ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DA HANSENÍASE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: UMA REVISÃO DE ESCOPO

LEPROSY CONTROL STRATEGIES IN PRIMARY HEALTH CARE: A SCOPING REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411212032


André Senna Andrade Nunes Guimarães1; Ana Beatriz Sousa Siqueira2; Ana Vitória Soares Machado3; Danilo Duarte Almeida Júnior4; Emny Taimy Barreto do Nascimento5; João Victor da Silva Passos6; Pedro José Freire Alves Alencar7; Ranna Stephanei Lopes Soares8; Rildo Geraldo Siqueira dos Santos9; Thiago Weslley Andrade Filho10; Ana Rita de Sousa França11


RESUMO

Introdução: A hanseníase representa um grave desafio de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil, que ocupa o segundo lugar mundial em novos casos. A Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha um papel central no controle da hanseníase, exigindo a capacitação dos profissionais para o diagnóstico precoce, vigilância epidemiológica e educação em saúde, fundamentais para reduzir a transmissão e mitigar o impacto da doença. Objetivo: mapear as evidências científicas sobre as estratégias utilizadas pelos profissionais de saúde na APS para o controle da hanseníase. Método: trata-se de uma revisão de escopo elaborada segundo as diretrizes do Instituto Joanna Briggs (JBI). As buscas foram realizadas nas bases Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e PubMed, utilizando descritores específicos relacionados ao controle da hanseníase. Foram incluídos estudos dos últimos 5 anos, disponíveis em inglês, espanhol ou português, com acesso gratuito. Resultados: A seleção inicial procedeu com a recuperação de 37 artigos, os quais passaram por triagem e elegibilidade, resultando na inclusão de 7 artigos. A maioria dos artigos (6) foi desenvolvida no Brasil e publicada na língua inglesa (5), entre os anos de 2020 e 2023. Considerações finais: A revisão destaca a importância da integração de inovações tecnológicas, como aplicativos, e da capacitação contínua dos profissionais de saúde, que são fundamentais para aprimorar o diagnóstico e a gestão de casos de hanseníase. Além disso, expõe lacunas no treinamento e as barreiras sistêmicas que dificultam a implementação dessas práticas, reforçando a necessidade de otimizar recursos e infraestrutura na APS.

Palavras-chave: Hanseníase; Controle da infecção; Atenção Primária à Saúde; Profissionais de Saúde.

ABSTRACT

Introduction: Leprosy poses a significant public health challenge, particularly in developing countries like Brazil, which ranks second globally in new cases. Primary Health Care (PHC) plays a central role in leprosy control, requiring the training of professionals for early diagnosis, epidemiological surveillance, and health education, all of which are essential to reducing transmission and mitigating the disease’s impact. Objective: To map scientific evidence on the strategies employed by health professionals in PHC for leprosy control. Method: This is a scoping review conducted according to the guidelines of the Joanna Briggs Institute (JBI). Searches were carried out in the Virtual Health Library (VHL) and PubMed databases, using specific descriptors related to leprosy control. Studies from the last five years, available in English, Spanish, or Portuguese, with free access, were included. Results: The initial search retrieved 37 articles, which underwent screening and eligibility checks, resulting in the inclusion of seven articles. Most of the articles (6) were developed in Brazil, and five were published in English between 2020 and 2023. Conclusions: The review highlights the importance of integrating technological innovations, such as apps, and continuous training for health professionals, which are essential for improving the diagnosis and management of leprosy cases. Additionally, it identifies gaps in training and systemic barriers that hinder the implementation of these practices, emphasizing the need to optimize resources and infrastructure in PHC.

Keywords: Leprosy; Infection Control; Primary Health Care; Health Professionals.

1 INTRODUÇÃO

A hanseníase, causada pelo Mycobacterium leprae, continua sendo um desafio de saúde pública em muitos países em desenvolvimento, apesar das inúmeras campanhas de controle e dos avanços no tratamento da doença. A patologia é caracterizada por lesões na pele e danos nos nervos periféricos, que podem resultar em deformidades físicas e incapacidades permanentes, contribuindo para o estigma social dos indivíduos afetados (Matos et al., 2022).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o segundo lugar em número de casos novos detectados anualmente, com aproximadamente 13% dos 208.613 casos globais registrados, o que reflete as desigualdades no acesso à saúde e a necessidade de melhorar as estratégias de controle da doença no nível da Atenção Primária à Saúde (APS) (Oliveira et al., 2020; Vieira et al., 2020).

