OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA NA GESTANTE COM TROMBOFILIA: REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411201436


Maria Nóbrega de Sá Alves da Costa1; Aline de Alcântara Correia2; Andréa Correia Nóbrega de Sá3; Paulianna de Assis Maia Sousa4; Lueci Lima de Oliveira5; Aurilândia de Andrade Souza6; Rosângela Guimarães de Oliveira7; Soraya Sarita da Silva8; Emanuelle Kalyne Barbosa Spencel Teixeira9; Paulo Victor Andrade Barbosa Dantas10


RESUMO

O presente trabalho teve o objetivo de investigar, na literatura científica, quais os cuidados de Enfermagem Obstétrica na gestante com trombofilia. Quanto ao método, tratou-se de revisão integrativa realizada entre os meses de setembro e outubro de 2024, cuja questão norteadora foi: “Como ocorre o cuidado de enfermagem obstétrica na gestante com trombofilia?”. Os critérios de inclusão foram: estudos publicados em português, inglês e espanhol, nos anos 2020-2024, com combinações dos descritores, a conhecer: (Trombofilia) AND (Cuidados de Enfermagem) OR (Gravidez), encontradas na Biblioteca Virtual de saúde, base de dados MEDLINE e LILACS. Foram excluídos artigos que apresentavam duplicidade, monografias, dissertações e teses, e àqueles cujo título e objetivo não articulam com esse estudo. Os resultados apontavam 28 artigos, foram selecionados 04 artigos da Lilacs e 04 da MEDLINE após a leitura do título e resumo, totalizando 08 artigos. A revisão integrativa revelou trabalhos científicos com temas relacionados a estudo genético, dados epidemiológicos de taxas de gestação e nascimento; associações entre a trombofilia e desfechos gestacionais; além de tratamentos inovadores que permitem equiparação da vitalidade do recém nascido de puérpera com ou sem trombofilia. Conclui-se que o conhecimento específico sobre questões clínicas, genéticas, tratamento e acompanhamento da mulher com trombofilia deve ser um tema ventilado entre os profissionais de saúde da mulher e obstetrícia.   

Palavras-chave: Cuidado de Enfermagem; Gestante; Trombofilia.

ABSTRACT

The present work aimed to investigate in the scientific literature what Obstetric Nursing care is provided for pregnant women with thrombophilia. As for method, this was an integrative review being carried out between September and October 2024, whose guiding question is: how does obstetric nursing care occur in pegnant women with thrombophilia? The inclusion criteria were: studies published in Portuguese, English and Spanish, in the years 2020-2024, with combinations of descriptors, namely: (THROMBOPHILIA) AND (Nursing Care) OR (Pregnancy), found in the Virtual Health Library, MEDLINE and LILACS databases. Articles that presented duplication, monographs, dissertations and theses, or those whose title and objective do not articulate with this study were excluded. The result shower 28 articles, 04 article from Lilacs and 04 from MEDLINE were selected after reading the title and abstract, totaling 08 articles. The integrative review revealed scientific works with topics related to genetic studies, epidemiological data on pregnancy and birth rates; associations between thrombophilia and gestational outcomes, in addition to innovative treatments that allow for equalization of the vitality of newborn born to postpartum women with or without thrombophilia. The conclusion of the review was that specific knowledge about clinical, genetic issues, treatment and monitoring of women with thrombofilia should  be a topic discussed among women’s health and obstetrics professionals.

Keywords: Nursing Care; Pregnant woman; Thrombophilia.

1 INTRODUÇÃO

A trombofilia trata-se de disfunção relacionado aos fatores de coagulação que aumentam o risco de trombos, embolia pulmonar ou trombose venosa profunda (TVP) na circulação sanguínea. Quanto a etiologia, ela podendo ser hereditárias ou adquiridas (Barros, 2014). A trombofilia é definida como tendência à trombose, que pode ocorrer em idade precoce, ser recorrente e/ou migratória. Classicamente, a trombofilia é dividida em adquirida, representada principalmente pela síndrome antifosfolípide (SAF), e hereditária (Ministério da Saúde, 2012).

