RELATIONSHIP OF MEDICATION THERAPY WITH ADVERSE EFFECTS IN THE ORAL CAVITY: AN INTEGRATIVE REVIEW.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202411221940
Luíza Bastos Dutra1
Gláucia de Ávila Oliveira2
RESUMO
OBJETIVOS: Relacionar as principais manifestações orais associadas aos efeitos adversos de fármacos comumente prescritos no tratamento de condições sistêmicas. MATERIAIS E MÉTODOS: Foram avaliados 24 artigos acessados pela base de dados Pubmed publicados entre 2014-2024, na língua inglesa, espanhol e português acessados após busca com as palavras chaves “Drug Therapy” AND “Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions” AND “Oral Manifestations”. RESULTADOS: Os resultados deste estudo, centrados nos medicamentos e suas manifestações orais de reações adversas correspondentes foram sumarizados no Quadro 1, destacando as classes, os medicamentos e manifestações específicas. DISCUSSÃO: As principais alterações orais relacionadas a efeitos adversos de medicamentos descritas na literatura são ulceração mucosa, hipossalivação, distúrbios do paladar, hiperplasia gengival, pigmentação de mucosas e dentes, reações liquenoides e penfigoides, sangramento gengival, eritema multiforme, ardência, bruxismo e osteonecrose.
CONCLUSÃO: Diante dessa análise, enfatiza-se que o cirurgião-dentista deve ter o conhecimento mais aprofundado sobre os medicamentos utilizados nas condições sistêmicas e a direta relação com as manifestações orais.
Palavras chave: “Drug Therapy”; “Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions”; “ORAL MANIFESTATIONS”.
ABSTRACT
OBJECTIVES: To list the main oral manifestations associated with the adverse effects of drugs commonly prescribed in the treatment of systemic conditions. MATERIALS AND METHODS: 24 articles accessed through the Pubmed database published between 2014-2024, in English, Spanish and Portuguese, were evaluated after searching with the keywords “Drug Therapy” AND “Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions” AND “Oral Manifestations”. RESULTS: The results of this study, focusing on medications and their corresponding oral manifestations of adverse reactions, were summarized in Table 1, highlighting the classes, medications and specific manifestations. DISCUSSION: The main oral changes related to adverse drug effects described in the literature are mucosal ulceration, hyposalivation, taste disorders, gingival hyperplasia, pigmentation of mucous membranes and teeth, lichenoid and pemphigoid reactions, gingival bleeding, erythema multiforme, burning, movement disorders , bruxism and osteonecrosis. CONCLUSION: In view of this analysis, it is emphasized that the dental surgeon must have the most in-depth knowledge about the medications used in systemic conditions and the direct relationship with oral manifestations.
Keywords: “Drug Therapy”; “Drug-Related Side Effects and Adverse Reactions”; “Oral Manifestations”.
INTRODUÇÃO
Conforme definido pela Organização Mundial da Saúde em 2015, as reações adversas a medicamentos (RAM) referem-se a respostas prejudiciais, indesejáveis e não intencionais que ocorrem com medicamentos em doses usuais para profilaxia, diagnóstico ou modificação de funções fisiológicas. A prevalência do uso de medicamentos prescritos nos EUA é de 59%, com 15% dos indivíduos tomando cinco ou mais medicamentos, o que contribui para 2,4% a 16,2% de todas as admissões hospitalares devido a eventos adversos¹.
Os efeitos adversos que frequentemente afetam a cavidade bucal abrangem uma variedade de condições, como bruxismo, discinesia tardia, língua pilosa, aumento gengival, hipersalivação, xerostomia, descoloração dos dentes, distúrbios do paladar, sangramento das mucosas, osteonecrose dos maxilares, reações liquenoides e ulcerações. Todas estas condições têm sido observadas nesse contexto clínico ².
Essas reações podem ter impactos significativos na qualidade de vida dos pacientes, afetando não apenas a saúde oral, mas também contribuindo para complicações adicionais em sua condição geral de saúde. A prevenção e o tratamento das manifestações incluem controle da placa, descontinuação ou substituição do medicamento, terapia a laser, manutenção da boa higiene bucal e consultas odontológicas regulares ¹.
Diante disso, é de extrema importância que os cirurgiões-dentistas e demais profissionais de saúde estejam habilitados a identificar tais alterações por meio de abordagem precisa, que inclui anamnese minuciosa, exame clínico e análises laboratoriais adequadas. Além disso, considerar o histórico médico do paciente é crucial para possibilitar abordagem interdisciplinar e avaliar as alternativas relacionadas aos riscos e benefícios do uso contínuo ou interrupção do medicamento fonte da reação adversa.