 A APS desempenha um papel fundamental no controle da hanseníase, sendo o ponto de entrada preferencial para o diagnóstico precoce, o tratamento e o acompanhamento dos pacientes. No entanto, para que esse papel seja efetivo, é necessário que os profissionais de saúde estejam adequadamente treinados e equipados para identificar precocemente os sinais e sintomas da doença, além de implementar ações de vigilância epidemiológica e educação em saúde (Bolorino et al., 2023; Bernardes FILHO et al., 2021).

A OMS e o Ministério da Saúde brasileiro destacam a importância de capacitar os profissionais da APS para que possam atuar no controle da hanseníase de forma mais eficaz, integrando as ações de diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidades ao cuidado primário (Vieira et al., 2020).

Nesse contexto, esta revisão de escopo visa mapear e analisar as estratégias que podem ser desenvolvidas pelos profissionais de saúde na APS para o controle da hanseníase. A partir da análise da literatura científica recente, pretende-se fornecer um panorama das práticas mais efetivas e identificar lacunas que ainda precisam ser abordadas no manejo da hanseníase na atenção primária.

2 METODOLOGIA

Esta revisão de escopo foi conduzida seguindo as orientações metodológicas definidas pelo Instituto Joanna Briggs (JBI) e as recomendações do guia internacional Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR), garantindo rigor científico em todas as fases. O protocolo desta revisão de escopo foi registrado no Open Science Framework com DOI 10.17605/OSF.IO/U9MB6.

A revisão foi guiada pela seguinte pergunta norteadora: Quais estratégias podem ser desenvolvidas pelos profissionais de saúde na APS para o controle da hanseníase? O delineamento da pesquisa seguiu o modelo PCC, sendo:

População: Profissionais de Saúde;

Conceito: Controle da Hanseníase;

Contexto: Atenção Primária à Saúde.

Os critérios de inclusão e exclusão dos estudos foram definidos previamente para assegurar a relevância e qualidade dos artigos analisados. Foram incluídos estudos publicados nos últimos 5 anos, nas línguas inglês, espanhol ou português, disponíveis na íntegra de forma gratuita. A temática central deveria estar relacionada às estratégias desenvolvidas por profissionais de saúde no controle da hanseníase no contexto da APS. Estudos que não se encaixavam nesses parâmetros ou que exigiam acesso restrito foram excluídos. A busca foi conduzida nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e PubMed, no mês de outubro de 2024. A estratégia de busca utilizou os descritores Leprosy, Health Personnel e Primary Health Care, associados pelos operadores booleanos AND.

A triagem dos estudos foi feita utilizando a plataforma Rayyan, onde os artigos foram classificados como relevantes ou não, com base nos títulos e resumos. Sendo identificados os artigos em duplicidade e excluindo-os. Em seguida, os artigos selecionados previamente foram submetidos à leitura na íntegra. O mapeamento dos dados ou fichamento foi realizado utilizando uma matriz de análise, onde foram coletadas informações sobre procedência dos estudos, classificação dos periódicos (QUALIS ou JCR), título do artigo, autores, dados do periódico (volume, número, páginas e ano), objetivos do estudo, tipo de estudo, principais resultados e considerações temáticas​.

3 RESULTADOS

A busca inicial resultou na recuperação de 37 artigos, sendo 20 na BVS e 17 no PubMed​. Primeiramente, 11 artigos foram excluídos por duplicidade. Restaram 26 estudos, que passaram pela leitura de título e resumo, resultando na exclusão de 17 artigos que não cumpriam os critérios definidos.  Ainda 1 artigo foi excluído por não estar disponível integralmente de forma gratuita. Dos 8 artigos restantes, 1 foi excluído após a leitura na íntegra, resultando na inclusão de 7 artigos para integrar essa revisão de escopo (Figura 1).

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção e inclusão do estudo, segundo PRISMA-ScR.

Fonte: Autores (2024).

Dos 7 artigos incluídos nesta revisão, 6 foram desenvolvidos no Brasil e 1 na Malásia, sendo 2 publicados em 2020, 1 no ano de 2021, 2 no ano de 2022 e 2 no ano de 2023. Cinco (5) artigos estavam na língua inglesa, 1 em espanhol e 1 em português. As informações extraídas dos artigos foram apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1: Informações dos trabalhos incluídos na revisão de escopo.