As causas hereditárias incluem a deficiência de antitrombina (AT), proteínas S (PS) e C (PC), fator V de Leiden (FVL), mutação G20210A no gene da protrombina. Enquanto as trombofilias adquiridas são os anticorpos antifosfolípides, incluindo o anticorpo 2-glicoproteína1 e anticoagulante lúpico (Soligo et al., 2016).

A doença tromboembólica venosa é uma causa importante de morbidade e mortalidade obstétrica, mas a verdadeira incidência da trombose venosa profunda (TVP) durante os períodos de gestação e pós-parto ainda não está totalmente estabelecida (Brazão et al., 2010). Segundo Soligo, et al. (2016), a freqüência de trombofilia parece ser maior em mulheres inférteis, mas este dado ainda não está claro na literatura hoje disponível e não havia um único estudo na população brasileira.

Deve ser considerada a relação entre a presença destes fatores e a obstrução vascular no sítio de implantação nos casos de infertilidade. De um modo geral, afirma-se que na grávida, existe um risco seis a dez vezes maior de ocorrência do tromboembolismo venoso (TEV) e que a TVP incide em 1 a 2 casos por 1000 gestações.

De acordo com evidências científicas, há maior risco de trombose na gravidez no terceiro trimestre de gestação e no puerpério, período pós parto (Brazão et al., 2010). Além disso, a presença de trombofilia em mulheres, que desejam engravidar e atingem este objetivo, pode aumentar o risco de complicações durante a gravidez, tais como pré eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino (RCIU), descolamento prematuro de placenta (DPP), parto prematuro, perda fetal recorrente (PFR), sofrimento fetal crônico, além de eventos isquêmicos durante a gravidez (Soligo et al., 2016).  

Alguns fatores estão relacionados ao desenvolvimento do TEV durante a gestação. A estase venosa decorrente ao aumento da distensibilidade e capacitância venosa, demonstrável no primeiro trimestre (com conseqüente redução da velocidade de fluxo venoso nos membros inferiores), quer pela compressão da veia cava inferior e da veia ilíaca esquerda pelo útero grávido, é provavelmente o principal substrato fisiopatológico. Níveis aumentados de fibrinogênio e de outros fatores da coagulação, especialmente II, VII, e X, e diminuídos dos seus inibidores naturais (antitrombina III, proteína C e S), bem como a redução da atividade fibrinolítica durante a gestação, produzem um estado relativo de hipercoagulabilidade (Brazão et al., 2010).

Considerando a importância de adequado acompanhamento de gestantes com trombofilia,  o problema a ser considerado nesta revisão versa sobre o pouco conhecimento da Enfermagem nos Serviços de Saúde sobre os cuidados à gestante com a doença em estudo. Assim, questiona-se: “Como ocorre o cuidado às gestantes com a trombofilia pela Enfermagem?” Nesse sentido, o objetivo deste estudo trata-se de investigar, na literatura científica, quais os principais cuidados de enfermagem à gestante com trombofilia.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

As perdas gestacionais precoces são muitas vezes subdiagnosticadas, pois se trata de gravidezes que terminaram muito precocemente, antes do atraso menstrual, e como tal passam habitualmente despercebidas (Brazão et al., 2010). Nesse sentido, segundo o Ministério da Saúde (2012), são indicações para investigação as ocorrências passadas ou recentes de qualquer evento trombótico, aborto recorrente, óbito fetal, pré-eclâmpsia, eclâmpsia, descolamento prematuro de placenta, restrição de crescimento fetal grave e história familiar.

Para além da história clínica, torna-se necessária a investigação do uso farmacêutico, como anticoagulantes orais, contraceptivos orais, heparina e realização de terapêutica hormonal, visto que essas medicações podem influenciar na interpretação de exames realizados (Figueiró-Filho, 2012).

