher a totalidade do cliente/paciente, sem restringir a homossexualidade a relações sexuais. Apesar do despreparo de profissionais sobre o estudo da homossexualidade é importante que busque estudos sobre esta temática para promoção da (TOLEDO, 2012) “ética sobre as vicissitudes da clínica psicológica”, principalmente na terapia de família, casal e ao usar vertentes da Psicanálise. Como é norteado no APA- Associação Americana de Psicologia (2009), “Psicólogos(a) devem receber treinamento e formação específicos em Psicologia do preconceito e saúde mental da população LGBT, a fim e desenvolver práticas psicológicas afirmativas”; sendo fundamental, tornar-se uma disciplina no processo de graduação (TOLEDO, 2012, p.383).
Dessa forma, é importante compreender os processos de subjetivação dessas pessoas, contribuído para a garantia dos direitos constitucionais, promovendo integridade, respeitabilidade e reconhecimento, além de construir uma Psicologia antiLGBTfóbica, um acolhimento e diagnostico a realidade psíquica do cliente\paciente, de forma positiva (ALVES, et al., 2018, p.06).
3 METODOLOGIA
O levantamento de informações se constituiu a partir do método Fenomenológico e Histórico, com abordagem Indutiva; “partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida fias partes examinadas” (Marconi e Lakatos, 2003). Dessa forma, o método e abordagem utilizado, tem o propósito de explicitar as informações essenciais ao tema e objeto do trabalho.
A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados: Lilacs (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library Online), Pepsic (Periódicos Eletrônicos em Psicologia), além de livros e documentários disponíveis no YouTube, como no Google Acadêmico. A pesquisa nas bases de dados, se deu pelas palavras-chave Masculinidade, Homem gay, Identidade Masculina e homossexualidade, todos os estudos abrangendo a língua portuguesa.
Por meio de uma análise e revisão das referências dos estudos científicos, foram selecionados aqueles no período dos 10 últimos anos de publicação, com exceção de 3 estudos, quais foram considerados pertinentes e relevantes ao tema apresentado, devido à falta de conteúdo sobre o tema especificamente abordado; excludentes, o apanhado bibliográfico em língua Inglesa e Espanhola, por motivo de encontro dos estudos no idioma de origem do autor.
Nas bases de dados, foram encontrados 68 estudos abordando o processo histórico e evolucionista da identidade masculina, o processo de hegêmonia dos homens, seus efeitos sobre a condição homoafetiva e o impacto da construção de estereótipos, machismo e masculinidade tóxica na saúde mental de homens gays.
Entre os estudos científicos encontrados, 2 são documentários disponíveis no YouTube, e 3 são livros que aprofundam a temática. Após a análise, apenas 59 estudos foram utilizados, referente aos critérios citados anteriormente. Destarte, esta pesquisa compromete-se a ABNT-Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 14724, qual define os princípios gerais do trabalho acadêmico; e também a Ética, indicando confiabilidade, segurança e uniformidade.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao abordar os estudos sobre a masculinidade em um processo sócio-histórico e cultural, percebe-se que esta passou por uma crise de identidade, quanto aos seus comportamentos e papéis estabelecidos na sociedade, como o comportamento ideal e esperado dos homens. Ao longo da história, estes indivíduos foram aculturados pelo processo hegemônico, de diferenciar o homem da mulher, definir o sexo superior e o inferior, o gênero forte e o gênero fraco, com crenças, valores morais e sociais sobre a sua conduta varonil.
Neste sentido, a imagem do homem foi construída sobre os estereótipos do modelo patriarcal do homem forte e provedor da segurança. Assim como a sexualidade, através do padrão heteronormativo, visou normatizar os comportamentos sexuais e o gênero. A sexualidade era vista como um processo pedagógico aos homens, aonde os mais velhos ensinavam aos jovens o significado do ser homem, da importância da dominação; hoje, se dá por meio da pornografia e da iniciação masculina, momento em que o jovem tem sua primeira relação sexual dominando a mulher. Desta forma, a pluralidade masculina está ligada diretamente à cultura e as representações sociais, ou seja, obtém diferentes interpretações a partir do contexto que se insere (ARAÚJO e ZAGO, 2019, p.37).
Sobre o processo sócio-histórico e cultural, é perceptível que o homem vem sendo enquadrado em uma caixinha, com rótulos e manuais de como formar sua identidade, a partir de posturas e/ou normas sociais, como a virtude da honra, a segurança, a intimidade e a violência. Neste contexto, construir uma identidade gay, perpassa pelo processo de adequação e aceitação na sociedade. Assim, comparando o processo de assimilação do homem hétero ao homem gay e os papéis esperados pela heteronormatividade, o homem tem medo e nunca deve ser feminino, pois a feminilidade deixa o homem vulnerável. Ser feminino é ser sensível, passivo, inferior, tudo o que não deve estar associado a imagem do homem macho. Logo, existe uma tensão em aceitar e despatologizar a homossexualidade, levando o processo de construção da identidade do homem gay a diferentes estereótipos do ideal da masculinidade, como exercer a postura e imagem de um gay másculo, para sentir-se aceito e incluso na sociedade.
