REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202411191603
Luana Márcia Rocha Silva1, Renata Sousa Campos2, Jordana Maria Freitas Alves3, Allana Karen Santos Serra4, Helen Rosy Gomes Ribeiro5, Andréia Cristina da Silva Ribeiro6, Luciany Barbosa da Silva Fernandes7, Suelen Pacheco Chaves8, Thays Luanny Santos Machado Barbosa9, Jocilene da Cruz Silva10
RESUMO
A segurança do paciente na administração de medicamentos por profissionais de enfermagem é uma questão crucial na assistência à saúde. Considerando os impactos diretos e potencialmente graves dos erros de medicação, é imprescindível que a prática de enfermagem adote estratégias eficazes para prevenir tais eventos. OBJETIVO: Descrever detalhadamente o passo a passo da preparação e administração de medicamentos por via intravenosa, com foco na segurança do paciente e na prevenção de erros de medicação, seguindo as melhores práticas clínicas. METODOLOGIA: Descrição de uma rotina de preparo e administração de medicamento Intravenoso em um Hospital Universitário Da Rede EBSERH, com ênfase na segurança do paciente a fim de minimizar possíveis iatrogenias. Observa-se que a rotina pode ser dividida, didaticamente, em duas etapas: 1) Análise de prescrição e preparo do medicamento seguindo os 9 certos; 2) Administração do medicamento. RESULTADOS: Os cuidados de Enfermagem devem ser contínuos desde o preparo até administração do medicamento, seja ele intravenoso ou em outras vias de administração, levando sempre em consideração o período após a administração do medicamento para identificação de possíveis eventos adversos. Ao analisar essa experiência, fica evidente a importância de uma perspectiva multidisciplinar e da educação continuada dos profissionais de enfermagem. Essa necessidade se estende tanto aos aspectos éticos envolvidos na administração de medicamentos quanto às habilidades técnicas requeridas para garantir a segurança dos pacientes.
Palavras-chave: Segurança do paciente. Medicamento. Enfermagem.
ABSTRACT
Patient safety when medication is administered by nursing professionals is a crucial issue in healthcare. Considering the direct and potentially serious impacts of medication errors, it is essential that nursing practice adopts effective strategies to prevent such events. Objective: Describe in detail the step-by-step preparation and administration of intravenous medications, focusing on patient safety and preventing medication errors, following best clinical practices.. Methodology: Description of a routine for the preparation and administration of intravenous medication in a University Hospital in the EBSERH Network, with an emphasis on patient safety in order to minimize possible iatrogenic events. It is observed that the routine can be divided, didactically, into two stages: 1) Analysis of prescription and preparation of the medicine following the 9 right ones; 2) Administration of the medication. Results: Nursing care must be continuous from preparation to administration of the medication, whether intravenous or other routes of administration, always taking into account the period after administration of the medication to identify possible adverse events. When analyzing this experience, the importance of a multidisciplinary perspective and the continuing education of nursing professionals becomes evident. This need extends both to the ethical aspects involved in administering medications and to the technical skills required to ensure patient safety.
Keywords: Patient safety. Medication. Nursing.
1. INTRODUÇÃO
A segurança do paciente na administração de medicamentos por profissionais de enfermagem é uma questão crucial na assistência à saúde. Considerando os impactos diretos e potencialmente graves dos erros de medicação, é imprescindível que a prática de enfermagem adote estratégias eficazes para prevenir tais eventos. A literatura científica aponta para a necessidade de uma formação continuada e abrangente dos profissionais de saúde, a fim de garantir a segurança e a qualidade do cuidado
O estudo de Paim et al. (2016) revelou que a comunicação ineficaz e as falhas nos processos de administração de medicamentos são os principais vilões dos erros de medicação em hospitais brasileiros. A pesquisa evidenciou que uma porcentagem alarmante dos medicamentos administrados não segue a prescrição médica, destacando a importância crucial da etapa de administração como a última oportunidade para prevenir tais erros. Os autores defendem que a implementação de procedimentos operacionais padrão e a promoção de uma cultura de segurança, que incentive o relato de erros sem medo de punições, são medidas essenciais para garantir a segurança do paciente e prevenir danos irreversíveis.