Quanto aos estados trombofílicos que predispõem à trombose, há dois tipos, a conhecer: 1. Trombofilias primárias, hereditárias ou congênitas (deficiência de Antitrombina III, deficiência de Proteína C, deficiência de Proteína S, Desfibrinogenémia, Resistência à proteína C activada 10 / Factor V de Leiden, hiperhomocisteinémia, mutação G20210A do gene da protrombina etc); e 2. Trombofilias secundárias ou adquiridas dentro das quais se destaca a síndrome dos anticorpos antifosfolipidos (SAAF) (Brazão et al., 2010).

 Há evidência crescente de que numerosas anormalidades hereditárias, especialmente do sistema de coagulação e anticoagulação do sangue, são estreitamente associadas à trombofilia (Dorival et al., 2016). A gestante apresenta os três componentes etiopatogênicos da tríade de Virchow: a) estase, devido à compressão das veias cava e ilíaca comum esquerda pelo útero gravídico e à diminuição do tônus venoso por causa da ação miorrelaxante da progesterona; b) hipercoagulabilidade, secundária à indução da síntese hepática dos fatores VII, VIII e X de coagulação pelo estriol placentário, aumento do fibrinogênio e do inibidor do ativador do plasminogênio tipo I e II, e diminuição da síntese de proteína S; c) lesão endotelial, que ocorre na nidação, remodelação endovascular das artérias uteroespiraladas e com a dequitação (Ministério da Saúde, 2012).

Durante a gestação, o risco de TEV aumenta de cinco a dez vezes, podendo chegar a vinte no puerpério ao ser comparado ao de mulheres não gestantes de mesma idade. Após esse período, a freqüência diminui rapidamente, apesar do risco residual que persiste por até 12 semanas pós-parto (Malavasi, 2016).

A excepção deve ser feita para a deficiência de antitrombina III, e possivelmente para a homozigotia das mutações do factor V de Leiden e do gene da protrombina, uma vez que estas trombofilias são de alto risco para doença tromboembólica e requerem terapêutica com HBPM durante toda a gestação e no puerpério.

No caso particular do déficit de antitrombina III, níveis de antitrombina III inferiores a 30% dos valores de referência implicam o tratamento com concentrados de antitrombina III ou plasma fresco de forma a prevenir a tromboseneonatal fatal (Brazão et al., 2010). As mulheres com trombofilias hereditárias ou adquiridas, devem tomar varfarina nas 6 semanas após o parto, mesmo que não tenham feito tromboprofilaxia durante a gravidez, se tiverem outros fatores de risco.

Mulheres assintomáticas, com trombofilias adquiridas ou hereditárias podem ser selecionadas para fazer tromboprofilaxia pré ou pós-natal consoante o tipo de trombofilia e a presença de outros factores de risco (Brazão et al., 2010). O diagnóstico laboratorial da SAF é dado pela detecção dos anticorpos antifosfolípides (Ministério da Saúde, 2012).

A cesariana é um fator de risco significativo, porém mulheres submetidas ao parto vaginal estão sob risco. Estima-se que de 79 a 89% das gestantes que morrem por EP apresentam ao menos um fator de risco identificável. O TEV prévio e a presença de trombofilia previamente diagnosticada são dois fatores de risco de TEV em gestantes que podem ser identificados antes da gravidez durante a anamnese. Estudos relatam que as trombofilias hereditárias são observadas em 20 a 50% dos casos de ocorrência de TEV na gestação (Malavasi, 2016).  Quanto a outros fatores, tem-se: doença intestinal inflamatória, Infecção do trato urinário, Lúpus eritematosos sistêmicos, Cardiopatias, Hipertensão arterial sistêmica induzida pela gestação ou pré-eclampsia Cirurgia antenatal não obstétrica.

As alterações protrombóticas da coagulação associadas com a gravidez, são máximas imediatamente a seguir ao parto; assim a tromboprofilaxia deve continuar no puerpério. A dose no pós-parto deve ser orientada consoante o tipo de HBPM, a conhecer: enoxaparina 40mg, dalteparina 5000 iu, tinzaparina 50units/kg (Brazão et al., 2010).