Caso ocorram quaisquer alterações, é recomendado realizar as notificações pertinentes. Assim, a presença do profissional de odontologia preparado no ambiente hospitalar é essencial para o diagnóstico e tratamento dessas lesões, melhorando a saúde geral do paciente e sua qualidade de vida ³.
Neste contexto, esta revisão integrativa de literatura visa descrever os principais medicamentos com potencial de reações adversas na cavidade bucal, agrupando os que causam efeitos adversos semelhantes, a fim de oferecer aos profissionais de saúde maior conhecimento sobre o assunto.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa, fundamentada em evidências e nas melhores informações disponíveis voltada ao estudo das principais reações adversas medicamentosas na cavidade bucal. A pesquisa buscou identificar e analisar os artigos relevantes, extraindo informações pertinentes para o escopo do estudo.
Os artigos selecionados foram de 2014 a 2024 nos idiomas: inglês, espanhol e português. Foram incluídas revisões e artigos originais relacionados ao tema. O desenho metodológico deste estudo segue a estratégia PCC, que é definida da seguinte maneira: População (P): reações adversas medicamentosas na cavidade bucal, Conceito (C): relação das reações adversas medicamentosas bucais com os medicamentos em uso e Contexto (C): manifestações bucais durante o uso de medicamentos.
PERGUNTA DA PESQUISA
Qual a relação da terapia medicamentosa com efeitos adversos na cavidade bucal e manifestações bucais?
A pesquisa foi estruturada em três etapas:
- Montagem de uma estratégia de busca nas bases de dados: PubMed, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Scielo) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Após a leitura prévia de artigos acerca da temática, optou-se pelos seguintes termos do MESH (Medical Subject Headings),também contemplados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), a saber: “Drug Therapy” e “Drug-Related Side Effects” e “Adverse Reactions” e “Oral Manifestations”.
- Seleção dos artigos com eliminação dos trabalhos duplicados. Os artigos selecionados que não estavam de acordo com a pergunta de pesquisa foram excluídos após leitura do título e do resumo, por fim foram selecionados os artigos completos que atendiam os critérios de inclusão estabelecidos pela pesquisa.
- Extração dos dados dos artigos incluídos. Após a análise, os artigos foram discriminados em um fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (Prisma) 2020 e os selecionados inseridos em um quadro descritivo contendo as informações: Artigo, ano, reação medicamentosa adversa relatada, medicamentos relacionados e descrição da reação.
RESULTADOS
Identificaram-se inicialmente 104 estudos potencialmente relevantes. Após a análise de duplicação, 81 estudos foram analisados com base no título e resumo. Foram excluídos 44 artigos com base no título e resumo, 37 estudos foram selecionados para a avaliação do texto na íntegra e 13 artigos foram excluídos após a leitura do texto completo. Por fim, 24 estudos foram selecionados para inclusão e análise.
Figura 1: Fluxograma dos artigos no modelo PRISMA 2020.
Os resultados deste estudo, centrados nos medicamentos e suas manifestações orais de reações adversas correspondentes estão sumarizados no Quadro 1, destacando as classes, os medicamentos e manifestações específicas.
Informações mais detalhadas dos principais resultados dos artigos selecionados estão descritas no Quadro 2. Destacam-se os principais pontos avaliados: autores/ano, objetivos do estudo e as manifestações orais observadas.
Quadro 1 – Classes de medicamentos – Medicamentos – Manifestação Oral
Quadro 1 – Classes de medicamentos – Medicamentos – Manifestação Oral
Quadro 2: Sumarização de autores/ano, objetivos do estudo e as manifestações orais observadas.
DISCUSSÃO
Aminossalicilatos
Segundo Muhvic et al (2016), o tratamento de Doenças Inflamatórias Intestinais pode levar a várias alterações na cavidade oral devido aos efeitos tóxicos diretos dos medicamentos nos tecidos bucais e efeitos imunossupressores indiretos. Dessa forma, os medicamentos utilizados incluem derivados do ácido aminossalicílico, corticosteróides, imunomoduladores, inibidores da calcineurina, terapia biológica e antibióticos. A sulfassalazina, um aminossalicílico, pode causar líquen plano oral, mielotoxicidade e hepatotoxicidade, resultando em anemia aplástica, sangramentos e infecções orais ¹.