A masculinidade hegemônica é o principal fator do sofrimento psíquico em homens gays, através de condutas homofóbicas e preconceituosas, inserindo neste o rotulo do diferente, demandando em um elevado índice de pessoas homoafetiva desenvolver problemas a saúde mental, como ansiedade, depressão, ideação e tentativa de suicídio, transtorno de estresse pôs traumático, transtornos alimentares, quanto à procura da imagem do corpo perfeito como o ideal, o uso de dependência de substancias, devido os conflitos familiares, o isolamento e a falta de suporte social.
Neste contexto, atualmente há discursos sobre os homens gays, trans, bissexuais, negros, metrossexual; porém, estas não são alternativas de masculinidades, não é um estilo e/ou a moda do século, onde todos estão aderindo e por isso outros devem escolher aquela roupagem e assimilar a sua personalidade, mas, são construções de homens possíveis modernos e contemporâneos, rompendo os velhos padrões de comportamentos hegemônicos, substituindo-os por novas imagens da masculinidade (O SILÊNCIO DOS HOMENS, 2019).
Destarte, os Psicólogos Clínicos precisam aprofundar os estudos sobre sexualidade e diversidade sexual, romper os seus preconceitos e construir uma psicologia que rompa com os estereótipos, aonde a condição homoafetiva não seja patologizada e deixada a margem na psicoterapia, mas seja um objeto de trabalho. Evitar orientações de reversão sexual, e manejar um espaço livre, a totalidade do cliente/paciente, sem reduzi-los a estigmas que se tornam comuns, devido o conhecimento insuficiente a temática.
A Psicologia Clínica deve buscar compreender todos os processos de subjetividade e interioridade do sujeito. Assim, visto que o profissional precisa estar buscando formação e capacitação dessa temática para que atue de forma ética frente aos direitos e sua conduta como Psicólogo, por que não começar um debate sobre a grade curricular das instituições no curso de Bacharelado em Psicologia, onde seja inserido uma disciplina que tenha foco na Psicologia do preconceito e da saúde mental dos LGBTQIAPN+, trabalhando a sexualidade, gêneros e diversidade sexual; contribuído para a formação de profissionais íntegros, que saibam reconhecer e respeitar o outro, acima de todas as suas crenças internalizadas pela bagagem sócio-histórica e cultural.
5 CONCLUSÃO
Os estudos sobre a masculinidade, apresentam uma vasta ordem cronológica do processo de ser e construir a imagem masculina na sociedade, atrelados a ideologia do modelo hegemônico. Assim, é importante tais aprofundamentos sobre o assunto, por diferentes vertentes, para que seja aprofundado em distintos aspectos a compreensão dos mecanismos do preconceito, discriminações e estigmas internalizados na sociedade, principalmente sobre a questão de gênero e sexualidade.
Sabe-se quais os nãos para dizer hoje aos homens: não abuse, não estupre, não seja ruim, não seja machista, homofônico, preconceituoso, não assedie, não discrimine, não saia batendo nas pessoas; mas, quais são os sins? Quais são os lugares de segurança, alegria, fluidez da masculinidade, quais os locais de potências e generosidade em um homem? Ou será que não tem? (PRECISAMOS FALAR COM OS HOMENS, 2016).
Destarte, é importante a pluralidade de estudos sobre as masculinidades, a condição homoafetiva, e um olhar ao longo da história, apresentadas em discursos clarificadores, não masculinistas nem feministas, para não parecer que é um discurso binário, mas um discurso de sujeitos. E assim, estabelecer uma valorização e respeito das identidades, ou seja, uma subjetividade e alteridade frente aos homens possíveis.
Portanto, é preciso ouvir e ajudá-los a alcançar a capacidade do autoconhecimento, de ser o que desejar, sem ser dito que está certo ou errado. Independente da condição heterossexual ou homossexual, estes precisam ser acolhidos enquanto novas reconfigurações e enquanto pessoas que desejam uma melhor qualidade de vida e saúde mental, identificando-se com estas tantas possibilidades de ser, se perceber e colocar-se no mundo, ou não, sem sentir-se obrigados a serem enquadrados e construir mais um modelo de identidade hegemônica. A identidade sempre estará em construção, e não é necessário que este processo seja percebido como uma crise e continue gerando impactos negativos e sofrimento psíquico. Como JJ Bola (2021) contribui, “os homens precisam do amor de outros homens, do afeto de outros homens, do acolhimento, será que consigo deixar-me ser amado”.
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[1] Característico ou particular do homem; que contém ou expressa características consideradas masculinas; viripotente.
[2] Conceito da Psicologia, para definir a capacidade dos seres humanos de lidarem coma as suas emoções; sendo preciso existir o equilíbrio entre áreas no hemisfério esquerdo e direito do cérebro, para controlar as emoções e chegar a inteligência emocional.
[3] Refere-se ao aspecto da dignidade e ar masculino; o carácter e aspecto varonil e/ou másculo.
[4] É a linguagem informal; uma variante linguística, usada no dia a dia. Neste contexto, refere-se a termos usados frequentemente por homens, desprendendo-se da gramatica.
[5] A diferença entre meninos e homens. É a condição de tornar-se homem, concluir o processo de afirmação, adquirindo plenamente a habilidade de macho.
[6]São pensamentos, comportamentos e emoções adquiridos na infância, tornando-se disfuncional na fase adulta, causando assim sofrimento ao indivíduo.