A avaliação da vitalidade fetal em gestantes com trombofilia adquirida ou hereditária deve incluir o controle diário dos movimentos fetais a partir de 28 semanas de idade gestacional, cardiotocografia semanal a partir de 30 semanas e ultrassonografia mensal com dopplervelocimetria de cordão umbilical a partir de 28 semanas (Ministério da Saúde, 2012).

A obesidade é um importante fator de risco para TEV na gestação e esse risco cresce à medida que o índice de massa corporal (IMC) aumenta. A obesidade (IMC > 30 kg/m2) é associada ao aumento de 14,9 vezes de risco de EP e TVP32. O sobrepeso materno (IMC entre 25 e 29,9 kg/m2) é um fator de isco muito comum, porém fraco, para TEV relacionado à gestação (Malavasi, 2016).

O autor prossegue afirmando que a estratificação de risco de TEV na gestação baseia-se na avaliação de cada paciente e deve ser realizada em todas as mulheres antes da gestação e logo que engravidam, recomendando-se repeti-la ao longo do pré-natal, diante de eventual surgimento de novos fatores de riscos. As preferências e as considerações das gestantes devem ser levadas em conta no momento da escolha da tromboprofilaxia.

3 MÉTODOS

O presente estudo tratou-se de revisão integrativa, na qual, é caracterizada enquanto instrumento para estudos sobre determinado assunto, possibilitando análise e síntese dos achados, com base em método que viabilize a reprodução do estudo (Garuzi et al.,2013). Os artigos são sintetizados seguindo análise rigorosa, levando em consideração os posicionamentos de diversos autores sobre o tema.

Assim, a revisão integrativa foi realizada com a definição de questão norteadora, critérios de inclusão dos estudos a serem analisados; pesquisa em base de dados; leitura e análise dos estudos e interpretação dos resultados; análise e discussão de achados; por fim, apresentação da revisão. 

A pesquisa deu-se entre os meses de agosto a outubro de 2024. Quanto aos critérios de inclusão, foram definidos: estudos publicados em português, inglês ou espanhol, entre 2019 a  2024, contendo uma das combinações, a saber: (Trombofilia) AND (Cuidados de Enfermagem  OR gravidez). As buscas ocorreram na base de dados da Plataforma Biblioteca Virtuais de Saúde, considerando os artigos da base de dados MEDLINE e Literatura Latino-America e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Enquanto critérios de exclusão da pesquisa foram desconsiderados aqueles apresentando duplicidade nas plataformas pesquisadas, trabalhos monográficos, dissertações, teses, artigos de revisão integrativa ou sistemática.

Tabela com os artigos científicos apresentando as filtrações

Fonte: Base de dados MEDLINE e LILACS.  João Pessoa – PB, 2024.

4 RESULTADOS

As bases pesquisadas seguiram a inserção das combinações: (Trombofilia) AND (Cuidados de Enfermagem OR gravidez). Dessa forma, por meio da plicação do filtro, avaliação dos critérios de inclusão e exclusão foram elegíveis para este estudo 28 artigos, sendo excluídos 20 artigos após a leitura do título. Destarte, foram considerados para a revisão 08 artigos, dos quais 04 MEDLINE e 04 artigos do LILACS. Tais manuscritos foram organizados conforme  base de dados, a seguir:

Quadro 1 – Distribuição dos artigos científicos elegidos por base de dados.