Complementando os achados de Paim et al. (2016), Nascimento et al. (2016) identificam a falta de atenção da equipe de enfermagem como um fator determinante para a ocorrência de erros na administração de medicamentos. A revisão sistemática realizada pelos autores destaca a velocidade inadequada de infusão como uma das principais causas desses erros, evidenciando a necessidade urgente de capacitação contínua dos profissionais de enfermagem. Além disso, o estudo enfatiza a importância de implementar estratégias como o uso de pulseiras de identificação e códigos de barras, que podem contribuir significativamente para a redução de incidentes e a garantia da segurança do paciente.
O estudo de Silva et al. (2018) revelou que analgésicos e antibióticos são os principais alvos de erros na administração de medicamentos. A falta de atenção dos profissionais de saúde foi identificada como o fator determinante para a ocorrência desses erros, com uma parcela significativa dos profissionais reconhecendo a necessidade de maior vigilância durante a administração. Os autores defendem que a educação em serviço e a implementação de uma cultura de segurança nas instituições de saúde são medidas cruciais para minimizar esses erros e garantir a qualidade da assistência prestada aos pacientes.
Em seu estudo, Malcolm E. et al. (2010) estabeleceram nove critérios indispensáveis para a administração segura de medicamentos, os chamados ‘nove certos’, sendo eles: paciente certo, medicamento certo, via certa, hora certa, dose certa, registro certo, ação certa, forma certa e resposta certa. Esses critérios abrangem desde a identificação correta do paciente até a avaliação da resposta à medicação. Embora a adesão a esses passos não garanta a ausência total de erros, eles são fundamentais para minimizar o risco de eventos adversos e otimizar a qualidade do cuidado ao paciente.
O Ministério da Saúde (2013) por meio do ‘Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos’ estabeleceu os padrões mínimos para a segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos em todos os estabelecimentos de saúde. Esses documentos abordam desde a seleção de medicamentos até a sua administração.
Esses estudos coletivamente destacam a complexidade do processo e a necessidade de abordagens multifacetadas para sua mitigação. A formação adequada dos profissionais, a implementação de tecnologias de apoio e a promoção de uma cultura de segurança são elementos fundamentais que emergem como soluções viáveis para a promoção da segurança do paciente na administração de medicamentos pela enfermagem.
2. OBJETIVO
Descrever detalhadamente o passo a passo da preparação e administração de medicamentos por via intravenosa, com foco na segurança do paciente e na prevenção de erros de medicação, seguindo as melhores práticas clínicas.
3. METODOLOGIA
Descrição de uma rotina de preparo e administração de medicamento Intravenoso em um Hospital Universitário Da Rede EBSERH, com ênfase na segurança do paciente a fim de minimizar possíveis iatrogenias. Observa-se que a rotina pode ser dividida, didaticamente, em duas etapas: 1) Análise de prescrição e preparo do medicamento seguindo os 9 certos; 2) Administração do medicamento.
4. RESULTADOS
Os cuidados de Enfermagem devem ser contínuos desde o preparo até administração do medicamento, seja ele intravenoso ou em outras vias de administração, levando sempre em consideração o período após a administração do medicamento para identificação de possíveis eventos adversos. A educação continuada em forma de treinamentos práticos para atualização dos profissionais é de suma importância para a busca de uma prática baseada em evidência. Didaticamente dividiu-se o procedimento em duas etapas: Preparo do medicamento e Administração do medicamento.
4.1. Material necessário
- Prescrição Médica (com carimbo e assinatura);
- Etiqueta para identificação;
- Bandeja;
- Medicamento e diluente conforme prescrito;
- Luvas de procedimento;
- Agulha de 40mm x 12 mm;
- Seringa (em tamanho a ser definido conforme o volume da medicação a ser ministrada)
- Bolas de algodão;
- Álcool a 70%;
- Equipo e bomba de infusão ou extensor e bomba de seringa, se necessário.