Xerostomia
A xerostomia, comumente conhecida como boca seca, é um sintoma frequente em pacientes que fazem uso de certos medicamentos. Os medicamentos anticolinérgicos bloqueiam a ação da acetilcolina nos receptores muscarínicos, incluindo os receptores M3 presentes nas glândulas salivares. Isso pode resultar em alterações na produção de saliva, contribuindo para a xerostomia induzida por medicamentos.
Quando diversos medicamentos anticolinérgicos são utilizados simultaneamente, a carga anticolinérgica cumulativa pode ser potencializada, aumentando o risco de efeitos adversos, especialmente em idosos. Ademais, a saliva desempenha um papel crucial na proteção dos dentes contra a cárie dentária, na manutenção da saúde das gengivas e na lubrificação dos tecidos moles da boca. Quando a produção de saliva é reduzida, como ocorre na xerostomia induzida por medicamentos, os pacientes estão em maior risco de desenvolver cáries, doenças periodontais e infecções bucais.
Os anti-histamínicos de primeira geração, amplamente utilizados no tratamento de alergias, estão entre os medicamentos que podem causar xerostomia. Sua ação anticolinérgica pode resultar em uma redução significativa na produção de saliva, deixando os pacientes com uma sensação desagradável de ressecamento na boca.
Outros grupos de medicamentos associados a essa condição incluem os antidepressivos, benzodiazepínicos e diuréticos, que apresentam propriedades anticolinérgicas e podem desencadear a xerostomia ².
Em contrapartida, medicamentos parassimpaticomiméticos, como a pilocarpina e a cevimelina, podem ser prescritos para estimular a produção de saliva, aliviando assim os sintomas de boca seca. Além disso, estratégias como a estimulação mecânica e gustativa, o uso de xilitol e soluções remineralizantes podem ajudar a minimizar os efeitos adversos da xerostomia na saúde bucal dos pacientes ³.
Anticorpo monoclonal
Os anticorpos monoclonais e os inibidores do ponto de controle imunológico (ICIs) representam uma inovação significativa no tratamento do câncer, tendo sido aprovados vários agentes pela FDA. Estes medicamentos, como nivolumabe, pembrolizumabe e atezolizumabe, têm demonstrado melhorar as taxas de sobrevida em diversos tipos de câncer avançado. No entanto, eles estão associados a eventos adversos relacionados à imunoterapia, os quais podem afetar diferentes sistemas orgânicos, comumente o trato gastrointestinal, glândulas endócrinas, pele e fígado.
Esses medicamentos exercem seus efeitos adversos na cavidade bucal principalmente através de uma ativação desregulada do sistema imunológico. Por exemplo, os ICIs atuam bloqueando as vias de regulação do sistema imunológico, como CTLA-4 e PD-1, resultando em uma ativação excessiva das células T e uma resposta inflamatória generalizada. Isso pode levar a reações autoimunes, nas quais o sistema imunológico ataca tecidos saudáveis, incluindo a mucosa oral ⁴.
Entre as toxicidades dermatológicas mais comuns estão as reações liquenoides cutâneas e o penfigóide de membrana mucosa. A maioria dos casos de reações semelhantes ao líquen plano responde bem aos esteróides tópicos, enquanto o tratamento do penfigoide de membrana mucosa geralmente envolve esteróides sistêmicos e tópicos, doxiciclina, azatioprina, micofenolato mofetil e metotrexato. Além disso, o eritema multiforme (EM) tem sido raramente associado aos ICIs, resultando em úlceras e erosões intraorais ⁵.
Outras condições graves como a Síndrome de Stevens-Johnson, Necrólise Epidérmica Tóxica, Síndrome de Sjögren, xerostomia, hipofunção das glândulas salivares e lesões na mucosa oral também foram relatadas. O tratamento para essas condições pode envolver o uso de esteróides tópicos e sistêmicos, além de outros agentes imunossupressores e cuidados de suporte, destacando a importância da identificação precoce e manejo adequado das manifestações orais associadas a esses medicamentos ⁶.
Antibióticos
Os efeitos adversos dos antibióticos incluem a aceleração do processo de resistência microbiana, uso inapropriado em cerca de 50% dos casos, e a ocorrência de eventos adversos, como eritema multiforme (EM). Além disso, os antibióticos podem causar alterações na cavidade oral, como xerostomia, herpes simples, ulceração, candidíase, mucosite, hiperplasia gengival, e outras manifestações orais. Esses efeitos adversos são importantes para os profissionais de saúde estarem atentos, a fim de preveni-los ou tratá-los quando possível ⁷.