BaseAutor/ Ano de títuloTítuloObjetivosDesfecho ou resultados
MEDLINELambert et al, 2024.    Heparina profilática de baixo peso molecular em mulheres com trombofilia submetidas a fertilização in vitro.Verificar se a heparina de baixo peso molecular (HBPM) poderia aumentar as taxas de gravidez e/ou diminuir as taxas de aborto.Pacientes no grupo de trombofilia não tratada apresentaram taxas de gravidez contínua e taxas de nascidos vivos significativamente mais baixas e taxas de perda de gravidez precoce e aborto significativamente mais altas quando comparadas com os grupos de controle e de trombofilia tratada.
MEDLINEDugalic et al, 2023    Trombofilia hereditária e heparina de baixo peso molecular em mulheres: determinantes úteis, incluindo disfunção tireoidiana, incorporando o manejo do tratamento e dos resultados.  Relacionar a terapia com uso de heparina de baixo peso molecular aos múltiplos determinantes da gravidez e resultados adversos durante o terceiro trimestre em mulheres com trombofilia hereditária.        A idade gestacional no parto, índice de resistência da artéria umbilical e dímero D entre 36 e 38 semanas gestação apresentou os preditores diretos para resultados adversos da gravidez. O ajuste do modelo foi examinado usando a raiz do erro quadrático médio de aproximação 0,00 (IC95% 0,00-0,18).
LILACSDick-Guareschi et al, 2022    Prevalência de fatores de risco genético associados à trombofilia em doadores de sangue de um hospital regional do Sul do Brasil.Avaliar a freqüência de genótipos considerados fatores de risco hereditários comuns para trombofilia associada à trombose venosa e hiperhomocisteinemia de amostras testadas por voluntárias doadores de sangue do Hospital das Clínicas de Porto Alegre.Foi  calculada a freqüência de cada variante genética em heterozigosidade foram de 4% para gene FV, 4% para o gene F2 e 42% e 39% para metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR).
MEDLINEErnst et al, 2021    Resultados maternos e perinatais de uma coorte de alto risco para tromboembolismo venoso utilizando uma abordagem de tratamento multidisciplinar.        Avaliar os resultados maternos e perinatais em uma coorte de gestantes com alto risco de tromboembolismo (TEV).  As mulheres foram consideradas de alto risco para TEV em 57% (85/148) devido o tromcoembolismo prévio (75) ou atual (10) e em 27% (40/ 148) dos casos devido a historia obstétrica adversa. A trombofilia foi diagnosticada em  57% dos casos (85/ 148), seja em  pacientes com tromboembolismo prévio (48%, 41/85) ou sem história de trombose (70%, 44/63) A trombofilia mais comum foi a síndrome antifosfolipídica em 34% dos casos.
LILACSCastillo-González et al, 2019    Caracterização de neonatos de mães  com hipercoagulabilidade em regime tromboprofiláticoCaracterizar clínicamente os neonatos e identificar os efeitos adversos da terapia tromboprofilática  nos RNOs RN nascidos de mães com trombofilia que iniciaram tromboprofilaxia de forma precoce não foram diferentes dos RN nascidos de mães sem  hipercoagulabilidades.
LILACSClavijo et al, 2019.      Fatores de risco e papel da heparina de baixo peso molecular nas complicações obstétricas entre mulheres com trombofilia hereditária:um estudo de coorte.Avaliar a prevalência de aborto espontâneo, complicações gestacionais mediadas pela placenta e perda fecal em gestantes com TI, estabelecendo fatores de risco associados e o efeito da HBPM.  Foram obtidos dados de 250 gestações em 88 mulheres. Anticorpos antifoffolípides e história familiar de complicações foram assiciados à PMPC.
MEDLINETanacan et al., 2019.    Gestações espontâneas em pacientes com pelo menosum ciclo de fertilização in vitro falhado após tratamento de doenças autoimunes, trombofilia hereditária e distúrbios de metilação.      Descrever o impacto na obtenção da gravidez espontânea do tratamento de pacientes com, pelo menos, um ciclo de fertilização in vitro (FIV) falhado para doenças autoimunes, trombofilia hereditária e distúrbios.          As 53 pacientes incluídas no estudo tiveram gestações únicas. A distribuição dos autoanticorpos foi a seguinte: peroxidase tireoidiana (n=17); antitireoidiana (n=11); DNA de fita dupla (n=4); antinuclear (n=8); anti-músculo liso (n=1); anticardiolipina IgM (n=1). As doenças autoimunes incluíram tireóide de Hashimoto (n=23); LES (n==7); doença de Behcet (n=1); Síndrome  de Sjogren (n=1).
LILACSAndrade et al., 2019.    A história obstétrica de gestantes com trombofilias hereditáriasConhecer a história obstétrica de gestantes com trombofilias hereditáriasHouve associação entre trombofilia e aborto prévio, bem como trombofilia e morte fetal prévia (p<0,05).
Fonte: Medline e LILACS (2024).

