REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411211404
Pâmella Suyly Gomes Lopes1
RESUMO– Avaliação neuropsicológica refere-se ao método usado pela Neuropsicologia para o estudo dos distúrbios cognitivos e comportamentais. Quando aplicada com crianças, tem o objetivo de identificar precocemente transtornos cognitivos ou problemas no desenvolvimento. O presente artigo consiste de uma revisão de literatura que buscou investigar publicações à cerca dos resultados recentes de avaliações neuropsicológicas em crianças com nascimento pré-termo. O conteúdo desta pesquisa atestou que bebês pré-termo são mais predisposto a apresentarem alterações ou desvio em suas aquisições e desenvolvimento. Assim como ficou evidente a importância da avaliação neuropsicológica principalmente para identificar os potenciais e as dificuldades que os bebês pré-termo apresentam, possibilitando, o encaminhamento para as intervenções terapêuticas necessárias.
PALAVRAS-CHAVES: Avaliação neuropsicológica. Neuropsicologia. Infantil. Pré-termo.
1 INTRODUÇÃO
A neuropsicologia é uma ciência que estuda a relação entre o cérebro humano e o comportamento (PANICALI E GONTIJO, 2016). Ela se interessa pela complexa organização cerebral e sua interação com o comportamento e cognição, em seu desenvolvimento normal e em casos de lesões ou doenças (MÄDER-JOAQUIM, 2010). A avaliação neuropsicológica é o método usado pela Neuropsicologia para o estudo dos distúrbios cognitivos e comportamentais causados por lesões ou outros problemas no desenvolvimento cerebral (LEZAK, 1995). Tal método se utiliza de instrumentos como testes neuropsicológicos e escalas de desenvolvimento. (HAASE et al, 2012).
Quando aplicada com crianças, a avaliação neuropsicológica comumente tem o objetivo de identificar precocemente transtornos cognitivos ou problemas no desenvolvimento. Tal avaliação necessita de instrumentos diferenciados dos utilizados com a população adulta, devido a diferenças no desenvolvimento referentes à idade (HAMDAN ET AL, 2011)
Dentre os temas investigados pela Neuropsicologia está o impacto do nascimento de bebês pré-termos, chamados prematuros, no desenvolvimento global da criança. O parto pré-termo é definido como aquele cuja gestação termina entre a 20ª e a 37ª semanas ou entre 140 e 257 dias após o primeiro dia da última menstruação (RAMOS ET AL., 2001).
O objetivo deste trabalho foi investigar publicações à cerca dos resultados recentes de avaliações neuropsicológicas em crianças com nascimento pré-termo.
2 DESENVOLVIMENTO
O artigo foi feito em formato de Revisão Bibliográfica. Utilizou-se o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para a busca de artigos. Os descritos “avaliações neuropsicológica” e “prematuro” foram utilizadas em português e inglês, sem período de publicação definido. 6 artigos foram encontrados no total. O critério de inclusão limitou-se ao uso de crianças dentre a amostra utilizada no trabalho. A partir disso, foi feita uma revisão sistemática de literatura com esse total de 6 artigos, com o seguinte avaliadores: título do artigo, palavras-chave, objetivo, área de conhecimento, tipo de amostra e de estudo, instrumentos, resultados, conclusões, área afetada e problema indicado.
Dentre a literatura analisada à cerca do nascimento pré-termo, houve maior incidência de problemas associados com linguagem (EILERS et al., 1993; FIELDMAN et al., 1994; MAHURIN-SMITH et al., 2017). A linguagem é um sistema complexo de símbolos e regras que permite a comunicação, com o envolvimento de habilidades de compreensão e expressão (HARLEY, 2011). Ela funciona como um veículo para as interações complexas durante toda a vida e por isso é de suma importância para o desenvolvimento.
Além da linguagem, outra função cognitiva comumente afetada pelo nascimento pré-termo é a atenção (MAHURIN-SMITH et al., 2017; MARQUES, 2017; RÍOS-FLOREZ et al., 2018). A atenção possui um papel primordial no nosso cotidiano, é por meio dela que selecionamos estímulos relevantes dos inúmeros que nos cercam a todos os momentos (COUTINHO et al, 2010). Prejuízos associados á atenção – e consequentemente um empobrecimento na captação de estímulos relevantes – tendem a repercutir em várias áreas do desenvolvimento. Dentre essas áreas, a mais comumente afetada por déficits de atenção é a memória (MAHURIN-SMITH et al., 2017).
Além de testes e escalas formais para medir a linguagem e a atenção, como a Clinical Evaluation of Language Fundamentals (CELF-4), a observação lúdica ou de interações também foi utilizada como forma de avaliação (FIELDMAN et al.,1994. EILERS et al., 1993).