- Esparadrapo impermeável ou micropore;
- Jelco (nº 22 ou 24);
- Torneirinha 3 vias ou extensor dupla via;
- Frasco de cloreto de sódio 0,9% 500 ml;
- Frasco de cloreto de sódio 0,9% 100 ml;
- Equipamentos de proteção individual;
- Avental impermeável descartável
- Gorro;
- Caixa de descarte de perfuro-cortantes;
- Saco plástico.
4.2. Descrição do procedimento
Preparo do medicamento
Lavar as mãos;
Ler a prescrição médica que deve conter o nome do cliente, data de nascimento, nº do leito, nome do medicamento, dose, via de administração, horário, frequência da administração;
Preparar o rótulo da medicação contendo: nome do cliente, data de nascimento, número do leito, nome do medicamento, dose, via, horário e iniciais do nome ou assinatura do profissional que preparou o medicamento;
Separar o material necessário;
Realizar a desinfecção da bancada e da bandeja com o desinfetante hospitalar padronizado na instituição ou álcool a 70%;
Checar o medicamento que irá ser utilizado, conferindo o nome do medicamento, a dose, a via de administração e o prazo de validade;
Realizar a assepsia da ampola/frasco ampola com algodão umedecido com álcool a 70%. Quando for utilizado frasco-ampola deve-se retirar a proteção metálica e só após, higienizá-lo;
Abrir a embalagem da seringa e acoplá-la à agulha para aspiração do medicamento, observando-se a técnica asséptica, protegendo-a em sua embalagem original;
Quebrar a ampola, envolvendo-a com um pedaço de algodão ou gaze, pressionando-a com os dedos indicador e polegar da mão dominante;
Aspirar o medicamento, tracionando a extremidade do êmbolo da seringa sem contaminar sua extensão.
Colocar a seringa na posição vertical e retirar o ar;
Caso a infusão lenta, volume maior ou infusão contínua: retirar proteção de frasco de solução e fazer a desinfecção com algodão embebido em álcool 70% ou clorexidine alcoólica 5%, rediluir o medicamento no conteúdo do frasco e acoplar equipo estéril e dispositivo intermediário 2 vias (se necessário), retirar o ar;
Preparar uma seringa de 10 ml com solução salina para realização do Flushing antes da administração do medicamento, observando se o cateter está pérvio.
Certificar-se de não haver bolhas de ar no interior da seringa ou circuito com medicação;
Fixar o rótulo de identificação na seringa ou frasco de soro;
Reunir na bandeja o medicamento preparado, algodão, Clorexidina alcoólico 0,5% ou álcool 70%.
Administração do medicamento
Levar a bandeja próximo ao leito do paciente;
Conferir o nome completo do paciente, medicamento e via de administração;
Explicar ao paciente e ao acompanhante o procedimento e informar o medicamento a ser administrado;
Posicionar o cliente de maneira confortável e adequada para a realização do procedimento;
Calçar luvas de procedimento;
Caso o paciente não tenha acesso venoso periférico, puncionar acesso venoso periférico;
Quando o paciente já possuir acesso periférico, realizar a desinfecção das conexões e injetores (entrada das vias do extensor) do circuito, utilizando gaze e álcool a 70%;
Injetar solução salina no cateter venoso (Flushing) a fim de testar se ele está pérvio, observando se o local apresenta sinais flogísticos;
Introduzir a seringa na via do extensor;
Certificar-se de não haver bolhas de ar no interior da seringa ou circuito com medicação;
Injetar o medicamento, no caso de medicamento em bolus ou infusão rápida;
No caso de medicamentos de infusão lenta ou contínua, abrir o clamp de controle de fluxo do equipo de soro, acertando o gotejamento conforme tempo de infusão prescrito (realizar cálculo);
No caso de medicamentos que serão administrados através de bomba de infusão, deve-se programar a bomba de acordo com a prescrição médica de acordo com volume total, vazão e tempo de administração.