5 DISCUSSÃO

A revisão integrativa revelou trabalhos científicos com temas relacionados a estudo genético, dados epidemiológicos de taxas de gestação e nascimento; associações entre a trombofilia e desfechos gestacionais, além de tratamentos inovadores que permitem equiparação da vitalidade do recém nascido de puérpera com ou sem trombofilia.

Em estudo desenvolvido por (Tanacan et al., 2019),  com 53 pacientes que tiveram gestações únicas para análise da  distribuição dos autoanticorpos, apontou, a saber: peroxidase tireoidiana (n=17); antitireoidiana (n=11); DNA de fita dupla (n=4); antinuclear (n=8); anti-músculo liso (n=1); anticardiolipina IgM (n=1).

As doenças autoimunes incluíram tireóide de Hashimoto (n=23); LES (n==7); doença de Behcet (n=1); Síndrome de Sjogren (n=1). Algumas (10) pacientes apresentaram trombofilia heterozigótica do fator V de Leiden; dois tinham trombofilia homozigótica de Fator 5 de Leiden; 3 com mutação heterozigótica protrombina 20210A, enquanto 28 pacientes foram positivos para autoanticorpos e trombofilia hereditária e/ou polimorfismo MTHFR (Tanacan et al., 2019).

Em pesquisa realizada por (Dick-Guareschi et al, 2022), foi calculada a freqüência de cada variante genética em heterozigosidade, sendo identificadas 4% para gene FV, 4% para o gene F2 e 42% e 39% para metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR). Contudo, apenas as variantes genéticas da MTHFR foram encontradas em homozigose, com frequência de 14% e 6%, respectivamente. 

Já em trabalho desenvolvido por (Clavijo et al., 2019) com 88 mulheres de 250 gestações, foram associados anticorpos antifoffolípides e história familiar de complicações obstétricas com complicações gestacionais mediadas pela placenta (PMPC). Nesse sentido, a heparina de baixo peso molecular (HBPM) apresentou benefício no desfecho combinado para qualquer complicação obstétrica.

Conforme Lambert et al. (2024), pacientes no grupo de trombofilia não tratada apresentam taxas de gravidez contínua e de nascidos vivos significativamente mais baixas e taxas de perda de gravidez precoce e aborto significativamente mais altas quando comparadas com os grupos de controle e de trombofilia tratada.  

Ratificando a pesquisa supacitada quanto a importância do tratamento da gestante com trombofilia, em trabalho com RN nascidos de mães que iniciaram tromboprofilaxia de forma precoce não foram diferentes dos RN nascidos de mães sem hipercoagulabilidades (Castillo-González et al., 2019).

A identificação precoce da trombofilia e seu tratamento podem mudar drasticamente tanto o resultado da gestação, quanto a sobrevida e qualidade de saúde da mulher em idade mais avançadas. A investigação dessa doença não apresenta um consenso estabelecido, por isto deve ser norteada por observações clínicas, históra obstétrica, eventos tromboembólicos prévios, história familiar e o fatorcausal da trombofilia (Dorival et al., 2016).

Conforme artigo desenvolvido por (Andrade et al., 2019), há associação entre trombofilia e aborto prévio, bem como trombofilia e morte fetal prévia (p<0,05). O tipo de trombofilia que foi associada a abortamento prévio foi o déficit da proteína S. A mutação da MTHFR foi associada aos antecedentes de HELLP síndrome (p=0,03; x2 =4,2) e de pré-eclâmpsia (p=0,03; X2 =4,5) quando em homozigotia mutante. A homozigotia para a MTHFR foi também associada às médias de homocisteína, de forma que as homozigotas eram aquelas que apresentavam a maior dosagem de homocisteína (p=0,01; X2 =5,8; X= 27,2 ± 41,2 vs. 12,62 ± 19,0).