Na grande maioria dos estudos investigados, as hipóteses dos estudos confirmaram-se e crianças nascidas prematuras obtiveram menos scores nas áreas investigadas do que as crianças a termo (FIELDMAN et al, 1994; MAHURIN-SMITH et al., 2017; MARQUES, 2017; RÍOS-FLOREZ, 2017; RAZ et al, 2010). Uma exceção ocorreu com o estudo de Eilers e colaboradores (1993), que constatou que crianças nascidas pré-termo tentem a apresentar balbucios canônicos antes de crianças que nasceram com o período normal de gestação.
4 CONCLUSÃO
Observou-se que bebês pré-termo são mais predisposto a apresentarem alterações em suas aquisições e desenvolvimento nas áreas motora, linguística e cognitiva. Podendo apresentar, problemas de aprendizagem, de atenção, na percepção viso-espacial e na linguagem.
Desta maneira, o psicólogo interessado nessa área deve estar ciente que a avaliação neuropsicológica não se limita somente a aplicação de testes, mas, a avaliar a relação desses achados com possíveis patologias e estabelecer a possível área cerebral envolvida. Assim, sua importância nesse contexto, consiste principalmente em identificar os potenciais e as dificuldades que os bebês pré-termo apresentam, possibilitando assim, o encaminhamento para as intervenções terapêuticas necessárias.
Verificou-se que bebês nascidos prematuramente estão significativamente mais predispostos a apresentarem comprometimentos no desenvolvimento nas esferas motora, linguística e cognitiva. Esses indivíduos podem, consequentemente, experienciar dificuldades em áreas como aprendizado, atenção, percepção viso-espacial e linguagem, condições que, se não adequadamente abordadas, podem ter repercussões a longo prazo no desenvolvimento global da criança.
Nesse sentido, o psicólogo especializado em neuropsicologia infantil deve compreender que a avaliação neuropsicológica vai além da mera aplicação de testes padronizados. Ela deve ser um processo abrangente que considera a análise integrada dos achados de testes, correlacionando-os com os potenciais quadros patológicos e identificando as áreas cerebrais que podem estar implicadas no quadro clínico observado. Esta abordagem permite não apenas diagnosticar deficiências, mas também compreender as potencialidades cognitivas do bebê prematuro, oferecendo uma visão mais holística de suas capacidades.
Portanto, a função do psicólogo nesse contexto é de suma importância, pois ele tem o papel crucial de identificar precocemente os pontos fortes e as dificuldades enfrentadas pelos bebês prematuros. Essa identificação precoce é essencial, uma vez que possibilita o encaminhamento para intervenções terapêuticas adequadas e personalizadas, visando otimizar o desenvolvimento da criança e minimizar as consequências adversas do nascimento prematuro. Dessa forma, a avaliação neuropsicológica se configura como uma ferramenta fundamental não apenas no diagnóstico, mas também na proposição de estratégias interventivas, proporcionando uma assistência mais eficaz e direcionada às necessidades específicas dessa população.
5 REFERÊNCIAS
COUTINHO, Gabriel; MATTOS, Paulo; ABREU, Neander. Atenção. In: MALLOY-DINIZ et al. Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed; 2010.
HARLEY, T. The psychology of language. New York: Psychology Press; 2001.
HAMDAN, Amer; PEREIRA, Ana Paula; RIECHI, Tatiana. Avaliação e Reabilitação Neuropsicológica: Desenvolvimento Histórico e Perspectivas Atuais. Interação em Psicologia, Curitiba; 2011.
HAASE et al. Neuropsicologia como ciência interdisciplinar: consenso da omunidade brasileira de pesquisadores/clínicos em Neuropsicologia. Revista Neuropsicologia Latinoamericana. Belo Horizonte (MG), 2012.
LEZAK, M. D. Neuropsychological assessment(3rd ed.). New York: Oxford University Press; 1995.
MÄDER-JOAQUIM, Maria Joana. O Neuropsicólogo e seu Paciente: Introdução aos Princípios da Avaliação Neuropsicológica. In: MALLOY-DINIZ et al. Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre: Artmed; 2010.
PANICALI, Maristela; GONTIJO, Daniel. Características da Avaliação Neuropsicológica Infantil em Pesquisas Brasileiras: Uma Revisão Sistemática. Iniciação Científica CESUMAR; 2016.
RAMOS, J.; MARTINS S.; VALÉRIO EG, MULLER ALL. Nascimento pré-termo. In: FREITAS F, MARTINS, S; RAMOS, J., MAGALHÃES, J. Rotinas em obstetrícia. Porto Alegre (RS): Artmed; 2001.
1psicologapamellalopes@gmail.com; psicóloga pela UFPA; neuropsicóloga pela faveni; especialista em análise do comportamento aplicada ao autismo pela FaSouza e mestranda em Educação pela UNICID. ORCID iD: 0009-0001-2831-3207