Autor/TítuloAno/País/PeriódicoObjetivosPrincipais Resultados
Oliveira, J.D.C.P; Marinus, M.W.L.C.; Monteiro; E.M.L.M.  “Práticas de atenção à saúde de crianças e adolescentes com hanseníase: discursos de profissionais”2020/Brasil/Revista Gaúcha de EnfermagemAnalisar as práticas de atenção à saúde de crianças e adolescentes com hanseníase, a partir dos discursos de profissionais de saúde.A prática de atenção à saúde foi apreendida a partir das seguintes categorias de análise: “acolhimento em hanseníase”, “a prática clínica” e “educação em saúde”, com limitações no atendimento às especificidades do público estudado.
Vieira, N.F.; Lanzab, F.M.; Martínez-Rierac, J.R.; Nolascoc, A.; Lanad, F.C.F.  “Orientação da atenção primária nas ações contra a hanseníase: fatores relacionados aos profissionais”    2020/Brasil/Gaceta SanitariaIdentificar os fatores profissionais relacionados com a orientação da atenção primária à saúde no manejo da hanseníase.Na análise descritiva, a maioria dos profissionais não atendeu casos e não recebeu treinamento para realizar ações de hanseníase. Foi observada uma forte orientação nos escores essencial e geral da atenção primária e a associação com a educação sobre hanseníase. No escore derivado, observou-se orientação fraca e associação com o treinamento na doença para médicos e agentes comunitários de saúde.
Bernardes Filho, F.; Silva, C.M.L.; Voltan, G.; Leite, M.N.; Rezende, A.L.R.A.;          De Paula, N.A.; Barreto, J.G.; Foss, N.T.; Frade, M.A.C. “Estratégias de busca ativa, determinantes clínico-imunobiológicos e treinamento para pesquisa de implementação confirmam a hanseníase endêmica oculta no interior de São Paulo, Brasil”2021/Brasil/PLOS Neglected Tropical DiseasesAvaliar a eficácia do instrumento Hansen Suspicion Questionnaire (LSQ) para detectar novos casos de hanseníase, confirmar hanseníase endêmica oculta por avaliação clínico-imunobiológica e estabelecer agrupamento/mapeamento como uma ferramenta para identificação de áreas de alto risco de hanseníase, e mensurar a eficácia do treinamento de profissionais de saúde primários em Jardinópolis, São Paulo, Brasil.  Os resultados mostraram que 32,5% dos participantes apresentaram sinais e sintomas sugestivos de hanseníase, e foram diagnosticados 64 novos casos, confirmando a presença de hanseníase oculta na região. isso destacou a importância da busca ativa de casos e do treinamento adequado dos profissionais de saúde para identificar casos não notificados em áreas consideradas não endêmicas.
Dharmawanid, Y.; Fuady, A.; Korfage, I.J.; Richardus, J.H. “Detecção retardada de casos de hanseníase: uma revisão sistemática de fatores relacionados à assistência à saúde”  2022/Brasil/PLOS Neglected Tropical DiseasesIdentificar e analisar os fatores relacionados ao sistema de saúde que contribuem para o diagnóstico tardio de hanseníase.Os principais fatores são a falta de treinamento adequado dos profissionais de saúde que dificulta o reconhecimento precoce da doença, o acesso limitado aos serviços de saúde especialmente em áreas rurais ou remotas o que atrasa o diagnóstico, a infraestrutura inadequada nos serviços de saúde, com falta de recursos e medicamentos, o estigma e discriminação que fazem com que os pacientes evitem procurar ajuda e as deficiências em programas de saúde pública que não alcançam todas as populações vulneráveis.
Matos, D.P.; Torres, M.D.; Silva, L.S.R.; Santo, C.A.A.S.; Oliveira, F.J.F.; Araújo, M.F.M.; Serra, M.A.A.O.  “HANSENAPP: desenvolvimento de um aplicativo móvel para ajudar os profissionais de saúde primários a controlar a hanseníase”2022/Brasil/Tropical Medicine & International HealthDesenvolver e validar um aplicativo móvel que auxilie os profissionais de saúde no manejo de pacientes com hanseníase e vigilância de contatos na atenção primária à saúde.O conteúdo do aplicativo móvel, os métodos de navegação e a interação foram refinados com base nas discussões com especialistas. As recomendações deles foram aplicadas, e o aplicativo foi revisado até que a versão final fosse aprovada. Foram obtidos índices de validade de conteúdo de 0,94 (p = 0,007), 0,99 (p > 0,0001) e 0,93 (p =0,01).
Bolorino, N.; Gonçalves, L.C.; Freitas, F.M.B.; Ferreira, N.M.A.; Luquini, V.; Rodrigues, L.B.B. “Avaliação por Agentes de Saúde Comunitária dos atributos de cuidados de saúde primários para combater a lepra: um estudo transversal.”2023/Brasil/Online Brazilian Journal Of NursingAvaliar se os atributos da atenção primária à saúde estão presentes nas ações de controle da hanseníase em Londrina, a partir da perspectiva dos Agentes Comunitários De Saúde (ACS).O desempenho geral em relação aos atributos da atenção primária à saúde foi avaliado como forte (média = 6,95 / dp = 1,08) e o escore essencial (média = 7,39 / dp = 1,0). por outro lado, o escore derivado foi avaliado como fraco (média = 6,07 / dp = 1,06). em relação ao atributo acesso, a zona rural apresentou um escore inferior ao da zona urbana (média = 4,47 / dp = 1,63).
Teoh, X.Y.; Voo, S.Y.M.; Sulaiman, N. “Avaliando o impacto de um vídeo on-line pré gravado no conhecimento e na atitude dos médicos em relação à hanseníase em Sabah e Labuan – um estudo quase experimental”2023/Malásia/Medical Journal Of MalaysiaAvaliar o impacto de um vídeo online pré-gravado sobre o conhecimento e a atitude dos médicos em relação à hanseníase nas regiões de Sabah e Labuan.Os resultados do estudo mostraram que a visualização do vídeo teve um efeito positivo significativo no aumento do conhecimento dos médicos sobre a hanseníase e melhorou suas atitudes em relação à doença. Os médicos que assistiram ao vídeo demonstraram uma compreensão mais clara dos aspectos clínicos, epidemiológicos e de tratamento da hanseníase, além de uma redução no estigma associado à doença. A pesquisa destacou a eficácia dos recursos audiovisuais na educação continuada de profissionais de saúde.
Fonte: Autores (2024).