Segundo Zoghaib, os medicamentos relacionados ao EM incluem principalmente antibióticos, antivirais e corticosteróides. A causa mais comum desta condição é a infecção, especialmente o vírus herpes simplex (HSV) e, em menor frequência, a pneumonia por Mycoplasma. Além disso, em 18-25% dos casos, medicamentos como os anti-inflamatórios não esteroides e agentes antiepilépticos podem induzir essa reação. Também é resultado do uso de sulfonamidas, sulfonilureia e barbitúricos, os quais podem desencadear o EM como uma reação de hipersensibilidade ⁸.
Bloqueadores dos canais de cálcio (BCC)
Os bloqueadores dos canais de cálcio, como a anlodipina e a nifedipina, estão associados ao aumento gengival devido à sua capacidade de interferir na degradação do colágeno. Isso leva a um acúmulo de tecido de colágeno extracelular nas gengivas, resultando no aumento do tecido gengival. Além disso, a higiene bucal adequada e o controle da placa dentária são essenciais para reduzir a incidência do aumento gengival induzido por medicamentos ⁹.
Corticoides
Os glicocorticoides, como dexametasona e hidrocortisona, são eficazes no controle do edema, trismo e dor pós-cirúrgicos, porém podem causar efeitos adversos graves. Derivados do colesterol, esses medicamentos são eficazes no controle de processos inflamatórios e imunológicos.
No entanto, seu uso prolongado ou em doses elevadas pode resultar em atrofia muscular, hiperglicemia, síndrome de Cushing iatrogênica, supressão da função adrenal e toxicidade hepática. Além disso, podem enfraquecer o sistema imunológico, tornando os pacientes mais suscetíveis a infecções oportunistas na cavidade oral, como a herpes e a candidíase ¹.
Bifosfonatos
Os bifosfonatos e os anticorpos monoclonais interferem no processo de reabsorção óssea, levando a um desequilíbrio na homeostase óssea e possivelmente a uma diminuição na capacidade de reparação do tecido ósseo. Isso pode levar à necrose óssea quando combinado com outros fatores, como cirurgia oral ou infecção dentária, que aumentam o risco de osteonecrose dos maxilares (ONM). A isquemia óssea resultante pode contribuir para o desenvolvimento da ONM, mas o mecanismo exato ainda não está completamente esclarecido.
A ONM é um efeito colateral adverso desses medicamentos com manifestações orais significativas. Caracterizada pela exposição de osso necrótico através da mucosa oral ou pele facial, comumente afeta a mandíbula. As manifestações incluem edema, eritema, secreção purulenta, fístulas, perda de dentes, deformidade mandibular, dor e distúrbios sensoriais.
O tratamento não cirúrgico visa melhorar o estágio da doença e inclui enxaguatórios bucais antimicrobianos, como a clorexidina 0,12%, desinfecção local, controle da dor, antibióticos e suporte nutricional. Estratégias terapêuticas adicionais, como a administração de fatores de crescimento, oxigenoterapia hiperbárica e laser de baixa intensidade, parecem promover a melhora da ONM, entretanto, mais estudos devem ser conduzidos para comprovação da efetividade de terapias complementares¹⁰.
Antiepilépticos
As manifestações orais relacionadas aos anticonvulsivantes incluem o aumento gengival, hiperpigmentação oral, reação de hipersensibilidade oral, osteonecrose relacionada a medicamentos, xerostomia e outras condições orais ou periorais. O aumento gengival é comumente associado a anticonvulsivantes como carbamazepina e fenitoína, a qual também está relacionada com a hiperpigmentação da mucosa oral. A prevenção e o tratamento envolve prescrição criteriosa, higiene oral, descontinuação ou substituição de medicamentos causadores e intervenções cirúrgicas, se necessário³.
Os medicamentos podem influenciar o aumento gengival através de diferentes mecanismos. Por exemplo, os bloqueadores dos canais de cálcio e os anticonvulsivantes, podem causar o aumento do tecido gengival devido à interrupção da degradação do colágeno, levando a um acúmulo de tecido colágeno extracelular nas gengivas³.
Além disso, os medicamentos associados à Síndrome de Stevens-Johnson (SJS) incluem os antiepilépticos (lamotrigina, carbamazepina, fenitoína, fenobarbital), sulfonamidas, nevirapina, alopurinol e anti-inflamatórios não esteróides da classe oxicam. A fenitoína tem sido amplamente relacionada à NET, que é caracterizada por lesões mucocutâneas extensas e dolorosas em mais de 30% do corpo. Assim, estudos mostram que, para cada 10.000 pessoas, o risco de desenvolver SJS / NET é de aproximadamente 8,3 para a fenitoína ¹¹.