Observar possíveis reações que o paciente possa apresentar durante a administração;
Observar sinais aparentes de alteração no paciente e no local da punção, após a administração do medicamento (dor local, hiperemia, rubor, edema);
Assegurar que o paciente esteja confortável e seguro no leito;
Recolher o que deve ser guardado, desprezar o restante do material utilizado no lixo apropriado;
Retirar as luvas de procedimento;
Higienizar as mãos;
Limpar a bandeja com álcool a 70%;
Checar a prescrição médica conforme normativa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A administração de medicamentos é um aspecto fundamental da prática clínica, porém, representa um desafio em relação à segurança do paciente, visto que os erros nesse processo podem acarretar consequências graves e até fatais. O aumento da atenção a esse tema tem levado a uma considerável melhora na prática clínica, com a implementação de estratégias e abordagens que visam garantir a segurança e a qualidade no cuidado aos pacientes, destacando a relevância de aprimorar continuamente os processos.
Ao analisar essa experiência, fica evidente a importância de uma perspectiva multidisciplinar e da educação continuada dos profissionais de enfermagem. Essa necessidade se estende tanto aos aspectos éticos envolvidos na administração de medicamentos quanto às habilidades técnicas requeridas para garantir a segurança dos pacientes. A literatura científica e a prática clínica corroboram essa afirmação, indicando a urgência de implementar estratégias eficazes para superar os desafios enfrentados pelos profissionais de enfermagem, com o intuito de aprimorar a qualidade do cuidado ao paciente e reduzir a ocorrência de eventos adversos relacionados à medicação.
REFERÊNCIA
Soldatelli Pagno Paim, R., Chies Bellaver, D., Belmonte, J., & Cristóvão Azeredo, J. (2016). Erros de medicação e segurança do paciente: uma revisão integrativa da literatura.
Araujo Nascimento, M., Freitas, K., & Oliveira, C. G. S. (2016). Erros na administração de medicamentos na prática assistencial da equipe de enfermagem: uma revisão sistemática.
Silva, M. V. R. S., Carvalho Filha, F. S. S., Branco, T. B., Guimarães, J. T. F., Lima, N. D. P., & Alves, A. K. C. (2018). Administração de medicamentos: erros cometidos por profissionais de enfermagem e condutas adotadas.
Malcolm, E., & Li, Y. (2010). The nine rights of medication administration: an overview. British Journal of Nursing, 19(5), 300-305.
Coren-SP/Rebraensp/SP. Conselho Regional de Enfermagem do Estado de São Paulo. Rede Brasileira de Enfermagem e Segurança do Paciente. Erros de medicação: definições e estratégias de prevenção. São Paulo, 2011;
BORK, A.M.T. Enfermagem baseada em evidências. São Paulo: Guanabara Koogam, 2005.
CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM (COFEN). Lei Cofen nº 7.498/86. Regulamentação do exercício de Enfermagem, 1988. Ministério da Saúde (Brasil). (2013). Protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos. Brasília, DF: Ministério da Saúde.
EBSERH, Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão. Divisão de Enfermagem. Procedimento Operacional Padrão – Administração de Medicamentos por Via Parenteral Intravenosa. São Luís: 2019.
1Enfermeira. Pós-graduada em Epidemiologia.
e-mail: luana.silva@ebserh.gov.br
2Enfermeira. Pós-graduada em Saúde Materno Infantil.
e-mail: renata.campos@ebserh.gov.br
3Enfermeira. Mestre em Enfermagem.
e-mail: jordana.alves@ebserh.gov.br
4Enfermeira. Especialista em Urgência e Emergência.
e-mail: allana.serra@ebserh.gov.br
5Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho.
e-mail: helen.ribeiro@ebserh.gov.br
6Enfermeira. Mestre em Enfermagem.
e-mail: andreia.cristina@ebserh.gov.br
7Enfermeira. Pós-graduada em Saúde da Família.
e-mail: luciany.fernandes@ebserh.gov.br
8Enfermeira. Especialista em Clínicas Médica e Cirúrgica.
e-mail: suelen.pacheco@ebserh.gov.br
9Enfermeira. Pós-graduada em Saúde do Adulto.
e-mail: thays.barbosa@ebserh.gov.br
10Enfermeira. Pós-graduada em Enfermagem do Trabalho e Saúde Coletiva.
e-mail: jocilene.silva@ebserh.gov.br