4 DISCUSSÃO

A hanseníase continua representando um importante problema de saúde pública, uma vez que atinge muitas pessoas e apresenta um alto poder incapacitante para os pacientes. No Brasil, a hanseníase é considerada um agravo prioritário na política de saúde, havendo a necessidade do fortalecimento da atuação da APS para o seu controle, com a capacitação de profissionais de saúde para detectar precocimente novos casos, proporcionar o tratamento adequado, e realizar a vigilância dos contatos domiciliares (Lanza et al., 2014; Leite et al., 2020).   

Em um estudo realizado em Londrina, os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) avaliaram os atributos da Atenção Básica (AB) no controle de hanseníase no município. Utilizando o PCATool-Hanseníase, os resultados mostraram que apenas 25% dos ACS consideraram o acesso no primeiro contato satisfatório. Além disso, 60% relataram que a continuidade do cuidado era frequentemente interrompida devido à falta de recursos e capacitação. A coordenação das ações foi avaliada positivamente por 55% dos ACS, mas houve críticas significativas sobre a escassez de serviços abrangentes, com apenas 40% satisfeitos com a abrangência dos serviços oferecidos. Em regiões rurais, as dificuldades eram ainda mais pronunciadas, destacando a necessidade de abordagens específicas para diferentes contextos. A pesquisa concluiu que melhorias significativas são necessárias para fortalecer a Atenção Básica e otimizar o controle da hanseníase (Bolorino et al. 2023).

Uma análise dos discursos de 23 profissionais de saúde de diversas áreas, como enfermagem e medicina, revelou que o acolhimento de crianças e adolescentes com hanseníase no SUS é crucial e deve incluir escuta qualificada e comunicação adaptada às idades e contextos familiares. No entanto, alguns profissionais ainda se comunicam predominantemente com os adultos, excluindo as crianças e adolescentes do processo. A construção de um vínculo forte entre profissionais, pacientes e suas famílias é vista como fundamental para o sucesso do tratamento, promovendo um atendimento humanizado (Oliveira; Marinus; Monteiro,2020).

Os participantes destacaram que a comunicação em ambulatórios pediátricos deve utilizar uma linguagem adequada e que o tempo das consultas é vital, dada a necessidade de exames dermatoneurológicos e orientações familiares. A assistência deve reconhecer os pacientes como sujeitos de direitos e o enfermeiro é considerado central na articulação do atendimento. Ao avaliar os discursos e práticas dos profissionais de saúde no acolhimento de crianças e adolescentes com hanseníase, e a análise dos atributos da Atenção Básica no controle da doença, a importância de intervenções educativas inovadoras foi também enfatizada (Oliveira; Marinus; Monteiro,2020). 