A Síndrome de Hipersensibilidade Induzida por Medicamentos, também conhecida como Reação Medicamentosa com Eosinofilia e Sintomas Sistêmicos (DRESS), está frequentemente associada a medicamentos antiepilépticos aromáticos, como fenitoína, carbamazepina, fenobarbital, lamotrigina e primidona, embora também possa ser causada por outros medicamentos ¹².
Os sintomas cutâneos variam de erupções maculopapulares a eritrodermia, podendo incluir prurido, pústulas, púrpura e queilite. O mecanismo exato ainda não é completamente compreendido, mas defeitos nas vias de desintoxicação de medicamentos e reações imunológicas são considerados importantes. A reativação de vírus, especialmente o HHV6, durante o DRESS também pode desempenhar um papel patogênico¹².
Dessa forma, em casos de reações de hipersensibilidade medicamentosa, deve-se realizar a suspensão do fármaco desencadeador e realizar o tratamento que inclui o uso de terapia com laser de baixo nível, com energia de 2-4 J por ponto e comprimento de onda vermelho de 660 nm, produtos orais com base de camomila para tratar as lesões orais, juntamente com higiene oral e enxaguantes bucais antissépticos para prevenir infecções secundárias ¹¹.
Agentes quimioterápicos
Os agentes quimioterápicos podem provocar diversas manifestações orais, tais como mucosite, candidíase, periodontite, gengivite, xerostomia e disfagia. Além disso, a quimioterapia é altamente tóxica, podendo afetar todas as estruturas orofaríngeas e comprometer as funções orofaciais, incluindo alterações na mobilidade da língua, dificuldade para engolir, hipotonia dos músculos mastigatórios e alterações sensoriais dos lábios e língua. Essas complicações neurológicas podem estar presentes em quadros de leucemias agudas ¹³.
Os medicamentos relacionados a essas manifestações compreendem uma variedade de agentes quimioterápicos e radioterápicos, incluindo paclitaxel, docetaxel, ciclofosfamida, fluorouracil, epirrubicina, imatinibe, hidroxiureia, citarabina, sorafenibe, capecitabina, carboplatina, doxorrubicina e vincristina. Esses medicamentos, utilizados para inibir o crescimento e a disseminação de células cancerígenas, também podem afetar células de crescimento rápido, como as células epiteliais orais, resultando em ulcerações e outras lesões na mucosa oral ¹⁴.
O mecanismo de ação desses medicamentos envolve não apenas a toxicidade direta nas células epiteliais, mas também alterações na microbiota oral. A quimioterapia e a radioterapia podem levar a um desequilíbrio na flora bacteriana da boca, aumentando o risco de infecções oportunistas, como candidíase oral e outras infecções fúngicas e bacterianas.
Dessa forma, o cirurgião dentista desempenha um papel crucial no tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço, devido aos efeitos secundários da radioterapia e cirurgia ablativa na saúde bucal. É recomendado que os pacientes recebam cuidados odontológicos antes, durante e após o tratamento oncológico. Os principais efeitos da radioterapia incluem xerostomia, mucosite, trismo, cáries por radiação e osteorradionecrose ¹⁵.
CONCLUSÕES
A presente revisão integrativa tornou evidente que existem diversos efeitos adversos relacionados a medicamentos que se manifestam em cavidade bucal, dessa forma é imprescindível que o cirurgião-dentista (CD) e demais profissionais de saúde adquiram conhecimentos sobre essas possíveis reações ao atender um paciente que faz uso de medicamentos para tratar condições sistêmicas. Além disso, as RAMs em cavidade bucal prejudicam a qualidade de vida do paciente e podem desencadear futuras hospitalizações. Portanto, o CD deve estar inserido em equipes multidisciplinares para avaliar pacientes que fazem uso de medicamentos, a fim de evitar o desenvolvimento de lesões, promover a saúde bucal e tratar complicações relacionadas às RAMs de forma efetiva. Sendo assim, esta revisão auxiliou na identificação das RAMs em cavidade bucal, assim como, sintetizou o conhecimento adquirido ao longo dos anos em relação às manifestações orais.
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1 Residente no Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva ESPDF – Escola de Saúde Pública do DF, Contato: Lubastosd@gmail.com
2 Preceptora no Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva Intensiva ESPDF – Escola de Saúde Pública do DF ORCID: https://orcid.org/0009-0005-8481-5518