A idade gestacional no parto, índice de resistência da artéria umbilical e dímero D entre 36 e 38 semanas gestação apresentou os preditores diretos para resultados adversos da gravidez. O ajuste do modelo foi examinado usando a raiz do erro quadrático médio de aproximação 0,00 (IC95% 0,00-0,18) (Dugalic et al, 2023).

Quanto ao alto risco para Tromboembolismo venoso, pesquisa revelou que de 148 mulheres consideradas de alto risco para Tromboembolismo venoso (TEV), 57% (85) estavam relacionadas ao tromcoembolismo prévio (75) ou atual (10); enquanto 27% (40) dos casos devido a historia obstétrica adversa.

Destarte, a trombofilia foi diagnosticada em 57% dos casos (85), seja em pacientes com tromboembolismo prévio (48%, 41/85) ou sem história de trombose (70%, 44/63). Nesse sentido, a trombofilia mais comum é a Síndrome antifosfolipídica evidenciada em 34% dos casos (Ernst et al, 2021).

6 CONCLUSÃO

O trabalho de revisão integrativa revelou estudos dos últimos cinco anos debruçados sobre a trombofilia em mulheres e na gestação, apresentando questões de genéticas na busca de desvendar as causas e conseqüências dessa doença, assim apontando novas perspectivas de tratamento e cuidado para essas gestantes.

Quanto aos cuidados da Enfermagem para as mulheres, os achados apontam para necessidade de acolhimento, escuta qualificada e acompanhamento para as frustrações pela infertilidade daquelas que não conseguem viabilizar uma gestação, diante reduzida taxa de nascimento e aumento da taxa de aborto dentre estas pacientes.

Contudo, pesquisas apontaram a importância do tratamento precoce para que os recém nascidos tenham as mesmas condições de saúde daquelas com mães sem a trombofilia. Nesse sentido, é imprescindível o conhecimento pela equipe multidisciplinar, particularmente, pela Enfermagem Obstétrica para educação em saúde durante consulta de Enfermagem  no Pré-Natal.  

Assim, pode-se concluir que o conhecimento específico sobre questões clínicas, genéticas, tratamento e acompanhamento da mulher com trombofilia deve ser um tema ventilado dentre os profissionais de saúde, de modo que promovam o bem-estar, segurança e acolhimento para o binômio mãe-filho durante a gestação e puerpério.

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1Enfermeira (FAZER). Pós-graduação em Enfermagem Obstétrica e Neonatológica (FACENE). E-mail: mariadesa15@hotmail.com

2Enfermeira (UFPB). Doutora em Ciências da Saúde (Instituto Michelle Sales). E-mail: alinealcorreia1@gmail.com

3Médica (FAMENE). Mestranda em Programa de Saúde da Família (FACENE). E-mail: andreago@gmail.com 

4Acadêmica de Medicina (AFYA-PB). E-mail: popo_maia@hotmail.com

5Enfermeiro (FIP). Coordenador de Centro de Materiais e Esterilização do Hospital Metropolitado Dom José Maria Pires. E-mail:luenf2013@gmail.com

6Enfermeira com Pós Graduação em Segurança do Paciente (Hospital Sírio Libanês). Email: auri.nutri@hotmail.com

7Fisioterapeuta (UFPB). Doutora em Educação (UFPB). Email: fisioro9@gmail.com

8Enfermeira (FACENE). E-mail: s. saryta@hotmail.com

9Enfermeira (UFRN). Pós-Graduação em Saúde da Família (FIP). Email: emanuelle.kbst@gmail.com

10Acadêmico de Medicina (Afya-PB). Email: Pv.andrade9988barbosa@gmail.com