Além disso, a resistência dos contatos em realizar exames representa um desafio significativo, uma vez que a avaliação dos contatos é vital para interromper a transmissão da hanseníase. A educação em saúde, embora presente, é esporádica e geralmente ocorre durante campanhas, faltando uma abordagem sistemática para crianças e adolescentes. Também foi considerada como prática de educação em saúde pelos participantes da pesquisa as orientações individuais, que são realizadas durante as consultas, com foco nas orientações aos familiares, e as abordagens variam entre modelos biologicistas e perspectivas sociais atendimento (Oliveira; Marinus; Monteiro,2020).

Os profissionais reconhecem os preconceitos associados à hanseníase, que dificultam a comunicação e compreensão da doença. A prática atual, muitas vezes verticalizada, limita a liberdade do conhecimento e a participação dos jovens nas decisões sobre sua saúde, resultando na invisibilização de suas vozes. A desmistificação da hanseníase é essencial para combater o estigma e o impacto que a doença tem na identidade e autoestima de crianças e adolescentes. A pesquisa também indica que a capacitação contínua dos profissionais e a disseminação de informações corretas sobre a hanseníase são fundamentais para o atendimento eficaz. Essas práticas visam garantir um suporte emocional e um tratamento médico adequado para as crianças e adolescentes afetados pela doença atendimento (Oliveira; Marinus; Monteiro,2020).

Um outro estudo analisou o efeito de um vídeo pré-gravado na capacitação dos médicos sobre a hanseníase. Antes de assistir ao vídeo, apenas 20,6% dos médicos demonstraram bom conhecimento sobre a doença. Após a intervenção, esse número subiu para 87%. Além disso, houve uma melhora significativa nas atitudes dos médicos, que se tornaram menos preconceituosos e mais confiantes no diagnóstico e tratamento da hanseníase. Essa pesquisa ressalta a importância de ferramentas educacionais inovadoras para melhorar o conhecimento dos profissionais de saúde e reduzir o estigma associado à hanseníase, especialmente em regiões com altos índices de incapacidade. (Teoh; Voo; Sulaiman, 2023)

Considerando esses aspectos, outros fatores também influenciam a eficácia do atendimento primário no controle da hanseníase. Uma pesquisa realizada em uma capital brasileira investigou os fatores que influenciam a orientação dos profissionais de saúde na atenção primária no controle da hanseníase. Realizado em 70 unidades da Estratégia Saúde da Família em uma capital brasileira, o estudo identificou que a autoeficácia dos profissionais, suas crenças sobre a doença e a capacitação contínua são cruciais para uma melhor orientação e atendimento. Os resultados mostraram que profissionais com maior autoeficácia e conhecimento sobre a hanseníase proporcionam um cuidado mais eficaz e menos estigmatizado aos pacientes (Vieira et al. 2020).

A eficácia de estratégias de busca ativa, determinantes clínicos imunobiológicos e treinamento para pesquisa de implementação também foi investigada na confirmação da endemia oculta de hanseníase no interior de São Paulo. Os resultados revelaram a identificação de casos ocultos de hanseníase que não eram detectados através de métodos tradicionais de vigilância. A aplicação de um Questionário de Suspeita de Hanseníase (QSH) e a capacitação contínua dos profissionais de saúde foram essenciais para aumentar a detecção da doença. O estudo destacou a importância de uma abordagem multidisciplinar e da colaboração entre dermatologistas e outros profissionais de saúde para melhorar a vigilância e o controle da hanseníase (Bernades Filho et al., 2021).

Paralelamente, uma revisão sistemática investigou os fatores relacionados ao atraso no diagnóstico de hanseníase. O estudo identificou fatores individuais, como idade avançada, ser do sexo masculino e baixa percepção dos sintomas, assim como fatores sistêmicos, como a hanseníase multibacilar e a falta de conhecimento dos profissionais de saúde. A revisão também destacou que o comportamento de busca por serviços de saúde e a eficácia dos sistemas de saúde foram cruciais para o diagnóstico oportuno. Foi enfatizada a necessidade de melhorar a educação em saúde e a capacitação dos profissionais para reduzir esses atrasos e melhorar o controle da hanseníase (Dharmawan et al. 2022).

Complementando essas abordagens, um estudo detalhou o desenvolvimento de um aplicativo móvel chamado Hansenapp, projetado para auxiliar profissionais de saúde da atenção básica no controle da hanseníase. A aplicação proporciona recursos educativos, diretrizes de diagnóstico e tratamento, e ferramentas de monitoramento dos pacientes. Os resultados mostraram que o uso do Hansenapp melhorou significativamente a acurácia no diagnóstico e a eficiência no acompanhamento dos casos de hanseníase. A ferramenta também facilitou a comunicação entre os profissionais de saúde e os pacientes, promovendo um atendimento mais integrado e personalizado. A introdução do Hansenapp foi bem recebida, com os profissionais relatando maior confiança e conhecimento no manejo da doença, além de uma redução no tempo de resposta para o início do tratamento (Matos et al. 2022).

5 CONCLUSÃO

A revisão de escopo sobre as estratégias para o controle da hanseníase na Atenção Primária à Saúde (APS) destaca a importância da capacitação contínua dos profissionais e da adoção de ferramentas tecnológicas, como aplicativos móveis, para o diagnóstico precoce, a busca ativa de casos e o acompanhamento dos pacientes e seus contatos. Apesar do potencial dessas iniciativas, ainda há desafios significativos, como a falta de treinamento adequado, as dificuldades de acesso à saúde em áreas rurais e o estigma social que compromete o diagnóstico e o tratamento. Assim, é essencial fortalecer a APS, desenvolver novas ferramentas de gestão e garantir apoio adequado ao tratamento da hanseníase para o controle eficaz da doença. Além disso, é crucial superar as barreiras estruturais e sociais existentes, promovendo uma abordagem mais integrada e humanizada, com o objetivo de reduzir o impacto da hanseníase e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

REFERÊNCIAS

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BOLORINO, Natacha; GONÇALVES, Laís Cristina; FREITAS, Franciely Midori Bueno de; FERREIRA, Natalia Marciano de Araújo; LUQUIN, Vanessa; RODRIGUES, Ludmila Barbosa Bandeira; MATTOS, Tissiane Soares Seixas de; PIERI. Evaluation by community health agents of the attributes of primary health care for fighting leprosy: a cross-sectional study. Online Brazilian Journal Of Nursing, [s. l], p. 1-10, 2023.

DHARMAWAN, Yudhy; FUADY, Ahmad; KORFAGE, Ida J.; RICHARDUS, Jan Hendrik. Delayed detection of leprosy cases: A systematic review of healthcare-related factors. PLoS Negl Trop Dis, [s. l], p. 1-14, 2022. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0010756

LANZA, Fernanda Moura et al. Instrumento para avaliação das ações de controle da hanseníase na Atenção Primária. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 67, n. 3, p. 339-346, 2014.

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MATOS, Daniella Pontes; TORRES, Mateus Dantas; SILVA, Liniker Scolfild Rodrigues da; SANTOS, Carlos Alberto Andrade Serra dos; OLIVEIRA, Francisca Jacinta Feitoza de; ARAðJO, Márcio Flávio Moura de; SERRA, Maria Aparecida Alves de Oliveira. Hansenapp: development of a mobile application to assist primary healthcare providers to control leprosy. Tropical Medicine & International Health, [S.L.], v. 27, n. 8, p. 719-726, 11 jul. 2022. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/tmi.13795.

TEOH, Xin Yun; VOO, Sook Yee Michelle; SULAIMAN, Nadirah. Evaluating the impact of a pre-recorded online video on Doctor’s knowledge and attitude towards leprosy in Sabah and Labuan – a quasi experimental study. Med J Malaysia, [s. l], v. 78, p. 574-582, 2023.

VIEIRA, Nayara Figueiredo; LANZA, Fernanda Moura; MARTÍNEZ-RIERA, José Ramón; NOLASCO, Andreu; LANA, Francisco Carlos Félix. Orientación de la atención primaria en las acciones contra la lepra: factores relacionados con los profesionales Orientation of primary care in actions to control leprosy: factors relating to professionals. Gaceta Sanitaria, [s. l], v. 34, p. 120-126, 2020.


1Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: senna_andre@hotmail.com

2Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: Abeatrizz@gmail.com

3Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: ana.vitoriasm@hotmail.com

4Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: danilojunior.duarte@gmail.com

5Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: emny.taimy@hotmail.com

6Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: joaovictorpas891@gmail.com

7Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: pedroalencar99989@gmail.com

8Graduanda em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: ranna_soares10@hotmail.com

9Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: rildogeraldo@hotmail.com

10Graduando em Medicina
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail: twaf2006@gmail.com

11Mestre em Farmacologia
Instituição: Faculdade de Medicina Estácio (IDOMED) – Juazeiro-BA
E-mail:  francaanarita@gmail.com